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CAPÍTULO 04: EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM RESÍDUOS SÓLIDOS NAS

4.3 Projetos sobre educação ambiental em resíduos sólidos

4.3.1 Origem dos projetos

Quando indagadas sobre os fatores que as levaram a realizar o projeto em sua unidade escolar, obteve-se o seguinte quadro:

Quadro 12: Fatores que motivaram o surgimento dos projetos

Projetos Fatores

A

Projeto da Escola B

D

Sanar, minimizar e/ou compreender um problema E

G

C Conscientizar os alunos quanto à problemática dos resíduos

F

Fonte: Pesquisa de campo – Entrevistas (Junho de 2008).

As docentes das unidades A e B não souberam apontar qual foi o fator motivador para o surgimento dos projetos, visto que ao ingressarem na unidade as atividades já eram realizadas.

Nas unidades D, E e G as docentes assinalaram que os projetos surgiram como instrumento para sanar, minimizar e/ou compreender um problema.

Uma das escolas tinha problemas com a limpeza da escola: “[...] o projeto foi assim, em uma reunião entre professores, coordenação e direção decidimos que deveríamos trabalhar o lixo porque nossa escola estava muito suja e as crianças não estavam tendo consciência do que era o lixo” (Professora D).

A unidade E localiza-se nas proximidades de um córrego intensamente degradado. Em função do mau cheiro que freqüentemente exala do córrego e incomoda a comunidade escolar em geral, as professoras elaboraram a desenvolveram o projeto:

No primeiro momento foi por causa do córrego do Veado, cheirava forte demais, cheiro muito forte, e como a escola fica nas proximidades desse córrego as crianças perguntavam o porquê de cheirar tão mau. E começou. A gente pensou, vamos até lá, vamos ver o que está acontecendo, se é esgoto jogado sem tratamento, se está sendo jogado muito lixo, o que está acontecendo. A partir desse momento foi uma seqüência, veio toda aquela problemática do apagão, do racionamento da água e a gente foi trabalhando, desenvolvendo esse projeto. A cada ano a gente foi dando uma seqüência e sempre assim, evidenciando um problema. Dava certinho assim de seguir um trabalho coerente com os temas estudados no projeto.

Na unidade G havia uma grande quantidade de comida que era desperdiçada após a merenda escolar. Ao iniciar o projeto, surgiu a possibilidade de realizar atividades referentes à reciclagem.

Começou pelo que sobrava da merenda escolar. Então nós começamos a fazer esse trabalho de, primeiro, não sobrar a comida. Depois, teve a idéia de uma colega de fazer um trabalho com reciclagem do lixo da escola. Então nós fizemos reciclagem de papel com o lixo das salas de aula, a gente ia recolhendo o lixo da sala de aula, e teve a idéia também de reaproveitar o lixo orgânico da escola... a priori foi isso (Professora G).

Nas outras duas escolas (C e F), as professoras argumentaram que não houve um fato na unidade que motivou o surgimento do projeto, contudo, ele surgiu da necessidade de conscientizar os alunos para a problemática dos resíduos:

[...] o projeto surgiu por nós todas, em reuniões que realizamos, os cursos que fizemos, a preocupação com o meio ambiente, uma forma de conscientizar as crianças também da importância de separar. Ver que o papel que sobrou da tirinha da atividade serviu pra construir alguma coisa, e eles podem estar fazendo isso em casa (Professora C1).

Então eu sempre fui a favor de que tudo se começasse pela educação. E trabalhar o meio ambiente desde as séries iniciais é essencial, já mostrando a necessidade de conservação, do respeito, do gerenciamento urbano. Então sempre foi algo que eu quis esclarecer aos alunos. Uma vez que se trabalha meio ambiente tem que se trabalhar os resíduos. [...] surgiu desse interesse, eu sempre olhava pro lixo em casa e mesmo antes de estar sendo tão difundida a idéia de reciclagem, eu achava um absurdo você jogar no lixo uma lata perfeita vazia. Eu sempre imaginava que isso deveria voltar pra indústria. Então, primeiro: nasceu de um anseio particular, depois, porque ele encaixa e é parte do meio ambiente. Depois, pela necessidade. (Professora F).

Como pode ser observado por meio dos relatos, em duas unidades as professoras não souberam explicar as origens do projeto, em três a mola propulsora foi um problema e nas outras duas buscou-se a conscientização em relação aos resíduos sólidos.

Dentre os motivos que originaram os trabalhos destacam-se aqueles que contextualizaram a realidade vivenciada pelos alunos a fim de investigar e contribuir para a solução/minimização de um problema. Callai (2005) menciona que é preciso dar condições para a criança aprender a ler o mundo. Pautada em CASTELLAR (2000) e Freire (2001) a autora enfatiza a importância de aproveitar o espaço vivido do educando para suscitar a compreensão de determinados fenômenos sociais, ambientais, econômicos, políticos, etc. “Toda informação fornecida pelo lugar ou grupo social no qual a criança vive é altamente instigadora de novas descobertas” (CASTELLAR, 2000, apud CALLAI, 2005, p. 234), sendo assim, cabe ao professor aproveitar determinadas situações para ensiná-los a

ler a aparência das paisagens e desenvolver a capacidade de ler os significados que elas expressam. Um lugar é sempre cheio de história e expressa/mostra o resultado das relações que se estabelecem entre as pessoas, os grupos e também das relações entre eles e a natureza. (CALLAI, 2005, p. 234).

Na visão da autora (2005, p. 235), esse é o papel da Geografia: “estudar o espaço: olhando em volta, percebendo o que existe, sabendo analisar as paisagens como o momento instantâneo de uma história que vai acontecendo”, para que seja possível a transformação da realidade vivida.

Entre os motivos que originaram o projeto, outro fator relevante é a preocupação com a destinação correta dos resíduos, ou seja, como reutilizar ou reciclar os resíduos gerados. Quando as professoras referem-se a “escola suja”, “desperdício de comida”, “conscientizar para a importância de separar”, ou que “achava um absurdo jogar no lixo uma lata perfeita”, a idéia que está por trás desses argumentos é: O que fazer com o lixo? O que fazer com as sobras? Como encaminhar corretamente os resíduos que já foram gerados? Como combater o desperdício?

Nessa perspectiva Logarezzi (2006) destaca que a grande maioria das ações referentes aos resíduos recai no contexto em que os resíduos já foram gerados, quando o ideal seria encaminhar soluções para o contexto em que antecede a geração. Assim, para o autor, o foco dos trabalhos deveria deslocar-se para “os momentos de aquisição e uso de produtos e serviços; numa palavra, para o consumo, em que se fincam as raízes mais profundas e incômodas da questão dos resíduos” (LOGAREZZI, 2006, p. 123).

Para que o trabalho com os resíduos consiga abarcar toda a complexidade do assunto é extremamente relevante que seja adotada a concepção de ciclo, visto que essa visão compreende desde a etapa de extração dos recursos naturais até a reintrodução dos resíduos na cadeia produtiva, em seus aspectos ambientais, sociais, culturais, políticos, econômicos (SOBARZO, 2008).

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