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2.3. SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO

2.3.2. Os ambientes de contratação regulada e de contratação livre

O Ambiente de Contratação Regulada (ACR) é aquele onde a compra da energia pelo conjunto das distribuidoras ocorre por meio de licitação ou chamada pública. Esse ambiente inclui também os contratos bilaterais de compra de energia firmados pelas distribuidoras em data anterior à edição da Lei 10.848, de 2004, e que estavam em vigor quando da publicação dessa Lei.

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A garantia física, conforme definido no § 2º do art. 2º do Decreto nº 5.163/2004, é definida pelo Ministério de Minas e Energia e corresponde às quantidades máximas de energia e potência elétricas associadas ao empreendimento, incluindo importação, que poderão ser utilizadas para comprovação de atendimento de carga ou comercialização por meio de contratos.

Cabe notar que os agentes de distribuição, ou seja, os titulares de concessão, permissão ou autorização de serviços e instalações de distribuição, para fornecer energia elétrica a consumidor8 só podem realizar operações de compra e venda de energia no Ambiente de Contratação Regulada (ACR),

Neste ambiente, todos os geradores – incluindo produtores independentes9 – poderão vender energia para as distribuidoras participantes do certame (MME, 2003). Não obstante, os contratos são regulados e os preços, montantes e prazos de fornecimento são aqueles resultantes dos leilões conduzidos pelo MME e realizados pela Aneel, sendo os custos dos contratos repassados às tarifas dos respectivos consumidores finais atendidos pela distribuidora.

Tendo em vista que os agentes de distribuição, conforme disposto no artigo 2º do Decreto 5.163, de 2004, deverão garantir o atendimento a 100% de seus mercados de energia e potência por intermédio de contratos registrados na CCEE, será aferida a energia adquirida no ACR para efeito de cumprimento da referida obrigação. Cabe destacar que as distribuidoras não podem adquirir energia elétrica fora do ACR, a não ser nas exceções previstas em regulamentação específica, como, por exemplo, nos casos de aquisição de energia elétrica proveniente de geração distribuída10.

O modelo escolhido pelo governo para gerar competição no segmento de geração possui estrutura semelhante ao modelo 2 descrito por Hunt (HUNT, 2002) no qual o comprador único é representado pelo pool de distribuidoras. Nesse sentindo, e conforme previsto no artigo 17 do Decreto 5.163, de 2004, a partir de 2005, todos distribuidores11, vendedores12, autoprodutores e

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Entende-se como consumidor “a pessoa física ou jurídica [...] que solicitar à concessionária o fornecimento de energia elétrica e assumir a responsabilidade pelo pagamento das faturas e pelas demais obrigações [...]”. (Resolução ANEEL 456, de 29 de novembro de 2000)

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Entende-se como produtor independente de energia a “pessoa jurídica ou consórcio de empresas titular de concessão, permissão ou autorização para produzir energia elétrica destinada ao comércio de toda ou parte da energia produzida, por sua conta e risco”. (Glossário ANEEL, consulta realizada em 11/05/2012)

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Contratação limitada a 10% da carga do agente de distribuição, sendo precedida de chamada pública. O artigo 14 do Decreto 5.163, de 30 de julho de 2004, considera geração distribuída a produção de energia elétrica oriunda de usinas conectadas diretamente no sistema de distribuição do comprador, com exceção aquela oriunda de usina com capacidade superior a 30 MW e termelétrico, inclusive de cogeração, com eficiência energética inferior a 75%. Os empreendimentos termelétricos que utilizem biomassa ou resíduos de processo como combustível não estarão limitados a esse percentual de eficiência energética.

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O inciso IV do artigo 1º do Decreto 5.163, de 30 de julho de 2004, define como agente de distribuição o “titular de concessão, permissão ou autorização de serviços e instalações de distribuição para fornecer energia elétrica a consumidor final exclusivamente de forma regulada”.

os consumidores livres deverão encaminhar ao MME, até 1º de agosto de cada ano, informações sobre suas previsões de mercados para os cinco anos. Assim, a partir de projeções de aumento do mercado realizadas pelos distribuidores, são promovidos leilões para contratação de energia proveniente de novas usinas.

Adicionalmente, todos os agentes de distribuição, antes da realização dos leilões do ACR, devem apresentar declaração ao MME dos montantes de energia que necessitam adquirir para atendimento à totalidade de suas cargas. Partindo desses dados, o MME definirá a demanda total de cada leilão, adotando o modelo do comprador único.

Segundo Newbery (2002), o modelo do comprador único ocorre em casos de liberalização incompleta, onde a estrutura regulatória e institucional por si só não garante a competição, permitindo práticas anticompetitivas e de abuso de poder de mercado. É um modelo de competição pelo mercado, sendo considerada uma etapa intermediária na introdução de competição na indústria de energia elétrica.

Nos leilões no ACR, é utilizado o critério de menor preço para julgamento das propostas dos agentes vendedores e, consequentemente, definição dos agentes que adquirirão o direito de vender energia neste ambiente de contratação.

Os vencedores dos leilões de energia provenientes de empreendimentos de geração novos ou existentes deverão formalizar contrato bilateral denominado Contrato de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado (CCEAR), celebrado entre cada agente vendedor e os agentes de distribuição compradores.

Os riscos financeiros decorrentes de diferenças de preços entre o submercado vendedor e o submercado comprador são repassados aos agentes de distribuição, visto que os CCEARs são contabilizados e liquidados no submercado onde estiver localizado o empreendimento de geração.

O Ambiente de Contratação Regulada (ACL) pode ser definido como o ambiente onde atuam agentes de geração, comercializadores, importadores e exportadores de energia elétrica,

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O inciso III do artigo 1º do Decreto 5.163, de 30 de julho de 2004, define como agente de vendedor o “titular de concessão, permissão ou autorização do poder concedente para gerar, importar ou comercializar energia elétrica”.

consumidores livres e consumidores especiais (aqueles que adquirem energia de fontes incentivadas13). Nesse ambiente são livremente pactuados entre as partes os montantes de compra e venda contratados e seus respectivos preços e prazos de fornecimento, entre outros, sendo celebrados contratos bilaterais de compra e venda de energia elétrica entre as partes contratantes. A figura abaixo apresenta de modo esquematizado as diversas possibilidades de contratação de suprimento de energia elétrica a partir do ano de 2004.

Figura 3 Arranjo comercial no ACR e no ACL

Fonte: Superintendência de Estudos do Mercado/Aneel

Tendo em vista as diversas alterações que o SEB sofreu até o modelo vigente, a seguir é apresentada uma tabela com um resumo das principais mudanças entre os modelos anteriores e o modelo atual.

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São exemplos de fontes de geração de energia incentivada PCHs (PIE, AP) com cuja potência instalada esteja no intervalo entre 1000 kW e 30.000 kW; solar, eólica ou biomassa de potência injetada na linha de distribuição e/ou transmissão até 30.000kW

Tabela 2 Principais mudanças do Setor Elétrico Brasileiro

Modelo Antigo (até 1995) Modelo de Livre

Mercado (1995 a 2003) Novo Modelo (2004)

Financiamento através de recursos públicos

Financiamento através de recursos públicos e privados

Financiamento através de recursos públicos e privados

Empresas verticalizadas

Empresas divididas por atividade: geração, transmissão, distribuição e comercialização

Empresas divididas por atividade: geração, transmissão, distribuição, comercialização, importação e

exportação. Empresas predominantemente

Estatais

Abertura e ênfase na privatização das Empresas

Convivência entre Empresas Estatais e Privadas Monopólios - Competição inexistente Competição na geração e comercialização Competição na geração e comercialização Consumidores Cativos Consumidores Livres e

Cativos Consumidores Livres e Cativos

Tarifas reguladas em todos os segmentos

Preços livremente negociados na geração e comercialização

No ambiente livre: Preços livremente negociados na geração e comercialização. No ambiente regulado: leilão e licitação pela menor

tarifa

Mercado Regulado Mercado Livre Convivência entre Mercados Livre e Regulado

Planejamento Determinativo - Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas

Elétricos (GCPS)

Planejamento Indicativo pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)

Planejamento pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Contratação: 100% do Mercado

Contratação : 85% do mercado (até agosto/2003) e

95% mercado (até dez./2004)

Contratação: 100% do mercado + reserva

Sobras/déficits do balanço energético rateados entre

compradores

Sobras/déficits do balanço energético liquidados no MAE

Sobras/déficits do balanço energético liquidados na CCEE. Mecanismo de Compensação de Sobras e Déficits (MCSD) para as

Distribuidoras.

Fonte: CCEE