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A gênese da assistência estudantil brasileira ocorre em 1928, no governo de Washington Luís, com a construção da primeira Casa do Estudante Brasileiro em Paris, que recebia os filhos das famílias ricas brasileiras, cujos estudos eram custeados pelo governo. Naquele momento, o assistencialismo estava voltado à elite. Em 1930, foi criada, no Rio de Janeiro, a Casa do Estudante do Brasil, que dispunha de quartos, banheiro coletivo e restaurante popular para os alunos carentes. A casa contava com considerável apoio do governo Vargas (1930-1945) (KOWALSKI, 2012).

Em 1931, ocorre a primeira tentativa de reformar o ensino superior e de regulamentar a assistência para estudantes deste grau de ensino (KOWALSKI, 2012). A assistência estudantil era parte do projeto político do Presidente Getúlio Vargas e acabou por se materializar na Constituição Federal de 1934. O Artigo 157 da referida Constituição previa “(...) auxílios a alunos necessitados, mediante fornecimento gratuito de material escolar, bolsas de estudo, assistência alimentar, dentária e médica, e para vilegiaturas” (BRASIL, 1934). Desde então, a trajetória da Política de Assistência Estudantil voltado ao ensino superior vem se reinventando, por meio de ações governamentais e pressão dos estudantes.

Conforme abordado, nas últimas décadas, o ensino superior passou por um processo de expansão, ampliando o acesso aos diferentes segmentos sociais que chegam às universidades públicas por meio da reserva de vagas instituída pela Lei nº 12.711 de 29/08/2012, lei de Cotas, e pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). A expansão e o acesso às IFES foram ampliados. Esta conjuntura demandou a necessidade de se pensar ações e políticas de permanência para que os estudantes conseguissem, não apenas ingressar, como também concluir seus cursos. Atendendo as demandas das instituições privadas, foram criados os seguintes Programas: FIES e PROUNI, já anteriormente mencionados. Na iniciativa pública, foi instituído em 2007, por meio da Portaria nº 39 do Ministério da Educação, o Programa Nacional de Assistência Estudantil, mais tarde regulamentada pelo Decreto nº 7.234/2010. As ações do Programa estão direcionadas aos estudantes de graduação presencial das Instituições Federais de Ensino Superior, que tem como finalidade o aumento das condições de permanência deste aluno na educação pública de ensino superior, indo ao encontro da definição de assistência estudantil apresentada pelo FONAPRACE.

O FONAPRACE define a política de assistência estudantil como sendo:

(...) um conjunto de princípios e diretrizes que norteiam a implantação de ações para garantir o acesso, a permanência e a conclusão de curso de graduação dos estudantes das IFES, na perspectiva de inclusão social, formação ampliada, produção de conhecimento, melhoria do desempenho acadêmico e da qualidade de vida. (FONAPRACE, 2012, p.63).

O PNAES foi proposto pelo FONAPRACE, tendo como embasamento legal a Constituição Federal de 1988, juntamente com a Lei de Diretrizes e Bases (Lei.9.394/96), que trazem em si dispositivos que amparam a assistência estudantil. O Plano foi elaborado na tentativa de responder aos desafios apontados nas Pesquisas do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das IFES Brasileiras, realizadas pelo mesmo Fórum, nos períodos de 1996-1997 e 2003-2004 (FONAPRACE, 2012). Em 2011, já com o Programa em vigor, o FONAPRACE realizou uma pesquisa traçando o perfil socioeconômico e cultural

dos estudantes de graduação das universidades federais brasileiras, que revelou que 67,2% dos universitários precisam de algum tipo de auxílio para se manter na universidade (FONAPRACE, 2011).

Assim são objetivos do PROGRAMA:

I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal;

II - minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior;

III - reduzir as taxas de retenção e evasão; e

IV - contribuir para a promoção da inclusão social pela educação (BRASIL 2010).

As ações dos programas deverão acontecer nas seguintes áreas: moradia estudantil, alimentação, transporte, atenção à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoios pedagógico, e acesso,participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação, contribuindo assim para a melhoria do desempenho acadêmico, como também atuando na prevenção de situações de retenção e evasão, ocasionadas em decorrência de problemas de ordem financeira.

As políticas de assistência estudantil são mitigadoras das desigualdades no ensino superior. Desse modo, o PNAES deve garantir a permanência dos estudantes em situação de vulnerabilidade social nas IES, promovendo a igualdade de oportunidades (BRASIL, 2010). Percebe-se, portanto, a preocupação do governo em direcionar este Programa aos alunos em situação de pobreza. O referido Programa deixa explícito, em seu artigo 5º, que serão atendidos prioritariamente os estudantes oriundos da rede pública de educação básica ou com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, sem prejuízo de demais requisitos fixados pelas IFES (BRASIL, 2010).

Este direcionamento aos segmentos de baixa renda da população tem sido alvo de críticas por parte de alguns autores que argumentam que a focalização da política em tais grupos sucumbe o caráter universal da assistência estudantil, transformando-a em “política de combate à pobreza dentro da Universidade” (GRANEMANN apud CISLAGHI, 2012).

Ainda assim, não se pode negar a relevância do Programa ao garantir às IFES repasses de recursos da matriz orçamentária do Ministério da Educação destinados exclusivamente à assistência estudantil. De acordo com a Análise sobre a Expansão das Universidades Federais – 2003-2012, realizada pelo MEC, verifica-se o crescimento exponencial (crescimento de 444%) no quantitativo de benefícios concedidos para ações que contemplam moradia estudantil, alimentação, transporte, assistência à saúde, inclusão digital, cultura, esporte,

creche e apoio pedagógico, ampliando a abrangência das políticas de assistência para além das ações específicas voltadas para a permanência dos estudantes de baixa renda (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012). Em relação aos recursos, percebe-se que no período de 2008 a 2017 houve um crescimento de 578%.

Gráfico 4 -Recursos orçamentários do PNAES para as universidades federais de 2008 a 2017

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados retirados do Tesouro Gerencial e fornecidos pela AT/CUR 7- UFF

Gráfico 5 - Benefícios atendidos pelo PNAES de2008 a 2012

7 AT/CUR – Auditoria Técnica da UFF

140.674.323,27 200.593.959,56 303.218.795,80 395.197.355,80 506.547.428,33 637.604.349,32 713.567.760,01 843.707.334,12 951.874.876,91 953.696.763,55 - 200.000.000,00 400.000.000,00 600.000.000,00 800.000.000,00 1.000.000.000,00 1.200.000.000,00 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Análise sobre a Expansão das Universidades Federais - 2003 a 2012/MEC