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Origem das ideias espíritas modernas

No documento Portal Luz Espírita (páginas 50-53)

V. — Uma coisa que eu desejava saber, meu amigo, é o ponto de partida das ideias espíritas modernas; elas serão filhas de uma revelação espontânea dos Espíritos, ou o resultado de uma crença prévia na existência deles?

admissível que a imaginação possa ter desempenhado seu papel nisso.

A. K. — Como acabou de dizer, essa questão tem importância, no ponto de

vista em que se acham — ainda que seja difícil acreditar-se — supondo essas ideias nascidas de uma crença antecipada, que a imaginação pudesse produzir todos os resultados materiais observados.

De fato, se o Espiritismo fosse fundado no pensamento preconcebido da existência dos Espíritos, com alguma aparência de razão, poderiam duvidar da sua veracidade; porque, se o princípio fosse uma quimera, as consequências dele emanadas também o seriam; mas as coisas não se passaram assim. Note, em primeiro lugar, que essa marcha seria totalmente ilógica; os Espíritos são a causa e não o efeito; quando se vê um efeito, pode-se procurar-lhe a causa, mas não é natural imaginarmos uma causa antes de ter visto seus efeitos. Não era possível então conceber o pensamento da existência dos Espíritos se efeitos não tivessem se mostrado, que achassem explicação provável na existência de seres invisíveis.

Pois bem! Não foi mesmo deste modo que nasceu tal pensamento; isto é, ele não foi uma hipótese imaginada com o fim de explicar certos fenômenos; a primeira suposição feita foi a de uma causa material.

Assim, longe de que os Espíritos fossem uma ideia preconcebida, partiu-se, para chegar a eles, do ponto de vista materialista. Porém, não sendo possível explicar tudo por este meio, somente a observação conduziu à causa espiritual.

Falo das ideias espíritas modernas; pois sabemos que essa crença é tão velha quanto o mundo.

Eis o desenvolvimento das coisas: fenômenos espontâneos se produziram — tais como ruídos estranhos, pancadas, movimentos de objetos, etc. — sem causa ostensiva conhecida, realizando-se sob a influência de certas pessoas. Até aí, nada autorizava a buscarmos sua causa fora da ação de um fluido magnético ou outro qualquer, de propriedade ainda desconhecida. Entretanto, não demorou que nesses ruídos e movimentos fosse reconhecido um caráter intencional e inteligente, do que se concluiu, como já o disse, que: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. Esta inteligência não podia estar no objeto, porque a matéria não é inteligente. Seria o reflexo da pessoa ou das pessoas presentes?

Assim se julgou no começo, como já igualmente eu disse; só a experiência podia pronunciar-se, e em muitas circunstâncias ela demonstrou por provas irrecusáveis a completa independência da inteligência que se manifesta. Ela não pertencia nem ao objeto nem à pessoa. Quem era então? Ela própria respondeu, declarando pertencer aos seres incorpóreos chamados Espíritos.

A ideia dos Espíritos não preexistia, nem mesmo lhe foi consecutiva; em uma palavra, não nasceu do cérebro de ninguém, mas nos foi dada pelos Espíritos mesmos, e tudo o que soubemos depois a seu respeito nos foi ensinado por eles.

Uma vez revelada a existência dos Espíritos e estabelecidos os meios de nos comunicarmos com eles, pôde-se ter conversações seguidas e obter informações sobre a natureza desses seres, condições de sua existência e seu papel no mundo visível. Se assim pudéssemos interrogar os seres do mundo dos infinitamente pequenos, quantas coisas curiosas não ficaríamos sabendo sobre eles!

estabelecido através do Atlântico, e que na sua extremidade europeia alguns sinais inteligentes tivessem se produzido, e teríamos logo concluído que na outra extremidade se achavam seres inteligentes, que desejavam comunicar-se; teríamos interrogado e eles teriam respondido. Ficaríamos assim com a certeza da sua existência, e podia-se adquirir o conhecimento dos seus costumes, usos e modos de ser, apesar de nós nunca os termos visto.

Foi o que se deu nas relações com o mundo invisível: as manifestações materiais foram sinais e meios de aviso que nos conduziram a comunicações mais regulares e mais seguidas.

E é uma coisa notável que à medida que meios mais fácil de comunicação se acham ao nosso dispor, os Espíritos abandonam os primitivos, insuficientes e incômodos, qual o mudo que, recuperando a palavra, renuncia à linguagem dos sinais.

Quem eram os habitantes desse mundo? Eram seres à parte, estranhos à Humanidade? Eram bons ou maus? Foi ainda a experiência quem se encarregou da solução de tais problemas; mas, até que observações numerosas tivessem derramado luz sobre o assunto, o campo das conjeturas e dos sistemas esteve aberto, e Deus sabe quantos surgiram! Uns creram que os Espíritos eram superiores em tudo, outros, só viram neles demônios; era só por suas palavras e atos que podiam julgá-los.

Suponhamos que dentre os desconhecidos habitantes transatlânticos, de que acabamos de falar, uns tenham dito muito boas coisas, ao passo que outros se faziam notar pelo cinismo da linguagem; teríamos logo concluído que entre eles havia bons e maus.

Foi o que aconteceu com os Espíritos; foi assim que reconhecemos entre eles todos os graus de bondade e malvadez, de saber e ignorância.

Uma vez bem informados acerca dos defeitos e das boas qualidades que entre eles se encontram, cabe à nossa prudência distinguir o que é bom do que é mau, o verdadeiro do falso em suas relações conosco, absolutamente como procedemos a respeito dos homens.

A observação não nos esclareceu somente sobre as qualidades morais dos Espíritos, mas, também, sobre a sua natureza e sobre o que podemos chamar estado fisiológico. Ficou-se sabendo — por eles mesmos — que uns são muito felizes e outros muito desgraçados; que não são seres à parte, de natureza excepcional e, sim, as almas daqueles que já viveram na Terra, onde deixaram seu invólucro corpóreo, e que hoje povoam os espaços, nos cercam, nos acotovelam sem cessar, e, dentre eles, cada qual pode reconhecer por sinais incontestáveis seus parentes e amigos e aqueles que conheceram na Terra; podemos acompanhá-los em todas as fases de sua existência de além-túmulo, desde o instante em que abandonam o corpo, e observar sua situação segundo o gênero de morte e o modo pelo qual viveram na Terra.

Enfim, soube-se que eles não são entes abstratos, imateriais, no sentido absoluto da palavra; possuem um invólucro, a que chamamos perispírito — espécie de corpo fluídico, vaporoso, diáfano, invisível no estado normal, que, em certos casos e por uma espécie de condensação ou de disposição molecular, pode tornar- se momentaneamente visível e mesmo tangível —, e, desde então, o fenômeno das

aparições e do contato ficou explicado.

Enquanto dura o corpo, esse invólucro é um laço que o prende ao Espírito; mas quando o corpo morre, a alma — ou o Espírito, que é a mesma coisa — abandona-o, contudo, sem deixar o primeiro envoltório, do mesmo modo como despimos as peças exteriores da nossa roupa, para só conservarmos as interiores; assim como o fruto despojado do invólucro cortical conserva ainda o perisperma.

É esse envoltório semimaterial do Espírito que lhe serve de meio para a produção de diferentes fenômenos, pelos quais ele se manifesta a nós.

Assim, cavalheiro, em poucas palavras, essa é a história do Espiritismo; bem pode ver e reconhecer ainda melhor quando o tiver estudado a fundo, que tudo nele é o resultado da observação e não de uma teoria preconcebida.

No documento Portal Luz Espírita (páginas 50-53)