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1 INTRODUÇÃO

2.3 COMPLEXIDADE E ORGANIZAÇÕES

2.3.1 Organizações como Sistemas Adaptativos Complexos

Vários autores (STACEY, 1996; AXELROD; COHEN, 1999; AGOSTINHO, 2003; SILVA; REBELO, 2003; DENT, 2003; SILVA, 2009) que estudam as organizações sob o paradigma da complexidade, consideram que as empresas são um tipo de sistema adaptativo complexo. Enxergar as organizações como SAC‟s significa dizer que são formadas por redes de múltiplos agentes que dispõe de certa autonomia e liberdade de interação.

Em se tratando de organizações sociais, Morin (2008) salienta que elas são complexas, pois são ao mesmo tempo acêntricas (funcionam de maneira anárquica, por interações espontâneas), policêntricas (que tem muitos centros de controle) e cêntricas (dispõe de um centro de decisão). Assim, as organizações se organizam não apenas a partir de um centro de comando-decisão (direção geral), mas também de diversos centros de organização

(departamentos, divisões, comissões) e de interações espontâneas entre os grupos de indivíduos.

De forma similar, Agostinho (2003) observa que quando pessoas participam de um SAC é preciso considerar a possibilidade de ação diretiva das partes sobre o todo. Ou seja, há muitas situações em que o indivíduo tem consciência de como pode influenciar o sistema do qual faz parte. A autora chama de sistemas semi-artificiais aqueles em que apesar da influência racional que os seres humanos são capazes de exercer, seu comportamento mantém um caráter emergente, este seria o caso das organizações.

Assim, ao considerar uma organização como um sistema adaptativo complexo não se desconsidera a ação diretiva da liderança (ou direção) sobre as partes, mas desloca-se o foco de atenção do controle para o desenvolvimento de características adaptativas inerentes ao sistema.

Considerando que a organização é um sistema adaptativo complexo, Agostinho (2003) propõe quatro conceitos-chave como princípios para o que ela denomina “administração complexa”:

a) Autonomia - Diz respeito à capacidade da pessoa orientar sua ação baseando-se na sua própria capacidade de julgamento. A adaptabilidade, o aumento da diversidade, o aprendizado, a redução de erros e a solução de conflitos são apontadas como vantagens da autonomia.

b) Cooperação - Permite que o fluxo de conhecimentos contribua para o desempenho da organização e pode emergir sem a presença de autoridade central ou de forças coercitivas, a partir de indivíduos que buscam seu próprio benefício. São condições necessárias para a cooperação: interação continuada entre os indivíduos, capacidade de os indivíduos se reconhecerem mutuamente e relações harmoniosas. A cooperação é necessária para que o resultado da co-adaptação dos agentes se reverta em co- evolução.

c) Agregação - Espera-se que os indivíduos se agregam em torno de objetivos globais, contribuindo com seus conhecimentos e habilidades para a competência coletiva, existindo uma estrutura hierárquica vertical limitada, com os agregados dispostos em níveis sucessivos, os objetivos de cada equipe e seu contexto devem ser definidos de forma clara.

d) Auto-organização – Refere-se à capacidade inerente ao ser humano de auto organizar- se, fazendo emergir um comportamento global cujo desempenho é avaliado por pressões de seleção presentes no ambiente (tanto interno como externo), motivando,

no contexto organizacional, formas de gestão em que os indivíduos desenvolvem uma maior liberdade de ação, restringidos apenas pela natureza da tarefa, necessidade de manter apoio e a obrigação de agir eticamente.

A abordagem proposta por Agostinho (2003) considera a autonomia, cooperação, agregação e auto-organização aspectos críticos do gerenciamento de uma organização que quer ser adaptativa. Assim, esses seriam os pontos de “alavancagem” sobre os quais a ação gerencial deveria se concentrar no sentido de criar condições favoráveis para a emergência do desempenho almejado.

Para Anderson (1999) há quatro elementos que caracterizam os SAC‟s no contexto da teoria organizacional:

a) Agentes com esquemas - O resultado é produzido por um sistema dinâmico composto por agentes em um nível menor de agregação.

b) Redes auto-organizadas sustentadas pela importação de energia - Todos os agentes estão conectados por redes de feedback e o comportamento de cada agente é determinado pelas informações que ele recebe dos agentes aos quais ele está conectado.

c) Co-evolução - Há uma relação de parceria entre os agentes, cada agente se adapta ao ambiente e coopera para aumentar as chances de sobrevivência de seus colegas.

d) Recombinação e evolução - O sistema se adapta e evolui ao longo do tempo como resultado da entrada, saída e mudança no comportamento dos agentes.

Stacey (1996) também compara as características chaves de sistemas humanos (nos quais se incluem as organizações) com aquelas dos SAC‟s e conclui que ambos possuem as seguintes características em comum:

a) A sobrevivência é o seu objetivo básico;

b) Consistem em redes formadas por um grande número de agentes que interagem de forma não linear e com o ambiente;

c) Adquirem informações sobre os sistemas que constituem o seu ambiente e por meio de feedback obtêm informações sobre as consequências de sua interação com esses sistemas;

d) Faz escolhas, ou seja, exercita a autonomia para identificar e selecionar regularidades nos feedbacks que adquire condensando-os em um esquema ou modelo do seu mundo. e) Relaciona-se com os sistemas que fazem parte do seu ambiente de acordo com as

f) Descobre as reações provocadas por suas ações e suas consequências; g) Utiliza essa informação para adaptar seu comportamento;

h) Revisa seu esquema com o objetivo de melhor se adaptar.

A chave do processo de um SAC está nos esquemas (STACEY, 1996). Em se tratando de sistemas humanos, cada agente possui um esquema único. Os esquemas são formados por: regras simples de reação, regras mais complexas que requerem formação de expectativas e a tomada de ações preventivas, regras de avaliação de desempenho e regras para a avaliação do esquema em si. O comportamento dos agentes é também condicionado pela cultura do sistema, ou seja, por um esquema compartilhado entre os agentes.

Parece consensual entre os autores abordados que apesar de existir um tipo de organização a partir de um centro de comando-decisão (direção geral) há um tipo de organização que emerge a partir de interações espontâneas entre os grupos de indivíduos.

Stacey (1996) chama a organização proveniente de um centro de comando-decisão de subsistema legítimo. O subsistema legítimo diz respeito à hierarquia e a burocracia cujos membros da organização reconhecem ter a autoridade para sancionar ações e alocar recursos. Para a autora existe ainda o subsistema de sombra que é justamente a sombra do sistema legítimo e diz respeito às interações entre os membros de uma organização (que não são previstas pelo sistema legítimo) como as interações sociais e políticas. Stacey (1996) afirma que esses dois sistemas (o legítimo e o de sombra) são tão entrelaçados que precisam ser compreendidos como um todo.

A partir dos autores expostos (ANDERSON,1999; AGOSTINHO, 2003, STACEY, 1996) percebe-se que autonomia, cooperação, agregação, co-evolução e evolução são características de sistemas adaptativos complexos inerentes às organizações. A descoberta e o desenvolvimento das propriedades organizacionais inerentes a sistemas adaptativos complexos permitirão o alcance de melhores resultados. Quando se entende a organização como um sistema adaptativo complexo, o objetivo não é mais eliminar a incerteza, mas tirar proveito da complexidade do sistema.

Diante do que foi exposto, percebe-se a pertinência da abordagem de organizações como sistemas adaptativos complexos e algumas das vantagens que essa nova forma de ver as organizações pode trazer a sua gestão. No próximo tópico é apresentado o Modelo de Adaptação Evolucionária da Vantagem da Complexidade que considera a organização como um SAC e ainda trata da evolução das organizações como tal.

3 O MODELO DE ADAPTAÇÃO EVOLUCIONÁRIA DA VANTAGEM DA

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