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3. LISTA DE GRÁFICOS

2.2 A sucessão e o sucessor na empresa familiar

2.2.1 Os acionistas/ sócios cotistas

A função dos acionistas é considerada a de mais difícil delimitação, talvez pelo fato de o acionista poder optar por receber as vantagens ou sofrer as desvantagens desse papel de forma passiva caso não deseje se aproximar à gestão da empresa. Nesse sentido, o conhecimento do ideal de governança corporativa15 pode ajudar na delimitação de seus direitos e obrigações.

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Como cargos estratégicos na empresa familiar, abordam-se as funções de acionista, conselheiro, presidente, diretor e gerente (sendo que os três últimos serão tratados simplesmente como gestores e têm cargos que variam de empresa a empresa). A opção dessa pesquisa pelos cargos estratégicos se dá pela importância e abrangência das decisões tomadas nesse nível, as quais podem impactar toda a organização.

15 Para discussão aprofundada da governança corporativa em empresas familiares, ver: Bornhold, 2005 e IBGC,

Os acionistas são reconhecidos por terem interesses bem definidos no funcionamento, na distribuição de renda e nos mercados públicos de ações (BERLE e MEANS, 1987, p. 124). Eles buscam “[...] o ‘usufruto da propriedade’ dos ativos e lucros assim acumulados e realizados, depois de pagos os impostos pela empresa” (BERLE e MEANS, 1987, p.9).

O conflito de agência identificado por Jensen e Meckling (1976) é um dos problemas mais reconhecidos ao qual o acionista está sujeito. Esse conflito se dá na medida em que gestores (agentes) e acionistas buscam de maneira ótima atingir seus próprios objetivos, os quais, muitas vezes, não são congruentes.

Para Berle e Means (1987, p. 9), enquanto o proprietário também tem o controle sobre a empresa, pode movimentá-la em função de seus próprios interesses.

Essa suposição chegou até os nossos dias e ainda se espera que uma empresa seja movimentada em função dos interesses dos proprietários. Mas será que há alguma razão para supor que os indivíduos que controlam uma sociedade anônima moderna também queiram movimentá-la no interesse dos proprietários?

Segundo Silveira et al (2004), a forte concentração das ações com direito a voto é uma característica marcante no modelo de governança das companhias abertas brasileiras. Como a estrutura de propriedade é concentrada, a separação entre gestão e propriedade não é o maior dos problemas de agência, mas, sim, a questão da proteção dos acionistas minoritários (SCHIEHLL e SANTOS, 2004). Os autores abordam o efeito-entrincheiramento que ocorre quando os grandes acionistas buscam benefícios privados, que não são extensivos a todos os acionistas, os quais podem ter sua riqueza expropriada.

Por esses motivos, entre outros, um acionista ativo é desejável para as empresas que pretendem alcançar altos níveis de governança. Para Silva (2006), ele pode ser visto como o fiscal da governança corporativa das empresas. O presente trabalho considera que essa função pode ser extensiva aos sócios das empresas do tipo ltda.

Segundo Procianoy (1994), há uma diferença entre controle e gestão da empresa. Entende-se por controle as ações ordinárias (com direito a voto) oriundas do capital aportado pelos sócios e por gestão o trabalho contributivo dos administradores. Ou seja, para que o acionista tenha direitos que aproximem a gestão – o controle via voto – é necessário que ele possua ações ordinárias.

Em uma sociedade anônima, o controlador, ou grupo controlador, é aquele que detém “a possibilidade de governar e comandar a companhia ao eleger os membros do conselho de administração e, em decorrência, nomear a diretoria para realização da gestão” (PROCIANOY, 1994, p. 34).

A existência desses grupos bem definidos é uma forte característica do mercado brasileiro16 o que faz com que a última decisão sempre caiba aos controladores, enquanto em países com o mercado de capitais mais desenvolvidos, a eleição dos membros do conselho de administração é feita por milhares de acionistas reunidos em assembléia geral.

Pela própria definição das empresas familiares adotada, ao se falar de acionistas familiares, trata-se daqueles que fazem parte do grupo controlador das empresas, ou seja, aqueles que têm direito a voto preponderante sobre os demais e que, portanto, impactam as decisões estratégicas da empresa.

Segundo Morck e Yeung (2003), nos grupos familiares, a maior preocupação é causada pelo fato de que os gestores ajam em defesa dos interesses da família controladora e não para os acionistas em geral. Essa preocupação suplanta aquela sobre o conflito de agência, uma vez que se considera que “[...] managers who own larger equity blocks in their

16 Conforme será visto a seguir, as características brasileiras de concentração de ações ordinárias são também

firms are less likely to take actions that reduce the value of their shares” (MORCK e

YEUNG, 2003, p.367).

Ou seja, nas empresas familiares, a maior preocupação é com o efeito entrincheiramento dos acionistas controladores, e o conflito de agência geralmente faz sentido apenas quando se consideram os acionistas minoritários. Mas, segundo Schultz et al (2001), os conflitos de agência nas empresas familiares podem ocorrer entre os próprios membros familiares.

Os acionistas familiares devem ser considerados em uma perspectiva dinâmica, conforme o modelo de Gersick et al (1997) expresso na figura 2. Assim, os primeiros herdeiros da propriedade da empresa tendem a deter maior concentração da mesma. Com o aumento do número de acionistas e o distanciamento de alguns deles da gestão, pode-se gerar um conflito entre o grupo dominante e os minoritários, os quais podem ser excluídos de informações importantes.

Outra questão aparente é que a empresa pode continuar a corresponder ao único meio de geração de riquezas para um grupo de pessoas que cresce, sem que, entretanto, ela mesma evolua na proporção da família. Segundo Bernhoeft (2004), cabe aos herdeiros agregar valor à empresa e reduzir o grau de dependência dela. Parte das competências do acionista familiar, portanto, é saber lidar com esse tipo de conflito e buscar sua redução e outras fontes de sustento próprio.

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