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J. Raymond Tobin

3.3. E DIÇÃO CRÍTICA DOS CONCERTOS 1 Comentário prévio

3.3.3. Opções editoriais

Analisando várias publicações recentes, nomeadamente de música oitocentista, foi então possível chegar a um pressuposto conceptual de modernização de edições passadas, que, salvaguardadas as devidas especificidades para cada autor e até para cada partitura, vai servir-nos de estrutura base na presente proposta de edição. Ao disponibilizar edições modernas dos quatro concertos de Avelino Canongia espera-se contribuir activamente para uma melhor divulgação da obra deste clarinetista-compositor.

São as seguintes as opções editoriais gerais, e comuns a todos os concertos:

· a utilização de acidentes ocasionais segue, nestas edições oitocentistas, a antiga prática de notar-se apenas uma vez no compasso, sendo válido para todas as notas idênticas e em todas as oitavas. Em conformidade com o uso actual as alterações ocorrentes serão, nesta nova edição, válidas, dentro de cada compasso, apenas para a mesma nota e na mesma oitava, repetindo-se, sempre que necessário, nas outras oitavas (as situações mais paradigmáticas desta confusa prática são, nomeadamente, os harpejos).

· tal como Jonathan del Mar nota em relação a Beethoven (referindo aliás que o mesmo se passa com as obras de Schubert), a distinção entre acentos e diminuendos é, nestas antigas edições do séc. XIX, virtualmente impossível. Assim, e seguindo o que tem sido prática corrente em edições modernas das obras dos mestres alemães principalmente, assume-se aqui também como acentos todas estas situações, discutindo-se mais adiante pormenorizadamente apenas os casos em que se decidiu diferentemente.

· todas as appoggiaturas foram corrigidas por acciaccaturas, em conformidade com a maioria das situações verificadas em todos os concertos, e mesmo tendo em conta as práticas de notação e execução mais actuais. Na realidade, mesmo quando aparecem appoggiaturas, a intenção musical parece ser um breve e rápido ornamento, mais condizente com acciaccaturas, pelo que foi essa a opção, no sentido de harmonizar a notação em todos os concertos.

· foi igualmente modernizado o aspecto gráfico, nomeadamente no que concerne a certas indicações técnicas e de expressão (por ex. cresc., dim., ritard., ad lib., etc.), que na edição original aparecem quase invariavelmente seguidas de dois pontos [:] e em alguns casos com letra maiúscula (Cresc:, Dim:, Ritad:, ad lib:, dol:). Foi igualmente modernizada a notação das indicações dinâmicas (mF e mezF, F, FF, e sF foram corrigidas para mf, f, ff, e sf como é prática actual), e indicações de tempo como Tempo 1º foram substituídas pela mais actual versão Tempo I. Outras indicações curiosas como pizzi. e dimi. foram igualmente actualizadas (para pizz. e dim.), ainda que estas não sejam consistentemente usadas ao longo dos quatro concertos.

· tal como era usual, por exemplo, em Beethoven (cf. Jonathan del Mar, edições URTEXT de todas as Sinfonias), também nestes concertos se omitem sistematicamente ligaduras entre appoggiaturas/acciaccaturas e notas principais, apesar de a prática oitocentista ter sido precisamente de assumi-las como elemento normal do discurso musical. Curiosas excepções nestes concertos são todavia os cc. 64/70 em I do Concerto nº2, em que se encontram notadas sem qualquer margem para dúvida ligaduras entre estes dois tipos de notas. No sentido de tornar esta edição integral dos quatro concertos o mais coerente possível, optou-se, em conformidade com a maioria das situações, por omitir sempre tais ligaduras entre notas ornamentais e principais, devendo no entanto o intérprete assumi-las na execução, tal como era uso no séc. XIX.

· as indicações Solo e Tutti são utilizadas de forma algo inconsistente ao longo dos quatro concertos: por exemplo no 1º e 3º Concertos aparecem sempre nas partes de cordas, embora faltem na quase totalidade das partes de sopros e tímpanos, no 2º Concerto nenhuma indicação aparece, e no Concerto nº 4 aparecem apenas, algo curiosamente, as indicações Solo (uma vez mais exclusivamente nas partes de cordas), exclusivamente em I (Allegro agitato). Não sendo uma informação vital para a fixação do texto musical, optou-se, no entanto, por incluir nesta edição ambas as indicações e em todos os concertos.

· acrescentaram-se também marcas de ensaio, que, apesar de não originais, são de grande utilidade. Utilizou-se o método de letras para melhor as distinguir dos números de compassos, também indicados.

ARTICULAÇÃO:

· O principal problema de articulação nos concertos de Canongia é o uso francamente inconsistente dos símbolos para staccato (indicado por um ponto) e para staccatissimo (indicado por uma cunha). Na presente edição optou-se por introduzir uma norma clara para o uso, especificamente, do staccatissimo, tendo em conta que este pressupõe uma articulação mais incisiva e marcada. Assim, utilizar-se-á apenas em colcheias (em valores mais curtos a opção será pelo ponto indicativo de staccato, em valores mais longos pelo mais óbvio acento) e somente em andamentos rápidos, uma vez que nenhum dos

andamentos lentos tem carácter especialmente dramático. Um exemplo claro da sua utilização acontece nas primeiras notas do início de III no Concerto nº4.

· uma outra prática recorrente é de omitir as ligaduras de prolongação quando estas coincidem com, ou estão incluídas em ligaduras de expressão, sendo o único caso da sua utilização simultânea no c. 21 em II do Concerto nº1. Sendo portanto a grande maioria das situações omissa em termos de ligaduras de prolongação, considera-se como regra geral precisamente a sua assumpção tácita, sendo na secção seguinte (“Correcções e anotações aos concertos”) discutidos em pormenor apenas os casos em que tal não se verifica.