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4. Planejamento Integrado de Recursos

4.2. Origem do PIR

O processo de planejamento de concessionárias norte-americanas nos anos 60 era diretamente concentrado na expansão da oferta energética. O crescimento constante na demanda de eletricidade permitia a manutenção da economia de escala para a construção contínua de usinas, reduzindo o custo marginal de implantação de novos empreendimentos. As tarifas de eletricidade eram estáveis e o planejamento consistia, principalmente, em determinar o cronograma de adição de grandes empreendimentos capazes de atender ao crescimento da carga elétrica. Técnicas simples de projeção eram suficientes para atender a demandas energéticas futuras.

Na década de 1970, diferentes acontecimentos políticos e ambientais, como o embargo árabe do petróleo, o início da implantação de procedimentos de controle de emissões de usinas termelétricas e o acidente da usina nuclear de Three Mile Island afetam a incerteza do custo estrutural do setor elétrico, com o aumento das tarifas e a redução do crescimento da carga.

A competição de venda de eletricidade passa a ser estimulada como resultado do PURPA5 – Lei Regulatória de Concessionárias, da sigla em inglês. Ações de eficiência energética evoluem para o conceito de gerenciamento pelo lado da demanda e o planejamento de mínimo custo evolui para o planejamento integrado de recursos, definido na Lei Nacional de Políticas Energéticas de 1992. (TVA, 2009)

Essas mudanças drásticas criam a necessidade de ferramentas mais sofisticadas de planejamento para orientar decisões de concessionárias referentes à implantação de recursos energéticos. Assim, surge a possibilidade de formular o atendimento à variação da demanda energética por meio de mecanismos mais elaborados como carteiras energéticas, capazes de diversificar o suprimento da oferta com a redução de riscos técnicos e econômicos.

O PIR atual é um aperfeiçoamento do conceito de planejamento de menor custo, introduzido em meados da década de 1980. Essa evolução inclui a escolha das melhores opções energéticas dos lados da oferta e da demanda por meio de análises multicriteriais, por meio do envolvimento de atores do setor energético no processo de planejamento e por meio da projeção de cenários energéticos de médio e longo prazo como forma de minimizar os riscos do oferecimento de serviços energéticos.

Ainda que os exemplos mais claros do PIR estejam concentrados na América do Norte, há exemplos de aplicações de PIR ou derivações próximas em diferentes regiões do mundo.

Nos Estados Unidos, o arcabouço regulatório do PIR foi adotado ou explorado em 41 estados no ano de 1992 (Mitchell, 1992, apud D`Sa, 2005). O processo de planejamento fomentou a competição de diferentes opções energéticas de oferta e de demanda nos planos de concessionárias.

A desverticalização de mercados de energia iniciada no final desta década enfraqueceu o conceito de planejamento regional de longo prazo com envolvimento público, uma vez que a desregulamentação do setor passou a favorecer a tomada individual de decisão de investidores e empreendedores

5 A lei de 1978 é vista como um marco na história da desregulamentação dos estados

americanos, com a permissão de produção e comercialização de energia pelas concessionárias, em competição com monopólios naturais. Sobre estas, portanto, recaía a pressão competitiva por setores de mercado e pela busca de melhores preços para disponibilizar estes novos potenciais (TVA, 2009).

(Northwest Power Planning Council, 1998, apud D`Sa, 2005). Ainda assim, mais da metade dos estados norte-americanos manteve o PIR, convertendo o processo obrigatório para concessionárias em opcional, ou transformando-o em termo de compromisso de metas de investimentos em medidas de gerenciamento de demanda e geração renovável. O PIR, em alguns casos, passou a ser um processo informativo de concessionárias, sem caráter aprovativo. Vale ressaltar que, em todos esses casos, as premissas teóricas do planejamento foram mantidas.

Experiências européias em PIR podem ser exemplificadas pela Dinamarca - cuja lei de eletricidade de 1994 continha a obrigação de um processo de PIR, concretizado em um plano de 20 anos, coordenado pelo ministério de energia –, e por programas focados no gerenciamento do lado da demanda na Holanda, Reino Unido e Alemanha (Wuppertal Institute et al., 2000).

À maneira da experiência norte-americana, em que pese a desverticalização das atividades do setor elétrico, as premissas do PIR foram mantidas na diretiva de Técnicas de Planejamento Racional6. Em alguns países, a reestruturação do setor elétrico trouxe a figura do operador nacional do sistema, a quem cabia desenvolver um panorama de opções de oferta que possibilitassem que consumidores e investidores avaliassem oportunidades futuras7.

Antes da onda de reformas do setor elétrico, países em desenvolvimento registraram experiências relacionadas a planejamento de custo mínimo, que, por não incluírem uma análise integrada da oferta com o lado da demanda, ou por não estarem incluídas em planos energéticos federais ou estaduais, não poderiam ser denominadas de PIR. Citam-se exemplos na África do Sul (Planejamento Integrado e Estratégico de Eletricidade, conduzido pela concessionária Eskom) e na Tailândia (com a criação do escritório de Gerenciamento pelo Lado da Demanda em sua distribuidora Nacional) (D´Sa, 2005). Em outros casos, foram conduzidos inúmeros exercícios acadêmicos de

6 A diretiva de Técnicas de Planejamento Racional (ou RPT, da sigla em inglês) da Comissão

Européia, consistiu na avaliação integrada de opções de oferta e demanda. Foi considerada pelo parlamento europeu como um complemento à diretiva que estabelecia a competição da oferta de eletricidade (Wuppertal Institute et al., 2000).

7 No Reino Unido e na Austrália, os órgãos responsáveis pelo gerenciamento da rede e do

mercado de eletricidade preparam planos de oportunidades de 7 e 10 anos, respectivamente (D`SA, 2005).

PIR na Índia (Reddy et al., 1991 apud D´Sa, 2005) e no Brasil, que serão detalhados no próximo item.

Após as reformas do setor elétrico, surgiram mudanças de legislação e organização para apoio a programas e ações de eficiência energética, mas estas não foram integradas ao processo de planejamento energético principal. Como exemplos, citam-se a Índia, a Tailândia e mesmo o Brasil. Exceção se fez à África do Sul, no qual o PIR foi desenvolvido em 2002 (NER-SA, 2002 apud D´Sa, 2005).8

A planificação do atendimento à demanda energética por meio de ações conjuntas entre a ampliação da oferta e a eficientização de usos finais tem exemplos ainda em Cuba (HERNANDEZ, 2007). A proposição de um planejamento integrado de recursos para a China foi sugerida por Bradford (BRADFORD, 2005) e em caráter de IRSP (Planejamento Integrado e Estratégico de Recursos), para mercados liberalizados (HU, et al, 2010).

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