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1.2 OPINIÕES DE EMINENTES LIDERANÇAS SOBRE

Para Pedro Pou (Presidente do Banco Central até maio de 2001. Cabe aqui ser citado que ele foi destituído pelo Presidente Fernando de la Rúa porque se recusou a alterar a lei de conversibilidade que ancorou o peso ao dólar) a conversibilidade era um sucesso, e a Argentina entrou em crise em razão de um conjunto de equilíbrios múltiplos e tensões políticas. A conversibilidade, sugeriu Pou, promoveu uma estabilização e a Argentina com isto pôde focalizar seus esforços em reformas importantes, dentre elas: a privatização, abertura comercial, independência de Banco Central, consolidação e melhoria da situação fiscal. Pou reconhece, no entanto, que reformas importantes, como a trabalhista e judicial não foram concluídas.

Se se fosse definir um ano para o início efetivo da crise, 1998 é o ponto crucial. Com uma dívida pública que somava 43% do PIB e uma dívida privada equivalente a 12% do PIB, ao lado de um déficit fiscal de 2,6%, cresceu-se o medo de não sustentação da dívida.

Andrés Velasco, Universidade de Harvard, tem a mesma opinião quanto à data. Para ele 1997/98 era um momento bom para encerrar a experiência. Entretanto como os agentes “não quiseram pôr fim ao currency board”, nada foi concluído. A crise decorrente provou os perigos de se escutar a manada.

Domingo Cavallo, Ex-Ministro da Economia da Argentina, faz a defesa enfatizando que aquela conversibilidade era o reconhecimento formal do que já ocorria no país. Antes de 1991, as pessoas já negociavam e poupavam em dólares.

Anne Krueger, Primeira Subdiretora Gerente do FMI, em uma conferência promovida em julho de 2002 pelo NBER, destacou que a Argentina tem dificuldades para sair da crise que houvera sido instalada também porque os investimentos no país são baixos e as exportações são, para um país de mais de 30 milhões de habitantes e recursos naturais abundantes, economicamente pequenas.

De forma bastante didática, nesta mesma conferência ela, em síntese, enumerou as principais causas da crise. Como se trata de uma análise posterior, as críticas acabaram por deixar evidente a falta de ação do órgão a que ela estava vinculada, o Fundo Monetário Internacional. Adotando uma postura de mescla de mea culpa com defesa prévia ela faz o seguinte comentário:

“O FMI tem sido repetidamente acusado de ser demasiado exigente em matéria de política fiscal, crítica que foi claramente percebida nos primeiros dias da crise asiática”. Porém no caso da

Argentina, ocorreu o contrário. Na América Latina os problemas fiscais se fazem presente, frequentemente, em um contexto de complacência em períodos de auge econômico. No caso da Argentina se repetiu esta velha história, e o FMI devia ter promovido mais energicamente a adoção das medidas pertinentes. Não obstante, nunca é fácil persuadir às autoridades sobre a necessidade de apertar o cinto quando os investidores e credores estrangeiros estão dando um aparente voto de confiança ao colocar capital no país.

As principais causas citadas por ela são:

• Primeiro, a política fiscal foi muito frágil na fase ascendente do ciclo, combinada com a crescente sobrevalorização da moeda, reflexo de una taxa de inflação relativamente alta. No caso da política fiscal é importante examinar as finanças do setor público tomadas em conjunto, incluídos o Governo federal e os governos provinciais. Em grande medida, o problema fiscal obedeceu a falta de disciplina em nível provincial, exacerbada pela transferência de recursos por parte do Governo federal. Neste caso se chega a um déficit estimado em torno de 2,5% do PIB, que chegou a seu mais alto nível em 1997 e 1998. As cifras haviam sido ainda mais elevadas se não se tivesse utilizado os recursos do programa de privatização para financiar o gasto corrente.

Um dos outros graves problemas que afetaram as finanças públicas, consistiu na crescente diferença entre os salários pagos pelo Governo federal e os do setor privado. Em 1994 a remuneração do empregado federal em média superava em 25% à recebida pelo empregado em média do setor privado; em 1998, a diferença havia subido a 45%. Além disto, o número de pessoas do setor público era mais do que excessivo.

A situação começou a piorar gravemente no fim de 98 e início de 99 devido ao contágio da crise russa no segundo semestre de 98 e ao colapso do Plano Real no Brasil. Não se pode deixar de mencionar um problema de ordem política – com consequências econômicas - no âmbito interno: a adoção de uma política fiscal ainda mais flexível em virtude do propósito do Presidente Menem de permanecer no cargo.

Terceiro, o Plano de conversibilidade deu permanência à sobrevalorização da moeda, dada a falta de flexibilidade da economia interna.

O valor real da moeda aumentou consideravelmente nos anos noventa, principalmente nos primeiros anos da década, em que a inflacão foi reduzida graças à implantação do currency board. Os salários e preços, no entanto, deve ser salientado, não eram o bastante flexíveis para se estabelecer uma competitividade, o que determinou um ritmo de aumento da exportacão mais lento que em outros países latinoamericanos.

Poderia então ser questionado: quando deveria ter sido abandonando o regime de conversibilidade? Uma opção seria contar com o fato de pôr fim a esta estratégia monetária quando ela estivesse no auge da credibilidade. Outra posibilidade teria sido fazê-lo em 1996-97, período em que a economia estava se recuperando da crise tequila. Aqui fica fácil anotar – como engenheiro de obra pronta – que esta poderia ter sido a última oportunidade de uma saída tranquila.

Não se pode negar que o plano de conversibilidade gozou de amplo apoio popular como instrumento de apelo contra o recrudescimento da inflação que a Argentina experimentara há poucos anos. Os economistas, cabe aqui a ênfase, sempre alertavam que uma

saída imprevista poderia ocasionar graves perturbações econômicas, dada a profundidade e a amplitude do endividamento externo.

• Quarto, não se adotou nenhuma medida eficaz para fazer frente à dívida que se tornava insustentável.

Em março de 2001, quando foi novamante designado Ministro, Domingo Cavallo frisava a necesidade da adoção de medidas na esfera fiscal. Cavallo admitiu que a Argentina não podia seguir endividando-se nem imprimir papel moeda. Com isto ele colocou em prática ações, com o objetivo de aumentar a arrecadação, como a criação de um imposto sobre as transações financeiras. Entretanto, isto coincidiu com a deterioração da confiança no mercado provocada pela introdução do vínculo dólar-euro, a destituição do Presidente do Banco Central, Sr. Pou, e um grande estoque de dívidas. Os investidores, por outro lado, não se mostraram impresionados com as diversas medidas, algumas das quais reduziram a eficácia da administração tributária. Além do aporte concedido pelo FMI e apesar do apoio do G7, os empréstimos não puderam fazer face à dívida, cada vez mais insustentável. Se comprovaria, sob a ótica cômoda de analisar a crise após a sua efetivação, que tudo isto foi em vão.

Em outras palavras, a Argentina se viu presa em um círculo vicioso de escassa atividade, sobrevalorização da moeda e crescente endividamento.

Anne Krueger ainda evidenciou os problemas imediatos enfrentados logo após a crise: inflação de 30% nos primeiros seis meses de 2002 (medido pelo IPC), e um déficit fiscal de 4%.

Roque Fernandez, eminente economista argentino, ao apresentar os números deficitários fiscais para 1991-2001, citou que o problema da Argentina não era derivado de equilíbrios múltiplos e sim da existência

de um único equilíbrio ruim. O equilíbrio bom: baixas taxas de juros (em relação à inflação), produção alta e eficaz política de arrecadação não estava presente, e além disto, o fim do financiamento externo instalaram o caos na Argentina.

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