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Operações constitutivas da produção escrita

2. A aprendizagem da produção escrita em turmas inclusivas

2.1. O processo de escrita

2.1.2. Operações constitutivas da produção escrita

De acordo com o exposto anteriormente, referente aos modelos de produção textual, durante o processo de escrita efectuam-se três operações: a planificação, a textualização e a revisão. Estas não necessitam obrigatoriamente de se estabelecer por esta ordem. Como já foi referido, é possível durante a textualização realizar parte da revisão do que já foi escrito, assim como é possível, alterar a planificação do que se pretendia escrever, dependendo estas opções essencialmente de quem escreve, como escreve e para que escreve. Outros factores que interferem na forma como se realizam estas operações serão a situação e as indicações fornecidas pelo professor para a tarefa de escrita (cf. Garcia-Debanc, 1996).

Assim, podemos admitir que a produção escrita flui recursivamente através de um conjunto de processos, que passamos a explicitar.

2.1.2.1. Planificação

De acordo com Hayes & Flower (1980), a realização de uma planificação de acordo com o texto que se vai redigir é uma forma de arquitectar e idealizar o texto, o que será uma ajuda fundamental para a textualização e revisão do mesmo.

O processo de planificação, ao partir da informação recuperada da memória e do contexto de realização da tarefa, passa por três sub-processos:

“geração (recuperação e selecção das informações guardadas na memória de longo prazo);

organização (estruturação dessas informações de acordo com um plano cronológico e/ou

hierárquico) e avaliação/controle (avaliação do plano escrito ou representado, tendo como referência os objectivos inicialmente determinados pelo contexto de produção).” (Silva, 2008, p.112 )

Ao planificarmos estamos a trabalhar para que o texto seja coeso e coerente, servindo esta planificação como um plano a seguir.

A realização da planificação textual, pode mesmo ser vista como a diferença entre bons e maus escritores, pois quando planificamos estamos a activar conhecimentos sobre o tópico e género de texto, a programar a forma como se vai realizar a tarefa, a efectuar pesquisas e consultas, a tomar notas para posterior utilização, a seleccionar e organizar a informação, a elaborar planos quer mentalmente quer por escrito e a projectar mentalmente a organização do texto, (ou de unidades como capítulos, secções, parágrafos ou grupos de frases). Daí a sua importância.

2.1.2.2. Textualização

A textualização pode vista como o momento em que se dá forma às ideias expostas na planificação. É aqui que se passa à efectiva redacção, em que a partir de palavras, frases e parágrafos se constitui o texto.

De acordo com Vigner (1990), a textualização é uma etapa que exige do escritor dois tipos de trabalho: primeiro, deve retomar as informações já enunciadas enquanto introduz novas informações, de modo a assegurar a coesão dos enunciados entre si segundo terá de encontrar os elementos lexicais essenciais para a representação dos factos, acontecimentos, informações no seu dicionário mental.

A fase da textualização corresponde à colocação em prática dos planos feitos durante a planificação.

O aluno à medida que vai escrevendo, necessita de explicitar o conteúdo, ter cuidado na apresentação da formulação e articulação linguística, pois um texto é muito mais do que um conjunto de frases, tendo que possuir uma coesão e coerência, que lhe conferem exactamente o seu nome: texto.

2.1.2.3.Revisão

A revisão de um texto é avaliar o que se escreveu, relendo, riscando, apagando, corrigindo, reformulando. É nesta fase que se deve proceder a uma leitura cuidada do que se escreveu, realizando uma avaliação e possível correcção de tudo o que possa não estar de acordo com o esperado.

No modelo de Hayes & Flower (1980), a revisão surge referida como a terceira actividade do processo de escrita. No entanto, a revisão pode e deve actuar ao longo de todo o processo de escrita, nomeadamente, em articulação com a textualização, sem que isso signifique que se exclui do processo de escrita uma revisão final.

Nesta fase o aluno vai auto-analisar o texto produzido, verificando ínumeros aspectos, tais como: a construção frásica, a presença de todos os elementos no texto, possíveis repetições, conteúdo textual não necessário para o contexto, ortografia, verificar a coerência entre o escrito e o plano inicial, etc.

Para Schneuwly (1988) a revisão compreende três fases: a detecção do erro, a identificação da sua natureza e a correcção, já Bereiter & Scardamalia (1983) descrevem o processo de revisão como o resultado da comparação entre o texto efectivamente produzido com o texto ideal, de que resultam duas fases: o diagnóstico do problema e a correcção.

Na operação de revisão, assim como em todas as outras, está subjacente o conhecimento do que é um texto e, mais especificamente, das características textuais que distinguem um

determinado tipo de texto. Na secção seguinte abordaremos, de forma breve, as noções de texto e de tipo de texto, dando maior destaque ao texto informativo.

2.2. O texto

Embora tenha sido utilizado desde sempre no contexto escolar, o termo texto assume actualmente um estatuto teórico específico no âmbito da linguística textual e da didáctica (cf. Cassany et al. 2000, p. 313), pelo que, no âmbito do presente projecto de investigação, nos parece fundamental definir este conceito.

São inúmeras as definições de texto que podemos encontrar na literatura actual. De acordo com Halliday & Hasan (1976), um texto é qualquer sequência, falada ou escrita, de qualquer extensão que forma um todo unificado. Já, para Adam (1992, p. 28) um texto é uma estrutura hierárquica complexa, compreendendo várias sequências elípticas ou completas do mesmo tipo ou de tipos diferentes.

Por sua vez, Duarte (2003) considera que:

“Quando usam a língua, os falantes não produzem palavras ou frases isoladas, desligadas umas das outras e do contexto situacional e discursivo. Pelo contrário, tanto os produtos resultantes do uso primário da língua na situação básica da conversa como os que resultam do uso da língua escrita em situações não pessoais, tanto os produtos de um só locutor como os que resultam da actividade colaborativa de vários falantes são objectos dotados de sentido e de unidade – ou seja, são produtos coesos internamente e coerentes com o mundo relativamente ao qual devem ser interpretados. A tais produtos chama-se textos”. (p. 87)

Mais recentemente, no Dicionário Terminológico, podemos encontrar a seguinte definição de texto:

“O texto é prototipicamente uma sequência autónoma de enunciados, orais ou escritos, de extensão variável - um texto pode ser constituído por um único e curto enunciado ou por um número elevadíssimo de enunciados -, com um princípio e um fim bem delimitados, produzido por um ou vários autores, no âmbito de uma determinada memória textual e de um determinado sistema semiótico, isto é, em conformidade, em tensão criadora ou em ruptura com as regras e as convenções desse sistema, e cuja concretização ou actualização de sentido é realizada por um leitor/intérprete ou por um ouvinte/intérprete (no caso da literatura oral). A coesão, a coerência, a progressão temática, a metatextualidade, a relação tipolágica, a intertextualidade e a polifonia são as principais propriedades configuradoras da textualidade. (…) ”

Para que um texto possa ser considerado como tal, deve respeitar um conjunto de propriedades, que não coincidem necessariamente nas propostas de diferentes autores. De acordo com Beaugrande (1980) e Beaugrande & Dressler (1981), é fundamental que o texto respeite propriedades, tais como: coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade e intertextualidade. Das várias

propostas disponíveis na literatura destacam-se dois critérios como sendo determinantes para que um texto seja considerado um bom texto e para os quais os outros critérios referidos parecem concorrer: a coesão e a coerência (cf. Silva 2008).

Numa perspectiva de ensino e de aprendizagem, para o desenvolvimento da competência textual, aos critérios de textualidade acresce o conhecimento dos diferentes tipos de texto.