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MESA REDONDA: OPORTUNIDADES PARA A INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NACIONAL Coordenada por Roberto Soares de Moura/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

No documento Cadernos de Estudos Avançados (páginas 55-57)

I Workshop sobre Fármacos & Medicamentos João Batista Calixto

MESA REDONDA: OPORTUNIDADES PARA A INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NACIONAL Coordenada por Roberto Soares de Moura/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O professor Roberto iniciou falando sobre a fundação da SBFTE, na década de 60. Enquanto à época os farmacologistas acadêmicos dedicavam-se intensamente a pesquisas básicas e à ampliação do plantel de pesquisadores na área, a indústria farmacêutica implantada no Brasil, constituída fortemente de laboratórios estrangeiros, caracterizava-se, na sua opinião, por ser essencialmente embaladora, já que as atividades de pesquisa eram feitas nas matrizes. Manifestou que o momento atual é totalmente diferente, porque há uma Farmacologia fortíssima, com pesquisadores de altíssimo nível trabalhando no Brasil, além de uma indústria brasileira economicamente forte e principalmente interessada em interagir com pesquisadores das universi- dades. Concluiu dizendo que tal situação “permite o casamento entre uma comunidade de pesquisadores de alta categoria com uma indústria brasileira que quer desenvolver novos fármacos. Acho que este é um momento que temos de aproveitar; é um tempo importante e não podemos perder esta oportunidade. Espero que deste workshop saia subsídio que permita que o Brasil mostre a sua face ao mercado internacional, mostre que é capaz de produzir também medicamentos de alto nível”.

O parque industrial farmacêutico brasileiro e sua participação no mercado de medicamentos e nas atividades de PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

João Nicomedes Valeri Sanches/ Diretor de Assuntos Corporativos da Merck Sharp & Dohme Farma- cêutica e representante da Interfarma.

O Dr. João Nicomedes iniciou sua palestra falando sobre as atividades da Merck Sharp & Dohme Farmacêutica, uma empresa com capital de origem estrangeira. Segundo ele, dos 100 maiores medicamen- tos do mercado atual, 99 têm sua origem na indústria privada e apenas um na universidade. Assim, é patente que as universidades fazem a pesquisa básica, enquanto a indústria parece ser melhor e mais eficiente em fazer o desenvolvimento de novas drogas.

Segundo ele, a indústria gasta atualmente em torno de 21% do seu faturamento em pesquisa e desenvol- vimento, valor que tem aumentado a cada ano em virtude dos custos crescentes de desenvolvimento de novas drogas. Hoje gasta-se cerca de US$ 900 milhões para introduzir um novo medicamento. Entre dez mil substâncias submetidas à avaliação farmacológica, somente uma acaba virando produto. O processo de desenvolvimento pode durar até 15 anos, embora hoje a indústria farmacêutica tenha procurado reduzir em muito esses prazos. Os custos aumentam não só porque fica cada vez mais difícil descobrir novas drogas, mas também porque é necessária a realização de grande número de estudos clínicos, por exigências cada mais maiores das agências reguladoras.

Apesar de os altos e crescentes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a descoberta de novas drogas, o lançamento de novas entidades químicas, tem diminuído a cada ano. Essa é uma situação que não se prevê que vá mudar nos próximos anos. Na verdade, o quadro de desenvolvimento de novas drogas está cada vez mais complexo, seja pelo número crescente das disciplinas científicas envolvidas, seja pelo emprego de tecnologias cada vez mais elaboradas e custosas. De maneira geral, o que as empresas – particula- rmente as associadas à Interfarma – realizam no País é um investimento crescente principalmente em pesquisa clínica.

“Qual é o caminho que as indústrias estão fazendo? Buscar acordos de pesquisa e desenvolvimento, porque somente a pesquisa efetuada internamente já não é suficiente para a descoberta de novas drogas. As pequenas empresas de biotecnologia e outras empresas de pesquisa são, muitas vezes, mais ágeis nessa descoberta inicial e o que as grandes empresas farmacêuticas fazem hoje é buscar esses acordos”, explicou o Dr. João Nicomedes.

Em seguida, o Dr. João expôs algumas das preocupações mais importantes da Interfarma acerca de aspectos da legislação brasileira atual para o setor. Sobre a questão das patentes pipeline, disse que ainda não há uma resposta positiva por parte do governo e obrigatoriedade de produção local, pois em sua opinião isso parece um erro absolutamente básico no mundo de hoje em termos de efetividade de investimento, sendo o Brasil responsável por menos de 1% do consumo de drogas no mundo. Além disso, levantou outras questões, como o fato da Anvisa ter um papel de instituto de propriedade industrial na aprovação de patentes, a questão dos registros de similares de produtos patenteados e a questão da licença compulsória,

entre outras. Concluiu dizendo que “Temos de fazer várias parcerias: universidades, fornecedores, pacien- tes, sistema de saúde”.

O estado atual da indústria farmoquímica nacional e seu papel para o estabelecimento de uma política de pesquisa e desenvolvimento para a área de fármacos e medicamentos

José Correia da Silva/ Presidente da ABIQUIF.

Dr. José Correia destacou em sua apresentação os pontos fortes e fracos do Brasil para uma política de produção farmoquímica e fitoquímica. Entre os pontos fortes, em comparação com seus principais concor- rentes China e Índia, o Brasil tem uma política ambiental e de recursos humanos poderosa, além do sistema econômico em sintonia com a agenda mundial, uma situação política estável e um mercado interno em crescimento e auto-sustentado. Ele citou ainda a questão da biodiversidade, já que o Brasil é o país que possui a biodiversidade mais passível de se transformar em produto.

Entre os pontos fracos, citou o fato do País ter um sistema regulatório em construção, o tratamento não isonômico em relação a outros países, a baixa conscientização tecnológica das empresas farmacêuticas e farmoquímicas, o regime tributário errático e confuso. Segundo ele, a integração entre academia e empresa é deficiente. “A empresa ainda tem que aprender o que é tecnologia e o que ela gostaria que a academia fizesse. A academia tem que entender o que a empresa precisa e também entender que cada pesquisa deve gerar dinheiro num tempo determinado”, concluiu o Dr. José Correia da Silva.

Desafios e oportunidades para o fortalecimento dos pequenos e médios laboratórios farmacêuticos nacionais

Josimar Henrique/ Presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac).

Quando se iniciou o governo atual, a Alanac - associação que existe há 21 anos e congrega o setor farmacêutico brasileiro das indústrias farmacêuticas nacionais de capital nacional – proporcionou uma reu- nião entre os grandes empresários brasileiros com o ministro Furlan, que resultou na criação do “Fórum Competitivo da Cadeia Farmacêutica”, incluindo também os farmoquímicos. Durante oito meses, reuniram- se mensalmente no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, discutindo o que seria relevante para o País, como política industrial.

Dr. Josimar Henrique citou as oportunidades junto às pequenas e médias empresas brasileiras. Um dos primeiros pontos é a política do genérico, já estabelecida e em produção, mas com suas limitações, pois é um produto que não aceita inovações tecnológicas. O segundo item são os similares inovadores das patentes já vincendas das quais é possível fazer similares ou genéricos.

“Um dos pontos que acho extremamente importante é a questão dos fitomedicamentos. Considera-se que o Brasil tenha a maior biodiversidade do mundo, mas isso não vale nada, pelo menos em termos práti- cos. Se observarmos o nosso arsenal terapêutico disponível, das 150 mil plantas que o Brasil tem, das suas infinitas possibilidades, não temos 10 produtos licenciados pela Anvisa”. Segundo ele, de nada vale o esforço da pesquisa se a Anvisa não colaborar. “A área de fitomedicamentos é muito interessante, especi- almente para as pequenas e médias empresas e até para as grandes. A maior empresa brasileira, hoje, criou uma divisão de fitomedicamentos, prova de que o setor merece atenção, não só da indústria, mas também da academia”, afirmou Dr. Josimar.

Discussão da Mesa

A principal questão levantada durante a discussão foi sobre a afirmação do Dr. João Nicomedes Valeri Sanches, de que não é a universidade que faz o desenvolvimento de tecnologia. Segundo o Dr. Roberto S. de Moura, a universidade é a base de tudo. É ela que gera os pesquisadores que a indústria contrata. O Dr. João Nicomedes respondeu à questão afirmando: “Estamos só retratando um fato. Quando digo ‘desenvol- vimento’, não me refiro à pesquisa básica. A pesquisa básica continua sendo feita na universidade. A pro- posta da lei de inovação é seguir o modelo americano: a universidade faz a pesquisa básica, licencia e a indústria desenvolve”.

Ainda sobre esta questão, Dr. Josimar Henrique afirmou que, atualmente, apenas uma companhia bra- sileira tem condições de fazer pesquisa sozinha. Ainda segundo ele, nenhuma empresa nacional tem grupos de pesquisadores trabalhando dentro das universidades, especificamente para a indústria, como acontece fora do País. O que há são alguns convênios e contratos.

Segundo o professor João Calixto, a biodiversidade é o grande alvo atualmente. “É preciso treinar, copiar. A Anvisa e o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) precisam ser parceiros. É preciso fazer

parcerias com multinacionais. Esse é um jogo perigoso, mas não há como explorar biodiversidade sem parcerias. É preciso também criar incentivo por parte do governo. No mundo inteiro os governos apóiam suas indústrias. Não há nada de errado nisso.”

MESA REDONDA: O MERCADO BRASILEIRO DE MEDICAMENTOS E AS ATIVIDADES DE PESQUISA E

No documento Cadernos de Estudos Avançados (páginas 55-57)