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Este trabalho segue procedimentos metodológicos da abordagem da pesquisa qualitativa. Conforme André (1995), essa abordagem remonta ao fim do século XIX, em oposição ao método de investigação das ciências físicas e naturais, que se fundamentava numa perspectiva positivista de conhecimento. Portanto, surge

Em oposição a uma visão empiricista de ciência, busca a interpretação em lugar da mensuração, a descoberta em lugar da constatação, valoriza a indução e assume que fatos e valores estão intimamente relacionados, tornando-se inaceitável uma postura neutra do pesquisador. (ANDRÉ, 1995, p. 17).

André (1995) reitera a posição de Cunha (1993) ao assumir que a pesquisa qualitativa nega a neutralidade e que todo ato de pesquisa é um ato político e pressupõe envolvimento do sujeito da pesquisa com seu objeto de estudo. No entanto, Cunha também apresenta outros pressupostos teóricos e metodológicos importantes para este trabalho. Segundo essa autora, nesse tipo de pesquisa, em vez de ter categorias teóricas a priori, tenta-se construí-las com base no fenômeno pesquisado para, então, procurar explicações na teoria; também se propõe a aprofundar a complexidade dos fatos sociais nas suas relações e interdependências. A pesquisa qualitativa se preocupa não só com os dados evidentes, mas também com as representações dos “sujeitos cotidianos”. No dizer de Demo (1990), ela se define em especial

em razão do poder de questionar, de não admitir resultados definitivos, de estabelecer que o método é provisório como fonte central para renovação científica.

Com efeito, é esse cenário de respeito às subjetividades dos sujeitos envolvidos que subjaz a nossa proposta de, levantando realidades e contradições, responder aos questionamentos desta pesquisa, apresentados no capítulo 1. Para estudar o objeto desta dissertação, adotamos como procedimento a “análise do conteúdo”, pois — conforme Franco (2008, p. 8; 10) — o uso dessa “[...] nova ciência em ascensão” é perfeitamente possível “[...] no âmbito de uma abordagem metodológica crítica e epistemologicamente apoiada numa concepção de ciência que reconhece o papel ativo do sujeito na produção do conhecimento”. Bardin (1977, p. 38) define análise de conteúdo como “[...] uma técnica de investigação que através de uma descrição objectiva [sic], sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações”. Mas afirma a necessidade de pôr em evidência a finalidade de qualquer análise de conteúdo, cuja intenção é “[...] a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente,

de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (BARDIN,

1977, p. 40; grifo da autora).

A pesquisa contou com a colaboração de professores participantes de um curso de formação continuada em 2009, intitulado “Astronomia na educação básica”, que, conforme o folheto de divulgação,18 visou fazer um trabalho de formação continuada com 30 professores da educação básica, independentemente da disciplina que lecionavam. Inscreveram-se 40 participantes. A carga horária foi de 60 horas: 40 presenciais, 20 com atividades programadas (cf. QUADRO 1). No segundo encontro do curso, dos 40 participantes inscritos, compareceram 26, aos quais aplicamos um questionário19 semiestruturado (cf. APÊNDICE A) de quatro partes: 1ª) questões fechadas sobre dados pessoais; 2ª) questões mistas sobre a situação profissional; 3ª) sobre as condições de trabalho dos participantes; 4ª) formação, direcionando-a para astronomia e prática pedagógica.

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Acesso ao folder na página eletrônica:

<http://200.225.227.178/pmueduca/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app =cemepe_pmu&idConteudo=10584&lang=pt_BR&pg=5005&taxp=0&>. Acessado em 06/03/2010.

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Como a astronomia é um ramo da ciência com característica interdisciplinar, precisávamos de um questionário que abrangesse o olhar de ciências distintas. Assim, para a versão final do questionário, fizemos um pré-teste envolvendo professoras e professores das três etapas da educação básica: uma professora do quinto ano; do sexto ao nono ano, responderam um professor de Ciências, uma docente de Matemática, uma de Geografia e uma de História; do ensino médio respondeu um professor de Física.

Esse instrumento nos permitiu coletar informações sobre oito aspectos que nos ajudaram a compor as categorias de análise. São eles: 1) perfil social dos participantes, 2) perfil profissional dos participantes na formação inicial formal (ensino superior) e continuada (outros espaços fora da escola), 3) perfil profissional dos participantes na docência, 4) perfil sobre as condições de trabalho dos participantes na docência, 5) aspectos da escola onde os participantes trabalhavam, 6) recursos computacionais e educação na concepção dos participantes, 7) perfil dos laboratórios de informática nas escolas onde os participantes trabalhavam, 8) astronomia na formação e na prática docente.

Esses aspectos são empregados na compreensão do objeto desta pesquisa ao lado dos resultados obtidos no antepenúltimo e no último encontro do curso, cujas atividades filmamos para, depois, transcrever e textualizar os relatos sobre o planejamento e as ações de conclusão do curso apresentadas pelos participantes. (Estes deveriam desenvolver uma atividade ligada à astronomia onde lecionavam, fossem escolas públicas municipais, estaduais ou da rede privada de ensino.) Na análise desses dados, tomamos como referência a análise de conteúdo em Bardin (1977) e Franco (2008); diante do conteúdo observável, buscamos analisar os significados e sentidos dos professores com relação ao uso dos recursos computacionais em escolas de educação básica ao ensinar astronomia. No último encontro, 11 participantes compareceram e apresentaram nove trabalhos que fizeram como atividade do curso; destes, dois foram desenvolvidos em conjunto com outro colega, o que explica a diferença entre número de professores e trabalhos apresentados. Nos encontros, registrados com fotografia e filmagem, praticamos o exercício da observação participante aberta20 com emprego de notas de campo. Buscamos observar o comportamento dos professores ao usarem recursos computacionais e o domínio de temas da astronomia.