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6. REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA: PANORAMA DA PRODUÇÃO

6.2 ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS (ONGs)

Na pesquisa de Mitchell (2015), entre os vinte e nove atributos que os líderes identificaram nas organizações que consideram eficazes, estes enfatizaram, entre outros pontos, a colaboração. No caso de ONGs (Organizações Não Governamentais) eficazes, a colaboração foi o quarto atributo mais frequentemente citado em pesquisa realizada por Mitchell, O'Leary e Gerard (2015), com entrevistas em profundidade entre 152 líderes de ONGs localizadas nos Estados Unidos, representantes dos principais setores da atividade organizacional.

As ONGs frequentemente se envolvem em colaborações, contribuindo com a eficácia organizacional, para alcançar melhores resultados e aumentar a escala ou amplitude de seus programas. Na pesquisa dos autores foram examinadas perspectivas dos gestores públicos e dos líderes de ONGs sobre a colaboração, em um esforço para promover a compreensão mútua e contribuir para colaborações interorganizacionais mais eficazes no futuro. A análise revelou que “uma percepção de ligação entre colaboração e desempenho é o principal catalisador para o engajamento em colaboração como estratégia de gestão.” (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015, p. 706).

Os autores concluíram, em termos gerais, que os entrevistados de todos os setores veem a relação entre colaboração e desempenho muito positivamente, embora citem uma variedade de preocupações específicas, reconhecendo, ainda, as consequências potencialmente negativas da colaboração.

Para que haja uma abordagem eficaz nas ações voltadas aos maiores desafios públicos, como habitação, pobreza, economia, educação, poluição, entre outros, a colaboração entre fronteiras organizacionais torna-se essencial. Além disso, o objetivo de melhorar a eficácia e o desempenho dos programas, e a própria tecnologia que contribui com as organizações públicas e sem fins lucrativos através do compartilhamento de informações de forma integrada, estão entre fatores que fomentam a colaboração (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015, p. 686). Como mencionado pelos autores,

[...] por meio da participação em uma rede de políticas, por exemplo, organizações podem promover as opiniões ou desejos de seus membros ou grupos constituintes, obter acesso a funcionários ou processos de decisão e cultivar alianças políticas, ganhando legitimidade política ou autoridade, e promovendo políticas organizacionais ou programas. (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015, p. 688).

Neste contexto, os gestores do governo local descrevem a natureza dos problemas públicos, a interdependência das missões e a necessidade de decisões serem informadas pelas perspectivas das partes interessadas como impulsionadores da colaboração (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015, p. 693). “Além disso, a colaboração é vista como um mecanismo importante para alavancar ou coordenar recursos escassos, como fundos, tempo, pessoal, mas também conhecimento, novas perspectivas e redes.” (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015, p. 693).

Quanto aos aspectos negativos, os gerentes do governo local apontaram algumas características como o processo demorado, o que pode gerar conflitos entre as organizações colaboradoras e o público. Mencionaram uma possível perda de recursos, como pessoal, financiamento ou apoio político, “já que, às vezes, os esforços colaborativos podem não trazer resultados.” (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015, p. 695).

No entanto, através de pesquisa com entrevistados, observou-se que estes veem a colaboração como uma chave estratégica de gestão e liderança para melhorar o desempenho e, geralmente, experimentam resultados de desempenho bem- sucedidos. Além dos resultados diretos de desempenho, os entrevistados dos três grupos – administradores públicos locais, gestores públicos federais e empresas sediadas nos Estados Unidos líderes de ONGs transnacionais – recebem benefícios da colaboração, como a aprendizagem organizacional e relacionamentos aprimorados, que podem contribuir para ganhos de longo prazo (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015). Os autores afirmam que:

[...] enquanto os entrevistados conectam colaboração com o desempenho e expressam um compromisso com a colaboração contínua, eles concordam que a colaboração pode ser custosa em termos de poder, tempo, processo e procedimentos complexos. Além disso, os líderes pesquisados disseram que ter missões, metas e ganhos comuns é essencial para uma colaboração bem- sucedida e ganhos de desempenho. (MITCHELL; O'LEARY; GERARD, 2015, p. 710).

O artigo de Abouassi, Makhlouf e Whalen (2016) examina as capacidades das ONGs no engajamento em colaboração, fornecendo um estudo de ONGs ambientais no Líbano. As organizações sem fins lucrativos se esforçam, segundo os autores, para melhorar continuamente a eficácia e a sustentabilidade de seus programas, a eficiência do serviço e a prestação de contas. Normalmente, os gerentes enfrentam a necessidade de atingir esses objetivos apesar dos recursos limitados. Por essa razão, a colaboração com outras organizações tornou-se uma estratégia tática cada vez mais favorecida. Os autores demonstraram que as organizações que têm capacidade suficiente de recursos humanos, mais recursos tecnológicos e empregam mais mulheres no nível de liderança, provavelmente buscam mais colaboração do que em outras organizações. Destacam, com base nessa pesquisa, que as organizações lideradas por gerentes mulheres tendem a se envolver e participar de colaborações com mais frequência do que as organizações lideradas por homens (ABOUASSI; MAKHLOUF; WHALEN, 2016, p. 438).

Além disso, as organizações que geram receitas internas mais altas têm menor probabilidade de buscar colaboração (ABOUASSI; MAKHLOUF; WHALEN, 2016). Embora os recursos tecnológicos avançados não estejam disponíveis em todas as organizações, o uso desses recursos significa maior visibilidade e capacidade de moldar a imagem desejável para apresentar ao público, bem como aos parceiros.

Pesquisas sugerem que organizações sem fins lucrativos reconhecem a importância crescente das mídias. Os estudos mostraram que as ONGs usam mídias sociais e outras tecnologias baseadas na web para “simplificar funções de gerenciamento” e interagir com outras organizações. Essas interações entre as organizações podem desenvolver fortes relações colaborativas (ABOUASSI; MAKHLOUF; WHALEN, 2016, p. 440).

Para os autores,

[...] as ONGs estão cada vez mais engajadas na colaboração interorganizacional para otimizar o alcance de seus objetivos... tais relações colaborativas podem afetar e ser afetadas por recursos organizacionais, estilos e práticas gerenciais. Para as ONGs, a gestão de recursos humanos é um fator importante no sucesso organizacional. O mesmo pode ser dito sobre a importância dos recursos financeiros e ferramentas tecnológicas. Todos têm implicações substanciais para a capacidade e prontidão de uma organização em colaborar. (ABOUASSI; MAKHLOUF; WHALEN, 2016, p. 446).