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Perspectivas Energéticas e Crescimento de Baixo Carbono

3. Justificativa e Contextualização

3.4. Perspectivas Energéticas e Crescimento de Baixo Carbono

O contexto de urgência na redução de emissões do setor energético global, aliado ao crescente custo das energias fósseis no longo prazo aponta a necessidade de busca de novas opções energéticas por abordagens alternativas de planejamento.

No âmbito brasileiro, as condições geográficas e climáticas – índices de radiação solar de até 2.300 kWh/m²/ano, potenciais hidrológico e eólico altamente favoráveis - colocam o país em posição privilegiada para a transformação desses recursos em geração de energia renovável.

Além de recursos energéticos do lado da oferta, há um grande potencial a ser explorado do lado da demanda. O desafio do planejamento energético atual é empreender uma revisão conceitual de metodologias de avaliação baseadas na expansão da oferta de energia, incorporando a inclusão de alternativas representadas por medidas de gerenciamento de carga, eficiência energética e uso consciente e racional da energia nos diversos setores de consumo.

A análise imparcial de ambos os grupos de recursos energéticos – dos lados da oferta e da demanda - estende-se além do custo econômico dessas opções, ao tratar de múltiplos impactos e benefícios de sua implantação nas diferentes áreas política, social e ambiental.

Os exemplos observados na Alemanha e na Espanha mostram que ambos os grupos de recursos devem ser trabalhados em conjunto. O aumento de participação de energias renováveis na matriz elétrica desses países não tem sido suficiente para reduzir a emissão de poluentes atmosféricos locais. A crescente capacidade instalada eólica e solar desses países é compensada pela elevada participação de termelétricas a carvão em suas matrizes elétricas. Por mais que o crescimento da geração renovável supere o avanço das térmicas movidas a combustíveis fósseis, resultados significativos de redução de emissões

2 O cenário de abundância de petróleo pode facilitar a ampliação de combustíveis fósseis na

matriz energética em detrimento da exploração de novas opções energéticas e tecnológicas, haja vista a intenção do MME de estudar a implantação do diesel em carros de passeio, que indica a opção por um combustível poluente, ao invés de investimentos na pesquisa de outras opções energéticas para uso veicular, como tecnologias de veículos híbridos, elétricos, entre outros.

nacionais apenas serão obtidos em um quadro de políticas que incluam a implantação de programas e ações de redução de consumo de energia.

3.5. Desenvolvimento Sustentável e Ecodesenvolvimento

O estudo de estratégias para o equacionamento entre o crescimento econômico e o incremento de impactos socioambientais vem sendo caracterizado há mais de vinte anos sob o amplo conceito de desenvolvimento sustentável. O termo foi definido no relatório Nosso Futuro Comum da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas (ONU), como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987).

No decorrer desses anos, porém, a expressão tem sido crescentemente rechaçada por grupos de atores climáticos e ambientalistas, entre acadêmicos e especialistas, por ter sido arbitrariamente massificada nos mais diferentes setores da sociedade, sem que o significado semântico da expressão tenha sido convertido na efetiva concretização do desenvolvimento econômico e social aliado ao equilíbrio do deplecionamento de recursos naturais. De acordo com Vieira, o cruzamento das diferentes interpretações do conceito de sustentabilidade e das opções possíveis para colocá-lo em prática tem instaurado um confuso debate até os dias de hoje (SACHS, VIEIRA, 2007).

Paralelamente, o conceito de Ecodesenvolvimento, a partir de 1972, também passa a designar um novo estilo de desenvolvimento com enfoque participativo de planejamento e gestão, norteado por postulados éticos como o atendimento de necessidades humanas fundamentais e o cultivo da prudência ecológica, por um lado, e o apontamento das limitações de esquemas convencionais de planejamento, por outro. O princípio passava a apoiar avaliações participativas e estratégias integradas de harmonização de objetivos socioeconômicos, sociopolíticos e socioambientais de desenvolvimento, por meio da valorização de potenciais subutilizados de recursos naturais em cada contexto socioecológico (BERKES, 1989, apud SACHS, VIEIRA, 2007).

Na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johanesburgo em 2002, o conceito de desenvolvimento sustentável era ainda definido dentro do trinômio de viabilidade econômica, justiça social e equilíbrio

ecológico. O equacionamento dessas três variáveis vem-se revelando, contudo, mais uma aspiração estratégica de longo prazo dos países-membros do que um critério concreto para a seleção, aplicação e utilização de recursos naturais e energéticos atualmente disponíveis.

De acordo com Carlos Nobre, pesquisador científico do INPE, o Brasil ainda apresenta muitos resquícios do desenvolvimentismo da era militar e pouca percepção de que uma trajetória sustentável é possível3.

O desafio presente de governos e grupos de planejadores e tomadores de decisão persiste na alteração de parâmetros de avaliação econômica e social, no remodelamento de sistemas de produção e consumo e na conciliação da sustentabilidade em múltiplas dimensões.

3.6. Planejamento Tradicional e Propostas Alternativas

O planejamento energético adotado pela administração federal mostra que os preceitos da linha tradicional continuam sendo seguidos. O Plano Decenal de Expansão da Energia, produzido pelo Ministério de Minas e Energia, é um dos exemplos de planejamento norteado por metodologias de desenvolvimento tradicional. O documento, que traça as metas energéticas para o setor no período 2010-2019, prevê, em sua última versão, a expansão de termelétricas a combustíveis fósseis e o aumento de praticamente 100% das emissões do setor elétrico nesse período. Ainda que o plano preveja a expansão de fontes renováveis como biomassa e eólica, os resultados contradizem as propostas de redução de gases de efeito estufa contidas no Plano Nacional de Mudanças Climáticas e as mais recentes metas de redução de emissões de gases de efeito estufa - entre 36 e 38% - levadas à Conferência das Partes 15, em Copenhague.

O documento projeta que a capacidade total de geração do país saltará dos atuais 112,4 mil megawatts (MW) para 167,1 mil MW em 2019. O potencial será atendido em praticamente 70% por grandes hidrelétricas e 12,9% por fontes renováveis complementares. A eficiência energética contribui com apenas 3,2% da redução do consumo projetado para o horizonte final de análise.

A geração termelétrica será ampliada de 16.420 para 25.438 MW. O resultado dessa expansão é o crescimento do volume de emissões de CO2 no

3 LOURENÇO, L. “Cientista quer combate ao avanço da pecuária sobre floresta para diminuir

setor elétrico, dos atuais 25 milhões de toneladas por ano para cerca de 51 milhões em 2019 (EPE, MME, 2010)4.

A obtenção de energia com base nesses recursos implica diversos tipos de impactos negativos, em diferentes escalas, de acordo com a fonte energética explorada e a tecnologia empregada. Esses impactos são frequentemente considerados marginais sob uma análise técnico-econômica e não são integralmente abordados dentro do paradigma tradicional de planejamento energético.

Como opções suplementares, diferentes cenários de atores políticos e energéticos mundiais propõem o aumento da utilização de fontes renováveis e a adoção de medidas de eficiência energética, acompanhados, em alguns casos, pela ampliação da geração nuclear e pelo sequestro e armazenamento de carbono emitido em termelétricas movidas a combustíveis fósseis.

A crítica ao planejamento energético conduzido em âmbito federal é compartilhada por organizações da sociedade civil e instituições acadêmicas, ilustrada em exemplos de cenários energéticos elaborados em parceria. O cenário [r]evolução energética do Greenpeace mostra que é possível manter, em um horizonte de longo prazo, a participação de 92% de energias renováveis, na matriz elétrica aliada à redução de 26% da projeção do consumo de eletricidade. O cenário prevê a diversificação entre as fontes eólica, solar, biomassa e hidrelétricas (em pequenas centrais), aproveitadas em diferentes tecnologias. A geração elétrica a carvão, óleo diesel e nuclear é totalmente eliminada da projeção para o ano de 2050.

O estudo Agenda Elétrica Sustentável 2020 da WWF-Brasil considera um potencial de redução de consumo de 40% e a participação de 88% de energias renováveis na matriz elétrica nacional de 2020.

Como reflexo desses estudos, aponta-se, desde 2008, a projeção de metas de redução de emissões de gases de efeito estufa no World Energy Outlook da Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês) e a intenção da recém fundada IRENA (Agência Internacional de Energias

4 O aumento de emissões de gases de efeito estufa projetados para a matriz elétrica brasileira

não seguem proporção linear em relação à ampliação da capacidade instalada termelétrica justamente por conta da variabilidade de despacho dessas usinas.

Renováveis, do inglês) de desenvolver e propor um cenário energético de baixas emissões.

O equacionamento e a análise das melhores opções energéticas, capazes de atender ao crescimento econômico com a minimização de impactos socioambientais e políticos, começou a ser respondido há algumas décadas, com o surgimento do Planejamento Integrado de Recursos, na América do Norte.

4. Planejamento Integrado de Recursos

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