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4. UM CIRCUITO REGULADO: A ORGANIZAÇÃO DAS INSTÂNCIAS

5.2 Operações de compra dos livros escolares

Ao assumirem essa responsabilidade de distribuir o material didático entre as crianças pobres, os governos provinciais ou estaduais passaram a figurar como os principais compradores de livros escolares, levando autores e editores a dedicarem, como já vimos anteriormente, uma atenção especial a essa ilustre clientela. Nessa condição, alguns governos negociaram diretamente com os autores ou com as casas editoriais a aquisição dos livros adotados em seus sistemas de ensino.

No Amazonas é relativamente expressivo o número de casos em que os próprios autores, ou seus representantes legais, negociavam diretamente com o governo a venda de seus livros. Para isso, ofereciam descontos ou facilidades de pagamento caso o negócio se efetivasse.

Tendo V.Excª se dignado ouvir o Exm° Snr. Director Geral da Instrucção Publica e este o Conselho Fiscal acerca do merecimento do Compendio de Physica para Leitura de Francisco de Paula Barros, ressalto que fôra o mesmo Compendio Adoptado, para uso das escolas da instrucção publica primaria da Província, na forma do art. 253 §9°, combinado com o §2° do art. 255 do Reg

Manáos, 16 de Outubro de 1885. Francisco de Paula Barros

(Correspondências da Instrução Pública jun dez 1885 – sn).

A documentação também oferece casos exemplares de negociação dos dirigentes amazonenses com as grandes casas editoriais do País. Um desses casos envolve o acordo efetuado entre o governo amazonense e a firma de Francisco Alves para o fornecimento de duzentos exemplares de cada uma das obras por elles offerecidas nas condições propostas em sua carta de 1° de março ultimo (Correspondencia da instrucção publica jan-out 1883 – 10).

Para além dessa negociação mais direta com os autores e as casas editoriais, pudemos levantar outras formas através das quais o governo realizava a compra dos livros e outros objetos escolares. O conjunto de cartas de um comerciante paraense, por exemplo, nos dá mostras de sua atuação como principal fornecedor de materiais escolares para a Província do Amazonas. Suas cartas são, em geral, para informar as autoridades amazonenses sobre a situação de seus pedidos: o andamento das compras dos objetos solicitados; a previsão de novas remessas; e as pendências existentes.

Como V.Sª verá pelas notas juntas remetemos parte de sua encomenda na importância de R 619$000, faltando o que abaixo se segue que será remettido logo que o recebamos do Rio de Janeiro e de Paris para onde fizemos os referidos pedidos.

Do pedido de 25 do p.p. falta:

100 Mestre d’escrita72 nos A, B, C, e D, sendo 100 de cada um; 194 Grammatica da Infância;

Do pedido de 27 falta;

1[ilegível] Philosophica

3 [ilegível], Historia do Brasil. Esta obra não encomendamos por não ter sido explicado se é a Historia do Brasil daquelle autor em 6 vol. q. in 8°; Não temos

72

Tudo leva a crer que esteja se referindo à obra francesa Maître d'écriture du peuple, 20 modèles d'écriture cursive anglaise..., composta por Joseph Schiffelholtz.

conhecimento de outros e pedimos portanto de certificar-nos se é a obra indicada

3 [ilegível]; Eloqüência Nacional 2 [ilegível], Álgebra;

2 Euclides, Geometria

Julgamos haver equivoco a respeito da encomenda do globo. O anno passado fez a nos pedido de uma esphera celeste e de uma geographica; veio aquella que já mandamos e reiteramos pedido desta; ultimamente falla-nos o Ilm° Snr. Inspector do Thesourio Provincial ser um globo terrestre [...]. Por isso rogamos que nos diga definitivamente se V.Sª quer ambas ou só uma e qual dellas então?

Pará, 17 de Fevereiro de 1870. Carlos [ilegível]

(Correspondências da Instrução Pública 1870-03).

As encomendas, como vemos, não eram apenas de livros destinados ao ensino primário. Para efetivá-las o comerciante paraense recorria a fornecedores das praças comerciais do Rio de Janeiro, de Pernambuco e da França. A distância que separava a Província do Pará desses centros comerciais, aliada ao fluxo de transporte marítimo que naquela época existia entre os seus respectivos portos, tornava a remessa de livros escolares para o Amazonas uma operação quase sempre demorada. Quase nunca as autoridades amazonenses recebiam de uma única vez todos os objetos encomendados.

[...] cumpre-nos communicar que envidamos os nossos esforços pª satisfazer

com urgência a totalidade do seu pedido, devendo observar todavia, que não podemos garantir a remessa dos objetos que esperamos do Rio de Janeiro e da Europa pelo 2° vapor deste mez por não sabermos se estará aqui já nesse tempo.

Pará, 17 de março de 1870. Carlos [ilegível]

(Correspondências da Instrução Pública 1870-03).

Em certos casos, era preciso esperar vários meses e várias remessas até que todos os exemplares de uma mesma obra encomendada fossem entregues. Até o dia 17 de abril de 1870, por exemplo, nem todos os exemplares do livro Mestre d’escrita, encomendados três meses antes, haviam sido entregues, tal como podemos depreender da correspondência que naquela data o comerciante paraense endereçou ao Diretor da Instrução Pública do Amazonas. Apesar de avisar sobre o envio de um caixote contendo os 39 exemplares do Mestre d’escritaque faltara na ultima remessa, além de outros materiais, o comerciante esforçava-se para justificar o atraso no envio dos demais exemplares deste livro: Sentimos não podermos mandar todos aquelles

BAZAR AMAZONENSE

Acha-se a venda e por preços mui commodos os seguintes objectos, chegados ultimamente pela barca – Rio Negro, a saber: excellentes doce de goiaba e marmellada, em caixas e latas, frascos com differentes qualidades de ditos, superior conserva; harmônicas de differentes tamanhos, [...] bandejas para copos, transas de diversas cores para enfeites de vestidos, [...] martellos para carpinteiro, ditos e colheres para pedreiros, feixaduras para bahús, manuaes

encyclopedicos, methodos facíllimos para as escolas do ensino primário, cartas de abc, cartilha de Sarmento e Pimentel, e outras muitas fazendas,

ferragens e miudezas. (ESTRELA DO AMAZONAS, 25 jun. 1856, p.3, grifo

nosso).

Aos anúncios do Bazar Amazonense, somavam-se os da Loja Barateiro e do estabelecimento de Leonardo Ferreira Marques. A venda de livros escolares nesses estabelecimentos que reuniam o comércio de mercadorias de naturezas tão diferentes pode parecer estranha aos nossos olhos contemporâneos, mas era perfeitamente ajustada ao ambiente econômico-cultural da época. Além desses estabelecimentos, os moradores da recente província poderiam comprar livros escolares na tipografia do próprio jornal Estrela do Amazonas, conforme anúncio publicado em suas páginas:

Na Typographia da Estrella do Amazonas encontra-se á venda o seguinte: formulários, leis, decretos, vida de S. João Nepumuceno, tabellas [...] Manuais incyclopedicos, methodos facillimos de aprender a ler, manobras de caçadores, obras de Dirceo, manuais de missa; e bem assim cartas de abc, taboadas, pautas, translados, papel imperial liso e pautado, papel mata borrão, pennas d’ave, caixa de ditas d’aço, canetas, vidros de tinta encarnada, garrafinhas com dita preta.

Afiança-se a boa qualidade destes gêneros e promette-se vender por menos que em qualquer outra parte. (22 set. 1858, p.4).

Em 1874, foi a vez do Commercio do Amazonas avisar seus leitores sobre a venda de exemplares do Paleographo do Dr. Joaquim Corrêa de Freitas, em sua tipografia (10 jul. 1874, p.2). Esse perfil de comércio lembra a figura do pequeno varejista que não arrisca seu capital na aquisição de elevadas quantidades de uma mesma mercadoria. Neste sentido, seu estoque de livros escolares atenderia, principalmente, as demandas dos moradores interessados em comprar o material didático de seus filhos. Isso não exclui a possibilidade de que, em alguns momentos, a Diretoria tenha recorrido a esse mercado local para que pequenos suprimentos de livros e demais objetos escolares fossem realizados.

Nos anos vizinhos da década de 1880, os contratos entre a Diretoria da Instrução Pública e o comércio local passaram a ser mais freqüentes e algumas firmas comerciais foram gradativamente assumindo o posto de principais fornecedores do material escolar.

A partir da década de 1880, nosso levantamento conseguiu localizar registros de fornecimentos das seguintes empresas:

Quadro 5. Relação dos comerciantes fornecedores de material escolar para a Diretoria da Instrução Pública (1882-1904)

Estabelecimentos Comerciais contratados pelo Governo amazonense como fornecedores de materiais escolares

Ano em que ocorreu a contratação

Antonio Alves Braga, José Teixeira de Souza & Cia

1882 Ernesto B. Pereira & Cª

João Maria Lurine [ilegível] & Cª

1883 Ernesto B. Pereira & Cª,

José Carneiro dos Santos

1884

José Carneiro dos Santos 1885

José Carneiro dos Santos 1886

Castro e Costa & Compª José Carneiro dos Santos & Compª Fonseca Lyra e Compª

1888

Aguiar & Cª (mais tarde passaria a ser denominada Livraria Palais Royal) Henrique Ferreira Penna

1898 José Renaud (Livraria Universal) Rua Municipal

Lino Aguiar & Cª (Livraria Palais Royal e, posteriormente, Livraria Velho Lino), Rua Municipal

1900

José Renaud (Livraria Universal) Rua Municipal Lino Aguiar & Cª (Livraria Velho Lino) Rua Municipal Henrique Ferreira Penna (Livraria Ferreira Pena)

1901

José Renaud (Livraria Universal) Rua Municipal

Lino Aguiar & Cª (Livraria Palais Royal e, posteriormente, Livraria Velho Lino), Rua Municipal

Henrique Ferreira Penna (Livraria Ferreira Pena)

1902

José Renaud (Livraria Universal) Rua Municipal 1903

José Renaud (Livraria Universal)

Livraria Ferreira Pena (Existem indícios de que Henrique Ferreira Penna tivesse transferido a propriedade de seu estabelecimento para José Renaud)

1904

impressos. Alguns desses estabelecimentos sobressaíram-se no cenário local e tinham em comum a associação da livraria com a atividade tipográfica.

Fachada da Livraria e Tipografia Palais Royal. In: ALMANACH para 1905: brinde da livraria Palais Royal. Manaos: Lino Aguiar & Cª, 1905 (Acervo do Museu Amazônico – Universidade Federal do Amazonas).

Interior da Livraria Universal. In: Indicador Illustrado do Estado do Amazonas 1910. (Acervo do Museu Amazônico - Universidade Federal do Amazonas)

Nas cidades do interior a venda de livros escolares continuou sendo realizada por estabelecimentos onde eram comercializados os mais diferentes artigos. Em 1897, um anúncio publicado no jornal Mariuaense, que circulava em Barcelos e outras cidades do Rio Negro, revelava que nessa região essa mercadoria era vendida em casas comerciais muito parecidas com aquelas existentes em Manaus nos primeiros anos da província. O anunciante era o Basar Barcellence, onde era possível encontrar remédios para diferentes males (dores de cabeça e de dentes, anemias, reumatismos), ralos, objecto de luxo, phantazias e, também, grande collecção de livros de instrucção primário (29 jul.1897, p. 2). No entanto, o preço de venda que os livros escolares alcançavam em estabelecimentos como esse muitas vezes foi objeto de queixa da população local. Os próprios editores do Mariuaense, mesmo tendo o Bazar Barcellence como principal anunciante, não deixaram de denunciar que os livros que se encontra na Villa, são caríssimos e quase inaproveitáveis (27 mai. 1897, p.2).

Ao lado dessa queixa surgiu uma outra, presente nas vozes de professores e pais de alunos residentes em localidades onde não existia nenhum tipo de estabelecimento que vendesse livros escolares. Epiphanio José Monteiro, professor da escola primária localizada na Povoação de Massanary, revelou que não havia livros á venda nesta povoação e nem em Maués, o que

Aos professores das escolas mais distantes enviara annualmente o director geral da instrucção publica, com a tabella dos respectivos preços, numero sufficiente de exemplares dos livros e compêndios admittidos nas aulas de ensino publico, para d’elles se proverem os alumnos que não forem pobres. Esses professores remetterão semestralmente ao director geral a relação dos livros e compêndios que houverem sido comprados e a respectiva importância, que será recolhida aos cofres provinciaes (art. 145, 31 ago. 1864).

A medida parecia ser bastante razoável, tendo em vista os efeitos que ela poderia alcançar de uma só vez, ou seja: garantir às famílias com recursos financeiros a possibilidade de comprar os livros escolares necessários aos estudos de seus filhos e restringir a distribuição gratuita desse material aos alunos pobres. Não sabemos por quanto tempo e nem com que intensidade essa medida foi efetivamente posta em execução; o certo é que ela não reapareceu nos regulamentos posteriores. A hipótese de que sua vigência ou sua aplicação tenha sido breve ou, na melhor das hipóteses, tenha obtido pouco alcance é reforçada pelo conteúdo de algumas correspondências produzidas pelos professores das escolas primárias do interior. Com maior ou menor ênfase, as cartas revelam que por algum tempo, em muitas cidades do interior do Amazonas, o livro escolar continuou sendo uma mercadoria cara ou rara.

Para o governo as possibilidades de aquisição das obras escolares eram outras. Desde a década de 1870, não faltavam editores e autores brasileiros, além de comerciantes locais, fazendo-lhe proposta de fornecimento dos livros escolares de que tinha necessidade. Por trás do assédio desses agentes existia, é claro, o interesse nos ganhos financeiros que poderiam conseguir nesse tipo de negócio; afinal, um único fornecimento representava a possibilidade de vender, de uma única vez, parcelas significativas de seus estoques de livros.

A promessa de ser um negócio potencialmente rentável não impediu que alguns comerciantes locais maquinassem formas de obter ganhos ainda maiores. Este parece ter sido o

caso flagrado pelo Presidente da Província, Domingos Jacy Monteiro, e relatado ao seu sucessor, em 26 de maio de 1877:

Não está [...] comprehendida uma conta que me foi apresentada pelo negociante Lurine & Cª de livros fornecidos para a instrucção publica por ordem do meu antecessor sem declaração de preço. Informando-me deste negocio, reconheci que, das obras fornecidas, uma cujo preço indicado na conta era de 3$500 por exemplar, tinha apenas o valor real de 2$000; outra que estava por 3$000 só valia 1$500; finalmente a ultima, que estava também por 3$000, só poderia por favor valer 1$000; é um simples folheto, de pequeno formato, contendo as primeiras noções de arithmetica em 72 paginas! Sendo 200 exemplares de cada obra, importavam pelo preço pedido em 1:900$000, quando em rigor não se podiam pagar mais de 900$000. Assim pretendia-se receber da província, em tão exíguo fornecimento, 1:000$000 sobre o lucro rasoavel e licito da mercadoria! Recusei satisfazer a semelhante pretensão, e mandei que o inspector do thesouro providenciasse para que a conta fosse reduzida ao justo valor. (AMAZONAS – Relatório, p.794)

É pouco provável que o comerciante Lurine não contasse com a conivência de agentes do poder público para concretizar seu plano de vender livros escolares com valores tão elevados. A própria autorização de fornecimento sem conhecimento prévio dos preços cobrados pelo comerciante contratado já denota uma certa facilitação, administrativa ou legal, para a prática desse tipo de irregularidade.

Medidas de controle e fiscalização foram adotadas por alguns administradores a fim de coibir práticas como estas. A partir da década de 1880, parece ter sido mais freqüente a realização de concorrências públicas entre as empresas interessadas nos contratos de fornecimento, aumentando as possibilidades de identificar as melhores propostas de preços para cada um dos objetos escolares e, a partir daí, selecionar quem seriam os seus fornecedores. Esta foi a modalidade de licitação adotada pelo governo para definir as empresas que, em 1883, iriam fornecer os objetos necessários ao expediente semestral das repartições e das escolas primárias da província. Da publicação do edital até a assinatura do contrato de fornecimento, um pouco mais de trinta dias se passavam, tempo necessário para que as os interessados apresentassem suas propostas de preço na sessão convocada pela Junta Administrativa da Fazenda. A transcrição de parte do resumo73 elaborado pelos representantes dessa Junta fornece-nos indicações sobre quem

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Originalmente esse resumo menciona outros produtos destinados ao expediente das repartições provinciais. Transcrevemos aqui somente a parte do documento referente ao material para as escolas primárias. No entanto, para uma análise comparativa dos preços de livros em relação a outros objetos (vassouras, bandejas...), a consulta integral do documento parece ser mais indicada.

Cathecismo do Pará Um 1.000

Caderno de Caligraphicos de Adeln Coleção 2.000

Cadenos de normas da escripta de Adlers Coleção 1.300

Cartas de abc Cento 8.500

Esponja Grossa Grama .070

Giz Caixote 4.500

Grammatica Dr. Abílio Uma 1.200

Geographia Dr. Freitas Uma 1.400

1° Livro de leitura do Dr. Abílio .650 .600

2° Livro de leitura do Dr. Abílio 1.700 1.600

3° Livro de leitura do Dr. Abílio 2.750 2.200

Paleographo do Dr. Freitas 1.200 Potes de Barro - - - - Taboadas Cento 8.500 Tinteiros de chumbo Um - - - Tinteiros de vidro Um 1.400 Traslado Coleção - - -

Papel almaço pautado Resma 12.000

Fonte: Ofícios da Presidência ago 1874 a dez 1883 – sn

Pelo menos neste caso, vemos que a empresa de Ernesto B. Pereira & Cª se tornou a principal fornecedora de produtos escolares para o governo amazonense. Chama a atenção o fato de quase não existir concorrência entre as empresas para o fornecimento de um mesmo produto; a exceção fica por conta da coleção de livros de leitura do Dr. Abílio, cujos preços na casa comercial de João Maria Lurine eram maiores do que aqueles propostos pelo seu concorrente direto.

Depois de analisar e comparar os preços de cada proposta, os membros da Junta Administrativa elaboravam, ainda na presença dos proponentes, um termo volante que seria encaminhado à

aprovação da Presidência da Província.

Com o passar dos anos, foi possível identificar uma preocupação em consolidar e aperfeiçoar a utilização da concorrência pública como modalidade capaz de combater as irregularidades na aquisição do material escolar. Em alguns casos, as medidas voltaram-se mais diretamente para as empresas interessadas em participar dessas concorrências, estabelecendo

exigências que incluíam a apresentação de suas propostas acompanhadas de amostras dos objetos e a comprovação de depósito da quantia estipulada como garantia da assinatura do contrato, entre outras. Em outros casos, as medidas — materializadas, quase sempre, na diminuição da autonomia dos dirigentes da Instrução Pública em relação à realização de gastos — buscavam intensificar o controle e a fiscalização sobre as operações de compra dos objetos escolares. . Mas todas essas medidas não foram suficientes para evitar que, algumas vezes, irregularidades relativas à aquisição desses objetos voltassem a ocorrer. Notícias sobre as medidas tomadas e a indiferença com que foram tratadas pelo então Diretor da Instrução Pública podem ser encontradas o relatório elaborado, em janeiro de 1887, pela contadoria do Thesouro:

Com o fim de fiscalizar melhor o fornecimento de livros etc., para as escolas da província, por officio de 14 de Janeiro ultimo, ordenou-se ao Director da Instrucção Publica , que não fizesse nenhuma encomenda sem previa sciencia e autorização da Presidência. Esta resolução foi tomada em vista das repetidas compras que se fazião, sem conhecimento da administração.

Posteriormente, em 25 do mesmo mez, S. Exc., o Sr. Presidente da província, como complemento da medida acima, estabeleceu que os fornecimentos á Instrucção Publica fossem feitos por meio de concorrência publica, devendo os respectivos pedidos serem-lhe encaminhados, afim de ordenar ao Thesouro Provincial o seu fornecimento por aquelle meio, visto que os acanhados recursos da província exigião o emprego da máxima economia e fiscalização em taes pedidos, que deverião ser restringidos ao strictamente necessário.

Em vista desta recomendação, S. Exc. não mandou pagar uma conta que lhe foi enviada pelo Director da Instrucção Publica, da compra de um regulador na importância de 500$000, visto não haver credito para tal pagamento, e não ter o pedido seguido os tramites determinados. Assim, evitou S. Exc., por seu propósito de economia, que o Thesouro fosse sobrecarregado com aquella importância.

Sendo presentes, pelo mesmo Director, para serem pagas algumas contas, de fornecimento de livros, com preços superiores aos de fornecimentos iguaes, anteriormente feitos, por officio de 27 de Janeiro próximo passado, mandou-se pagar uma nestas condições, declarando a Presidência ao Thesouro que o seu pagamento se effectuasse pelos preços dos fornecimentos anteriores. Com este alvitre, economisou se alguma cousa, que a Secretaria não póde determinar, porque não tem conhecimento dos fornecimentos.

(apud AMAZONAS - Mensagem, 1887, p.32).

Dois anos mais tarde, novas suspeitas de irregularidade recaíram sobre a operação de compra do material escolar. Tudo indica que essa nova ação contra o erário público só tenha sido descoberta a partir dos esclarecimentos que o dirigente da Instrução Pública, Antonio Francisco Monteiro, prestou ao presidente Manuel Francisco Machado, em novembro de 1889:

Instrucção Publica.

Comprehendo que V. Exª muito há de extranhar ter-se feito em janeiro um fornecimento de 300 resmas de papel, 300 litros de tinta, 300 caixas de pennas, 650 exemplares de 1°, 2° e 3° livros de leitura, 10 kilos de esponja, e outros artigos n´esta proporção e que antes de findar o anno já não haja um só artigo dos fornecidos, e comprehendo ainda mais que a extranheza de v.Exª será muito maior quando inteirar-se de que semelhantes artigos já não existissem em Março, pois deste mez em diante, até hoje, os meus antecessores virão-se obrigados a fazer novos pedidos dos mesmos artigos aos mesmos fornecedores, na importância de dois contos quinhentos e sessenta e seis mil reis [...] Nos últimos mezes do anno passado os Srs. Castro e Costa & C.ª forneceram por conta da viúva Freitas74, seis mil exemplares de 1°, 2° e 3° livros de leitura e paleographo, tudo segundo me consta, importando em seis contos de reis; destes artigos não há um só exemplar no archivo.

Parece a primeira vista que dada a hypothese de terem funccionado este anno

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