• Nenhum resultado encontrado

4.1 – INTRODUÇÃO

No capítulo anterior analisei a política patrimonial no período de 2001 a 2004, um momento em que conservação dos bens culturais, ainda que com fragilidades, foi incorporada às temáticas públicas de modo mais significativo. A continuidade desse processo caberia ao governo Silvio Barros (Partido Progressista), eleito para administrar a cidade entre 2005 a 2008. Uma gestão que poderia consolidar as bases da política patrimonial e fazer com que o patrimônio em definitivo, integrasse a política pública. Identificar como o governo respondeu a esta demanda é o objetivo do presente capítulo.

4.2. O HOTEL ESPLANADA. A PRIMEIRA PERDA.

Ainda que possibilidades tenham sido criadas em prol de uma gestão patrimonial mais eficaz, o ano de 2005 continuou a sinalizar as fragilidades desta política. Uma pauta de trabalho precisava ser urgentemente definida conforme indicou o caso da demolição do Hotel Esplanada. Vejamos um pouco do histórico desta edificação.

Em 1949, atraída pela estratégica propaganda que a Companhia de Terras Norte do Paraná-CTNP fazia da região Norte do Paraná, a família Sandri chegou na cidade de Maringá e adquiriu dois lotes no perímetro central. Era um local apropriado para o intuito que tinham, isto é, edificar um hotel, por certo um bom negócio, haja vista que era uma necessidade básica da cidade que começava a ganhar corpo.

Imagem 19. Primeiras edificações da cidade de Maringá. Aos fundos o Hotel Esplanada. Museu da Bacia do Paraná. Ano 1952.

Uma fotografia tirada a certa distância que permitiu ao fotógrafo captar os edifícios e o chão enlameado, possivelmente promovendo um contraste que evoca o princípio de urbanização da cidade, evidenciado pela abertura da rua e pelos primeiros prédios da cidade onde se vêem as Casas Pernambucanas, o Banco Nacional e o Hotel Esplanada ao fundo.

Ao falar sobre este local, os antigos donos rememoram as condições de vida existente em Maringá nos anos de 1950: “O maior problema era a preparação dos banhos. A água era de poço e muitos pioneiros chegavam ao hotel cobertos de poeira vermelha” (Jornal O Diário, 23 de janeiro de 2005, p. A3).

O Hotel Esplanada foi inaugurado em 1949 e funcionou até início da década de 1980, quando então passou a abrigar a Clínica do Doutor Waldir Coutinho. A nova atividade não descaracterizou a edificação, pois se mantiveram os elementos característicos do imóvel (fachada, volumetria).

Assim, ainda que com outros usos, o prédio registrava marcas de um tempo em que a cidade começava a se tornar de tijolos e concreto, expunha as técnicas construtivas daquele primeiro momento e guardava as lembranças dos moradores e visitantes que um dia dele

fizeram uso. Contudo, a despeito de sua importância enquanto registro arquitetônico, paisagístico e de seu valor de memória, em 2005, da noite para o dia foi demolido.

O fato chamou a atenção da imprensa. Em matéria intitulada: “Maringá perde um prédio histórico”, o jornal Hoje comentou a destruição como falha da política patrimonial: “Município autorizou demolição de um prédio histórico antes de passar pela avaliação da Comissão de estudos especiais20” (Jornal Hoje, 19 de janeiro de 2005, p. 3-A).

No periódico O Diário, a questão também foi abordada. O jornalista se despedia do Hotel, dizendo: “Adeus Esplanada”, e com perspicácia relacionava a demolição do prédio e a valorização do espaço urbano, em curso na cidade: “O Esplanada não escapou da sina das picaretas e vai dar lugar a um centro comercial” (Jornal O Diário, 23 de janeiro de 2005, p. A3).

Tal como publicado pela imprensa, apesar de seu valor patrimonial que implicaria estudos com vistas a um possível tombamento, o fato é que a autorização para demolição do hotel foi inesperadamente concedida pela SEDUH - Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação em meados de outubro do ano de 2004, final da gestão do prefeito João Ivo Caleffi. Isso ocorreu em um momento em que a Secretaria da Cultura, o SPHAM - Serviço do Patrimônio Histórico de Maringá, a Comissão de Patrimônio, entidades e setores da sociedade civil convergiam acerca da importância de se proteger os bens culturais da cidade e providenciavam os encaminhamentos necessários ao tombamento de edificações como os prédios da CMNP, do Hotel Bandeirantes e da Cafeeira Santo Antônio.

É crítico que a Secretária do Desenvolvimento Urbano não tenha consultado a SEMUC e a CEPPHAC antes de permitir tal demolição. Tal episódio sinalizava a fragilidade da política patrimonial e a necessidade urgente de que as intervenções urbanas e as discussões

20

Trata-se da Comissão de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, que fora nomeada na gestão anterior e que havia avaliado o prédio da CMNP, Hotel Bandeirantes e Máquina de Café Santo Antônio. Contudo, tão logo a gestão em questão tomou posse, desativou a referida Comissão. Outra seria nomeada.

patrimoniais fossem partilhadas entre SEDUH, SEMUC, SPHAM e a CEPPHAC, evitando ações isoladas. Convém também considerar que a autorização para a derrubada do prédio não atentou para a Lei Municipal 335/99, artigo 161 e inciso 1º, que define: “Antes da autorização da demolição, deverá ser observado se a edificação constitui patrimônio histórico ou artístico de interesse da coletividade”.

Críticas foram feitas a essa medida. O historiador João Laércio Lopes Leal, que em 2004 era membro da CEPPHAC considerou: “A cidade não deveria ter mexido naquela estrutura antes da avaliação da comissão. O prédio é importantíssimo para a história da cidade de Maringá” (Jornal Hoje, 19 de janeiro de 2005, p.A4). Do mesmo modo, a historiadora Silvia Zanirato foi ouvida pela Rede Globo local e manifestou sua indignação com a destruição daquele edifício. Mas já era tarde, o prédio virou poeira sob a promessa de que no local seria construído algo mais moderno, um centro comercial. A seguir uma imagem do novo prédio que substituiu o Hotel Esplanada.

Imagem 20. Galeria Rodo Shopping. Autor: Veroni Friedrich. Julho/2009.

Tal imagem permite aplicar a citação de Caetano Veloso acerca “da força da grana que destrói e constrói coisas belas” e entender que a nova edificação permitiu uma capitalização

muito mais significativa para o empreendedor e para os seus antigos proprietários. O Hotel Esplanada estava situado em uma área nobre, um lugar apropriado para investimentos imobiliários, ou, tal como diz Corrêa (2000): “para a acumulação do capital”.

4.3 - O MINISTÉRIO PÚBLICO E A COBRANÇA DE UMA GESTÃO