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Praticamente é impossível versar a temática da transparência da informação nos portais das IFES sem tratar dos aspectos de organização da informação, pois, se a Web é por um lado o maior e o mais diversificado repositório de informações e da memória já existente, por outro lado, é também o menos estruturado dos repositórios.

Segundo Maedche (2000) a falta do uso de formas padronizadas para o armazenamento e a recuperação de informações na Web prejudica o compartilhamento do conhecimento. Sendo assim, a otimização de mecanismos para organização da informação na Web deve ser uma preocupação constante dos pesquisadores. Portanto, a busca de indicadores que criem metodologias de estruturação e apresentação da informação é uma das soluções para essa problemática.

Para Feitosa (2006, p. 17) é impossível a dicussão do tratamento da informação na Web sem uma reflexão sobre alguns conceitos e processos da Ciência da Informação tais como a classificação, a indexação e a recuperação da informação que se relacionam com o conceito de documento.

Acrescentaria ainda os conceitos da normalização e da padronização da informação

Os conceitos de informação, dado e documento foram tratados anteriormente no capítulo 1, no entanto, pretende-se relacionar as características de tratamento de um documento com as Páginas da Transparência das IFES, na perspectiva de obtenção de indicadores.

Assim, documento “é um objeto que fornece um dado ou uma informação e pode ser diferenciado entre outros documentos, de acordo com suas características físicas ou intelectuais” (FEITOSA, 2006, p. 17). Ainda segundo o autor, as características físicas relacionam-se aos conceitos materiais do documento. Por sua vez, as características intelectuais relacionam-se aos conceitos de objetivo, conteúdo, assunto, tipo de autor, fonte, forma de difusão, originalidade, entre outras. As características intelectuais de um documento permitem definir o interesse, o público alvo e o valor.

Guinchat e Menou (1994) destacam pelo menos quatro características intelectuais de um documento. São elas:

1. Objetivo: refere-se à razão pela qual o documento foi produzido: para servir como prova, para preparar outro documento, para expor ideias, para divulgar resultados de um trabalho, para ensino, entre outras; 2. Grau de elaboração – refere-se à autoria e à finalidade de um documento. Com base na noção de grau de elaboração é possível estabelecer-se uma classificação dos documentos em: primários, secundários e terciários [...];

3. Conteúdo – o conteúdo pode ser avaliado a partir da identificação do assunto, da forma de apresentação, da exaustividade da análise, do nível científico do texto, da novidade das informações, da representatividade das

informações para um dado grupo de leitores, entre outras características;

4. Tipo – refere-se ao nível de relevância do documento; há documentos essenciais, isto é, que tratam de assuntos que possuem interesse direto para determinada comunidade de leitores e documentos marginais, ou seja, que possuem pouca ou nenhuma relevância para o usuário.

Conforme as características acima citadas destaca-se a terceira propriedade de tratamento intelectual do documento: o conteúdo. De acordo com esta característica é possível avaliar qualquer documento a partir da forma de apresentação de sua estruturação.

Levando-se em consideração que todo documento é passível de tratamento para a recuperação da informação nele contida, essa lógica se aplica também às informações disponíveis na Web através dos sites, portais, bases de dados e outros recursos de informação. E assim, utilizando os mesmos processos de tratamento da informação do ciclo documentário tradicional.

Por ciclo documentário, compreende-se o conjunto contínuo de operações de tratamento e disponibilização dos documentos que é organizado numa sucessão de procedimentos conhecida também como cadeia documentária. Por sua vez, os produtos documentários são utilizados em atividades de pesquisa e, novamente, transformados em documentos que realimentam o sistema.

As principais atividades do ciclo documentário envolvem a coleta, o registro, o tratamento intelectual, a pesquisa e a difusão da informação. A definição do modelo esquemático da teoria do ciclo documentário foi obtida a partir da análise das definições de Robredo e Cunha (1986),

Lancaster (1993), Guinchat e Menou (1994), Nakayama (2001) e de Feitosa (2006).

As operações de entrada de documento compreendem as atividades de seleção e aquisição. As operações de processamento técnico, ou tratamento intelectual compreendem a catalogação, a classificação, a indexação e o resumo. Quanto as operações referentes aos produtos dos documentos, ou de saída, correspondem àquelas que permitem tornar disponíveis as informações de armazenamento, disseminação, recuperação ou acesso e serviço de alerta das novas aquisições (FEITOSA, 2006).

O tratamento intelectual da informação compreende basicamente de duas operações: a catalogação e a análise temática da informação. Por catalogação ou descrição bibliográfica Feitosa (2006, p. 21) declara como sendo

uma forma de referência que destina-se a oferecer uma descrição precisa do documento, identificando-o materialmente, de forma única e não ambígua, de modo a permitir sua identificação, localização e representação em catálogos ou em outros instrumentos que facilitem a sua localização física.

A catalogação é a representação descritiva de um documento, ou “conjunto convencional de informações determinadas, a partir do exame de um documento e destinado a fornecer uma descrição única e precisa deste documento”. E ainda, “é o primeiro estágio do tratamento intelectual de um documento a partir do qual são extraídas as informações descritas de acordo com regras fixas” (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 45). Em outras palavras, catalogação é a descrição padronizada de documentos, inclusive os contidos na Web.

A análise temática da informação refere-se propriamente ao conteúdo informacional do documento. Assim, permite a identificação e análise do assunto do documento. E ainda, “visa registrar o(s) assunto(s) ao (s) quais um documento se refere, através de classificação, tabulação e avaliação dos temas” (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 15). Outros termos também são utilizados para definir essa operação são estes: análise da informação, descrição de conteúdo, análise documentária, descrição de assunto, representação de conteúdo ou representação de assunto (NAKAYAMA, 2001).

O processo da análise temática do documento engloba procedimentos técnicos tais como: classificação, indexação, resumo, busca, recuperação e disseminação da informação. O processamento técnico consiste nas atividades de classificação e descrição de documentos, isto é, o tratamento documental de forma normalizada.

Normalização é o “ato ou a atividade de normalizar”, e que por sua vez, é “a atividade que estabelece, em relação a problemas existentes ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva com vistas à obtenção do grau ótimo de ordem em um dado contexto” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2002). Nesse sentido, normalização é a tentativa de padronização e reprodução de um procedimento de forma organizada destinado ao uso comum.

A necessidade social de normalizar procedimentos e processos não é um fenômeno recente. Acredita-se que essa necessidade se estabeleceu desde quando o homem começou a viver em sociedade e precisou reproduzir procedimentos de bens comuns a todos. A partir de então, surgiu à necessidade da criação de normas que efetivassem padrões.

Nesse contexto, as normas são adotadas com os objetivos que permitem garantir a padronização dos processos, e torna-se, cada vez mais, um recurso essencial para a sociedade. Nesse sentido, destacam-se algumas das aplicações das normas técnicas. São elas,

a) racionalizar processos, eliminando desperdício de tempo, matéria-prima, e mão-de-obra; b) assegurar a qualidade do produto oferecido no mercado; c) conseguir aumento nas vendas; d) incrementar a venda de produtos em outros mercados; e) reduzir a troca e a devolução de produtos; f) reverter o produto, processo ou serviço em patrimônio, industrial e comercial para o país ao se relacionar com o mercado internacional; g) reforçar o prestígio de serviços prestados; h) aumentar o prestígio de uma determinada marca; i) garantir a saúde e a segurança (CUNHA, 2001, p. 6-7).

A importância de padrões implica diretamente em alguns setores da sociedade. Assim como os setores produtivos necessitam de padrões nos processos de produção, o mesmo acontece no setor acadêmico para a produção, reprodução e comunicação científica gerada nas universidades. E assim, permite aos pesquisadores divulgar de forma adequada os resultados de sua produção.

Sendo assim, as vantagens da normalização podem ser resumidas em:

codificar mensagens tão distintas em suas origens, que tratam de objetos tão variados em seus fins, que tem conteúdos políticos tão díspares, tratados segundo metodologias tão elásticas, enfim, para permitir um modo de comunicação que dê conta de todas essas variedades/especificidades dos conteúdos típicos da ciência, é que surge a normalização como possibilidade

metodológica de uniformizar sua expressão escrita. A normalização tem como uma de suas características a capacidade de contribuir para harmonizar as peculiaridades em cada área e em cada veículo de comunicação. Todo o processo de criação desenvolvido na universidade necessita, por conseguinte, da normalização, entendida como o processo de formular e aplicar normas para acesso sistemático a uma atividade típica do meio universitário: a redação do trabalho científico (RODRIGUES, LIMA, GARCIA, 1998, p. 153).

Neste contexto, a própria comunidade científica de certa forma, impõe a normalização de informações como forma de garantir a eficácia da comunicação. Sendo assim, nas instituições de pesquisa a normalização é um consenso, pois estabelece formas consistentes de troca de informações e comunicação entre os pares.

Não por acaso a ligação entre indicadores científicos, a organização e a representação do conhecimento consolidam- se na medida em que, padrões de organização da informação são essenciais para a identificação correta das variáveis analisadas em pesquisas bibliométricas (CAFÉ; BRÄSCHER, 2008). Sendo assim, e em se tratando de estudos métricos da informação o mesmo princípio se aplica aos estudos de fontes de informação na internet.

Pinto e Matias (2011, p. 13) advertem para os danos decorrentes da ausência de padrões na descrição da informação:

[...] erros ou ausência de padrões na descrição de títulos de periódicos ou de autores, por exemplo, podem gerar informações imprecisas que tornam os indicadores distorcidos e não confiáveis para

fundamentar análises e processos de tomada de decisão.

Ao considerar que a grande maioria dos documentos disponíveis na internet não recebe o tipo de processamento técnico, padronização ou normalização adequados para uma eficaz recuperação da informação, se faz necessário cada vez mais estudos que objetivem minimizar e até mesmo sanar as lacunas geradas pela ausência da organização da informação.

3 METODOLOGIA

A pesquisa tem caráter descritivo, constituindo um estudo de caso. Por pesquisa descritiva, segundo Gil (1996, p. 46) é aquela que “tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. O autor declara ainda que “uma das características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática”.

A pesquisa descritiva é utilizada quando existem poucos estudos sobre o tema. E, portanto, torna-se necessário um primeiro olhar sobre o objeto estudado para descrevê-lo, propor modelos, comprovar as hipóteses, bem como, abrir perspectivas futuras. A pesquisa justifica-se desta forma, tendo em vista a recente criação da Lei de Acesso a Informação em 2011 e sua regulamentação por meio do Decreto nº 7.724/2012, bem como, a atualidade do tema.

Para avaliar o cumprimento da Lei nº 12.527/2011, do seu decreto e da Portaria Interministerial nº 140/2006 nas Páginas de Transparência Pública das IFES referentes à descrição das características de apresentação e disponibilização da execução orçamentária com P&D foi utilizada a análise de conteúdo. De acordo com Bardin (2009), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de investigação que, através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações. Desta forma, o estudo se decomporá em pelo menos três etapas:

a) Pré-análise;

b) Exploração do material;

c) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação (BARDIN, 2009; MINAYO, 2007).