• Nenhum resultado encontrado

Organização das informações: o discurso do sujeito coletivo

CONTROLE SOCIAL

3.6 Organização das informações: o discurso do sujeito coletivo

As informações apreendidas nos grupos focais e entrevistas individuais foram organizadas segundo a proposta de Lefevre e Lefevre (2003), utilizando-se o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos, artigos de jornal, matérias de revistas, cartas, dentre outros. Optamos por esta análise, pois consegue capturar a essência das falas de um grupo de pessoas, ou seja, as ideias principais expressas pelos participantes do estudo, formatando-se em discurso único que revela a ideia do coletivo, simplificando assim a leitura e compreensão dessas ideias; também por não buscar quantificar as ideias, mas revelar as centrais do discurso dos entrevistados.

A proposta consiste em analisar o material verbal coletado, extraindo de cada depoimento as ideias centrais (IC) ou ancoragens (AC), e as suas respectivas expressões- chave (ECH), consideradas figuras metodológicas que auxiliam na constituição do DSC. Com as expressões-chave das ideias centrais ou ancoragens, nos é possível compor um discurso- síntese na primeira pessoa do singular. O sujeito coletivo se expressa por meio de um discurso emitido em primeira pessoa do singular.

Segundo os autores retrocitados, as expressões-chave (ECH) são trechos das transcrições literais do discurso que devem ser destacados pelo pesquisador, pois revelam a essência do depoimento, e, em geral, correspondem às questões da pesquisa. As ECH são uma espécie de prova discursivo-empírica da verdade das ideias centrais e das ancoragens e vice- versa. São a matéria-prima que fazem o discurso do sujeito coletivo (LEFEVRE; LEFEVRE, 2003).

As ideias centrais (IC) descrevem de maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível o sentido de cada discurso analisado e de cada conjunto homogêneo de ECH, formando posteriormente o DSC. A IC é a descrição do sentido de um depoimento ou conjunto de depoimentos.

A ancoragem (AC) é uma manifestação linguística explícita de uma dada teoria, ideologia, crença, remetida por algumas ECH, que o indivíduo professa e, na qualidade de afirmação genérica, está sendo usada para enquadrar uma situação específica. É destacada a ancoragem, uma vez que tem uma inegável motivação prática, ou seja, está subjacente às práticas cotidianas e profissionais dos indivíduos.

O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular e composto pelas expressões-chave que tem a mesma ideia central ou ancoragem. O DSC de opõe ao sistema de categorização convencional de dados provenientes de questões abertas, onde categorias são reputadas iguais ou equivalentes, podendo, consequentemente, as respostas ser somadas como em questionários fechados.

No DSC os depoimentos não se anulam ou reduzem a uma categoria comum unificadora, já que o que se busca fazer é reconstituir, com trechos de discursos individuais, tantos discursos-síntese sejam necessários para expressar uma dada figura, ou seja, um dado pensar ou representação social sobre o fenômeno, tornando-a mais clara.

A feitura do DSC parte sempre do discurso bruto, submetido à um processo analítico inicial de decomposição, seleção de ancoragens e ideias centrais presentes em cada discurso e em todos reunidos, e termina numa forma sintética que busca a reconstituição discursiva de uma representação social.

Após as transcrições das falas, estas foram exaustivamente lidas e relidas. As falas foram organizadas em quadros e separadas por perguntas norteadoras; ou seja, as falas dos participantes foram colocadas na coluna Expressões-Chave. Depois foram destacadas as expressões-chave destas falas, podendo a partir daí chegar nas ideias centrais e ancoragens, colocadas em coluna própria, no quadro.

Primeiramente, copiamos todas as falas de todos os entrevistados na coluna EXPRESSÕES-CHAVE, em seguida, colocamos em vermelho as expressões-chave proferidas por eles. Após identificadas todas as expressões-chave, situamos na coluna IDÉIAS CENTRAIS as ideias geradas das ECH, e na coluna de ANCORAGENS, as ancoragens identificadas.

Foi feito este mesmo processo para cada questão, e separadamente para cada rede assistencial. Posteriormente, com as ideias centrais e ancoragens em mão, iniciamos a

elaboração do discurso do sujeito coletivo. Foi constituído um DSC para cada questionamento, em cada ideia central ou ancoragem encontradas, para cada rede assistencial em análise.

Foram encontradas IC semelhantes, logo, optamos por juntar sob uma só denominação todas as ideias centrais presentes. Por exemplo, encontramos as seguintes ideias centrais: “Não existe um atendimento clínico direcionado aos usuários idosos”, “Não existe um cuidado voltado especificamente para saúde do idoso”, “Não se programa nada específico para o idoso”, “O atendimento prestado ao idoso é o mesmo do jovem”, e “Não tem um atendimento específico para o idoso”. As ideias centrais deste grupamento relacionadas anteriormente ficaram reunidas sob a denominação: “Não existe um atendimento clínico direcionado aos usuários idosos, existe apenas a priorização nas filas em alguns serviços”. Esse processo é conhecido como denominação de grupamentos, que implica criar uma ideia central ou ancoragem síntese que expresse, da melhor maneira possível, todas as ideias centrais e ancoragens de mesmo sentido, facilitando o processo (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003).

O discurso do sujeito coletivo foi formado das falas dos participantes, cada uma complementando a outra. As falas que revelavam ideias idênticas foram suprimidas do DSC, para que não se tornasse um discurso extenso e repetitivo, pois não tencionamos, neste estudo, saber a quantidade em que certa ideia foi proferida, mas sim o que foi apontado pelos participantes como importante diante dos questionamentos apresentados durante o grupo focal e entrevistas.

Em alguns momentos não foi possível formar o discurso do sujeito coletivo, quando a idéia foi proferida por apenas um ou dois participantes, o que não representa a fala do coletivo, chamado então apenas de discurso no corpo do trabalho. Optamos por incluir estes discursos na análise, mesmo sendo mencionados pela minoria dos participantes, por representarem idéias importantes para a compreensão da pesquisa, e, como já foi mencionado, não buscamos neste estudo a quantidade em que as idéias surgiram, mas quais são elas e a sua significância para a compreensão do universo em estudo.

Depois de formulados os DSCs, as RA de Saúde foram analisadas separadamente, dialogando com a literatura que aborda a temática, uma vez que os nossos objetivos eram conhecer a linha de cuidado de cada rede assistencial separadamente, para posteriormente conseguir visualizar a linha de cuidado do idoso em conjunto, de maneira mais ampla, consoante ela acontece no Município de Fortaleza. Foram utilizadas literaturas que discutem desde a temática do idoso de uma forma geral e de seus serviços a políticas de saúde.