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II- Mesorregião do Centro-Norte Piauiense: 3 Teresina Concentração da UDN.

2.1 Operação Nordeste: Reivindicações do Piauí.

O Piauí, em particular, não pode desperdiçar esse ensejo que lhe oferece a chamada “Operação Nordeste”. Urge que cuidemos, com urgência, de traçar um planejamento que consulte os nossos maiores e vitais interesses nos setores econômico, financeiro e social. Estou disposto a trabalhar com tenacidade pelo soerguimento do nosso Estado. Para essa árdua tarefa, estou confiante no espírito de compreensão de todos os piauienses de boa vontade, que por certo não faltarão com sua indispensável ajuda e valioso concurso nessa obra patriótica que reflete as superiores aspirações do povo de minha terra 148.

A fala do governador do Piauí ao jornal udenista Folha da Manhã, logo após sua viagem ao Rio de Janeiro, visava informar aos leitores os seus planos em relação à Operação Nordeste. Podemos observar o fascínio e a esperança criada em torno desse projeto, que como os outros propostos pelo presidente Juscelino, veio beneficiar poucos estados brasileiros.

Os anos de 1958-1959 foram marcados pela massificação do discurso em torno da necessidade de desenvolvimento da região Nordeste. Portanto, a OPENO (Operação Nordeste), assim como a CODENO, representavam etapas da iniciativa do Governo Federal em atender aos clamores de desenvolvimento para a região. As reuniões que balizavam o projeto, contavam com a presença dos Governadores dos Estados nordestinos, de técnicos e do Presidente da República. As sessões debatiam sobre as medidas a serem desenvolvidas para sanar o atraso e as crises que marcavam o território.

147

OLIVEIRA, 2008: 92. 148

DECLARA à Folha da Manhã o Governador Chagas Rodrigues, por ocasião de sua chegada ontem a Teresina. Folha da Manhã, Teresina, nº 362, 23 jan, 1959: 04.

No discurso, Chagas Rodrigues ecoa as ideias de planejamento, defendendo a necessidade de elaboração de projetos visando o crescimento econômico do Nordeste e do Piauí. Planejar foi uma das prioridades do primeiro ano de governo, mas para que isso fosse possível era necessário promover o desenvolvimento de pesquisas que informassem sobre a realidade socioeconômica piauiense. Era preciso apontar as prioridades. Os estudos indicaram que era importante construir novos sistemas de abastecimento d’água para as cidades de Teresina e Parnaíba.

Quando o governador afirma “trabalhar com tenacidade” e pede a “compreensão de todos”, ele usa uma relação de troca com os trabalhadores piauienses. Chagas Rodrigues dirige-se aos trabalhadores para informar que sua prolongada ausência do Piauí foi motivada pela necessidade de manter contatos com ministros na capital da República, visando sensibilizar os poderes públicos da esfera federal para a “redenção econômica, social e humana da vasta região piauiense” 149.

Fotografia 06. O governador Chagas Rodrigues no Aeroporto de Teresina.

Fonte: Ao Povo Piauiense! O Dia, Teresina, nº 980, 25 mai, 1962: 01.

149

As prolongadas ausências de Chagas, embora criticada pela oposição, trouxeram resultados positivos para as iniciativas que tomou à frente do Governo, uma vez que conseguiu a liberação de verbas públicas, como destaca uma notícia veiculada através do jornal Estado do Piauí:

A liberação de 20 milhões de cruzeiros para o aeroporto de Teresina, 15 milhões para o aeroporto de Parnaíba, 5 milhões para a Usina da mesma cidade e 10 milhões para a Termo Elétrica da nossa capital. Conseguiu mais uma concessão cambial para importação de três linotipos para a Imprensa Oficial e autorização para que sejam instaladas neste Estado Agências do Banco de Crédito da Amazônia e do Banco Nacional de Minas Gerais. Perante o Governador Piauiense o Presidente Juscelino autorizou os serviços de abastecimento d’água de Teresina, Campo Maior e Piripiri, pela união federal, e de Parnaíba e Floriano, sob regime de convênio com o Estado 150.

Mesmo o Estado sendo agraciado com as liberações de verbas, a imprensa oposicionista não deixava de fazer críticas à ausência do governante, além de ironizar e achar um “exagero” os jornais da situação, mostrarem e descreverem os feitos conquistados pelo governador. O jornal O Dia, afirmava que “as verbas transformariam a terra piauiense no Eldorado do país” 151, ou ainda, “em seis meses de governança, Chagas Rodrigues já fez pelo Piauí mais que todos os governadores piauienses no período republicano” 152. A ironia usada pelo jornal foi marca registrada ao longo da administração de Chagas Rodrigues, pois a intenção era acentuar o que vinha fazendo o governador, ou seja, revelar-se um homem de trabalho e realizações. A imprensa afirmava e ironizava que Chagas Rodrigues imitava Juscelino, em cujo governo, conforme declaração sua, o Brasil progrediria em cinco anos, mais do que fizeram por ele todos os governos da República153.

Contudo, em meio às insistentes críticas da oposição, ainda havia aqueles favoráveis ao Governo e que afirmavam, que no Piauí “há gosto, há colaboração e trabalho” 154. Afinal, o objetivo da administração Chaguista era realizar as transformações que a geração política passada não fizera, ou seja, de “transformar o Piauí em um Estado rico, próspero e desenvolvido, com um Povo instruído, sadio e feliz” 155.

150

Estado do Piauí, Teresina, nº 132, 23 abr, 1959: 01.

151

SILVA, Cunha. Não quer ficar por baixo de Juscelino. O Dia, Teresina, nº 682, 05 jul, 1959: 06. 152

QUARESMA, Desidério. Grande estadista. O Dia, Teresina, nº 686, 19 jul, 1959: 01. 153

Idem. Ibidem. 154

FEUDO. Folha da Manhã, Teresina, nº 390, 4 mar, 1959: 01. 155

ESTADO DO PIAUÍ. Mensagem do Governador Francisco das Chagas Caldas Rodrigues, à

Assembleia Legislativa, em 01.06.1961. Teresina, 1961. Fonte: (caixa 11- envelope 125-duplicada) pag.

Com a Operação Nordeste, o governador Chagas Rodrigues tem a tarefa de levar aos piauienses subsídios para soerguer o Estado, pois era considerado pelos políticos o mais pobre do Brasil. Essa era uma característica preocupante para alguns partidários, que viam “o Piauí sufocado entre o Maranhão, Ceará, Pernambuco, Goiás e Bahia, com o seu porto entupido de lodo, o Estado mendigo da Federação” 156. O deputado Lincoln Feliciano, em matéria no jornal Folha da Manhã, relata sobre a ausência da assistência governamental e diz que o estado estava “vivendo quase exclusivamente do trabalho heroico de seus filhos” e continuava afirmando que a ressurreição do Piauí e de outros Estados “dependia de bons governos, rodovias, de campos de aviação e irrigação” 157.

O Piauí sendo participante dos projetos da OPENO conseguiria crescer e tornar-se o estado que o governador almejava, ou seja, de “crescimento real, equitativo, justo e uniforme do nosso país”?158.

Em 4 de março de 1959, o jornal Folha da Manhã, divulga a reunião de parlamentares, técnicos e economistas, com a presença do governador Chagas Rodrigues e do Sr. Aluísio Campos, secretário executivo do Grupo de Desenvolvimento do Nordeste para exame de assuntos relacionados com a “Operação Nordeste” e o caso específico do Piauí. No encontro, o senador Matias Olímpio fez interpelações ao representante da OPENO, dizendo que o Estado do Piauí, como os demais, tem sido vítima do abandono de todos os governos centrais 159. O político fazia cobrança em relação à injustiça da distribuição de verbas, pois o Piauí que dava divisas para o país, não recebia recursos por ele mesmo produzido no comércio exterior.

Portanto, as reivindicações estavam sendo feitas aos representantes dos programas nacionais. O mesmo ocorre na “Confederação dos Governadores do Nordeste”. Nela, o governador Chagas Rodrigues apresenta como principais necessidades do estado: a construção da barragem no médio Parnaíba; industrialização do babaçu, com seu aproveitamento integral e a construção do porto de Luiz Correia 160. Das três exigências expostas acima pelo governador, foi de extrema importância a barragem e o porto de Parnaíba. Obras, que serviram como objetivo para

156

PIAUÍ é o Estado mendigo da Federação. Folha da Manhã, Teresina, nº 355, 14 jan, 1959: 01. 157

Idem, Ibidem. 158

Estado do Piauí, Teresina, nº 122, 15 mar, 1959: 01. 159

Folha da Manhã, Teresina, nº 390, 4 mar 1959: 01. 160

sua administração e como soerguimento da sua função trabalhista no Piauí. Com relação à Barragem do médio Parnaíba161 Chagas Rodrigues afirmou que:

A barragem do médio Parnaíba permitirá o aproveitamento das águas do grande rio, para fornecimento de energia, navegação e irrigação, preservando, ainda, as populações marginais das futuras enchentes. O orçamento da União para o exercício vigente, consigna, através do DNOCS, duzentos e cinqüenta milhões de cruzeiros para o empreendimento, vitória que devemos ao esforço da nossa representação federal. De comum acordo com a Direção Geral do DNOCS, solicitei ao Eng. Leonel Brizola, eminente Governador do Rio Grande do Sul, que o Prof. Casemiro José Munarsky, mundialmente conhecido, renomado técnico do Instituto Tecnológico daquele Estado, fosse, com sua equipe, posto à disposição do Governo do Piauí, a fim de ultimar os seus estudos e elaborar o projeto da grande barragem. 162

O governador em suas Mensagens ao poder Legislativo fez questão de destacar o esforço pessoal junto ao governo federal no sentido de viabilizar a construção de obras de infra-estrutura básica. Relata que tem obtido êxito em suas empreitadas e com isso tem conseguido solucionar problemas sociais e humanos, “integrando-se a todas as correntes de opinião, desde o proletariado, até as classes dos mais altos níveis” 163. Para Florence Carboni (2003), “todo produto da linguagem do homem, do simples enunciado a uma complexa obra literária, em todos os momentos essenciais, é determinado não pela vivência subjetiva do falante, mas pela situação social em que se dá a enunciação” 164

. Com isso, podemos compreender que o governador esforçava-se para agir de forma diferenciada dos seus antecessores, buscando cumprir as propostas reformistas e de crescimento econômico que a ideologia petebista propagava ao longo do governo JK.

Os seus adversários tomavam o caminho contrário e tentavam desconstruir os argumentos empregados pelo governador. O jornal Folha da Manhã, em matéria de 1961, aponta sua metralhadora contra a doutrina trabalhista, acusando o governador:

Ilude-se o homem do trabalho com uma falsa assistência social, distribuída pelos Institutos de Previdência que nada mais são do que meio de uma propaganda individualista, representada nos pareos benefícios de ordem, puramente, demagógico 165.

161

Aqui o governador Chagas Rodrigues trata da Barragem de Boa Esperança, que surgiu da “Comissão de Aproveitamento do Rio Parnaíba”, que resultou na escolha de um boqueirão na confluência do riacho dos Macacos com o rio Parnaíba, cerca de 80 quilômetros a montante de Floriano.

162

ESTADO DO PIAUÍ. Mensagem do Governador Francisco das Chagas Caldas Rodrigues à

Assembleia Legislativa em 1960. Teresina, 1960: 107.

163

Folha da Manhã, Teresina, nº 399, 14 mar, 1959: 06. 164

CARBONI, Florence. MAESTRI, Mário. A linguagem escravizada: língua, história, poder e luta de classes. São Paulo: Expressão Popular, 2003: 131.

165

Os udenistas que eram os idealizadores do periódico iniciaram oposição aos petebistas devido às questões partidárias nacionais, pois quando João Goulart (1961- 1964) assumiu a Presidência da República, a UDN rompe com o PTB piauiense 166. A consequência seria “um casamento que não deu certo” 167, ou seja, para as eleições de 1962 não seria possível a aliança UDN-PTB no Estado. Portanto, as críticas ao PTB ganhavam lugar, principalmente em relação à administração de Chagas Rodrigues. Para os representantes oposicionistas do jornal Folha da Manhã o governante fazia parte de uma agremiação partidária que procurava tirar proveito para sua posição política.

O cronista Cunha e Silva, em matéria do jornal O Dia, escreve que o governador “é a figura central do partido, não tem mentalidade reacionária e está em dia com os problemas do trabalhismo contemporâneo” 168. Chagas Rodrigues seria o representante da política trabalhista no Piauí e as suas propostas de governo não agradavam muito as antigas elites políticas, sendo assim o alvo de crítica entre os políticos do estado.

Em meio às ações irônicas da imprensa contrária ao seu governo, Chagas Rodrigues em uma de suas viagens a capital da República, é entrevistado pelo Diário

Carioca e faz a seguinte declaração:

Os meus adversários que não resolveram nenhum problema no Piauí, em oito anos de mando, desesperados, estão organizando contra mim, uma intensa campanha de difamação e chegam, mesmo, a forjar telegramas sobre minha conduta política. Prosseguindo o Sr. Chagas Rodrigues informou que a melhor resposta, no entanto, que ele tem para “a minoria de políticos superados do Piauí” é a que se refere ao seu trabalho como governador, em apenas seis meses à frente do executivo 169.

Depois das declarações no jornal, torna-se relevante a busca desenfreada por uma nova administração. De mostrar-se capaz de superar os governos anteriores, pois em “apenas seis meses à frente do executivo”, o trabalho realizado superava os oito anos da administração passada, ou seja, do partido pessedista. Com base na análise dos discursos de Chagas Rodrigues, compreendemos o tom salvacionista com que expõe seus argumentos de “reorganização” estadual e enfatiza a abolição do passado, como se

166

Para Marylu Oliveira os principais motivos do rompimento entre UDN e PTB foram: “o jogo eleitoral que estava previsto para o ano seguinte e o apoio aberto do governador à questão da Reforma Agrária, sendo esse segundo aspecto o acelerador do processo de ruptura da coligação”. Ver: OLIVEIRA, 2008: 258.

167

O Dia, Teresina, nº 872, 30 abr, 1961: 01. 168

O Dia, Teresina, nº 875, 11 maio, 1961: 04. 169

o governador quisesse “congelar” o tempo presente como motor da história, onde esta seria determinada como antes e depois de Chagas.

Até agora, vimos como funcionou o período dos anos de 1959-1960, no qual a proposta do governo nacional representada pela Operação Nordeste, veio fortalecer os ideais trabalhistas de Chagas, podendo assim, representar perante aqueles contrários à sua política, que o momento de mudança havia chegado ao Piauí. Nos próximos tópicos veremos os resultados de seu trabalho e a construção da sua imagem como “nova geração reformista” entre os piauienses.