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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.5 OPERADORES ARGUMENTATIVOS E A CONSTRUÇÃO DO TEXTO

ARGUMENTATIVO

Sabemos que não existe um procedimento mágico para se produzir um bom texto, pois a atividade de escrita necessita de fontes alimentadoras de macro e microestruturas que possibilitem um texto bem elaborado. São esses componentes associados que tornam possível o planejamento, a compreensão, a memorização e a reprodução organizada das ideias no texto, pois esses elementos e mecanismos acionados no momento da produção permitem manter a coerência textual.

Assim, para que a atividade de escrita se realize, vários conhecimentos responsáveis pela organização global e pela significação do texto são acionados pelo escritor. Além dos componentes extralinguísticos relacionados ao conhecimento de mundo e aspectos cognitivos inerentes ao processo, como habilidade de raciocinar, analisar, sintetizar e tantos outros envolvidos nesse procedimento, escrever exige certo domínio estruturador da língua para que seja possível a manifestação linear do texto. Conforme Sautchuk (2003, p. 22), “[...] esse domínio implica, certamente, um conhecimento basicamente de caráter sintático, gramaticalmente admissível”.

Essa competência de usar palavras e frases, organizadas como mecanismos de coesão permite construir a linearidade do texto.

O mau uso dos elementos linguísticos e estruturais (do texto) pode criar incoerência, normalmente em nível local. Se o produtor de um texto violar em alto grau o uso desses elementos, seu receptor não conseguirá estabelecer o seu sentido e o texto seria teoricamente incoerente em si por uma questão de estremo mau uso do código linguístico. (KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 37).

Cientes, então, de que a produção textual além de exigir certo conhecimento sobre o tema em questão, também exige várias habilidades para a organização das ideias e para a conexão entre as partes do texto. Por isso, torna-se importante a escolha de certas palavras responsáveis por essa conexão, porque elas auxiliam na obtenção de sentidos para os enunciados.

Texto é mais que uma somatória de frases. Já se constitui um consenso entre estudiosos como Oswald Ducrot, Ingedore Koch, Luiz Antônio Marcuschi e tantos outros, como também para alguns usuários da língua, de que um texto oral ou escrito não se constitui de frases aleatórias, mas num evento formado por um entrelaçado de ideias, com propósito comunicativo, pois o texto visa a cumprir determinado objetivo, e esse propósito é o responsável por direcionar o que e como expressar determinada ideia para que essa seja compreendida pelo interlocutor, conforme o pretendido pelo produtor do texto.

Para Antunes (2010), “[...] entender um texto supõe a habilidade de identificar esse propósito e, por vezes, discernir entre o que é propósito e o que são as estratégias para se conseguir esse propósito. ” (ANTUNES, 2010, p. 70). E esse entrelaçado de ideais que forma um texto deve ser conectado adequadamente para que se confira um sentido ao texto. Com efeito, “Para que um grupo de palavras ou de frases constitua um texto, é necessário que esses conjuntos apresentem um encadeamento, uma articulação, elos.” (ANTUNES, 2010, p. 117).

Todavia, esses elos entre as partes do texto não pode ser uma ligação realizada de qualquer jeito. O texto necessita de uma articulação, que seja capaz de oferecer instruções de leitura. Articulação que acontece com base nos elementos e mecanismos de coesão e coerência, os quais carecem de ser reconhecidos como instruções capazes de estabelecer a coerência textual.

Os vários enunciados construídos num discurso e as relações de sentido entre eles são fruto de uma conexão que ocorre, muitas vezes, através dos operadores argumentativos, que além de ligarem partes do texto, estabelecem entre elas um tipo de relação semântica. Por isso que esses elementos linguísticos portadores de significados, ao ligarem partes do texto, devem ser usados com critérios e/ou fins perante os sentidos que queremos dar ao discurso.

Os operadores argumentativos relacionam o conteúdo de duas proposições, evidenciando as intenções dos enunciadores, sendo, portanto, responsáveis pela coesão do texto, pois, de acordo com Koch (2011, p. 33), esses elementos encadeiam os enunciados, estruturando-os em textos, determinando a orientação discursiva pretendida. Expressam relações não só entre os elementos no interior da frase, mas, também, entre frases e sequências de frases dentro de um texto.

Ideia defendida também por Adam (2011) para quem esses elementos no enunciado têm funções de segmentação, de responsabilidade enunciativa e de orientação argumentativa. Para ele, os operadores argumentativos “permitem uma reutilização de um conteúdo proposicional, seja como um argumento, seja como uma conclusão, seja, ainda, como um argumento encarregado de sustentar ou de reforçar uma inferência, ou como um contra-argumento” (ADAM, 2011, p. 189).

Dessa maneira, considerando os saberes aqui já postulados, compreendemos que esta ligação entre as partes do texto é bastante relevante, visto que estabelece relações semânticas e pretensões argumentativas entre os argumentos, pois, enquanto conectam, orientam os argumentos numa sequência de sentidos que se pretende alcançar. Esses vocábulos são fundamentais na compreensão e interpretação de discursos com propósito argumentativo ou persuasivo. São importantes, principalmente, porque introduzem argumentos, acrescentam argumentos novos, indicam oposição a uma afirmação anterior, concluem ideias, dentre outras funções essenciais para a construção de sentido do texto.

Ao escrevermos, precisamos organizar nossas ideias de maneira que se tenha uma sequência, uma conexão entre as partes, capaz de estabelecer um sentido geral ao discurso proferido. Por isso, a escolha de certas palavras não pode ser por acaso, e os operadores argumentativos fazem o papel de conectar, num texto oral ou escrito, as partes entre si e,

principalmente, são capazes de introduzir um argumento, acrescentar argumentos novos, indicar oposição a uma afirmação anterior, concluir, auxiliando na coesão e, sobretudo, na construção de sentido. De acordo com Koch (2011), os operadores argumentativos orientam a direção discursiva do texto, visto que são responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, estruturando-os em textos. No entanto, muitas vezes, na atividade de produção textual não são atribuídos a esses elementos linguísticos a devida importância que essas marcas trazem para o texto, que é a de atribuir sentido, orientando o discurso.

Para Antunes (2010), tais elementos, responsáveis por ligar partes do texto de forma a atribuir sentidos, são canonicamente mais representados pela classe das conjunções coordenativas e subordinativas. A autora destaca que o uso desses elementos – também denominados por ela de expressões conectivas – na prática do trabalho escolar, “essa classe de palavras tem sido vista, preferencialmente, na dimensão sintática, submetida quase exaustivamente, aos famosos esquemas que culminam com a classificação das orações” (ANTUNES, 2010, p. 136). Isso faz obscurecer o teor semântico e, sobretudo, a função textual dessas palavras de conexão que enquanto ligam vão marcando a orientação das argumentações, fornecendo pistas da sequência de sentidos ou dos atos de linguagem efetivados.

Então, faz-se necessário abordar esses elementos gramaticais em sala de aula, com um tratamento direto e a partir do texto, uma vez que a escolha por determinados operadores acarreta sentido ao que se deseja expressar, principalmente em textos de opinião.

É preciso que os alunos percebam e compreendam as formas de inserir sua argumentação com a mestria necessária, identificando a funcionalidade e o poder de uma palavra no contexto. Ou seja, para que os alunos ampliem sua competência comunicativa, no que concerne à construção de textos argumentativos, torna-se importante aumentar o domínio do uso dos operadores argumentativos, para que assim sejam capazes de usar esses elementos de forma adequada nos textos por eles produzidos.

Dessa maneira, o trabalho com textos argumentativos – em sala de aula – é uma ferramenta capaz de fazer com que os alunos observem na prática os gêneros textuais da ordem do argumentar, como também os mecanismos linguísticos normalmente utilizados pelo sujeito enunciador na construção desses textos.