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3. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO

3.3 OS ALUNOS QUE FREQUENTAM A SALA MULTIMEIOS

De acordo com as Professoras da SM, é normalmente na Educação Infantil que os professores identificam alunos com deficiência. Quando isso ocorre, então, o AEE analisa o caso e faz os encaminhamentos necessários, como a realização de avaliações de diagnóstico na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), no Instituto de Audição e Terapia da Linguagem (IATEL) ou outro local, de acordo com o caso (Diário de Campo, 29 de abril de 2010).

Confirmado o diagnóstico, as Professoras da SM afirmaram fazer primeiramente uma entrevista com a família, na qual são feitos questionamentos sobre o parto e o desenvolvimento da criança, bem como é conversado sobre o ingresso do aluno na SM. As Professoras da SM também garantiram acompanhar a sala de aula do aluno que está iniciando na SM, com o intuito de identificar as atividades que ele precisa dar conta, possível auxílio que pode ser dado para os professores desse aluno e o que deve ser trabalhado nos seus Atendimentos, prioritariamente (Diário de Campo, 29 de abril de 2010).

A SM em questão atende quatro alunos, todos da Escola-Pólo e do sexo feminino. Esses possuem 2 a 3 Atendimentos por semana cada um, com cerca de uma hora e meia, duas horas, cada. Cabe destacar que duas alunas são atendidas simultaneamente, com o intuito de se aprimorar o contato entre as pessoas com surdez (Diário de Campo, 23 de agosto de 2010). A seguir, discorremos um pouco sobre cada uma das alunas.

3.3.1 Camila23

Camila possui 12 anos, completa 13 ainda no final deste ano, e está nos sexto ano matutino do Ensino Fundamental. Foi diagnosticada com surdez profunda e é acompanhada

23 Este e os demais nomes utilizados no trabalho são fictícios, com o intuito de preservar a identidade dos

pela SM da qual tratamos no presente trabalho, há quase três anos sem interrupção. Antes desse período já era acompanhada pela mesma SM, mas teve seus Atendimentos interrompidos, pois mudou de cidade.

Ainda não possui domínio da LIBRAS e não está alfabetizada. Comunica-se com o que sabe da LIBRAS, com gestos e com emissão de sons. Copia do quadro, mas não lê. Possui uma grande defasagem de conteúdos.

De acordo com os relatórios da SM, a família é negligente em relação à higiene da aluna e apresenta vários problemas de ordem emocional e financeira.

Seus Atendimentos têm como objetivo a aprendizagem da LIBRAS (AEE da LIBRAS); o aprimoramento do português escrito, como segunda língua24 (AEE português para pessoas com surdez); antecipar os conceitos básicos das disciplinas, isto é, se trabalhar os conceitos chave das disciplinas cursadas pelos alunos (AEE em LIBRAS); favorecer contato entre os alunos com surdez, por meio do Atendimento coletivo (como já destacado anteriormente), com vistas a aprimorar a LIBRAS e fortalecer a identidade das pessoas com surdez; potencializar conhecimentos prévios da aluna; o ensino da LIBRAS em sua turma de aula; e fazer com que a aluna perceba-se como sujeito autônomo na construção de saberes e relações interpessoais.

3.3.2 Laura

Laura tem 7 anos, faz 8 no final deste ano, e está no segundo ano vespertino do Ensino Fundamental. Segundo relatório da SM, a aluna tem diagnóstico de surdez e começou a freqüentar a SM da qual tratamos nesse estudo, em abril de 2010. Foi abandonada em um orfanato e adotada quando tinha 4 anos, por um pai também com diagnóstico de surdez.

Em sua pasta é possível encontrar recados de sua mãe, dizendo que não sabe como proceder para auxiliar Laura com as tarefas de sala de aula, bem como que se recusa a faze-las as por ela. No próprio caderno de aula da aluna, pudemos encontrar um recado da mãe da aluna Laura para a professora de sala, no qual constava que ela havia tentado ajudar sua filha com as lições de soma, de vários jeitos, mas que não obteve sucesso. Nesse sentido, cabe destacarmos que a mãe é intérprete da LIBRAS.

24 A língua portuguesa aparece aqui como “segunda língua”, pois parte-se do princípio que a primeira

língua das pessoas com diagnóstico de surdez é a LIBRAS. Tal aspecto é mais bem explorado na discussão sobre cultura surda, presente no item Trânsito entre diferença/diversidade e desigualdade.

Não constam na pasta da aluna, quais os objetivos visados em seus Atendimentos. Todavia, por se tratar de uma aluna com surdez, percebemos em nossas observações, que a tríade AEE da LIBRAS, AEE português para pessoas com surdez e AEE em LIBRAS, já mencionada acima, é adotada.

3.3.3 Nair

Nair tem 8 anos, está no segundo ano matutino do Ensino Fundamental e foi diagnosticada com Síndrome de Down. Em 2008 foi desligada da APAE e em 2009 foi matriculada na Escola-Pólo e começou a freqüentar os Atendimentos.

Consta no relatório da SM da aluna, que sua família é presente e participativa. Inclusive, por Nair ter estado muito “fujona” (por vezes não volta para a sala após o recreio ou tenta sair da escola durante esse período; às vezes sai do refeitório na hora de comer, para ir pro pátio ou sai do local no qual se realizam as aulas de Educação Física), sua família tem tentado conseguir um auxiliar de sala para ela, alegando risco de vida, visto que ela não se encaixa nos outros critérios que dão o direito a um auxiliar de sala25 (Diário de Campo, 24 de abril de 2010).

Seus Atendimentos objetivam desenvolver, explicitar e potencializar estratégias de aprendizagem que tem orientado a aluna na mobilização de conhecimentos prévios, otimizando as possibilidades de acerto, de modo a contribuir para a sua auto-confiança; propiciar a reflexão acerca das estratégias que utiliza na solução de problemas; estimular a construção de estratégias de representação mental que lhe possibilitem a mudança da postura em relação ao saber: a saída de uma posição de passividade para a de um sujeito autônomo, capaz de aprender e dar significado aos conhecimentos em cada situação; potencializar conhecimentos prévios; e perceber-se como sujeito autônomo na construção de saberes e relações interpessoais. As Professoras da SM trabalham com ela a atenção, a contação de história, e a reflexão sobre os seus comportamentos (Diário de Campo, 29 de abril de 2010).

25 Critérios para se ter auxiliar: alunos que não possuem autonomia na alimentação, na higiene, no

deslocamento; alguns casos de autismo; e casos nos quais o aluno corra risco de vida (Diário de Campo, 24 de abril de 2010).

3.3.4 Valéria

Valéria tem 14 anos, também está no sexto ano matutino do Ensino Fundamental e foi diagnosticada com Síndrome de Down e surdez parcial, para a qual recebeu aparelho auditivo, mas se recusa a usar. Não domina a LIBRAS ou está alfabetizada. Comunica-se com gestos próprios, um pouco da LIBRAS e emissão de sons. Sua escrita espontânea é em garatuja.

É acompanhada desde 2004 pela SM em questão e ao longo do tempo, se mostrou menos motivada a participar das atividades do AEE e da sala de aula. Antes do ano de 2009, quando a SM que analisamos ainda não existia, uma professora de uma SM próxima a Escola- Pólo, ia até essa, no período oposto às aulas de Valéria, para dar Atendimentos para ela. Contudo, ela passou a não ir nesses horários, e a professora passou a ir à Escola-Pólo no próprio horário das aulas de Valéria, com vistas a garantir que ela estivesse lá para receber os Atendimentos. Entretanto, um tempo depois, nem as aulas a aluna freqüentava, e a professora parou de ir à Escola-Pólo. Com a criação da SM em 2009, a aluna continuou não sendo freqüente nos Atendimentos. As Professoras da SM destacaram que ela foi infrequente mesmo quando a irmã e a prima ouvinte participavam dos seus Atendimentos, para tentar estimula-la; e que já houve mudanças de horários em seus Atendimentos, pois a mãe alegava que Valéria não queria acordar cedo. Hoje seus Atendimentos são à tarde, mas ela pouco vai a eles ou a suas aulas, no período matutino.

De acordo com seus relatórios da SM, sua família apresenta vários problemas de ordem emocional e financeira, desorganização familiar e higiene precária. Quanto à saúde da aluna, aponta-se a grande freqüência de gripes.

Seus Atendimentos têm como objetivo o trio AEE da LIBRAS, AEE português para pessoas com surdez e AEE em LIBRAS; e favorecer o contato entre os alunos com surdez, por meio do Atendimento coletivo, com o intuito de aperfeiçoar a LIBRAS e fazer vigorar a identidade das pessoas com surdez.

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