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2.1. A Ordem do Templo (Milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo):

"Não a nós Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai glória, pela

Vossa bondade e fidelidade"

Salmos, 115 (114), 1

Muito embora o panorama da arquitectura da Ordem do Templo em Portugal seja de cariz dominantemente militar, os monges desta Ordem ergueram também algumas construções de carácter religioso no nosso território, destacando-se à cabeça a célebre Rotunda de Tomar (maioritariamente românica e que, como tal, extravasa dos nossos objectivos), mas sendo também relevantes a Igreja de Santa Maria do Olival em Tomar e a (possivelmente templária) Ermida de Santa Catarina de Monsaraz.

2.1.1 Nascimento da Ordem do Templo e "Arquitectura Templária"

A conquista de Jerusalém para a cristandade, em 1099 (na sequencia da I Cruzada iniciada em 1095), e a consequente implantação dos cristãos oriundos da Europa nos territórios que ficaram conhecidos como Oriente Latino ou Estados Latinos do Oriente319,

levou à necessidade de criar corpos de defesa especificamente destinados à preservação, manutenção e (se possível) alargamento dos territórios recém-conquistados320. Era preciso,

319 São quatro os Estados Latinos do Oriente: o Condado de Edessa a norte (na actual Turquia), o principado de Antioquia na Síria do Norte, o Condado de Tripoli e o Reino de Jerusalém, do actual Líbano ao Sinai. Ver sobre a formação dos Estados Latinos Alain Demurger, Vie et Mort de l’ Ordre du Temple, 1120-1314, Paris, Éditions du Seuil, 1989, pp. 20-21.

320 “As Ordens religiosas e militares: Hospitalários, Templários (e mais tarde Teutónicos..) nasceram no século XII, da necessidade de se dispor de um pequeno exército permanente nos reinos latinos do Oriente, recentemente conquistados.”, Michel Miguet, “Cîteaux et les Ordres Militaires. Analogies et Différences des

em simultâneo, dar assistência aos peregrinos321

, nomeadamente em termos de instalações e de auxilio hospitalar, e protegê-los dos ataques infligidos pelos muçulmanos, que frequentemente não faziam distinção entre cavaleiros e simples peregrinos322, bem como

dos simples salteadores que cruzavam os caminhos à procura de presas fáceis. “Facínoras e ladrões infestavam os caminhos, apanhavam os peregrinos de surpresa, despojavam um grande número destes e massacravam muitos”323.

A primeira ordem nascida especificamente com o objectivo de proteger os peregrinos da Terra Santa, é a Ordem do Templo324, inicialmente designada como os Pobres

Cavaleiros de Cristo, nome que os próprios monges escolhem para o seu grupo. Muito embora a Ordem de São João do Hospital lhe seja cronologicamente anterior, os seus objectivos iniciais não passavam pela defesa militar dos peregrinos. A Ordem do Templo, pelo contrário, nasce com o objectivo especifico de proteger e defender todos aqueles que se dirigissem (para) e residissem na Terra Santa325. O impulsionador e fundador desta nova

Ordem foi um cavaleiro francês da região da Champagne, Hugues de Payns [c.1070-1136], que a partir de 1104326

encontramos em peregrinação à Terra Santa, em companhia do Politiques Domaniales”, in L’ Espace Cistercien, Actes du Colloque, Abbaye de Fontfroide, Mars 1993, sous la direction de Léon Pressouyre, Paris, Comité des Travaux Historiques et Scientifiques, 1994, p. 227. 321 Missão que, como se verá no capítulo 2.2, ficou a cargo dos Hospitalários. Sobre a peregrinação à Terra Santa ver P. A. Sigal, “Il Pellegrinaggio in Terrasanta nei Secoli XII e XIII”, in Le Crociate – L’ Oriente e l’ Occidente da Urbano II a San Luigi (1096-1270), Milão, Ed. Electa, 1997 e J. Wilkinson, Jerusalem Pilgrimage, 1099-1185, Londres, The Hakluyt Society, 1988.

322 Um ataque perpetrado, em 1119, contra um grupo de peregrinos que se deslocavam de Jerusalém para o Jordão, durante o período da Páscoa, poderá ter estado na origem da formação da Ordem do Templo, ou pelo menos, contribuído para isso. Ver M. L. Bulst-Thiele, “The Influence of St. Bernard of Clairvaux on the Formation of the Order of the Knights Templar”, in The Second Crusade and the Cistercians, Nova Yorque, ed. Michael Gervers, St. Martin’s Press, 1992, p. 57.

323 Jacques de Vitry cit. por Régine Pernoud, Os Templários, Lisboa, Publicações Europa-América, 2ª edição p. 14.

324 Sobre as problemáticas relacionadas com a Ordem do Templo ver Alain Demurger, Opus Cit., Régine Pernoud, Opus Cit. e F. Tommasi, “Pauperes commilitones Christi”. Aspetti e Problemi delle Origini Gerosolimitane”, in “Militia Christi” e Crociata nei Secoli XI-XII, Atti della Undecima Settimana Internazionale di Studio – Mendola, 28/08-1/09 1989, Milão, Pubblicazioni dell’ Università Cattolica del Sacro Cuore, 1992.

325 Só depois de 1129 é que a Ordem vai passar a ter também um importante papel na luta contra o infiel. 326 Payns situa-se na margem esquerda do Sena, a poucos quilómetros de Troyes. As informações relativas à primeira partida de Hugues de Payns para o Oriente são escassas e imprecisas, causando alguma heterogeneidade entre os historiadores, pretendendo alguns que a primeira visita de Payns à Terra Santa data

Conde Hugues de Champagne [1074-1126], primeiro Conde de Champagne. É impossível determinar quanto tempo Hugues de Payns permaneceu e quantas vezes voltou à Terra Santa, mas sabe-se que em 1114 regressou, de novo com o Conde de Champagne, e que nesta data se instalou por vários anos. Terá sido a partir desta última estadia que a ideia de um grupo de cavaleiros destinados a proteger os peregrinos se terá formado. Acompanham- no nesse objectivo Geoffroy de Saint-Omer e André de Montbard327, desde o início,

Foulques d’Angers, a partir de 1120 e o Conde Hugues de Champagne, a partir de 1125 ou 1126, para citar apenas alguns dos nomes mais conhecidos.

A data de fundação da Ordem tem sido situada, ao longo dos anos entre 1118 e 1120. Esta imprecisão prende-se com a falta de informação concreta fornecida pela documentação da época; duas das principais fontes das ordens militares são os historiadores do Oriente, Guilherme de Tiro e Jacques de Vitry328, que apenas referem que o Concilio de

Troyes se reuniu “na festa de monsenhor Santo Hilário no ano da Encarnação de Jesus Cristo 1128, no nono ano do começo da anteriormente citada cavalaria”329. Esta data de 1128 foi até há

pouco tempo entendida como o próprio ano de 1128, porém, estudos recentes avançam a hipótese de, na realidade, o concilio ter tido lugar a 13 de Janeiro de 1129 do nosso calendário. Assim sendo a data de fundação da Ordem tem forçosamente de avançar um ano. Alain Demurger situa-a entre 14 de Janeiro de 1120 e 14 de Setembro de 1120330.

Nessa data, os cavaleiros fundadores solicitaram o apoio do rei de Jerusalém, Balduíno II, que os acolhe no seu palácio (a mesquita de Al-Aqsa a que os cruzados chamavam Templo ou Palácio de Salomão) na esplanada do Monte do Templo, enquanto o rei se muda para o

de 1100, logo após a conquista de Jerusalém. Contudo, não há qualquer dado seguro relativo a uma estadia anterior à de 1104. Ver Alain Demurger, Vie et Mort de l’ Ordre du Temple, Opus Cit., p. 23

327 André de Montbard [1103-1156] foi o quinto Mestre da Ordem (entre 1153 e 1156). Era tio de São Bernardo.

328 Guilherme de Tiro [c. 1128-1186], nascido em Jerusalém, é o autor da obra Historia Rarum in paribus Transmarinis Gestarum. Jacques de Vitry [c.1160-1240], nascido em Vitry-sur-Seine, é o autor da Historia Orientalis seu Hierosolmitana (1220-1225).

329 Cit. por Alain Demurger, Vie et Mort de l’ Ordre du Temple, Opus Cit., p. 23

330 Ver sobre toda esta questão Alain Demurger, Idem, p. 24. A mesma problemática é abordada por F. Tommasi, “Pauperes commilitones Christi”. Aspetti e Problemi delle Origini Gerosolimitane”, in Opus Cit., pp. 454-458. Régine Pernoud, Os Templários, Opus Cit., p. 14, situa a fundação entre 1119 e 1120, sem especificar mais nada.

novo palácio real na Torre de David. A designação de Templários, que progressivamente substitui o nome inicial de Pobres Cavaleiros de Cristo, advém, assim, da casa-mãe da ordem, no Monte do Templo, em Jerusalém.

O Concílio de Troyes vai ser o primeiro passo para legitimação da Ordem331. Aqui

Hugues de Payns expõe a fundação e costumes da sua ordem e consegue que seja redigida uma regra332, fundamental para dar orientação e credibilidade. É também neste Concílio que

São Bernardo contacta mais de perto com Hugues de Payns e se inteira da essência da nova Ordem. E será também ao abade de Claraval, cujo apoio se vai revelar absolutamente fundamental, que o Mestre pede auxilio na legitimação dos seus cavaleiros. O auxilio de São Bernardo não é imediato333

, mas acaba por chegar, e da melhor forma possível, através de um tratado apologético sobre as “glórias da nova milícia”, uma exortação em louvor da

331 Estavam presentes várias figuras importantes da igreja do início do século XII, incluindo os arcebispos de Reims e de Sens, os bispos de Troyes e de Auxerre, os principais dignitários de Cister, Estêvão Harding, abade de Cister, Hugues de Mâcon, abade de Pontigny e, quase de certeza, o próprio São Bernardo. A presença deste último já foi questionada, mas tanto Alain Demurger, como Régine Pernoud, aceitam a sua participação no Concílio. Ver Vie et Mort de l’ Ordre du Temple, Opus Cit., p 42. Os Templários, Opus Cit., p. 16.

332 Imediatamente a seguir à redacção desta Regra, o patriarca de Jerusalém, irá redigir uma segunda versão (c. 1130), chamada a Norma Latina; uma década mais tarde (c. 1140) é elaborada uma versão francesa a partir desse texto. Posteriormente (c. 1165) foram redigidos os Hábitos ou Costumes. Ver R. Pernoud, Os Templários, Opus Cit., p. 16 e M. L. Bulst-Thiele, “The Influence of St. Bernard of Clairvaux on the Formation of the Order of the Knights Templar”, in Opus Cit. Sobre o conteúdo da Regra ver A. Demurger, Vie et Mort de l’ Ordre du Temple, Opus Cit., pp. 67-78.

333 Este hiato entre o pedido de auxilio e a concretização do mesmo é visível inclusive no próprio prólogo do Tratado que São Bernardo escreve em louvor dos Templários: “Uma, e duas, e até três vezes, se não me falha a memoria, me pediste, amadíssimo Hugo, que escrevesse para ti e para os teus companheiros um sermão de exortação. Como não posso empunhar a minha lança contra a soberba do inimigo, desejas que ao menos branda a minha pena, e insistes em que muito vos ajudaria, levantando os vossos ânimos, já que não me é possível faze-lo com as armas.”, São Bernardo, De Laude Novae Militiae, in Obras Completas de San Bernardo, Opus Cit.,Tomo I, p. 499. Sublinhe-se, porém, que a primeira linha deste prólogo tem sido também analisada, não como estando associada a uma maturação de São Bernardo sobre o assunto que se tenha arrastado ao longo de alguns anos obrigando Hugues de Payns a repetir o pedido, mas antes como estando revestida de uma simbologia associada ao número três. G. Duby, aliás, chama a atenção para a importancia da simbologia numérica nos textos do Santo: “ assim como ele se empenha ao escrever, em fazer corresponder o próprio texto e todo um jogo de números, número de linha na página, número de sílabas na frase, que desvela e prolonga a significação oculta de certas palavras, assim como exige de seus ouvintes, para chegar até ao centro oculto do seu discurso, um esforço de análise, de decifração, de glosa, análogo ao que exige a ‘lectio divina’, assim também considera evidente que o edifício seja também objecto de um comentário, contenha um sentido, uma hierarquia de sentidos articulados e seja ao mesmo tempo figuração simbólica e equivalência aritmética da Escritura.”, in São Bernardo e a Arte Cisterciense, Opus Cit., p. 68.

nova Ordem: o Livro sobre as Glórias da Nova Milícia. Aos Cavaleiros Templários (Liber Ad Milites Templi De Laude Novae Militiae)334.

São Bernardo elabora um texto que é uma justificação da vertente guerreira da Ordem – “Não peca como homicida, mas sim – diria eu – como malicida, o que mata o pecador para defender os bons. (...) A morte que ele causa é um beneficio para Cristo”335 –,

desenvolvendo, assim, uma ideia de uma guerra “defensiva”, legítima, assente na defesa dos lugares santos e daqueles que os visitam336. São Bernardo faz mesmo a distinção337 entre

estes cavaleiros e os restantes membros da cavalaria do século XII, sublinhando as virtudes da nova milícia monástica por oposição à cavalaria secular, designando os primeiros como militia e os segundos como malitia. A data de redacção desta exortação é incerta e tem sido balizada entre 1130 e 1136338.

Tudo indica que, em 1135, no Concilio de Pisa, o Papa tenha concedido aos Templários o primeiro documento pontifical relativo à Ordem, o Milites Templi339, mas será

334 Sobre o apoio prestado por São Bernardo ver, para além de A. Demurger, Opus Cit, , A. Grabois, “Militia and Malitia: The Bernardine Vison of Chivalry”, in The Second Crusade and the Cistercians, edited by Michael Gervers, New York, St. Martin’s Press, 1992; M. L. Bulst-Thiele, “The Influence of St. Bernard of Clairvaux on the Formation of the Order of the Knights Templar”, in Opus Cit.; I. Aranguren, introdução ao Tratado De Laúde Novae Militiae in Obras Completas de San Bernardo, Opus Cit., Tomo I, pp. 494-495; e A. Vauchez, “Bernardo di Chiaravalle”, in Le Crociate, – L’ Oriente e l’ Occidente da Urbano II a San Luigi (1096-1270), Milão, Ed. Electa, 1997.

335 De Laude Novae Militiae, capítulo III “A Nova Milícia”, in Obras Completas de San Bernardo, Opus Cit., Tomo I, p. 503.

336 Uma parte do Tratado (capítulos V a XIII) consta mesmo da enumeração dos vários lugares da Terra Santa que os Templários protegem e da forma como estes lhes propiciam uma reflexão e inspiração permanentes.

337 De Laude Novae Militiae, capítulo II “A milícia Secular” e capitulo III “A Nova milícia”, in Obras Completas de San Bernardo, Opus Cit.,Tomo I. Para um aprofundamento desta questão ver A. Grabois, “Militia and Malitia: The Bernardine Vison of Chivalry”, in Opus Cit.

338 Esta é a datação apresentada por I. Aranguren na introdução ao Tratado De Laude Novae Militiae, in Obras Completas de San Bernardo, Opus Cit., Tomo I, pp. 494-495. A. Demurger, Vie et Mort de L’ Ordre du Temple, Opus Cit., p. 51, propõe barreiras cronológicas mais restritas apontando para 1130-1131. M. L. Bulst-Thiele, “The Influence of St. Bernard of Clairvaux on the Formation of the Order of the Knights Templar”, in Opus Cit., p. 59, refere apenas que o texto foi composto após o Concilio de Troyes e Maur Cocheril, “Les Ordres Militaires Cisterciens au Portugal”, in Bulletin des Etudes Portugaises, nouvelle série, tome XXVIII/XXIX, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1967/1968, p. 22 apenas comenta que tratado “ainda não se consegue datar com exactidão”.

339 Sobre o assunto ver M. L. Bulst-Thiele, “The Influence of St. Bernard of Clairvaux on the Formation of the Order of the Knights Templar”, in Opus Cit., pp. 61-62.

preciso esperar por 1139, para o Papa Inocêncio II publicar a bula Omne datum optimum, explicitando claramente a missão dos Templários e garantindo-lhes, assim, a aprovação pontifical. Daqui em diante a Ordem irá conhecer um desenvolvimento e enriquecimento progressivo, que só virá a terminar em 1307, com a prisão dos Templários em França por Ordem de Filipe, o Belo340.

A proximidade espiritual entre a Ordem de Cister e a Ordem do Templo acabou também por gerar paralelismos em termos artísticos, nomeadamente ao nível do despojamento preconizado por ambas as ordens, sendo que o próprio sistema de organização das respectivas casas possuía pontos de contacto, por exemplo o sistema de granjas341. Ao falar de arquitectura templária torna-se necessário fazer a distinção entre a

arquitectura militar342 (que extravasa dos nossos objectivos) e a arquitectura religiosa,

frequentemente enquadrada dentro de extensos complexos monásticos. Não se pode falar de uma arquitectura religiosa templária da mesma forma que habitualmente se fala (e apesar de todas as reticências já apresentadas) de “arquitectura cisterciense”. Não há um plano que se possa considerar tipicamente templário, apesar de muitos autores procurarem definir a plantar centralizada como a planta templária por excelência. É facto que esta planta foi utilizada, a Rotunda de Tomar é um dos melhores exemplos desta tipologia, mas ela não foi

340 Seguida da extinção da Ordem a 12 de Abril de 1312, no Concilio de Viena e da morte do último Mestre, Jacques de Molay, queimado na fogueira, em 1314. As problemáticas relacionadas com a extinção da Ordem do Templo, ultrapassam os objectivos propostos para este estudo, pelo que remetemos para a já citada obra de Alain Demurger.

341 A existência de granjas templárias está essencialmente associada a territórios onde a Ordem não possuía uma vertente de luta contra o Infiel, como em França. Ver sobre esta questão Michel Miguet, “Cîteaux et les Ordres Militaires. Analogies et Différences des Politiques Domaniales”, in Opus Cit..

342 Sobre a arquitectura militar templária, ver Hugh Kennedy, Crusader Castles, Cambridge University Press, Cambridge, 1994; Paul Deschamps, Les Châteaux des Croisés en Terre Sainte, I, Le Crac des Chevaliers; II, La Défense du Royaume de Jérusalem; III, La Défense du Comté de Tripoli et de la Principauté d'Antioche, Librairie Orientaliste Paul Geuthner, Paris, T. I-1934, T. II -1939, T. III -1973; Adrian J. Boas, Archaeology of the Military Orders – A survey of the urban centres, rural settlements and castles of the military orders in the Latin East (c. 1120-1291), Nova Iorque, Routledge, 2006; Denys Pringle, The Churches of the Crusader Kingdom of Jerusalem – A Corpus – Vol.I-IV, Cambridge, Cambridge University Press, 1993-2009. Para Portugal, em particular, ver Nuno V. Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, dissertação de Mestrado em História da Arte Medieval, apresentada à F.C.S.H. da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2000.

a única, nem sequer a principal, não tendo sequer sido um exclusivo da Ordem343

. Talvez o principal elo de união, entre as construções religiosas templárias seja, como em Cister, o despojamento e simplicidade que as caracteriza.

2.1.2 A Implantação da Ordem em Portugal

A entrada da Ordem do Templo no território português verifica-se numa conjuntura de grande instabilidade, não apenas no que respeita à luta contra os muçulmanos, mas também no que concerne à formação do próprio reino. A famosa batalha de São Mamede, que opõe D. Afonso Henriques a Fernão Peres de Trava e, consequentemente à sua mãe, D. Teresa, data de 1128, o mesmo ano em que se acredita que os Cavaleiros do Templo entraram em Portugal. Os Templários chegam, portanto, num momento de profunda mudança interna e de definição de estratégias para o futuro do condado.

A primeira referência aos Templários em Portugal remete para a figura de D. Teresa que, a 19 de Março de 1128, doa aos Cavaleiros, na pessoa de Raymond Bernard344

, o território de Soure (castelo e termo)345 procurando, assim, assegurar a defesa da cidade de

Coimbra face às investidas muçulmanas346. É preciso ter em conta que a região do

343 É de referir, inclusive, que muitas das igrejas de planta centralizada que têm sido atribuídas aos Templários, foram recentemente consideradas como não tendo pertencido aos Cavaleiros do Templo, como se verificou com as igrejas de Santa Maria de Eunate (c. 1170) e do Santo Sepulcro de Torres del Rio (c. 1200), ambas na região de Navarra, em Espanha. Actualmente a hipótese mais válida é no sentido de considerar estas igrejas como capelas funerárias; sobre Eunate L. Lojendio escreveu que poderíamos encontrar-nos perante “uma das três capelas funerárias que pontuavam o caminho de Peregrinação na região de Navarra: Sancti Spiritus em Roncevaux, igreja hoje em dia completamente desfigurada, que foi na realidade um ossário do Grande Hospício, Santa Maria de Eunate no local onde se unem as duas vias de acesso a Espanha seguidas pelos peregrinos e o Santo Sepulcro de Torres del Rio, para lá de Estella, na extremidade do percurso que atravessa Navarra, quando o caminho vai penetrar em Castela.”, “Santa Maria de Eunate”, in Navarre Romane, Yonne, Zodiaque, 1967, p. 257. Ver sobre estas duas construções L. M. Lojendio, “Santa Maria de Eunate” e “Torres del Rio”, in Navarre Romane, Opus Cit.

344 Um dos companheiros iniciais de Hugues de Payns, vindo do Oriente para a Europa, na viagem empreendida por Payns em 1127.

345 Ver Rui de Azevedo, DMP, DR, Opus Cit., Tomo I, doc. 79, p. 101

346 Sobre a defesa de Coimbra ver J. Mattoso, História de Portugal, vol. II, A Monarquia Feudal (1096- 1480), Opus Cit., pp. 69-71. Dom Maur Cocheril, “Les Ordres Militaires Cisterciens au Portugal”, in Opus Cit., pp. 22-24, considera que, em 1128, os Templários ainda não poderiam ter uma actividade significativa

Mondego havia sido alvo de um ataque almorávida, em 1116, que provocara graves danos no território, levando ao abandono de Soure, acompanhado do incêndio da vila (e do castelo), de forma a impedir que os almorávidas aí se estabelecessem. O território doado aos Templários encontrava-se pois, abandonado e destruído, necessitando de um repovoamento e de uma recuperação dos núcleos defensivos. O que se pedia aos cavaleiros era, deste modo, uma “tarefa ingrata, em zona instável e de fronteira”347.

Talvez por isso (e também devido a uma afirmação de poder pessoal), no ano seguinte, em Março de 1129, D. Afonso Henriques repete a doação do território de Soure

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