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1.4 Velhice, envelhecimento e senescência

1.4.2 Origem e classificação do termo

A velhice, refere Minois (1999), …é um termo que quase sempre causa calafrios, uma

palavra carregada de inquietude, de fraqueza e por vezes de angustia. É no entanto um termo impreciso, uma palavra cujo sentido continua a ser vago, uma realidade difícil de vencer.

Etimologicamente, o termo velhice deriva de velho, procedente do latim veclus,

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envelhecimento) fazem referência a uma condição temporal e concretamente a uma forma de ter em conta o tempo e a consequência do tempo no indivíduo. A velhice, como um estado do indivíduo, supõe uma etapa da vida: a última; o envelhecimento é um largo processo que ocorre, visto desde uma ampla perspectiva, desde o nascimento até à morte. Em suma, uma assunção básica é que a velhice está dependente do tempo que decorre para um determinado organismo frequentemente medido segundo a sua idade (Fernández-Ballesteros, 2000).

Segundo Rossel, Herrera, & Rico (2004) a palavra senectude, deriva do latim senectus que se assemelha com a palavra latina senex (velho) cuja origem é desconhecida. Por sua vez, a etimologia mais imediata do vocábulo velho encontra-se no latim vulgar veclus, derivado de

vetulum (homem ancião) que por sua vez provém de vetus (com muitos anos, velho) ao qual

se ocultou a raiz grega étos (ano).

Quando uma pessoa é classificada como velha? Não é fácil responder a esta pergunta, mas frequentemente se considera que é a idade cronológica do indivíduo que marca a velhice. Neugarten (1975) estabelece duas categorias de velhice: os jovens-velhos, que abarcaria dos 55 aos 75 anos e os velhos-velhos, que se situaria a partir dos 75 anos. Já Riley (1988) situa os

velhos-jovens entre os 65 e 74 anos, os velhos-velhos entre os 75 e 85 anos e introduz uma

terceira categoria, os velhos mais velhos, onde se enquadram as pessoas com mais de 85 anos (Fernández-Ballesteros, 2000)

Mas a velhice estabelece-se também em função da idade física. O ser humano experimenta uma série de alterações ao longo da vida, após uma etapa de desenvolvimento físico relativamente rápido e curto coincidente com a infância e adolescência, chegando a uma etapa de estabilidade relativamente prolongada para pouco a pouco ir declinando nas suas capacidades físicas e eficiência biológica.

Um estereótipo comum é aquele que distingue o velho do jovem pela rigidez da sua personalidade, a lentidão motora, problemas de memória e falta de espontaneidade. Mas será que existe uma idade psicológica? Fernández-Ballesteros (2000) refere que o envelhecimento psicológico resulta de um equilíbrio entre estabilidade e mudança e também entre crescimento e declínio. Ou seja, existem algumas funções que a partir de uma determinada idade se estabilizam, como por exemplo, a maior parte das variáveis da personalidade e finalmente outras que declinam como a inteligência fluida e o tempo de reacção.

A sociedade estabelece determinados papéis às diferentes idades da vida, podendo falar-se numa idade social. Na maior parte das sociedades, regula-se a educação, os papéis

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familiares e o trabalho. Estabelece-se uma educação obrigatória, regula-se a idade do matrimónio e estabelece-se a idade laboral. A idade laboral é a mais referida para a transição à velhice, já que se considera que a velhice começa com a passagem à reforma.

Relativamente às classificações que fazem referência à maneira como se envelhece, estabelece-se distinção entre envelhecimento primário e envelhecimento secundário. O envelhecimento primário faz referência às mudanças inerentes ao processo de envelhecimento, o envelhecimento secundário, às mudanças causadas por doenças que são reversíveis ou que não são causadas pela idade mas sim por uma covariável desta.

Ligado aos processos de envelhecimento primário e secundário, encontramos o termo

senescência ou senectude, definido por Yates (1996) como a progressiva perda de estabilidade

dos sistemas biológicos a qual incrementa a probabilidade de falha do sistema. Postula que a taxa de senescência para um indivíduo humano saudável é de 0.5% por ano desde os trinta até aos oitenta anos, a partir de essa idade acelera para 1% ao ano; considera-se que ocorrerá uma falha catastrófica quando restarem apenas 30% da capacidade inicial. Para este autor, as teorias biológicas do envelhecimento tentam explicar a senescência e não o envelhecimento.

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CAPÍTULO II

47 II. A INSTITUCIONALIZAÇÃO

Na língua portuguesa, institucionalização é o “acto ou efeito de institucionalizar”. Institucionalizar, por sua vez, é “dar ou adquirir o carácter de instituição” (Dicionário da Língua Portuguesa, s/d). Analisando à letra a expressão idoso institucionalizado, será aquele a quem se dá ou adquire o carácter de instituição, que se transforma em instituição.

Já na língua inglesa, institutionalize significa tornar institucional ou converter em instituição. Institutionalizing, significa a condição, estado de estar ou tornar-se institucionalizado, a acção de institucionalização. O verbo correspondente a institucionalizar,

to institutionalize, segue outro sentido: o de colocar ou confiar alguém aos cuidados de uma

instituição especializada (Oxford Dictionary, 2002).

Nos países de língua oficial portuguesa, as instituições que amparavam os sujeitos mais necessitados, sem parentes que os assistissem (entre eles idosos), eram tradicionalmente chamadas de asilos ou albergues. Pela sua conotação depreciativa de abandono, pobreza ou rejeição familiar, foram sendo substituídas por nomes como: Lar de idosos, Lar de 3ª idade,

Residência de idosos, Casa de Repouso, etc.

Uma definição alternativa mas pouco usual na linguagem corrente para Lar de idosos é a de Gerontocómio. A sua origem etimológica provém do grego Gerontokomeion (géron,

gérontos, velho + koméo, cuidar), passando por Gerontocomiu em latim, até chegar a Gerontocómio em Português. Os dicionários, tanto em latim como em português, referem-se a gerontocómio (ou gerocómio) como hospício, hospital, asilo, abrigo ou albergue para velhos.

Mas recuemos ao passado.

Na era pagã, os Gregos e Romanos consideravam o ser humano apenas como um valor: o doente, o velho, o incapaz, as crianças e até a mulher, julgados como impróprios, serviam o Estado e nada podiam esperar dos governos. O Patriarcado Romano, com o fim de evitar a desigualdade social, constituía a esperança dos mais pobres protegendo-os através da caridade. A assistência era no começo mista e indistinta, cuidando indiferentemente e conjuntamente de todos ao mesmo tempo: do velho e do doente, do peregrino e do simples romeiro, do deficiente físico e do indigente. Terá nascido assim, o albergue e o abrigo, o hospício e o asilo (Almeida, 1965).

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Segundo dados históricos, as primeiras instituições destinadas a abrigar pessoas idosas surgiram no Império Bizantino (século V da era Cristã). No ano de 325, aquando do Primeiro Concílio de Nicéia, ordenou-se a construção de pelo menos um xenodóquio (casas para hospedar estrangeiros e viajantes) em cada cidade e casas para outros necessitados, multiplicando-se assim os estabelecimentos de assistência social. A Lei Justiniana, no ano de 534, diferenciou as instituições consoante a finalidade especial de cada uma e fixou-lhes uma terminologia específica de radical grego: nosocómio para doentes, ptocotrófios para crianças abandonadas, orfanotrópios para órfãos, gerontocómios para velhos e paramonórios destinados a trabalhadores inválidos (Almeida, 1965).

No ocidente, o primeiro gerontocómio terá sido fundado pelo Papa Pelágio II (520- 590), que transformou a sua casa num hospital improvisado para acolher os pobres, os doentes, os idosos e os perseguidos.

Na Itália, os actuais estabelecimentos que prestam assistência aos idosos são ainda denominados de gerontocómios.

Vimos que gerontocómio é um termo antigo que têm as suas raízes no universo greco- latino. Embora não seja usado actualmente na maioria dos países, à excepção da Itália, foi o precursor dos termos actuais que definem as instituições assistenciais.