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Organização e articulação dos componentes curriculares

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Capítulo IV: Conquistas e desafios na implantação do ensino integrado no curso técnico

4.1 Organização e articulação dos componentes curriculares

Através de conversas, observação de aulas, e do acesso a alguns documentos, não foi difícil identificar características de uma integração curricular. O primeiro ponto foi a grade horária das turmas. Diferente do exemplo do estudo de Feitosa (2010) que trago no primeiro capítulo, onde verificamos que “a formação geral e formação profissional estão juntas na mesma matriz, mas [...] uma de cada lado” (FEITOSA, 2010, p. 44), e com uma rotina escolar com “lugar estabelecido para as disciplinas de formação geral e de formação técnica [...], conservando a dualidade entre o pensar e o fazer” (FEITOSA, 2010, p. 64), os alunos do curso de dança frequentam aulas de disciplina gerais e específicas sem separação por turno ou dia da semana, em horário integral (de 7h30min até às 15h), como podemos observar nos quadros a seguir:

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Tabela 04. Continuação.

Fonte: ETEAB – Horário da escola.

Mas a simples justaposição de disciplinas gerais e específicas não garante a integração, pois elas podem ocorrer no mesmo turno ou dia, serem ministradas pelo mesmo professor, e ainda assim não dialogarem entre si. Na busca de algo que auxiliasse essa integração entre diferentes áreas do saber, a coordenação do curso organizou cada ano letivo com “temas geradores” ou “binômios”, como são chamados pela equipe do curso. O curso propicia, desta forma, segundo Rosane, “pensar o mundo com o olhar de cada campo do saber”, ancorada em uma aprendizagem significativa. A motivação para trabalhar desta forma, de acordo com a coordenadora, vem de uma base teórica em Edgar Morin e David Ausubel.

O primeiro ano trabalha com base nos temas “Corpo” e “Mundo”. A coordenadora do curso, em entrevista concedida em 24 de outubro de 2013, justifica: “Mundo porque a gente vem do geral para o particular [...] ele começa com uma visão ampla do objeto, explorando o mundo e o corpo, porque o corpo é a primeira particularidade da dança” (Apêndice F, p. 3). Neste ano de escolaridade, componentes curriculares como Técnica de dança I (Balé clássico), Língua estrangeira (Francês) e História da dança trabalham com conteúdos que possuem um alto potencial de articulação. Pois, os assuntos abordados em “história da dança” são relacionados à dança clássica e à história desta no ocidente, e a nomenclatura do balé clássico, técnica trabalhada neste ano de escolaridade, é predominantemente francesa. “Educação Física” (I e II) também é trabalhada através de danças folclóricas (no caso do primeiro ano, danças folclóricas internacionais, sobretudo europeias), abrindo espaço para reflexões sobre as relações entre dança clássica e dança popular na Europa e no mundo como um todo. Em uma das aulas de “Fundamentos de Teatro”, em setembro de 2012, baseada em um texto sobre a Revolução Francesa, o professor perguntou aos alunos qual assunto estava sendo discutido nas aulas de “História I”, e os alunos responderam justamente “Revolução Francesa”, comentando inclusive que as disciplinas de fundamentos de teatro, história e música tinham “tudo a ver”. O professor comentou que, no ano anterior, começou a trabalhar de forma conjunta com o professor de história, mas que tal articulação não se estendeu por

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todo o ano. Já em 2012, iniciou o ano com assuntos relacionados à Grécia e conseguiu, de forma proposital, abordar a revolução francesa ao mesmo tempo em que este conteúdo é trabalhado em história.

“Já no segundo ano abordamos “Brasil”, entrando na nossa particularidade de cultura e de território, conjugando com “Movimento”, que é a nossa segunda força motriz, nosso segundo passo na dança”, relata Campello na mesma entrevista (Apêndice F). A coordenadora explica, portanto, que a história do Brasil, por exemplo, vai ser enfatizada no segundo ano do curso e comenta: “É uma reorganização curricular. Mas se não for assim, se o ensino tivesse bom do jeito que está a gente não tinha que mudar”. Assim como em “História” e “Geografia”, onde se trabalhará com conteúdos sobre o nosso país, outras disciplinas irão trabalhar com temas brasileiros, como “Educação Física II” que apresenta danças populares/ folclóricas brasileiras. “Introdução à dança contemporânea” também irá tratar das relações entre o corpo e o estilo de dança, abordando a questão do corpo brasileiro.

Já no terceiro ano, temos os temas “Rio de Janeiro” e “Cena”. Na turma do terceiro ano de 2013, por exemplo, o conteúdo que estava sendo trabalhado no primeiro semestre nas aulas de Arte é arte colonial no Rio de Janeiro. A professora da disciplina explicou, em uma das aulas que pude assistir, que planejou o conteúdo de acordo com o tema gerador, e conta também que a turma faria uma visita ao Museu de Arte do Rio (MAR). Ainda no terceiro ano, a disciplina “Prática de Montagem” merece destaque. Tal disciplina, que possui uma carga horária maior, é ministrada por quatro professores que trabalham com temas e enfoques variados, todos ligados à produção cultural e à montagem de um espetáculo. Nesta disciplina, os alunos aprendem sobre verbas, leis de incentivo à cultura, figurino, iluminação, recursos humanos, formação de plateia, produção coreográfica, dentre outros. Trata-se de uma disciplina complexa que abrange assuntos que vão muito além da criação de uma coreografia. Conclui-se, portanto, que o curso não forma produtores culturais, mas forma bailarinos que terão uma ótima base nesta área. Ou seja, o bailarino formado em tal curso não será um mero executor de coreografias ou um simples coreógrafo que irá elaborar uma dança para um espetáculo sem, no mínimo, entende-lo em um contexto mais amplo. De acordo com relato da coordenadora na entrevista, com estas abordagens nos três anos do curso, tem-se “um corpo em movimento na cena. Isso nos traduz” (Apêndice F, p. 3).

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