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1 INTRODUÇÃO

2.2 O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE

2.2.2 Princípios Para Pensar a Complexidade

Sete princípios guias (complementares e interdependentes) para pensar a complexidade são apresentados por Morin (2000):

a) O princípio sistêmico ou organizacional: a organização de um todo produz propriedades novas em relação às partes consideradas isoladamente. Logo, o todo é mais do que as soma das partes. Mas, por outro lado, o todo é menos do que a soma das partes, pois as propriedades originais das partes podem ser inibidas pela organização do todo.

b) O princípio hologramático: nos sistemas complexos as partes estão no todo, mas o todo também está nas partes. Enquanto que cada indivíduo está presente na sociedade, a sociedade também está presente no indivíduo.

c) O princípio do círculo retroativo: rompe o princípio de causalidade linear em que a causa age sobre o efeito e o efeito sobre a causa. O círculo de retroação, ou feedback, (introduzido por N.Wiener, o qual já foi citado neste trabalho no item 2.1.1 Teoria Geral dos Sistemas, Estruturalismo e Cibernética) permite, sob sua forma negativa, reduzir um desvio e estabilizar um sistema e sob sua forma positiva é um mecanismo amplificador.

d) O princípio do círculo recursivo: extrapola a ideia de regulagem para a autoprodução e auto-organização. O ser humano, por exemplo, é o produto de um sistema de reprodução ao passo que é também produtor deste sistema ao passo que dá continuidade a reprodução da espécie.

e) O princípio da auto-eco-organização: autonomia e dependência. A autonomia se fundamenta na dependência do meio ambiente. Um sistema precisa ser ao mesmo tempo fechado (para manter sua originalidade e individualidade) e aberto para captar nova energia do ambiente e sobrevier. Ou seja, um sistema autônomo precisa estar aberto e fechado ao mesmo tempo. É preciso ser dependente para ser autônomo. f) O princípio Dialógico: diz respeito à união de dois princípios que devem excluir-se

um ao outro, mas são indissociáveis numa mesma realidade. É o caso da ordem/desordem/organização. A dialógica admite a ideia de que os antagonismos podem ser estimuladores e reguladores.

g) O princípio da reintrodução do conhecimento em todo o conhecimento: diz respeito ao fato de que todo conhecimento é uma reconstrução/tradução por uma pessoa numa cultura e num tempo determinados.

A partir do pensamento complexo (utilizando os princípios acima como guia), é possível compreender a circularidade existente entre princípios explicativos mutuamente excludentes como entre o todo e as partes, entre a unidade e a diversidade, entre a ordem e a desordem. Assim como a dualidade apontada por Heylighen (1988) entre as partes que ao mesmo tempo são distintas e conectadas.

Reconhecendo-se a circularidade existente entre o todo e as partes torna-se possível libertar-se do paradoxo da necessidade de conhecer as partes para poder conhecer o todo e, ao mesmo tempo, conhecer o todo para poder conhecer as partes, pois ambas as explicações são

complementares, sem que nenhuma possa anular as características contrárias e concorrentes da outra (MORIN, 2008). Assim, tanto a explicação que tem por base a análise das partes quanto à explicação que tem por base a análise do todo, mesmo que diferentes, são verdadeiras.

A circularidade entre unidade e diversidade é o pressuposto de que ao mesmo tempo a diversidade constrói a unidade, enquanto que a unidade constrói a diversidade (MORIN, 2008). Por exemplo, as sociedades humanas atribuem a seus membros uma cultura (identidade comum) e ao mesmo tempo permitem o desenvolvimento de sua individualidade por meio desta mesma cultura. Ou seja, enquanto que o todo existe sob a forma de uma identidade única global, as partes existem tanto enquanto identidades próprias (com características não redutíveis ao todo) como na constituição de uma identidade comum (o todo).

A principal entre todas as circularidades é aquela entre ordem e desordem que exprime a essência do sentido de complexidade (BAUER, 1999). Isso porque a ciência clássica sempre buscou a ordem em detrimento da desordem, considerando que toda a aleatoriedade seria apenas aparência, ou seja, fruto de nossa ignorância.

O paradigma da complexidade admite a existência da desordem e para Morin (2008 p.201) essa desordem causa inquietação, pois “não sabemos se o acaso é uma desordem objetiva ou, simplesmente, o fruto de nossa ignorância”. A desordem, portanto, não pode ser comprovada, mas isso não quer dizer que ela não existe. É por isso que em sua definição de pensamento complexo Morin destaca que o mesmo trata com a incerteza, ao contrário do pensamento reducionista que a omitia.

A circularidade entre ordem e desordem reflete o conceito de que toda organização é caracterizada ao mesmo tempo por ordem (à medida que congrega repetição, regularidade e redundância e é capaz de auto-regulação para a preservação de estabilidade) e desordem (à medida que produz eventos, perturbações, desvios, ruídos, instabilidades) (MORIN, 2008). Se a ordem fosse banida do Universo, restando apenas desordem, certamente haveria muita criação e inovação. Contudo, nenhuma organização delas decorrente e logo nenhuma evolução. E, caso contrário, sendo a desordem banida do universo, existindo apenas ordem, não haveria criação ou inovação e tampouco evolução.

Nesse sentido, Heylighen (1988) afirma que complexidade está entre a ordem e o caos, para ele tanto uma situação de ordem perfeita como de desordem perfeita correspondem ao vazio, ou seja, a ausência de estrutura e diferenciação, e, portanto a ausência de qualquer forma de complexidade.

Portanto, ordem e desordem são necessárias para que haja organização e inovação, e em consequência, evolução. Em consonância com Morin (2008), Stacey (1996) afirma que a desordem é a matéria prima da vida e da criatividade.

Há diversas abordagens (ou disciplinas) que empregam um ou alguns desses princípios e juntas formam o paradigma da complexidade. Para Axelrod e Cohen (1999), cada uma dessas disciplinas tem características especializadas que as distinguem das demais. A abordagem dos Sistemas Adaptativos Complexos, no entanto, é recorrente entre os cientistas que trabalham sob a perspectiva da complexidade e principalmente entre aqueles que se dedicam a trazer a complexidade para a teoria organizacional, sendo sua compreensão necessária para que se entenda porque as organizações podem ser consideradas como um destes sistemas.

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