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Capítulo I. Lecionação

1.2. Organização das Aulas

Sendo responsável pela turma do 8ºG do Ensino Básico, inserida na EPFS, uma das principais lacunas com a qual me deparei no início do meu percurso como professor de EF da turma, foi a verificação de que esta teria no seu horário escolar apenas o correspondente a dois tempos letivos da disciplina, justificado com uma opção dos principais órgãos da escola tendo em conta o planeamento curricular, sendo que a mesma estava a iniciar um processo de ajustamento e que este ano letivo seria o último em que tal situação sucederia.

Perante a impossibilidade de intervenção da minha parte em relação ao tema junto dos responsáveis na escola, irei nos parágrafos seguintes argumentar um pouco sobre a necessidade dos alunos terem pelo menos três tempos letivos de EF nos seus horários, preferencialmente em dias não consecutivos, com justificação tendo em conta o que é referido e defendido nos PNEF.

Como tal, a escola deve ter como principal preocupação garantir aos alunos que o seu horário esteja organizado, com o objetivo de melhorar e aumentar o tempo útil de aula, na medida em que se deve realizar um trabalho colaborativo entre o Subdepartamento de EF da escola (Jacinto et al., 2001).

O PNEF do 3º Ciclo salienta a necessidade da carga horária adequada representada nos horários com três sessões de 45 minutos de tempo útil semanal, reforçada pela afirmação “… a carga horária prevista no desenho curricular descrito no Decreto Lei n.º 6/2001, de 18 de janeiro (três sessões de 45’ de tempo útil por semana), beneficiando o desenvolvimento do currículo real e o sucesso do aluno em Educação Física.” (Jacinto et al., 2001, p.5), e ainda:

“Na atual reorganização curricular do Ensino Básico a carga horária semanal a atribuída à EF é no mínimo de 135 minutos, tempo útil de aula, o que cria a possibilidade de manter o número de sessões de prática desejável, com a sua distribuição em três sessões 45’+45’+45’.”. (Jacinto et al., 2001, p.20)

O objetivo da distribuição horária em três tempos é a otimização da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, que conseguem assim ter acesso à prática de atividade física de uma forma regular e constante, contrariando organizações e disposições de escolas que definem aulas em dias seguidos ou a lecionação de dois dos tempos de seguida, no mesmo dia, situação bastante comum.

Posto isto, não teria a escola condições para oferecer aos alunos o tempo que deviam efetivamente ter, por direito, para a prática de atividade física e recomendada, em dias não consecutivos? Da experiência diária vivida ao longo do ano, enquanto professor de EF, verifiquei que existiu algum preconceito na escola relativamente à disciplina, quer pelos professores de outras disciplinas, após diálogos informais com os mesmos ou em reuniões de Conselho de Turma (CT), que defendem a EF como uma disciplina que não é importante quando comparada com outras como a matemática ou o português, quer pelos funcionários, que dizem que exigimos demasiado aos alunos e que muitos se magoam nas aulas.

Outros referem que os alunos chegavam muitas vezes atrasados às suas aulas após a aula de EF, irrequietos e muito distraídos. Será culpa do professor de EF? Como docente tinha a preocupação de terminar a aula um pouco mais cedo, sensivelmente 5 minutos, para que o alunos tivessem tempo de trocar de roupa e de se deslocarem novamente para as instalações onde decorrem as aulas, sendo que os professores, muitas vezes, não valorizam nem respeitam a necessidade dos alunos se deslocarem entre espaços, para a aula de EF ou para a necessidade destes trocarem de roupa, para estarem de forma apropriada para a prática da disciplina.

“Na verdade, a deslocação entre pavilhões, a higiene e o intervalo, não se podem considerar aprendizagens da EF – é um tempo a considerar no conjunto do horário, no quadro da vida escolar do aluno, tal como os períodos de repouso e de alimentação, sem prejuízo do conteúdo da aula de EF ou de outras aulas.” (Petrucci, Bom, & Mira, 2009, p.144)

Gustavo Emanuel M C P Marques. Relatório de Estágio. Mestrado em Ensino da Educação Física, 2º ano

A longo prazo, é tão ou mais importante a disciplina de EF, uma vez que sendo uma das finalidades a promoção pelo gosto da prática de atividade física e tendo em conta o panorama atual dos jovens em relação à prática de exercício físico, é importante transmitir aos alunos esse mesmo ideal, da necessidade de uma prática de atividade física regular de forma com maiores garantias futuras relativamente a assuntos de saúde e de qualidade de vida.

Mais do que uma Atividade Física (AF), a disciplina de EF assume extrema importância dado o atual panorama dos jovens adolescentes, que carecem cada vez mais da prática regular de Exercício Física (EF), que segundo Mota, Santos, Coelho-e- silva, Raimundo, & Sardinha (2018), apenas 36% dos jovens entre 10 e 11 anos e 4% entre adolescentes com idades entre 16 e 17 anos cumprem as recomendações de AF da OMS de 60 minutos por dia de intensidade moderada a vigorosa. Os autores acrescentam ainda que menos de 25% dos jovens entre 11 e 15 anos cumprem as recomendações da AF da OMS (Mota et al., 2018).

Outro fator condicionante ao tempo útil de aula, segundo o Regulamento da escola (Regulamento Interno, 2018), é a definição de tempo previamente estabelecido para os alunos se prepararem para as aulas (equipar) e para o término das mesmas (tomar duche e trocar de roupa). Se aos alunos, para além do tempo de 50 minutos que já não é lecionado e está em falta, ainda lhes são retirados 15 minutos de cada aula para estes fatores, quanto tempo de prática é desperdiçado no final do ano letivo?

Se tivermos em consideração ainda o tempo de deslocação até ao balneário, outros alunos de outras turmas nos balneários, o tempo de aula é realmente bastante limitado.

“…hoje a maioria das escolas tem duas aulas semanais, muitas vezes em dias seguidos e sem respeito pelo tempo útil de aula, incluindo neste tempo a passagem pelos balneários e vestiários, higiene e deslocações entre espaços da escola, prejudicando, deste modo, as aprendizagens dos alunos.” (Petrucci et al., 2009, p.163)

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