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Capítulo III – Metodologia de investigação

1. Opções metodológicas

Neste ponto apresenta-se e justifica-se as opções metodológicas realizadas ao longo do estudo. Dito isto, optou-se por uma metodologia de natureza qualitativa, concretizada através da realização de um estudo de caso. Passa-se a fundamentar estas opções.

A metodologia qualitativa é definida por Vale (2004) como uma metodologia com uma abordagem aparentemente simples, mas na realidade revestida de uma grande complexidade, de forma a garantir os desejáveis critérios de qualidade. De acordo com a mesma autora os estudos qualitativos acentuam a construção social da realidade natural, valorizam as relações entre o investigador e o que ele estuda, procurando neste registo respostas que evidenciem o modo como as experiências sociais são criadas e desenvolvidas para posteriormente adquirirem um significado.

Vale (2004) defende que os estudos de natureza qualitativa devem ser conduzidos através de um intenso e/ou prolongado contacto com o “campo”, privilegiando situações naturais que reflitam o quotidiano dos indivíduos. O principal objetivo neste tipo de metodologia é explicar o modo como as pessoas, nos seus ambientes naturais, chegam a compreender, a agir, a expor-se e a explicar, tal como acontece, por exemplo, numa sala de aula. Esta metodologia é adotada em contextos educacionais devido ao facto de se lidar diariamente com pessoas diferenciadas, sendo difícil obter um padrão de comportamento. Tal como defende Fenstermacher (1986, citado por Vale 2004):

em educação lidamos com pessoas, com entidades que possuem vontade, logo não podemos ter uma ciência que nos trate como se fôssemos átomos, moléculas, rolamentos ou planetas.

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É necessário que compreendamos como a ciência funciona quando trata com seres humanos que são constituídos em parte por emoções e sentimentos (p. 67).

Este tipo de investigação é difícil de definir unicamente numa expressão, contudo, pode-se avançar com uma definição genérica, como a que é proposta por Denzin e Lincoln (1994, referidos por Vale, 2004). Segundo estes autores, trata-se de um método multifacetado que envolve uma abordagem interpretativa e naturalista do assunto em estudo. Isto implica que os investigadores qualitativos estudem as coisas no seu ambiente natural numa tentativa de interpretar o fenómeno. Na metodologia qualitativa são colocados em prática vários processos, como o de observar, registar, analisar, refletir, dialogar e repensar. De acordo com Morse (1994, referido por Vale, 2004) esta metodologia inclui seis fases. A primeira é o estádio de reflexão, onde é pensado, identificado e determinado o problema a estudar. E foi desta forma que esta investigação nasceu, com a identificação de um problema que orientou todo o estudo. O propósito passa por dar resposta e esse problema, “no sentido de acumular suficientes conhecimentos que conduzam à sua compreensão ou explicação” (Vale, 2004, p. 74). A segunda fase é o estádio de planeamento, na qual o investigador seleciona o local, o público e formula uma estratégia de investigação. Aqui aprimora-se a preparação do autor do estudo e refina-se o problema e as suas questões. As fases seguintes passam por um momento de recolha de dados, de reconhecimento do local e do público alvo, o estádio de entrada, depois segue- se um momento de análise dos dados recolhidos, o estádio de produção e recolha de dados. Quase a terminar, surge a fase de reflexão sobre o trabalho já realizado, chamada de estádio de afastamento, e, por fim, o estádio de escrita, que é quando o investigador recorre a citações e ilustrações como auxílio à interpretação dos dados.

Bogdan & Biklen (1994), também definem cinco características essenciais na metodologia qualitativa: (1) a fonte direta dos dados é o ambiente natural e o investigador é o principal agente na recolha desses mesmos dados; (2) os dados que o investigador recolhe são essencialmente de carácter descritivo; (3) os investigadores interessam-se mais pelo processo em si do que propriamente pelos resultados; (4) a análise dos dados é feita de forma indutiva; e (5) o investigador interessa-se, acima de tudo, por tentar compreender o significado que os participantes atribuem às suas experiências.

56 Partindo destas ideias, pode-se assim concluir que a investigação qualitativa envolve um percurso onde se valoriza o caminho e não o destino, ou seja, os resultados obtidos. Para que isso aconteça com sucesso, os investigadores devem estar inteiramente envolvidos no campo de ação dos investigados, uma vez que, na sua essência, esta metodologia de investigação baseia-se principalmente em conversar, ouvir e permitir a expressão livre dos participantes (Bogdan & Biklen, 1994).

Neste estudo, no âmbito da investigação qualitativa, foi realizado um estudo de caso. De acordo com Ponte (2006) um estudo de caso visa conhecer uma entidade, uma instituição, um curso, um sistema educativo ou qualquer outra unidade social e:

O seu objetivo é compreender em profundidade o “como” e os “porquês” dessa entidade, evidenciando a sua identidade e características próprias, nomeadamente nos aspetos que interessam ao pesquisador. É uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspetos, procurando descobrir a que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse (Ponte, 2006, p. 2).

De acordo com Ponte (2006), o investigador procura num estudo de caso um exemplo. Esse exemplo pode ser pela “negativa”, negando aquilo que era dado como certo, pela “positiva”, mostrando uma realidade que nunca tinha sido vista e que acaba por validar as questões formuladas inicialmente. Porém, e de acordo com este autor, o que explica que o caso seja como é “são sempre as determinantes internas, a sua história, a sua natureza, as suas propriedades próprias, bem como as influências externas, próximas e distantes, diretas e indiretas que recebe do seu contexto. Por isso, no estudo de um caso, seja ele qual for, é sempre preciso dar atenção à sua história e ao seu contexto” (Ponte, 2006).

Mais do que um método, um estudo de caso é essencialmente um design, uma forma de investigar. Este design, de acordo com Ponte (2006), apresenta algumas características particulares. Primeiramente é considerado uma investigação de natureza empírica, baseando-se fortemente em trabalho de campo ou em análise documental. O investigador tem como função estudar uma certa entidade no seu contexto real, tirando todo o usufruto de várias fontes de recolha de dados como entrevistas, observações e documentos (Yin, 1984, referido por Ponte, 2006). Em segundo lugar, este tipo de

57 investigação não pode ser considerada experimental, é utilizada só e apenas só quando o investigador não pretende modificar a situação, mas sim compreendê-la tal como ela é.