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2.3. Os Cadernos do Professor do Currículo da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

2.3.2. Os Cadernos do Professor: descrição, implementação e considerações

Conforme mencionado, os CP são apresentados por disciplina e constituem uma sistematização dos conteúdos para cada série (anos de ensino), indicando para os professores os temas a serem desenvolvidos em cada um dos bimestres, com orientações didáticas e possibilidades de tarefas para o desenvolvimento e avaliação dos temas e seus subtemas, para que sejam desenvolvidos pelos professores dentro do prazo estabelecido.

Cada um dos cadernos contém um texto de abertura denominado “São Paulo Faz Escola – uma proposta curricular para o Estado”, a ficha do caderno, orientação sobre os conteúdos do bimestre, a apresentação do tema a ser desenvolvido, situações de aprendizagem (conteúdos, habilidades específicas e sugestões de atividades), atividade avaliadora, situações de recuperação, recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão do tema (dicas de sites, livros, filmes, artigos etc.) e considerações finais.

Esta estrutura, segundo Catanzaro (2012) visa estabelecer a sequencia dos conteúdos, definir posicionamento a ser adotado pelo professor mediante os temas abordados, incentivar o professor a estimular a participação ativa do aluno nas atividades, sugerir estratégias de ensino, servir como um material didático trazendo informações sobre os diversos temas propostos, sugerir fontes alternativas de busca de informações (sites, livros, revistas etc.), servir como apoio didático e definir objetivos por temas a serem alcançados e avaliados.

O conteúdo do CP foi elaborado com base nos resultados do SARESP 2007, 2008. Após seu primeiro ano de implementação as escolas puderam enviar sugestões à

Secretaria de Educação e em 2009 foram distribuídos nova versão destes materiais para as escolas, servindo de base para o SARESP. Catanzaro (2012) entende que este fato denota que o programa “São Paulo faz escola” já tenha sido concebido com o propósito de estabelecer um sistema articulado de fontes de informações a respeito do rendimento escolar dos alunos.

Avaliando positivamente os resultados do SARESP 2009, a SEE/SP manteve em 2010 e 2011 os mesmos CP, sem que houvesse distribuição de novos materiais para os docentes. A implementação dos CP fora acompanhada de outras ações como a criação de um site em 2010, apresentando vídeos e roteiros com sugestões de atividades para cada disciplina. Catanzaro (2012) aponta os CP como a medida mais visível do programa São Paulo faz Escola, principalmente pela sua distribuição bimestral acabar por relembrar os professores sobre prazos e relação dos conteúdos com o SARESP. A autora ainda cita que outras ações trazem implicações para o uso do material, como os sistemas nacionais de avaliação da Educação Básica e a gestão dos resultados e políticas de incentivo.

Na carta de apresentação do próprio material, observa-se a afirmação dos CP como material de apoio:

[...] foram identificados e organizados, nos Cadernos do Professor, os conhecimentos disciplinares por série e bimestre, assim como as habilidades e competências a serem promovidas. Trata-se de orientações para a gestão da aprendizagem na sala de aula, para a avaliação, e também de sugestões bimestrais de projetos para a recuperação das aprendizagens. (SEE, 2008, p. 06)

No entanto, sendo os conteúdos destes cadernos referência para a elaboração das provas do SARESP, torna-se difícil compreender tais orientações apenas como sugestões aos professores.

Catanzaro (2012) também percebe uma situação ambígua na qual, ao mesmo tempo em que os CP auxiliam o professor e afirmam conferir-lhe autonomia para modificações, também podem representar um elemento constrangedor quando dos resultados do SARESP, havendo assim, uma insistência por parte da direção da escola para que os CP sejam seguidos, uma vez que dos resultados dos alunos depende

inclusive a bonificação2 da escola. Vimos aí uma situação, ao menos, mal esclarecida, a qual a autora entende como um desequilíbrio nas relações de poder, por conta da ausência de uma real parceria de trabalho com os professores.

Se por um lado o material possa representar, ainda que de forma implícita, um engessamento da prática do professor, por outro, Catanzaro (2012) observou na prática cotidiana de uma escola da rede da SEE/SP, que os professores apresentam diversas formas de insubmissões, evitando assim o engessamento e criando novas formas de trabalhar a partir da proposta, negando assim a condição de mero executor das prescrições. A autora entende que o CP representa o centro do CSP, tendo o Estado preferido adotar um material robusto direcionado ao professor, ao invés de oferecer condições para que cada escola desenvolvesse um bom projeto pedagógico, se atendo à concepção recorrente nas políticas educacionais brasileiras, que pressupõem incompetência técnica dos professores, sendo este o motivo da baixa qualidade do ensino. A autora reconhece ainda que esse material contribuiu de fato para a melhoria do desempenho dos alunos, entretanto, aponta uma visão limitada da SEE/SP, por abordar a questão do material didático como se fosse o único ou principal problema da escola.

No processo de implementação, cabe registrar ainda, haver frequentes atrasos na distribuição do material para as escolas, desorganização esta, que afeta o trabalho docente.

Vale lembrar que a Educação Física não é disciplina integrante do SARESP, mas há indícios de outras formas que possam levar o professor a “ser cobrado” pelos gestores da escola para o cumprimento fiel dos conteúdos apresentados nos CP. Reafirmamos ainda, que temos verificado num contato bem próximo com os professores da rede pública da SEE/SP e que lecionam no ciclo II do Ensino Fundamental, que muitos deles só começaram a repensar suas práticas a partir das novas possibilidades apontadas nos CP, ampliando assim a possibilidade de avançarem em suas reflexões para até mesmo apresentarem proposições. Mas, se desconfiarmos que os professores sejam incapazes disso, também não faria sentido pretender que eles próprios elaborassem seus programas e conteúdos de ensino. Ambas as questões serão observadas nessa investigação.

2 O Governo do Estado planejou o programa São Paulo Faz Escola, articulado a outras medidas que o

examinam por meio dos resultados obtidos pelos alunos, podendo gerar bonificação para as escolas que melhorem seus resultados. (CATANZARO, 2012)