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Orientação de pesquisa reticularista pré-golgiana

No documento A teoria neuronal de Santiago Ramón y Cajal (páginas 169-177)

PARTE II – A TEORIA NEURONAL

8. Teoria reticular

8.3. Orientação de pesquisa reticularista pré-golgiana

A ideia de um holismo que se oponha ao localizacionismo pode ser transposta em uma chave de compreensão do orgânico nos campos da anatomia e fisiologia? Algumas

248 Idem, p. 186.

249 Essa crítica de Bell encontra-se no An Essay on the circulation of the blood, por Charles Bell (1819, p. 25).

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questões metodológicas e lógicas relacionadas à interpretação do método da lesão cerebral devem ser consideradas em diferentes orientações e contrastado com o que Finger chama de doutrina localizacionista clássica250. Uma oposição clara ao localizacionismo era a tese de que localização dos sintomas não concordava anatomicamente com a localização da função251.

Flourens252 foi um dos principais críticos dos métodos e resultados dos frenologistas. Fez inúmeros experimentos de ablação e estimulação em pássaros, roedores e outros pequenos animais, concluindo que faculdades corticais discretas, tal como a visão espacial, poderia ser localizada em regiões corticais separadas.

Em uma obra de 1842253, Flourens se dedica a analisar as principais proposições da frenologia a partir da obra de três autores (Gall, Broussais e Spurzheim), na tentativa de refutar a metodologia frenológica como alternativa ao estudo fisiológico. Flourens se posiciona contrário à orientação dita localizacionista. Vejamos se o pensamento de Flourens pode ser ipsis litteris considerado como alternativa holista ao localizacionismo frenológico254.

Flourens justifica a escrita de seu livro, examinando a frenologia, remetendo ao progresso que a frenologia alcançou no cenário acadêmico das primeiras décadas do

250 Finger, 1994.

251 Apresentei na seção anterior exemplos advindos da frenologia (considerada por Finger e outros autores a disciplina por excelência localizacionista) em que compartilhavam dessa crítica.

252 Georges Cuvier (1769-1832), que foi professor de Flourens, ocupou a cátedra de história natural no Collège de France de 1800 a 1832 (a cátedra foi criada em 1778). Essa cátedra foi desdobrada em uma de história natural dos corpos inorgânicos e ocupada por Léonce Éli de Beaumont em 1832, e uma cátedra de história natural dos corpos organizados de orientação fisiológica ocupada por Georges Duvernoy de 1837 a 1855 e depois, por Pierre Marie Jean Flourens entre 1855 e 1867. Flourens é conhecido por inúmeros estudos sobre o sistema nervoso e as funções sensitivas e motoras. Fez estudos sobre o centro respiratório no bulbo raquidiano (área muito explorada por Julien Jean César Legallois (1770-1814)), e é considerado o responsável pela descoberta do papel do cerebelo na coordenação dos movimentos e dos canais semicirculares (estruturas do ouvido interno que contribuem para o equilíbrio). (Berthoz, 2005).

253 Flourens, 1842.

254 Creio ter apresentado uma via interpretativa do pensamento frenológico e fisiognômico nos últimos parágrafos que, ao menos, atenue essa associação dura entre localizacionismo e essas disciplinas, porém, no intuito de fazer o mesmo percurso com relação ao holismo de Flourens adotarei, parcialmente, que Flourens esteja combatendo essa visão localizacionista tal como a historiografia a consagrou. Espero poder demonstrar de forma clara que o holismo de Flourens também deve ser atenuado como uma forma de expressão de seu pensamento que, as vezes se destaca outras não, de uma orientação localizacionista.

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século XIX. Ele inicia seu exame distinguindo o grau de influência que pairou nos dois últimos séculos, equiparando à influência da frenologia no próprio século XIX. Segundo ele, o século XVII teve forte influência do pensamento de Descartes (Flourens dedicou essa obra a Descartes), o XVIII deve muito ao pensamento de Locke e Condillac, enquanto que o pensamento de Gall estava tomando fôlego nas primeiras décadas do XIX na mesma proporção dos antecessores mencionados.

O exame do pensamento de Gall feito por Flourens se baseou fortemente na obra

Anatomie et Physiologie du sistème nerveux en général et du cerveau en particulier, avec des observations sur la possibilité de reconnaitre plusieurs dispositions intellectualles et morales de l’homme et des animaux par la configuration de leurs têtes,

4 vol. In-4° avec planches. Paris, 1810-1819. Nesta obra, Gall expõe exaustivamente sua teoria.

Flourens identifica na teoria frenológica de Gall duas proposições fundamentais, quais sejam: (1) a inteligência reside exclusivamente no cérebro; (2) cada faculdade particular da inteligência, no cérebro (dans le cerveau), constitui um corpo próprio. Flourens dirá que a primeira proposição não acrescenta nada de novo, uma vez que já era aceita desde o século XVII. Quanto à segunda proposição, não há confirmação empírica que a sustente, diz Flourens. O cérebro como sede da alma, dirá Flourens, é afirmação antiga, inclusive localizando tal sede em distintas estruturas (Descartes identificou tal estrutura na glândula pineal; Willis no corpo estriado; La Peyronie no corpo caloso, sem falar nos autores que no final do século XVIII tentaram determinar o sensório comum).

Uma referência que se poderia dizer atualizada na obra de Gall e que poderia servir de endosso é Samuel Thomas von Soemmerring (1755-1830). Soemmerring se referia constantemente a Haller em sua defesa de que o cérebro seria o único instrumento de toda a sensação, pensamento e vontade. Flourens afirma que Gall havia entrado em contato, durante seus primeiros trabalhos, com Soemmerring e Cuvier. Cito uma passagem de Cuvier referenciada por Flourens:

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(...) a proporção do cérebro com a medula espinhal, uma proporção que é mais a favor do cérebro no homem do que em qualquer outro animal é um bom indicador da perfeição da inteligência, porque este é o melhor indicador da regra de que o órgão da reflexão conserva sobre os sentidos externos255.

Um ponto de discordância entre o pensamento de Flourens e o de Gall se dá em que, para o segundo, a afirmação de que o cérebro se desenvolve em razão da inteligência se faz premente, enquanto que, para Flourens essa assertiva não se confirma em nenhum momento da pesquisa empírica. A perda de qualquer função específica não implica na perda da inteligência, outro ponto falho nas consequências da teoria de Gall, apontado por Flourens.

A discordância de Flourens não parece recair sobre as duas premissas gerais apontadas na obra de Gall, ao menos não sobre a primeira, mas sim sobre as extrapolações de parte dos frenologistas256. Cito Flourens:

A filosofia de Gall consiste em transformar em inteligências particulares cada modo de inteligência propriamente dita257.

A questão em destaque na passagem acima recusa uma espécie de partimentalização do que Flourens concebe como sendo a inteligência258. O erro da

255 Cuvier apud Flourens, 1842, p.12.

256 Flourens se refere especificamente sobre a obra de três grandes nomes da frenologia no início do século XIX, incluindo Gall que é considerado o fundador da disciplina, porém, as premissas frenológicas mais gerais não parecem indicar muitas diferenças com outros ramos de investigação, tal como, a anatomia e a fisiologia, tomadas essas disciplinas como áreas independentes entre si e não em uma ordenação hierárquica que reduza uma a outra. A ideia de que a crítica de Flourens recaia sobre as extrapolações das premissas frenológicas possui a vantagem de que, mesmo a obra em análise sendo a de Gall é possível situar as diferenças em qualquer outro autor que ultrapasse a linha apontada por Flourens. Vale ressaltar que, dada a maneira como coloco a questão, Gall não fala em nome de todos os representantes da frenologia. Um corolário dessa postura lançaria a hipótese de que ao examinar distintos autores frenologistas, encontraremos gradações em relação à filiação dos mesmos com os pressupostos da teoria defendida por Gall.

257 Flourens, 1842, p. 28.

258 É interessante notar essa passagem, pois, mais à frente quando analisarei as diferentes formas de explicação dos movimentos reflexos e a atribuição de graus do que se concebe por atos cognitivos

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doutrina de Gall, diz Flourens, está em separar em pequenos corpos (organismos) a inteligência, negando sua unidade. Flourens inicia o capítulo em que analisa o papel das faculdades na teoria de Gall dizendo:

Toda a filosofia de Gall se resume em substituir a multiplicidade à unidade. No cérebro, ele substitui a inteligência em geral por várias inteligências individuais. (...) as pretensas inteligências individuais são as faculdades259.

Em 1808 Gall ministrou a primeira aula sob a tutela de Cuvier no Collège de France260 sobre anatomia do cérebro. Flourens se refere à anatomia frenológica de Gall como sendo um estudo de anatomia comum. Nas primeiras décadas do século XIX, o conhecimento frenológico sobre a descrição anatômica de fato não se distinguia dos cursos de anatomia geral. Flourens precisou então distinguir a frenologia da anatomia descritiva, e o fez designando a primeira por doutrina da pluralidade de cérebros (doctrine de la pluralité des cerveaux) e doutrina das inteligências individuais (doctrine des intelligences individuelles).

A discordância se desloca inclusive à descrição anatômica do sistema nervoso. A direção e constituição das fibras nervosas tal como apresentada na teoria de Gall implicam em contra-senso, afirma Flourens. Flourens recorreu a Spurzheim sobre esse ponto para expor uma contradição entre os dois frenologistas acerca do conhecimento anatômico das disposições no organismo, sugerindo falta de objetividade e consenso

associados a estruturas distintas do sistema nervoso (medula espinhal, tronco, cerebelo, córtex cerebral), a noção de diferenças de grau sobre o conceito de inteligência e consciência se torna algo difuso em distintos autores, não servindo de parâmetro para a pretensa distinção entre localizacionistas e holistas. De forma mais radical, será quando a comunidade científica, na sua imensa maioria, adotará pressupostos evolutivos e que terá como uma das consequências, aceitar que a inteligência, bem como outras acepções cognitivas, se dão de forma gradual na série animal diluindo ainda mais essa premissa que para Flourens caracteriza o pensamento localizacionista.

259 Flourens, 1842, p. 36.

260 Não estou certo se essa aula foi no Collège de France, porém, a referência a Cuvier supõe que fosse lá. Segue a passagem no original em que Flourens menciona esse episódio. “Gall lut à la première classe de l’Institut un mémoire sur l’anatomie du cerveauέ εέ Cuvier fit un rapport sur ce mémoireέ εais, ni dans ce mémoire, ni dans ce rapport, vous ne trouverez un mot de l’anatomie spéciale, de l’anatomie de la doctrine, ou, en d’autres termes, et, comme on dirait aujourd’hui, de l’anatomie phrénologiqueέ” (Flourens, 1842, p. 53-54).

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entre os próprios frenologistas. A anatomia comparativa não está em menor oposição a Gall que a experiência direta. Um problema apontado por Flourens se refere à relação entre a localização e sua respectiva função. O conhecimento no nível da disposição das fibras deverá apontar a ligação direta entre a estrutura em questão e os órgãos a ela associados, permitindo assim que por meio da experimentação se determine sua relação funcional. A frenologia galliana, segundo Flourens, parece desprezar a descrição histológica do sistema que englobe a relação estrutura-função261. A frenologia parece adotar uma prática holista no que se refere à descrição histológica (anatômica no nível dos tecidos262), enquanto que sua opositora (a fisiologia de Flourens) defende uma prática de identificação em níveis abaixo da observação macroscópica do organismo,

261 Esse ponto da crítica é fundamental para caracterizar a fragilidade heurística da tentativa de compreensão histórica por meio dos conceitos antitéticos assimétricos de localizacionismo e holismo. A frenologia, frequentemente associada a uma visão localizacionista, parece seguir certo holismo ao ‘menosprezar’ a descrição histológica, ao menos visto por essa dimensão. A necessidade da descrição correta das fibras nervosas, apontada por Flourens, na exata caracterização da relação funcional de estruturas do sistema nervoso, por sua vez, será presença central na agenda de pesquisadores na segunda metade do século XIX que se pretende associar a pressupostos localizacionistas (Sechenov, Ramón y Cajal e outros). O que defendo, a partir do exame da frenologia e da fisiognomia e agora da oposição de Flourens a frenologia, é destacar o quanto é inconcluso e impreciso a caracterização do desenvolvimento dos conceitos centrais para a constituição da teoria neuronal a partir da controvérsia entre localizacionismo versus holismo. A grande maioria dos autores examinados nesta pesquisa, em momentos distintos de seus trabalhos, podem ser deslocados para uma orientação localizacionista ou holística conforme uma variedade de fatores (disciplina em que esteja atuando com maior frequência, tema a ser investigado, possível controvérsia em andamento, presença de interdisciplinaridade no decorrer da investigação etc). As posições designadas na segunda metade do século XIX, quanto a constituição do tecido nervoso, como neuronismo e reticularismo, portanto, não configuram uma re- edição da controvérsia localizacionismo versus holismo.

262 Embora pareça estranho designar a histologia nesse caso como uma anatomia dos tecidos, a histologia é originalmente um ramo da anatomia, porém, com o desenvolvimento do pensamento histológico ao mesmo tempo em que a disciplina da histologia tomava fôlego ocorre que os estudos eminentemente anatômicos e fisiológicos, quando transpostos para o exame dos tecidos, em alguns casos, transferiram a disposição hierárquica em que a anatomia ou a fisiologia indicaria no desenvolvimento da subsequente derivação do que se toma como disciplina fundamental. No caso de uma orientação fortemente fisiológica, o conhecimento da estrutura se dava a partir da explicação funcional, enquanto que, em uma orientação anatômica, dever-ia conhecer primeiro a estrutura e daí derivar sua função. Essa oposição entre orientações de pesquisa, anatômica e fisiológica, parece mais adequada que a então controvérsia localizacionismo e holismo. Vale ressaltar que me refiro à orientações de pesquisa, o que enfraquece ou amplia consideravelmente a noção de uma visão orgânica em que coexistem os mundos fenomênicos anatômico e fisiológico, a orientação tão somente permite que escolhas metodológicas sejam tomadas para que a compreensão da estrutura e do funcionamento possa ser alcançada.

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exigindo dessa forma maior precisão na determinação da relação que se estabelece entre a estrutura e sua função com relação ao sistema nervoso263.

Flourens defendeu o que chamou de ação comum (action commune) e ação específica (action propre) das distintas partes do encéfalo. Segundo Boring, essa é uma teoria que combina equipotencialidade de resposta com localização específica da função264. Cito Flourens em uma obra de 1824:

Cada parte essencialmente distinta do sistema nervoso tem, como vimos, uma função fixa e própria. A função dos lobos cerebrais é ter vontade, julgar, lembrar, ver, ouvir, ou – numa palavra – sentir. O cerebelo dirige e coordena os movimentos de locomoção e apreensão, e o bulbo raquidiano os de conservação. A medula espinhal liga, em

movimentos globais, contrações musculares imediatamente excitadas pelos nervos265.

Flourens segue apresentando uma série de casos em que se caracterizam as ações próprias e ações comuns. Em uma passagem afirma:

(...) os lobos cerebrais desejam e sentem; essa é sua ação própria. A suspensão dos lobos cerebrais enfraquece a atividade de todo o sistema nervoso; essa é sua ação comum. A ação própria do cerebelo coordena os movimentos de locomoção; sua ação comum é influir na atividade de todo o sistema, e assim por diante266.

A proposta metodológica que Flourens apresenta consiste em observar a influência em ordem de grau de cada parte sobre determinadas funções no organismo como um todo. Flourens utiliza o termo “paralisia” como sinônimo do processo de diminuição da função até a perda completa da mesma ao longo da investigação. No nível histológico, esse modelo pode ser associado a pesquisas em que se pressupõe a

263 Em uma obra de 1863, Flourens re-edita seu exame da frenologia acrescido pelos seus estudos sobre o cérebro. (Flourens, 1863).

264 Boring, 1971.

265 Flourens, 1824, p. 270. 266 Idem, p. 271.

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individualidade das células ou na formação de redes (retículo), não implicando em contradição alguma, a não ser que o objeto da pesquisa seja a relação de totalidade do sistema nervoso com o organismo, caso contrário, em um exame local (relação funcional com uma estrutura específica) pode-se até abdicar da distinção entre ação comum e própria, uma vez que a ação será sempre ação própria.

Golgi será influenciado pelo pensamento de Flourens e, principalmente, pelo que chamo de uma orientação de pesquisa reticularista267 presente no pensamento de Flourens. Em sua aula inaugural em 1855 no Collège de France, no curso intitulado

Curso de fisiologia comparada da ontologia ou estudo dos seres, Flourens diz

compreender o fenômeno da vida sob a ótica de dois grandes aspectos: (1) as forças de que a vida se constitui; (2) as funções que a constituem (objeto da fisiologia). Em relação às funções, há três divisões (2a) funções de nutrição (respiração, alimentação, digestão, excreção); (2b) funções de conservação (funções de relação tais como as funções motrizes e sensíveis, os reflexos, locomoção, hormonais, imunológicas) e; (2c) funções de perpetuação (desenvolvimento dos órgãos sexuais, ato sexual, gestação, cuidados com a prole etc).

A fisiologia propriamente dita é um estudo analítico e experimental. (...) procuramos todas as propriedades que atuam na organização animal: localizamos as forças e as funções. (...) chegou-se tão longe nessa localização que foi possível isolar as forças nervosas umas das outras. (...) No estudo da anatomia, Bichat havia traçado esse caminho. No estudo da fisiologia, ele foi indicado por mim268.

267 Quando me refiro à orientação de pesquisa reticularista não necessariamente faço referência a estruturas reticulares, mas a uma maneira de pensar o organismo a partir de relações não redutíveis a suas partes, ao menos em algum nível. Um exemplo: Um patologista que examine o tecido ósseo e admita a individualidade entre as células formadoras do tecido (osteócitos) mesmo sabendo da ligação que se estabelece entre as células por meio de canalículos na matriz óssea que permitam a nutrição dessas células. Sob uma orientação reticularista, o patologista que investigue a causa de determinada patologia associada ao tecido ósseo tenderá a buscar essas causas na relação que se estabelece entre os constituintes do tecido, e não em características isoladas das células. No exemplo aqui se transita entre o domínio patológico e o que se conhece da estrutura (quando me refiro ao domínio patológico, obviamente, se inclui a fisiologia do tecido em questão). Esse exemplo poderia ser ampliado para outros níveis de investigação, inclusive, fora do registro anatômico.

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Flourens concebe o estudo da fisiologia em fisiologia das partes (nesse nível é possível a concordância com pressupostos localizacionistas) e fisiologia dos seres (neste nível se recusa a decomposição de qualquer tipo dos seres no seu estudo). A Fisiologia se constitui, segundo Flourens, semelhante à Física, em uma ciência fundamental. Cito Flourens,

(...) pode-se dividir a ciência humana, o saber humano, em duas grandes partes (refiro-me apenas à ordem física e fisiológica, deixando de lado as ciências matemáticas): primeira parte, a física; segunda parte, a fisiologia. Todas as outras ciências são meras subdivisões dessas duas269.

A fisiologia animal se divide em biologia (estudo da vida em si mesma) e a ontologia (estudo dos seres vivos). Flourens pretende em seu projeto reabilitar o termo

ontologia do uso indevido por parte da filosofia. A ontologia, por sua vez, divide-se em

neo-ontologia (estudo dos seres atuais) e a paleontologia (estudo dos seres do passado). Flourens representa uma corrente de pesquisa (creio que Golgi faça parte dessa corrente, embora, não tenha se dedicado ao estudo da história natural) com forte orientação fisiológica270 no estudo da história natural.

No documento A teoria neuronal de Santiago Ramón y Cajal (páginas 169-177)