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3 DIREITO À EDUCAÇÃO SUPERIOR

3.2 ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: DAS CARACTERÍSTICAS À FORMALIZAÇÃO

3.2.4 Orçamento da assistência estudantil

No art. 212, da Constituição Federal, é regulamentada a questão orçamentária da educação, sendo estabelecido que, da receita resultante de impostos, compreendida e proveniente de transferências, a União nunca deve aplicar menos de 18% destes recursos, sendo que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ficam obrigados a aplicar no mínimo 25% destes recursos, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Ainda, por meio da

aprovação do Plano Decenal de Educação, em 2014, ficou garantido que em um período de dez anos, no quinto ano, os investimentos em educação devem atingir o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB), e no final do decênio 10% do PIB. Contudo, com a recente aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Teto dos Gastos Públicos, suspeita-se que o novo regime fiscal instituído certamente restringirá o percentual estabelecido na constituição, bem como dos percentuais do PIB destinados à educação e ao cumprimento das metas estabelecidas no PNE.

Destaca-se que, somente a partir de 2008, com a aprovação do PNAES, foi que a assistência estudantil passou a contar com recursos próprios. No período anterior os recursos dependiam da política e gestão interna das IFES, que de acordo com o orçamento decidiam acerca dos repasses de parte dos seus recursos para a execução da assistência estudantil e, consequentemente, distintos modos de entendimento e gestão frente à assistência estudantil de uma instituição para outra eram percebidos, sendo que apenas em 2009 o PNAES chegou a todas as universidades federais (SILVEIRA, 2012). Ressalta-se que, com a intenção de conduzir as IFES a aderirem, em seus respectivos processo seletivos, ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), uma das propostas do governo considerava que o recurso do PNAES seria incrementado em até 100% do valor inicial destinado às IFES que aderissem à proposta.

Dessa forma, elaborou-se uma tabela dos recursos do PNAES destinados às IFES, com base em Nascimento (2015) e Ristoff (2016):

Tabela 1 – Recursos do PNAES destinados às IFES.

Ano Recurso Aumento percentual (%)

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 R$ 126.301.633,57 R$ 200.000.000,00 R$ 295.582.521,40 R$ 395.189.588,12 R$ 503.843.628,00 R$ 603.787.226,00 R$ 742.720.249,00 R$ 895.026.718,00 R$ 1.000.000.000, 00 -- 58,35 47,79 33,69 27,49 19,83 23,01 20,5 11,73 Fonte: Adaptado pela autora (2016) com base em Nascimento (2015) e Ristoff (2016).

Percebe-se através das informações constantes desta tabela, aumento significativo dos recursos com o passar dos anos. No período compreendido entre 2008 e 2016, o valor dos recursos destinados ao PNAES teve um aporte considerável, chegando o valor destinado em 2016 ser oito vezes superior ao destinado em 2008. É possível constatar que o recurso foi incrementado anualmente, porém, a partir de 2011, verifica-se uma redução na taxa de

crescimento do investimento. Vale lembrar que no ano subsequente, 2012, se efetivou a Lei de Cotas, e gradualmente o perfil dos estudantes foi sendo alterado, de tal modo que, se pode verificar um descompasso entre a política de acesso e permanência, caracterizando o PNAES como não equivalente à Lei de Cotas.

Segundo Ristoff (2016), as estimativas evidenciam que, para o ano corrente de 2017, seria necessário pelo menos 1,5 bilhões de reais de recursos PNAES, isso em função da crescente presença de estudantes com vulnerabilidade social nas universidades federais, bem como uma complementação nos recursos do PBP, de forma a assegurar a permanência de estudantes que chegam à universidade com dificuldades de origens econômicas.

A partir dessas observações, percebe-se que os investimentos expressos não podem ser configurados como ideal para o desenvolvimento das ações a que o PNAES se propõe, uma vez que o financiamento limitado acaba por acentuar a focalização e a seletividade da assistência estudantil, atendendo somente a grupos específicos que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Acerca do investimento do PNAES, Kowalski (2012, p. 114) afirma “Apesar da existência de um fundo específico para os programas da AE, o qual provém da matriz PNAES, as evidências mostram ser ele insuficiente para atender às demandas que se soma à expansão de vagas pelo REUNI”. Evidenciando que os recursos precisam ser complementados por outras fontes de recurso das IFES.

Com a aprovação da Emenda Constitucional nº 95, em 2016, o regime fiscal instituído limita por 20 anos os gastos públicos, sendo que, a partir de 2018, os gastos federais só poderão aumentar de acordo com a inflação. Verifica-se que com a emenda constitucional os gastos públicos irão congelar, ameaçando o conjunto de políticas públicas da seguridade social, incluindo a educação que permitiu as mudanças sociais e melhores condições de vida a milhões de brasileiros ao longo dos últimos anos. Entende-se que a obrigatoriedade de aplicações iguais ou superiores previstas na constituição federal e, posteriormente, no PNE, conforme expresso acima, são indispensáveis para combater a profunda desigualdade social e o acesso às políticas públicas como saúde e educação. Contudo, destaca-se que os percentuais da constituição e as metas de PNE poderão estar em jogo devido à nova limitação dos recursos aprovada em 2016.

Vale lembrar que, no ano de 2000, o FONAPRACE manifestou-se a partir de um documento intitulado “Assistência Estudantil: uma questão de investimento”, através do qual se vislumbra o referido entendimento, de que este, após vários anos, precisa ser reafirmado, uma vez que a assistência estudantil continua permeada por ideias de que ela representa gasto social e despesa. Assim, a citação pode ser considerada atual e urgente: “torna-se imperativo

sensibilizar as autoridades, os legisladores e a comunidade Universitária para a importância da assistência como parte de um projeto acadêmico que tem a função fundamental de formar cidadãos qualificados e competentes” (FONAPRACE, 2000).

Conforme analisado, é possível afirmar que houve um avanço significativo no investimento do PNAES e espera-se que este investimento perdure e cresça até amenizar as desigualdades educacionais. Contudo, de acordo com o cenário nacional, devido à aprovação da emenda constitucional, aponta-se que este importante direito social está novamente à mercê das condições de mercado.

Posteriormente à apresentação das categorias de análise, que embasam a discussão da pesquisa no segundo capítulo, e a política pública analisada e referenciada acima, o próximo capítulo se dedicará a apresentação do lugar da pesquisa, compreendendo a UFFS e suas ações de assistência estudantil.

4 A UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL E A ASSISTÊNCIA