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Capítulo II – Revisão de Literatura

2.2. Associativismo Desportivo

2.2.1. Os Antecedentes do Associativismo Desportivo

No nosso País, o Associativismo Desportivo surge como um processo com mais de cento e quarenta anos de existência. Porém, foi desde o período pré-histórico que este movimento começou a ser notado noutras regiões da Europa. Esta afirmação é sustentada por Sousa (1988), afirmando que “o que hoje se entende por agremiação desportiva, clube, associação desportiva ou expressão equivalente, e que, no seu conjunto constituiu uma realidade característica da época em que vivemos, tem raízes que se perdem na escuridão dos tempos.” Deste modo, o autor desenvolveu uma pesquisa, retirando proveito dos aspetos mais significativos do processo evolutivo dos modelos coletivos que se foram constituindo ao longo do tempo. Esses aspetos são fundamentais para perceber quais foram os principais precedentes das atuais associações desportivas.

Nas Sociedades Primitivas, segundo Sousa (1988), a vida em sociedade era apresentada como uma característica essencial à condição humana, na qual as atividades físicas de tipo utilitário (produção/trabalho) surgem como um aspeto fundamental do desenvolvimento filogénico da própria sociedade. Sousa (1988) indica-nos que na sociedade clânica a atividade física tinha uma importância muito grande, ela era a criação do próprio povo, ela fazia parte da pedagogia e do sistema de educação do povo. Realizada pela comunidade do clã, ela era geral e obrigatória.

Neste caso, Sousa (1988) fornece-nos exemplos do quotidiano vivido pelo homem primitivo, englobando as atividades físicas juntamente com a vivência em sociedade. A caça coletiva constitui o exemplo mais vulgarmente apontado a forma de associação e coletividade. Isto não apenas pelo ato da caça coletiva em si, mas fundamentalmente pelas práticas preparatórias e propiciatórias a que o grupo estava sujeito (hoje denominado de treino desportivo). O local dessas práticas era constituído por um espaço próprio, designado de terreiro da comunidade, sendo que fazia de ginásio, campo polivalente, parada de quartel e a chamada casa do Homens (clubes do homens) ou casa dos rapazes (clube dos rapazes), sendo parte integrante da atividade física na sociedade. Um segundo passo, definido por Sousa (1988), no caminho percorrido pelo associativismo gerado pelas práticas desportivas até ao modelo de hoje corrente, passa-

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se na Grécia Antiga. Neste período, existiam instituições com características próprias para o desenvolvimento de práticas físicas. Essas instituições são designadas de ginásio, a palestra e o estádio. Eram considerados locais destinados à cultura física e à educação dos jovens, assemelhando-se assim às coletividades desportivas do presente. Bernard Gillet (1960) citado por Sousa (1988), afirmou que “na palestra o ensino tornava-se quase exclusivamente consagrado aos exercícios físicos, os adolescentes eram iniciados nas competições desportivas, na agonística, que compreendia as especialidades que constituem para nós o atletismo [...] Praticavam-se no ginásio, os mesmos exercícios que na palestra, sendo aditados outros que em virtude da sua violência não conviriam a pessoas mais jovens.”

Num terceiro período, nomeadamente na Roma Antiga, Sousa (1988) indica-nos que uma das maiores diferenças relativamente a Grécia Antiga foi certamente no que respeita ao domínio da educação física. Sendo que as instituições gimnodesportivas surgiram em Roma com profundas alterações. Por outro lado, a educação física começa por sofrer uma desconexão com outros sectores utilitários, nomeadamente a Escola, a Religião, a Música e a Arte, começando a encaminhar-se noutro sentido. Numa primeira linha começou por ficar ligada aos espetáculos e aos eventos que ocorriam nos circos, anfiteatros e nas escolas de gladiadores. A exploração dos balneários, surge no sentido de uma prática higiénico-terapêutica, podendo ser equiparada à prática atual ao nível dos ginásios e piscinas. Por fim, a existência da designada associação de jovens, que visa satisfazer uma dupla finalidade: a educativa e preparação militar.

Em relação à Idade Média, toda ela ficou marcada pela hegemonia da Igreja, em que a educação física conheceu profundas transformações no qual deixou de ser o tipo de espetáculo romano e nem assume a sua componente educativa. Efetivamente, nesta época, Sousa (1988) afirma que o verdadeiro significado apenas surge associado às atividades militares, nomeadamente no âmbito da cavalaria, que por si é constituída em forma de uma associação – a Ordem dos Cavaleiros. Esta associação apresentava uma parecença substancial com as associações desportivas do presente, visto que, os próprios torneios eram disputados sob a forma de grupos de cavaleiros, que hoje é designado de equipa, implicado uma determinada rede de relações, laços de amizade e espírito de grupo. Para além disso, eram vistos fundamentalmente como um meio de diversão da população, contribuindo de certa forma para cimentar as solidariedades provinciais. (Sousa, 1988)

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Relativamente à Idade Moderna, Sousa (1988) afirma que “a transição entre a velha cultura e a nova não foi repentina, pois as novas ideias trazidas pelo Renascentismo vão demorar muito tempo a romper o pensamento medieval.”

Na Alemanha, a ginástica destacou-se num movimento caracterizado por práticas vincadamente militares. Segundo Sousa (1998), a expressão dada por este movimento consistiu na criação de inúmeros centros de atividade com uma forte aglomeração de juventude. Na Suécia, ao contrário da Alemanha, que criou as associações de ginásticas por razões de natureza ideológica-militar, surgiu uma implementação do desenvolvimento da cultura física caracterizada por uma regeneração do povo, que vivia num tempo profundamente afetado pela tuberculose e pelo alcoolismo. O protagonista deste movimento foi Henrik Ling (1776-1839) que propôs um modelo de ginástica apoiada por conhecimentos de fisiologia e anatomia, conduzindo a população a um estado de saúde favorável. Este método para além de constituir a base da educação física escolar, alcançou também um assinalável sucesso na criação e fomento do movimento gímnico de foro privado, que segundo Sousa (1988) originou a constituição de uma enorme rede de coletividades. Contrariamente ao que ocorreu na Alemanha e na Suécia, onde a ginástica constituiu um núcleo do sistema da cultura física, em Inglaterra surgiu outro método, que mais tarde foi-se expandindo por outros países, muito por força do vasto império colonial britânico e dos países de forte imigração. Esse método apostava na pedagogia e diversidade dos jogos. Esses jogos eram substancialmente os tradicionais naquela época, tais como, o boxe, a esgrima, o pedestrianismo, a patinagem sobre o gelo, o críquete, todos os jogos de bola, a pesca, a equitação e o remo. Este último com uma forte ligação ao associativismo inglês, devido à forte presença existente nas universidades inglesas, como Oxford e Cambridge. (Sousa, 1988)

Consequentemente, o resultado do alastramento deste “novo” sistema inglês, exerceu uma forte influência no movimento Associativo Desportivo de Portugal.