• Nenhum resultado encontrado

Organizações Hospitalares Integradoras

No documento P ONTIFÍCIAU NIVERSIDADEC ATÓLICA DES ÃO (páginas 60-66)

Deve-se considerar que a preocupação em estruturar um Hospital Geriátrico e Gerontológico requer uma pluralidade de conceitos para sua concepção. Portanto, nossa intenção é fugir do “modelo” prevalente de hospitais, que pressupõe a organização do cuidado com base em doenças e órgãos. O

cuidado ao idoso é, por definição, abrangente, envolvendo diferentes níveis de atenção e espaços institucionais com níveis de desenvolvimento, complexidade e custos crescentes.

Inicialmente, há necessidade de desmistificar a questão do cuidado à saúde do idoso em nível hospitalar para que possamos vislumbrar um novo sentido a esse cuidado. Muitos gestores e profissionais de saúde ainda mantêm uma visão estereotipada sobre o envelhecimento, acreditando ser esse um segmento sem retorno, do ponto de vista individual e coletivo e trazê- lo para discussão em sociedades como a do Brasil seria inverossímil, uma vez que há outras prioridades tão prementes.

As múltiplas facetas do processo de envelhecimento apontam para a necessidade de atenção abrangente à saúde do paciente idoso, procurando mantê-lo com sua capacidade funcional e independência física e mental, em condições favoráveis para que possa viver em comunidade, desfrutando boa qualidade de vida. Abalado pela doença que o atinge esse paciente espera encontrar pessoas e equipamentos em condições de lhe prestar todo o amparo de que precisa. É necessário reformulação nos serviços de saúde para que possam responder às demandas emergentes do novo perfil epidemiológico brasileiro.

As pessoas idosas, de fato, têm necessidades médicas e sociais diferenciadas e tendem a utilizar os serviços de internamento e equipamentos de saúde com maior frequência. No entanto, a utilização mais intensiva desses serviços deve ser interpretada como parte de um programa geral de atenção ao idoso, onde o conhecimento integrado dos aspectos clínicos e funcionais envolvidos na gênese das doenças agudas e crônicas serão fundamentais para

a efetividade do cuidado geriátrico e gerontológico, contribuindo para melhor definição de competências, orientando condutas de curto, médio e longo prazo.

A Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) recomenda que cada país procure, com todos os meios disponíveis, desenvolver programas e serviços não tradicionais de atenção ao idoso, visando a alcançar o bem-estar integral dessa população no prazo de tempo mais curto e de melhor relação custo-benefício. Enfatiza, ainda, a necessidade absoluta de regulamentação e vigilância permanente do funcionamento dos diferentes serviços de atenção ao idoso pelas autoridades públicas competentes, procurando evitar que a assistência a esses cidadãos velhos seja fonte inescrupulosa e desmedida de lucro para setores empresariais da comunidade, o que prejudica ainda mais o equacionamento da difícil problemática de atenção a essas pessoas (BRITO e RAMOS, 2007, p. 680).

Embora a atenção à pessoa idosa tenha ganhado notoriedade nos últimos anos no Brasil, tanto no meio acadêmico quanto através da mídia, pouca ênfase tem sido dada à composição de serviços hospitalares voltados à pacientes geriátricos. Dados sobre internação e ocupação de leitos hospitalares mostram que os idosos fazem uso dos recursos oferecidos pela rede hospitalar em uma proporção relativamente maior se comparados com outros grupos etários. Em termos de cuidados hospitalares, um levantamento desenvolvido em 1986 por Ramos, a partir de uma pequena amostra de hospitais em São Paulo, mostrou que as pessoas idosas, nos hospitais gerais, chegam a ocupar 20% do total de leitos e que o tempo médio em que permanecem internadas é quase duas vezes maior que a média para o total da população, apesar de todas as restrições impostas pelo Sistema Nacional de

Saúde às internações de longo prazo (BRITO e RAMOS, 2007, p. 678).

Metanálise publicada em 1993, incluindo 28 ensaios clínicos randomizados com 4929 indivíduos incluídos em cinco diferentes estratégias de serviços geriátricos e 4912 controles, demonstrou que tais serviços são efetivos na melhora da capacidade funcional e da sobrevida de idosos. Abordagem geriátrica conduzida em nível hospitalar, incluindo serviços de reabilitação, foi capaz de reduzir em 35% o risco de mortalidade em um período de seis meses. Abordagem geriátrica em domicílio, por sua vez, reduziu a mortalidade em 14% durante um período de 36 meses. Ainda que toda essa evidência seja proveniente de centros localizados em países desenvolvidos, é provável que a organização do cuidado geriátrico nos mesmos moldes resulte em similares desfechos em nosso meio (COELHO FILHO, 2000, p. 668).

Unidades hospitalares especificamente delineadas para o cuidado ao idoso deverão contar com uma equipe multiprofissional e que trabalhe de maneira interdisciplinar, capacitada em Gerontologia, capaz de realizar uma avaliação multidimensional, promovendo um diagnóstico integral, a fim de determinar o tipo mais adequado de intervenção que cada paciente irá necessitar. Seu delineamento não deve somente estar atrelado às informações oriundas dos profissionais envolvidos com o paciente, mas é preciso que haja uma mobilização das equipes de atenção primária que possam receber este paciente na comunidade quando da alta hospitalar.

Não há um número exato de profissionais envolvidos para a avaliação global à pessoa idosa. Suas necessidades deverão ser analisadas e adequadas aos problemas biopsicossociais do doente. Consenso entre

autores mostra que as áreas-chave que frequentemente estão envolvidas neste cuidado são a Geriatria, a Enfermagem, a Fisioterapia, a Terapia Ocupacional e a Assistência Social. Numa abordagem mais ampla, outras áreas deverão compor esta equipe, tais como Psicólogo, Fonoaudiólogo, Nutricionista, Farmacêutico, Odontólogo, um Padre ou Pastor ou um mentor espiritual.

A composição desta equipe, que se mostra bastante diversa, não é suficiente para definir sua atuação interdisciplinar. É necessário que se estabeleça uma dinâmica e vontade comum entre seus membros. E os principais elementos que definem esta dinâmica são o respeito à pessoa idosa (envelhecimento), o reconhecimento recíproco das competências complementares entre as diferentes disciplinas (interdisciplinaridade), o compartilhamento das informações relativas ao paciente (comunicação), o aprimoramento das competências pela educação e, sobretudo, o estabelecimento de um projeto comum de atuação e tomada de decisões conjuntas.

Pode-se perceber, por meio dessas considerações, que aquilo que se pretende colocar em prática é a abordagem ampla do conceito de saúde. Para atingir esse objetivo, os profissionais componentes da equipe interdisciplinar deverão, obviamente, tomar conhecimento da importância e da amplitude de sua atuação individual e coletiva; deverão estar cientes da complexa inter- relação entre os aspectos físicos, psicológicos e sociais da saúde e da doença, além dos aspectos objetivos e subjetivos desses estados (NETTO, YUASO e NUNES, 2007, p. 123).

Parte desse ponto nosso desafio para ampliar ainda mais esta abordagem, o que nos remete à necessidade de um novo paradigma de

funcionamento da gestão de pessoas no hospital. Daremos um abraço holístico na concepção das equipes, incluindo em sua formação todos os grupos que compõem o hospital, incluindo as profissões ditas “não acadêmicas” e aquelas de desempenho tipicamente administrativos junto às equipes interdisciplinares.

O termo holístico é derivado do grego e quer dizer, de maneira geral, “o todo”, “o completo”. Para Chiavenato (2000, p. 355), o Holismo ou abordagem holística é a tese que sustenta que a totalidade representa mais do que a soma de suas partes, como os organismos biológicos, sociedades ou teorias científicas. Na medicina, a abordagem holística estabelece que os organismos vivos e o meio ambiente funcionam como um ambiente integrado.

Essa teoria surgiu a partir dos trabalhos do biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy e investiga a relação de cada parte dentro da totalidade e a influência dessa totalidade em cada parte, dando ênfase nas interações existentes entre elas. “Para o Holismo, o mundo é como um jogo de quebra- cabeças, onde cada peça tem uma função importante como complemento da figura e, sem uma delas, o jogo fica incompleto (...). O pensamento holístico defende uma visão de mundo integrada”, completa Lira (2003).

O conceito de sistemas proporciona uma visão abrangente, holística. A análise sistêmica das organizações permite revelar o “geral no particular” indicando as propriedades gerais das organizações de uma maneira global e totalizante, que não são reveladas pelos métodos ordinários de análise científica. Em suma, a Teoria dos Sistemas permite conceituar os fenômenos dentro de uma abordagem global, permitindo a inter-relação e integração de assuntos que são, na maioria das vezes, de natureza completamente diferentes (CHIAVENATO, 2000, p. 355).

No documento P ONTIFÍCIAU NIVERSIDADEC ATÓLICA DES ÃO (páginas 60-66)