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4.6 – OS ANOS DE 2005 E 2006 QUANDO A POLÍTICA DE PATRIMÔNIO NÃO ACONTECE

Os discursos governamentais apregoavam o patrimônio enquanto política pública e a necessidade de se conciliar a dinâmica urbana com a conservação do patrimônio. Enquanto integrante da CEPPHAC, o Secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação afirmava em meados do ano de 2005: “Não temos condição de preservar grande parcela, mas vamos trabalhar para preservar o máximo (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 04 - CEPPHAC).

Todavia, uma leitura das fontes que documentam a política patrimonial nos dois primeiros anos da administração Silvio Barros indica que ao contrário do anunciado o patrimônio não adentrou as políticas do referido governo de forma planejada. Sem pretender fazer um relatório exaustivo, apresento as pautas da CEPPHAC no decorrer de agosto de 2005 a dezembro do ano de 2006. No seu conjunto essas expressam que continuava a não haver

clareza quanto aos rumos da proteção patrimonial em Maringá, sempre às voltas com o processo de produção e valorização do espaço para o mercado imobiliário.

Em 31 de agosto de 2005, a Comissão tomou conhecimento das intervenções propostas pela Loteadora Santa Alice em relação ao prédio que outrora abrigara as atividades da CMNP, tombado em 2004. Nessa ocasião também apreciou o Termo de Compromisso entre o poder público e a empresa M. Lamon para ajustar a remoção da tulha da Cafeeira Santo Antônio que seria demolida (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 05 - CEPPHAC).

Na reunião do dia 14 de setembro de 2005 novamente foi discutida a restauração do prédio da CMNP, a necessidade de formular um regimento interno para a CEPPHAC, o interesse da faculdade UNIFAMMA em ceder um barracão onde funcionara uma Usina de algodão para estabelecer uma parceria e ali fazer um museu histórico (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 06 - CEPPHAC).

Em 28 de setembro de 2005 houve a leitura dos termos de tombamento do Hotel Bandeirantes, que havia sido tombado pelo governo estadual Paraná e foi aprovada a inclusão de mais um membro indicado pelo poder público para integrar a CEPPHAC, um representante da Secretaria do Turismo (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 07 - CEPPHAC).

Às vésperas de findar o ano, em 21 de dezembro de 2005 discutiram-se a remoção da tulha da Cafeeira Santo Antônio, e o agendamento de uma visita a uma residência remanescente dos primeiros anos da colonização da cidade, anexa ao antigo Depósito Tend Tudo (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 08 - CEPPHAC).

No mês de Fevereiro de 2006, uma primeira reunião debateu sobre a existência de significados culturais da casa tratada na última reunião de 2005 e também sobre as intervenções requeridas pela Loteadora Santa Alice no prédio da CMNP (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 09 - CEPPHAC).

No fim deste mesmo mês, um novo encontro ocorreu e foi dada continuidade à pauta da reunião anterior (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 10 - CEPPHAC).

Reunida novamente no mês de abril, a CEPPHAC finalizou os estudos sobre a residência anexa ao Depósito Tend Tudo, concluindo que o imóvel não possuía relevância que justificasse o seu tombamento. Outra pauta foi o regimento interno, ainda indefinido. (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 11 - CEPPHAC).

Em 26 de julho uma reunião foi convocada para tratar exclusivamente do regimento interno. Mas, por falta de quórum, a reunião não aconteceu (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 13 - CEPPHAC).

Novas convocações ocorreram apenas no mês de outubro. O regimento interno da comissão voltou a estar em pauta. Na mesma reunião também foi comunicado a existência de um ofício enviado pela administração da Capela Santa Cruz ao poder público que solicitava ajuda financeira para restauro do imóvel e autorização para descupinização22 (Maringá. Prefeitura Municipal. Ata nº 14- CEPPHAC).

No mês de dezembro duas reuniões foram feitas para autorizar algumas intervenções que a Secretaria da Educação do Município - que pretendia se instalar no prédio da CMNP - queria fazer a fim de adequar suas atividades àquele espaço (Maringá. Prefeitura Municipal. Atas nº 15 e nº 16 - CEPPHAC).

E assim, findou-se o ano de 2006 e, com ele, os dois primeiros anos da administração Silvio Barros. No governo anterior (2001-2004) tal temática ganhara importância, mas faltava fazer com que a conservação dos bens culturais deixasse de ser ocasional. Um levantamento precisaria ser feito a fim de identificar os bens existentes na cidade que deveriam ser conservados enquanto patrimônio histórico-cultural da cidade. Um bom ponto de partida era a

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Posteriormente a descupinização foi autorizada, mas, a questão de apoio financeiro não teve êxito. A Capela é tombada pelo município, mas, o governo alegou que não podia aplicar verba pública em uma propriedade particular. A igreja acabou sendo restaurada com doações da comunidade e também com Fundos do Governo do Estado do Paraná.

Recomendação Administrativa feita pelo Ministério Público. Além disso, era preciso estudar calmamente quais instrumentos e níveis de proteção seriam necessários para cada imóvel.

Mas, como se pode observar através das Atas, a política patrimonial não resultara em qualquer atividade concreta de conservação, é verificável a falta de direcionamento da política de patrimônio. Tais documentos registram um grande número de temas abordados, mas as únicas deliberações foram a propósito da restauração do prédio da CMNP, tombado na gestão anterior e do não reconhecimento de valores que justificassem o tombamento da residência anexa ao Depósito de Materiais de Construção Tend Tudo.

Questão exemplar do não envolvimento do poder público com qualquer ação que resultasse em proteção à memória da cidade pode ser vista no modo como a presidência da Comissão permitiu que a questão do regimento interno fosse tratada, isto é, como tema secundário. Na quinta reunião da Comissão em 2005 foi deliberado que era necessário elaborá-lo. Nas outras reuniões não houve encaminhamentos para isto, até que na Ata número quatorze registra que a questão voltou a ser discutida. Isto já em fins do ano de 2006. É sintomático que uma comissão trabalhe por dois anos sem definir um regimento interno que regule suas atividades.

Também há que se registrar o intervalo entre as reuniões, algumas com prazo superior a trinta dias, protelando sempre que medidas mais contundentes fossem tomadas. E dado a urgência dos trabalhos, um número maior de convocações precisaria ter sido feito.

É possível que tenha faltado à Diretoria da Cultura e depois a SEMUC23·, bem como aos membros a percepção da urgência do trabalho a desempenhar. Com exceção de Silvia Helena Zanirato, Aline Montagna Silveira e Inako Kubota que integravam a Comissão de Patrimônio desde finais da gestão anterior, os demais estavam adentrando em um campo que lhes era totalmente novo e permeado pelos interesses do Executivo. Uma problemática e um

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A partir de setembro de 2005, a Diretoria da Cultura foi desligada da Secretaria da Educação, e ganhou a condição de SEMUC – Secretaria Municipal da Cultura. A diretora de Cultura Flor Duarte foi nomeada como Secretária da nova Pasta.

desafio à salvaguarda do patrimônio cultural. Rodrigues (2005, p. 549) comenta que além das pressões políticas, outra problemática reside no fato de que: “grande parte dos municípios não dispõe de pessoas com conhecimento e saber cultural para tanto.”

E deste modo, em meio à transformação da paisagem e do processo acentuado de valorização do solo, nada era considerado um patrimônio a ser salvaguardado.

Mais dois anos se passaram e nenhuma medida foi tomada no sentido da patrimonialização. Pode-se dizer que houve um retrocesso quando se compara a movimentação em torno do patrimônio ocorrida no período de 2003 à 2004.

E dificuldades ainda maiores logo se fariam presentes. O ano de 2007 claramente mostrou que a ausência de planejamento em torno do patrimônio era mais do que falta de conhecimento e experiência dos responsáveis pelos bens culturais da cidade.

A questão era que a política de conservação de signos do passado incomodava, tal como se pode concluir a partir das circunstâncias que envolveram a proposta de salvaguarda do Terminal Rodoviário Américo Dias Ferraz.

4.7 - O TERMINAL RODOVIÁRIO AMÉRICO DIAS FERRAZ. UM LUGAR DA