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Organização online: quando campanhas inteiras ou grupos se organizam exclusivamente pela internet. Esse tipo organização caracteriza um

2 PROGRAMA CULTURA VIVA E A POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

4. Organização online: quando campanhas inteiras ou grupos se organizam exclusivamente pela internet. Esse tipo organização caracteriza um

e-movement.

Na a ação coletiva em defesa da cultura enquanto compartilhamento, observou-se que o engajamento se deu através de participação online. As táticas utilizadas envolveram a utilização de ferramentas disponíveis na internet, como o tuitaço no Twitter e a utilização do botton (através da ferramenta Twibbon). Ainda que houve na organização da mobilização a reunião presencial, foi através da internet que ocorreu o confronto político.

Por outro lado, a mobilização pela continuidade do Programa Cultura Viva mesclou a facilitação online do ativismo off-line, na organização da Marcha Nacional dos Pontos de Cultura, com a participação online, através da petição na internet.

O Mobiliza Cultura, por sua vez, utilizou de forma estratégia as ferramentas de participação online empregadas nas outras mobilizações (petição online e tuitaço), além de criar a inovação do desenvolvimento de site próprio e ter conquistado a pauta em webjornais.

O que se pode concluir é que o ativismo dos pontos de cultura em 2011 apresentou baixo custo, com exceção da Marcha Nacional dos Pontos de Cultura – que envolveu o deslocamento para rua e, nesse caso, exigiu uma viagem de centenas de quilômetros aos ativistas que não residiam na região de Brasília.

A rede de ativismo aproveitou as affordances da internet para a articulação com outros grupos, a exemplo do Mobiliza Cultura. A velocidade em que as

campanhas declinaram ou alteram seus esquemas interpretativos também pode ter sido resultado do amplo emprego dessa tecnologia.

Utilizando a categorização de Earl e Kimport (2011), classifica-se o repertório do confronto político, enquanto um repertório digital. Na ação coletiva da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura a incorporação da internet não foi utilizada apenas para a redução de custos e sua celeridade, mas também houve a apropriação em quase todos os momentos da construção da ação coletiva. A comunicação mediada por computadores foi estratégica para a construção das tarefas de enquadramento e do processo de alinhamentos de quadros.

3.4 A VALIDADE DA HIPÓTESE DAS OPORTUNIDADES POLÍTICAS

Como se observou, o processo de enquadramento é dinâmico, pois, ao visualizar mudanças nas relações e nas lógicas dos demais campos, a ação coletiva pode alterar suas interpretações a partir do repertório disponível já construído e das oportunidades políticas.

Na lista de fatores63 apresentados por Gamson e Meyer (1996) que podem reduzir os custos e facilitar a ação coletiva, observaram-se três oportunidades políticas no processo de constituição de comunicação da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura no Twitter: a mudança de agenda política; o acesso aos meios de comunicação através do jornalismo; e força de autonomia das organizações sociais.

A primeira oportunidade se refere à mudança da agenda nas políticas culturais desenvolvidas pelo MinC com a entrada de Ana de Hollanda. Segundo Kingdon (2003), a configuração de uma agenda de governo envolve a definição de atores e processos. No período de 2003 até 2010, a agenda do Ministério da Cultura incluiu atores que não eram beneficiários de recursos públicos até então, os processos para a ampliação da agenda, foi a criação e o desenvolvimento do Programa Cultura Viva.

Mesmo antes da saída de Juca Ferreira no Ministério da Cultura, em novembro de 2010, a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura reivindicou maior atenção do governo às demandas dos pontos de cultura, através da Carta de

63 Ver capítulo 1.

Sustentabilidade dos Pontos de Cultura64. A reclamação se iniciou, portanto, antes da entrada da ministra de Ana de Hollanda. No entanto, essa mobilização ficou restrita à publicação da carta pela Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, não conseguiu ressonância na arena pública.

A entrada de Ana de Hollanda ao ministério em 2011, com algumas de ações em confronto com os princípios da agenda implementada até então, possibilita a criação de uma “janela de oportunidades”, que na para Kingdon (2003) é uma abertura para a manifestação do descontentamento já latente. Segundo o autor, a mudança de agenda é uma janela aos atores sociais, quando a esses não é ofertada alternativa para a solução dos problemas, ou quando não há habilidade política para controlar a manifestação dos problemas apresentados. Portanto, o rompimento da agenda dos pontos de cultura, sem uma alternativa, oferece uma justificação para o confronto contra a gestão do Ministério da Cultura para a manutenção da agenda criada pelas gestões anteriores.

Outro fator que pode oferecer facilitadores aos ativistas no processo de confronto é a atuação do sistema midiático, através do jornalismo. No desenvolvimento das mobilizações dos pontos de cultura pelo Twitter, identificou-se a forte de presença de hiperlinks de matérias jornalísticas, como recurso para sustentar e motivar, através de justificativas, o confronto político. Das 163 postagens no microblog da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, 44 (27%) compartilharam endereço para as reportagens jornalísticas. Dessas, 31 tweets têm ligação para os web jornais Estadão e O Globo.

O sistema midiático também atua no confronto político através da difusão de informações. Na produção de bens simbólicos, a mídia possui grande influência sobre os "processos pelos quais qualquer corpo de conhecimentos chega a ser estabelecido socialmente como realidade" (BERGER e LUCKMANN, 2012). A partir da definição do que é realidade, o campo midiático se posiciona como mediador do conflito. No entanto, o papel de mediação não é neutro, pelo contrário, está inscrito em lógicas (mercadológicas e políticas) específicas de interesse e de poder.

A imprensa (especialmente os jornais O Globo e Estadão), ao divulgar informações de denúncias da gestão de Ana de Hollanda, abriu um caminho para que os pontos de cultura manifestassem o seu enquadramento diante do assunto,

64 Ver Anexo II.

tendo assim grande repercussão. A visibilidade ofertada pela imprensa foi um recurso que foi aproveitado também reduziu os custos para que os quadros de injustiça se tornassem visíveis diante da opinião pública.

Com as denúncias do jornal O Estado de São Paulo e de O Globo, houve um redirecionamento do quadro interpretativo; de uma questão de incompetência na gestão – classificando-a como “desastre” – passou-se a falar em conduta incompatível, uma inabilidade enquanto administradora, imprimindo um tom de denúncia com o “escândalo” do uso do dinheiro público para fins pessoais.

O desenho institucional da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura que possibilitou o protagonismo no confronto, também foi uma janela de oportunidade para a mobilização. Como pode ser observado nos tweets da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, a comunicação para a coreografia da reunião na ação coletiva foi feita a partir dos processos de participação que foram criados através do Programa Cultura Viva.

Ao ofertar kits multimídia e capacitação para o uso das ferramentas digitais (Ação Cultura Digital); financiar a criação de plataformas de conversação digital;

incentivar a criação de organizações (pontões) para a articulação dos grupos (pontos) beneficiados; promover encontros presenciais (teias) dos beneficiários; e criar um mecanismo de controle no social (CNPdC) no processo de construção das políticas públicas no Ministério da Cultura, os ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira provocaram a formação de uma identidade coletiva entre os ponteiros. Além de compartilhamento de um quadro de identidade, os pontos de cultura tinham uma estrutura de organização que possibilitou a criação de redes sociais (PEDROSO e MARTINS, 2013).

A organização em rede dos pontos de cultura tinha diversas finalidades, como as interações estéticas e o intercâmbio de conhecimentos. Contudo, essa rede quando é desvalorizada, na visão dos beneficiários, passa a ser utilizada como estrutura para a mobilização. Todos os recursos de interação tornam-se potenciais canais de fluxos de comunicação para o engajamento no confronto político. Dessa forma, o desenho institucional, que é uma ação vertical do governo aplicada à organizações que aceitam participar do Programa Cultura Viva, também é ativado no momento de autonomia dos beneficiários quando esses mudam o posicionamento de aliados à protagonistas do confronto com o governo.