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5 PERCURSO METODOLÓGICO

5.2 O método

5.2.1 Organização da Análise

A organização acontece ao redor do que Bardin chama de "polos cronológicos": 1 – pré-análise; 2 – exploração do material; e, 3 – tratamento dos resultados. Durante a pré-

análise são escolhidos os documentos que serão analisados, formula-se hipóteses e objetivos,

assim como são elaborados indicadores que serão a base da inferência. É importante observar que a “pré-análise tem por objetivo a organização, embora ela própria seja composta por atividades não-estruturadas, 'abertas', por oposição à exploração sistemática dos documentos”. (BARDIN, 2011, p.126). A primeira atividade realizada na pré-análise é conhecida como

"leitura flutuante". De acordo com a autora, esta consiste "em estabelecer contato com os

documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e orientações". (BARDIN, 2011, p. 126).

Esta fase é chamada de leitura “flutuante”, por analogia com atitude do psicanalista. Pouco a pouco, a leitura vai se tornando mais precisa, em função de hipóteses emergentes, da projeção de teorias adaptadas sobre o material e da possível aplicação de técnicas utilizadas sobre materiais análogos. (BARDIN, 2011, p.127).

Em seguida procede-se com a escolha dos documentos. Esta escolha pode tanto definir os objetivos da pesquisa, quanto pode ser definida por objetivos já estabelecidos antes da pré-análise. Ao definir os documentos que serão analisados segue-se à constituição do corpus. "O corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos". (BARDIN, 2011, p.126). No método da Análise de Conteúdo, sugere-se seguir ao menos uma das regras abaixo para para constituição do corpus. Também é

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possível combiná-las. Quatro dessas regras são exaustivamente detalhadas por Bardin e serão apresentadas resumidamente aqui:

1 – Exaustividade, segundo a qual "não se pode deixar de fora qualquer um dos elementos por esta ou aquela razão". (BARDIN, 2011, p.126);

2 – Representatividade, regra pela qual uma "análise pode efetuar-se numa amostra desde que o material a isso se preste. A amostragem diz-se rigorosa se a amostra for uma parte representativa do universo inicial". (BARDIN, 2011, p.126). Pela regra da representatividade definem-se corpus mais robustos em quantidade que pela regra da homogeneidade. Seus resultados são generalizados ao todo;

3 – Homogeneidade, na qual os "documentos retidos devem ser homogêneos, isto é, obedecer a critérios precisos na escolha e não apresentar demasiada singularidade fora desses critérios". (BARDIN, 2011, p.128); e,

4 – Pertinência, segundo a qual os documentos escolhidos devem "ser adequados enquanto fonte de informação, de modo a corresponderem ao objetivo que suscita a análise". (BARDIN, 2011, p.128).

A partir do corpus definido segue-se à formulação das hipóteses e dos objetivos. Afirmações provisórias, entretanto, não são obrigatórias. É possível efetuar algumas análises "às cegas e sem ideias pré-concebidas". (BARDIN, 2011, p.128). Inclusive, pode-se utilizar mais de uma técnica para "fazer o material falar" (BARDIN, 2011, p.128), isto é recorrente quando utiliza-se o auxílio de softwares informáticos para a análise. Estes procedimentos exploratórios podem ser ainda fechados ou de exploração. Os procedimentos fechados são "caracterizados essencialmente por técnicas taxonômicas (por classificação de elementos dos textos em função de critérios internos ou externos [...] e servem para experimentação de hipóteses". (BARDIN, 2011, p.129). Já os procedimentos de exploração possibilitam, "a partir dos próprios textos, apreender as ligações entre as diferentes variáveis, funcionam segundo o processo dedutivo e facilitam a construção de novas hipóteses". (BARDIN, 2011, p.129). Neste sentido, Bardin explica que

[...] os métodos exploratórios sistemáticos têm a vantagem de poder servir de introdução aos únicos procedimentos experimentais capazes de apreender as ligações funcionais entre o [...] plano vertical (nível de condições de produção, enquanto variáveis independentes) e o plano horizontal (nível dos textos analisados enquanto variáveis dependentes). No entanto, em muitos casos, o trabalho do analista é insidiosamente orientado por hipóteses

127 implícitas. Daí a necessidade das posições latentes serem reveladas e postas à prova pelos fatos - posições estas suscetíveis de introduzir desvios nos procedimentos e nos resultados. Formular hipóteses consiste, muitas vezes, em explicitar e precisar – e, por conseguinte, em dominar – dimensões e direções de análise, que apesar de tudo funcionam no processo. (BARDIN, 2011, p.129).

Na fase de referenciação dos índices e de elaboração de indicadores167 (quando for o caso deste segundo) pode-se considerar os textos uma "manifestação que contém índices que a análise explicitará" (BARDIN, 2011, p.130), ou ainda, "o índice pode ser a menção explícita de um tema numa mensagem". (BARDIN, 2011, p.130). Por exemplo, na análise de textos, considerando-se a relação do método com a psicossociologia, parte-se do princípio que quanto mais um tema é mencionado, mais este é relevante para quem o menciona.

A autora defende que, estando definidos os índices, a construção de indicadores torna- se mais precisa e segura. Ao longo de toda a pré-análise realiza-se "operações de recorte do texto [destaque da autora] em unidades comparáveis de categorização [destaque da autora] para análise temática e de modalidade de codificação [destaque da autora] para o registro dos dados”. (BARDIN, 2011, p.130).

Por fim, ao final da pré-análise segue-se com a preparação do material (edição, limpeza, revisão) para facilitar a manipulação da análise propriamente dita. Essa preparação refere-se tanto aos aspectos materiais, relacionados ao suporte físico no qual os dados estão registrados (áudio, vídeo, impressos, entre outros), quanto aos aspectos formais, uma preparação dos textos que "pode ir desde o alinhamento dos enunciados intactos, proposição por proposição, até à transformação linguística dos sintagmas, para padronização e classificação por equivalência" (BARDIN, 2011, p.131). Deve-se também observar, em caso de uso de softwares para codificação, o tipo de organização dos dados que o sistema requer.

Após a preparação, inicia-se a segunda fase da organização da análise. A exploração

do material consiste na análise em si. Após todas as decisões tomadas em relação ao corpus

(recorte a partir das regras, definição de critérios, referenciação de índices e elaboração de indicadores), é durante esta fase que os dados são operacionalizados por meio de codificações, decomposições e/ou enumerações, definidas com base em regras previamente formuladas. (BARDIN, 2011, p.131).

O tratamento dos resultados obtidos e interpretação trata-se da terceira fase, na qual os resultados brutos coletados a partir das operações de codificação, decomposição ou

167 De acordo com Bardin (2011, p. 248), os índices são elaborados com base na forma dos textos, não na

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enumeração, “são tratados de maneira a serem significativos (“falantes”) e válidos”. (BARDIN, 2011, p.131). Isto significa que é nesta fase que são validados e demonstrados os resultados condensados e apresentados em elementos como figuras e modelos, por exemplo. No caso de pesquisas que necessitem de operações estatísticas, é durante esta fase que ocorre este tipo de validação também.

"O analista, tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos - ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas". (BARDIN, 2011, p.131). A figura 9 ilustra em um esquema visual do desenvolvimento de uma Análise de Conteúdo.

Figura 9 – Desenvolvimento de uma análise

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Não é equivocado compreender a fase de organização da análise como a elaboração de uma espécie de "mapa técnico" que indica para onde – e por quais meios – o analista deve deixar os dados fluírem através da pesquisa e chegarem à sua destinação final, a inferência. A navegação por meio deste mapa – não importando o meio – é a codificação. Sua realização exige o conhecimento de regras precisas e específicas, as quais serão detalhadas no tópico seguinte.

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