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Os ciclos longos e a análise da conjuntura econômica

A ruptura com as formas metodológicas da história tradicional do século XIX, focalizada no estudo do tempo breve, produziu grandes avanços e transformações metodológicas para o estudo de fenômenos econômicos complexos, as variações da taxa de lucro, o estudo da produção, a circulação ou o crescimento econômico. Surge assim a necessidade de estudar os novos fenômenos econômicos a partir de ciclos de duração mais longa que o tempo instantâneo e cronológico.

A economia neoplásica, orientada a partir da ideia de equilíbrio geral, pensava as flutuações econômicas como anomalias ou rupturas deste equilíbrio, cuja explicação somente podia encontrar-se em fatores externos aos fenômenos econômicos analisados pela teoria. Não existe uma teoria do ciclo econômico produzida pela teoria econômica neoclássica. Esta surge melhor a partir do pensamento marxista e de contribuições importantes da nova história econômica de inícios do século XX, que foram focalizando o fenômeno das crises econômicas.

Assim, surgem novas matrizes analíticas para estudar a conjuntura econômica a partir dos ciclos e inter-ciclos de duração variável, que vão de 10 a 25 e até 50 -70 anos, como é o caso das ondas longas do economista russo Nicolai Kondratiev. A análise das ondas longas se articula com uma visão mais ampla do funcionamento da economia mundial. Portanto, os ciclos são analisados a nível internacional, e estes se manifestam em conjuntos de países, o que permite inclusive, elaborar um mapa de sua trajetória a nível mundial. Para explicar a dinâmica dos ciclos econômicos, Theotonio dos Santos propõe:

Na sucessão dessas ondas longas identificam-se cada vez mais os períodos da retomada e crescimento econômico como períodos de incorporação maciça de inovações tecnológicas, em geral, introduzidas no período de depressão e de recuperação, e que se encontram em fase de difusão e expansão no período de crescimento. As teorias dos ciclos econômicos longos ou ondas longas nos mostra que há mudanças estruturais no final de cada ciclo longo, dando às crises dessa fase final um caráter estrutural, que as vincula também com a introdução de novos paradigmas tecnológicos que se identificam não somente pela predominância de novos setores e ramos de produção dentro da economia, como também por

mudanças no próprio processo de trabalho e no próprio sistema de produção (SANTOS, 1999, p.3)

Através desta colocação, nos interessa destacar a relação entre crise econômica e inovação tecnológica que se introduz massiçamente para produzir novas fases de crescimento. Deixamos isto apenas assinalado, para retomar a análise nos capítulos posteriores.

Passamos a analisar de maneira mais específica os ciclos econômicos propostos por Kondratiev. Consideramos que esta matriz analítica nos permite enfocar os fenômenos econômicos de uma perspectiva histórica de duração variavel, o que nos aporta uma ferramenta metodológica importante para pensar os processos sociais como sistemas complexos e multidimensionais. Perspectiva que retomaremos mais adiante.

Segundo esta teoría dos ciclos econômicos, a economia mundial se move en períodos, ou ciclos longos, de 50 a 60 anos, descrevendo uma fase na qual predominam os anos de crescimento econômico que duram cerca de 25 a 30 anos, sucedida da segunda fase do ciclo longo que se caracteriza por períodos de 25 a 30 anos onde predominam recessões com moderada recuperação de crescimento.

As fases de ascensão, ou fase ―A‖ do ciclo, se caracterizam por um grande crescimento do produto baseado em um mesmo esquema tecnológico, crescimento do emprego que gera uma situação de maior oferta de trabalho e favorece a organização sindical, ao mesmo tempo em que aumenta a capacidade de pressão do movimento operário e a obtenção de salários mais elevados. As fases de decadência, ou fase ―B‖ do ciclo, ocorrem quando os ganhos de produtividade se esgotam porque as inovações anteriores perdem sua força inovadora e alcançam sua maturidade, ao mesmo tempo em que existem dificuldades para incorporar ―novas‖ inovações. As fases de diminuição se caracterizam por longos períodos de destruição do capital instalado e de desvalorização de enormes volumes de inversão existente.42

Estes ciclos se caracterizam por:

 O predomínio de um determinado regime de produção;

42 OLESKER, Daniel. Economia capitalista mundial: Fase expansiva ou crise sistêmica? Hegemonia dos

Estados Unidos ou hegemonia compartilhada? Liderança do capital produtivo ou do dinheiro?. Pode encontrar- se em www.redem.buap.mx

 A prevalência de determinadas relações sociais de produção e formas de organização social (manufatura, grande indústria, fordismo e o chamado toyotismo);

 A hegemonia de certos centros hegemônicos (Espanha, Portugal, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos) que dominam as zonas periféricas e semi-periféricas;

 Nos períodos de auge produz-se uma luta muito forte entre as classes sociais pela hegemonia do sistema político e pelo domínio da distribuição do ingresso e do processo de acumulação em seu conjunto. Na medida em que são períodos de muita demanda de mão de obra, a posição de força dos trabalhadores permite que eles obtenham importantes melhorias salariais e das condições de trabalho.43

Daniel Olesker sistematiza a periodização de Kondratiev da seguinte maneira:

 1780 – 1790 a 1810-1817 uma fase ―A‖ expansiva de um primeiro ciclo longo;  1810-17 a 1844-51: fase ―B‖, declínio da economia européia;

 1844-51 a 1870-75: Ascensão econômica e início de um segundo ciclo;  1870-75 a 1890-96, declínio;

 Final do século XIX e princípios do século XX, que pode especificar-se de 1890-96 a 1914-20: Fase de crescimento sustentado e início do terceiro ciclo;  1914-20 se iniciaria uma fase de declínio;

 Completando os dados de Kondratiev, Olesker distingue um período de declínio que se prolonga até 1940-45, qando a economia americana começa a se recuperar durante a guerra;

 1940-45 até 1966-73: período caracterizado por uma longa ascensão econômica e início do ciclo 4;

 De 1966-73 até 1994 se apresenta uma fase de depressão;

 De 1994-1996 se inicia um novo período de ascensão iniciando o ciclo 5; Talvez uma das questões mais importantes a serem pensadas a partir da matriz analítica dos ciclos econômicos, é a necessidade de integrar as variáveis econômicas básicas do processo de acumulação, com o papel da ciência e da tecnologia e das estruturas tecno-científicas. Percorremos um caminho que vai das

estruturas tecnológicas atá as ―tecno-ciências‖44

que organizam uma nova fase do processo produtivo em seu conjunto, mas que também tem implicações fundamentais nas relações de trabalho, nas novas formas que assume a luta de classes, na organização dos movimentos de trabalhadores e, em geral, na reestruturação institucional do mundo contemporâneo e as unidades nacionais, regionais e novas configurações territoriais e geopolíticas no mundo.

2.4 Interdisciplina, complexidade e novos paradigmas nas ciências sociais

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