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3 MARCO TEÓRICO

3.2 O TRIBUTO SOB O OLHAR COMPORTAMENTAL

3.2.2 Os fundamentos da Sociologia Fiscal

3.2.2.2 Origem da Sociologia fiscal

Apesar de ser uma temática já explorada há tempos por autores clássicos como Hobbes, Locke e Smith, sua abordagem do sob o ponto de vista de um campo próprio da Sociologia nos remonta ao início do século XX, por meio de duas correntes intelectuais - escolas ou tradições - que emergem na Europa: a austríaca e a italiana (SOARES; MARQUES, 2013). Como principais pensadores representantes da Escola Austríaca merecem destaque Rudolf Goldscheid e Josehp Schumpeter. Já na Escola Italiana, tem-se na figura de Vilfredo Pareto o seu principal precursor.

3.2.2.2.1 A escola austríaca

Goldscheid é tido como um dos precursores desse campo de estudo ao cunhar o termo Finanzsoziologie, sendo considerado junto com Schumpeter um dos primeiros autores clássicos da área (BACKHAUS, 2002). Sua análise combina os métodos da escola histórica alemã da fazenda pública com a análise marxista das classes sociais. Busca expor sua argumentação traçando um comparativo entre a maior disponibilidade de propriedades públicas dos estados feudais (tidos por ele como ricos) em relação aos estados democráticos modernos (considerados pobres37) e afirmando que as lutas

fiscais eram a mais velha expressão da luta de classes. Nesse contexto, os sistemas fiscais mantinham uma importante dimensão de enriquecimento de uma classe em detrimento de outras (GOLDSCHEID apud SOARES; MARQUES, 2013).

De acordo com Barros (2012), o pensamento de Goldscheid era que, num cenário contemporâneo, países com arrecadação insuficiente para manter seus programas sociais se viam forçados a desenvolver impostos indiretos, aumentando o déficit público. Fazendo uso da política econômica, promoveriam ciclos de inflação/deflação em benefício da iniciativa privada. Por outro lado, Estados

37 Para o autor, na Idade Média os estados eram ricos por serem controlados pelas classes mais

poderosas. Com a criação das formas modernas de Estado, pautadas no modelo capitalista e na democracia, a máquina estatal voltou-se para os interesses da população em geral. Essa nova configuração fez, portanto, que as classes dominantes intencionalmente buscassem o desaparelhamento e consequente empobrecimento do Estado pelo simples fato de que não havia mais sentido disporem de seus recursos para uma causa não direcionada a seus interesses. Uma ideia na qual o Estado só fora permitido ser governado pelo povo a partir do momento que se encontrava impotente e pobre, de “caixas vazias” (GOLDSCHEID apud SOARES; MARQUES, 2013).

economicamente desenvolvidos resolveriam suas problemáticas sociais por meio do acúmulo de capital público, através de um círculo virtuoso que possibilitasse a sustentabilidade de seus programas sociais.

O economista e cientista político Joseph Schumpeter também teve papel relevante na abordagem da Sociologia Fiscal tida como uma disciplina própria. Foi responsável pela popularização do termo Sociologia Fiscal ao argumentar, em sua obra

Crise do Estado Fiscal (1918), que as finanças públicas eram a chave para o

entendimento e desenvolvimento da sociedade moderna (MARTIN; PRASAD, 2014). O autor busca desenvolver uma teoria que inter-relaciona a evolução das instituições do Estado com a dinâmica fiscal.

Schumpeter atribui grande importância e influência da história fiscal na história das nações (MUSGRAVE, 1992). Para isso, examina a sociedade feudal da Áustria e Alemanha, identificando as causas fiscais que contribuíram para o declínio daquele modelo e surgimento do que ele chama de moderno Estado Fiscal, padrão esse que também foi observado na Inglaterra (SOARES; MARQUES, 2013). Balizado nos fundamentos de sua Teoria dos Ciclos Econômicos38, a crise do Estado Fiscal seria,

portanto, o momento no qual este atinge seu limite e entra em colapso, abrindo assim uma conjuntura favorável para as inovações necessárias ao restabelecimento do equilíbrio econômico. Em outras palavras, tal colapso seria ingrediente fomentador de mudanças que transcendem a dimensão fiscal, influenciando também ajustes de ordem econômica e institucional.

3.2.2.2.2 A Escola Italiana

Diferentemente da abordagem austríaca, a Escola Italiana privilegia a dimensão das finanças públicas lastreando sua abordagem sociológica na “Teoria das

38 Oriunda de sua obra A Teoria do Desenvolvimento Econômico, de 1911. De acordo com a experiência,

na visão de Schumpeter, não existe um processo contínuo e, imprevistos, dos mais variados, interrompem o caminho para o desenvolvimento. Ao sofrer interrupção, a linha de desenvolvimento traçada até então se altera permanentemente e “uma grande quantidade de valores é aniquilada; as condições e os pressupostos fundamentais dos planos dos dirigentes do sistema econômico se alteram”. Todavia, após a recuperação, o desenvolvimento que se segue é novo e não uma continuação do anterior (ARAÚJO; FERREIRA JUNIOR, 2011).

Elites”39, encontrando na figura de Vilfredo Pareto seu principal precursor. Em sua obra Tratado de Sociologia Geral, Pareto demonstra que a ciência financeira é uma ação

não-racional a serviço de uma elite dominante, onde o ambiente econômico e a realidade sócio-política são fatores codependentes (BARROS, 2013).

Pareto entendia que a Economia lidava com uma dimensão lógica e racional da ação humana, que buscava a escolha do melhor meio de recursos para se alcançar bens escassos. A Sociologia, por sua vez, seria capaz de alcançar o que a Economia não conseguia explicar: as ações não lógicas, inerentes da atividade financeira que se encontrava a serviço da elite governante (SOARES; MARQUES, 2013).

Conforme Barros (2013), a situação econômica de determinado Estado seria, na visão de Pareto, a resultante do clientelismo de uma elite econômica. Essa elite podia configurar-se em dois tipos distintos de governo: o primeiro deles, que faz mais uso da força para manutenção do poder em face do comportamento conservador de seus dirigentes (Estados de baixo custo que, contudo, se mostravam falhos em estimular a atividade econômica interna); e os governos democráticos, dotados de elites com grande perspicácia para o mercado e que se utilizavam de subterfúgios para encobrir seus interesses escusos sem descuidar, no entanto, do bem-estar público (Estados com forte produção econômica e alto potencial de arrecadação tributária).

A Escola Italiana, a partir da corrente de pensamento paretiana, é guarida para vários pensadores que abordam a convivência da dimensão das finanças públicas com ações lógicas, ações não lógicas e ações mistas, destacando-se nomes como o de Guido Sensini (1879-1958), Gino Borgatta (1888-1949) e Benvenuto Griziotti (1884- 1956) (SOARES; MARQUES, 2012).