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Orientação e desafios à supervisão

CAPÍTULO III – SOBRE ORIENTAÇÃO EM CONTEXTO ESCOLAR

2. O papel da escola na orientação

2.2. O papel dos professores no processo de orientação

2.2.1. Orientação e desafios à supervisão

Esta ligação intrínseca entre as dimensões académica e vocacional, bem como a cada vez maior enfatização da presença do professor como figura significativa neste último domínio, não podem deixar de remeter para os processos de supervisão em contexto educativo. De facto, constituindo a supervisão um processo fulcral para a promoção do desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, bem como um elemento que tenta garantir uma maior qualidade das práticas educativas, não poderá deixar de contemplar a orientação e as actividades a esta associadas. Especialmente se se tiver em conta que os processos supervisivos tendem cada vez mais para a contemplação de uma dimensão alargada, ao nível da comunidade escolar e das condições organizacionais que a afectam. O que, correspondendo a um alargamento do espectro de intervenção, incluirá novos domínios e irá justamente ao encontro das práticas e políticas concertadas de orientação.

No primeiro capítulo, foi apresentada uma perspectivação mais abrangente da supervisão, num momento de mudança, de novos desafios à educação e de uma escola reflexiva, tendo sido mencionadas as novas competências supervisivas, propostas por Alarcão e Tavares (2007). Estas remetiam para dois níveis de actuação: o desenvolvimento profissional dos agentes de educação – e a sua influência no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos – e ainda o desenvolvimento e a aprendizagem organizacionais e o seu impacto na vida das escolas. Ora, tendo em conta a realidade mencionada anteriormente, no que concerne ao papel dos professores e à importância da escola na orientação, concluir-se-á rapidamente que estas temáticas não se podem dissociar do âmbito da supervisão.

Com efeito, a influência que os professores e as suas práticas têm, e ainda o que está, ou não, a ser feito na escola para promover competências de perspectivação do futuro e da carreira, bem como de maturidade vocacional e de construção de projectos pessoais de vida, não são hoje preocupações exclusivas dos serviços de psicologia e orientação, constituindo desígnios do próprio sistema educativo e, em última análise, uns dos fins da educação.

Isto não significa, porém, uma transformação da supervisão pedagógica num processo auxiliar à orientação ou às actividades tradicionalmente atribuídas a outros agentes.

Significa, outrossim, que, tendo em conta que as dimensões de orientação fazem parte da própria educação, e estando envolvidos nesse processo os professores e a escola como instituição, deverá ocorrer uma abordagem, por parte dos supervisores, às práticas dos seus supervisandos nesse domínio, e ainda, considerando uma nova ecologia educativa, às demais actividades escolares em que estes participam14. Isto se se pretender que, como menciona Kisnerman (1999), que a supervisão proporcione aos supervisandos uma aquisição das condutas próprias da profissão em que iniciam a sua actividade.

Está, portanto, a falar-se não só do dia-a-dia da sala de aula e da ligação estabelecida entre conteúdos lectivos e o futuro escolar/profissional, mas também de actividades ao nível meso, projectos educativos, actividades de cariz extra-curricular, programas de promoção de competências e no trabalho de equipas multidisciplinares que visam, entre outros, o desenvolvimento vocacional dos estudantes.

No âmbito do trabalho em equipa é de sublinhar a importância das competências relacionais e interactivas dos profissionais, de resto, apontadas como sendo essenciais para uma maior adaptação (e.g., Perrenoud, 1999; Paiva Campos, 2004). Aprender a cooperar e a actuar em rede ou aprender a viver a escola como uma comunidade educativa, são competências mencionadas por Perrenoud (1999) e que se enquadram numa visão da intervenção do professor na escola, enquanto profissional reflexivo15. Partindo desta concepção de comunidade, em que se movimentam e interagem diversos profissionais, os movimentos mais sistémicos e ecológicos enfatizam as intervenções resultado de práticas concertadas entre diversos agentes, como por exemplo os

14 Aliás, considerando que os programas de formação de professores geralmente não incluem temáticas vocacionais ou incluindo, o seu grau de aprofundamento não é apreciável – o que diminui a sua preparação – mais do que nunca, para a garantia de um melhor desempenho, é indispensável o acompanhamento, por parte dos supervisores, da participação dos professores nestes processos.

15 Curiosamente, é de referir o trabalho de Pajak (1989), em que foram identificadas diversas dimensões subjacentes ao “comportamento de supervisão”, nas quais se incluem precisamente as relações na

professores entre si ou os professores e outros profissionais, designadamente os psicólogos16.

De facto, com a maior divulgação e implementação de práticas de orientação, a interacção entre professores e psicólogos já não se cinge apenas à abordagem de temas relacionados com dificuldades de aprendizagem, emocionais ou comportamentais dos alunos. Tal realidade consubstancia-se, por exemplo, na realização de actividades e programas de orientação vocacional ou escolar e profissional, as quais ocorrem em diversos momentos – extracurriculares, no âmbito de projectos da turma ou dos alunos, ou ainda mesmo em sede de áreas curriculares não disciplinares – e são tidas como parte normal e integrante da vivência escolar.

Trata-se, no fundo, da consolidação de uma nova parceria educativa, entre psicólogos e professores, em que a colaboração17 corresponde a uma melhor optimização de recursos, a uma implementação mais eficaz das actividades, em suma, a um melhor serviço prestado aos destinatários das mesmas, isto é, os estudantes. Constituindo, todavia, uma parceira que tem apresentado uma sucessiva significância, os processos de profissionalização e desenvolvimento dos professores – e, assim, de supervisão – deverão também passar a contemplá-la e tratá-la.

16 Perrenoud (1999) afirma que estes profissionais não podem simplesmente coexistir, mas devem trabalhar realmente em conjunto.

17 É de referir, a este propósito, o exemplo do estudo de Kazalunas (1978), que analisou as perspectivas dos professores sobre os psicólogos nas escolas e as interacções que estabeleciam com estes. Os resultados demonstraram que o psicólogo é visto como alguém que age em cooperação com o professor de forma a trabalhar temáticas relacionadas com o desenvolvimento dos alunos. Além disso, esperam que o psicólogo se integre numa rede de comunicação com outros elementos, como sejam os pais, e que trabalhe em conjunto com o professor, no sentido de identificar informação importante e debater as