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Os cochilos e a população que apresentou episódio de queda

4 MATERIAIS E MÉTODOS

6.2 Os cochilos e a população que apresentou episódio de queda

No presente estudo, a média de idade dos indivíduos que apresentaram queda única ou quedas recorrentes nos 12 meses anteriores à entrevista, foi de 57,89 anos. Trata-se de uma faixa etária pouco explorada para esse tipo de pesquisa, uma que vez a vasta literatura sobre as quedas versa sobre indivíduos de 65 anos ou mais (idosos)(54-57).

Os resultados também apontaram que a maioria dos participantes que apresentaram queda única ou quedas recorrentes nos últimos 12 meses não trabalhava (54,65%). Quando divididos por faixas etárias, os resultados mostram que a tendência da mudança de rotina diária citada anteriormente é corroborada pela diferença entre a proporção de trabalhadores por faixa etária: de 40 a 59 anos 69,05% trabalhavam, enquanto que entre 60 e 79 anos apenas 19,03% referiu trabalhar.

Diversos estudos relatam que, com o passar da idade, a causa das quedas é majoritariamente devido a tropeços ao caminhar(84, 85), resultados que vão ao encontro dos obtidos na população do estudo que, das quedas apresentadas, 88,6% foram devido a escorregões/tropeços. Ao analisar a causa das quedas por faixas etárias, pode-se notar que em todas as fatias da população os escorregões e

tropeços foram a causa principal. Contudo, as faixas etárias de 60 a 79 anos e 80 anos ou mais foram as que tiveram essa porcentagem mais acentuada (94,67% e 84,34% respectivamente).

Importante destacar que houve uma elevação na porcentagem dos indivíduos que caíram duas ou mais vezes nos 12 meses anteriores à entrevista. Sabe-se que alguns dos fatores de risco para quedas recorrentes é ser do sexo feminino, ter idade avançada e já ter caído uma vez(22, 86).

Os resultados do presente estudo mostraram que, dentre os indivíduos que apresentaram queda única ou quedas recorrentes, houve predomínio do sexo feminino (62,45%), sendo essa tendência mantida em todas as faixas etárias estudadas. Corroborando com esta proporção, encontramos um estudo brasileiro publicado no ano de 2017 por Prato e colaboradores(87). Outros estudos anteriores já

apontavam para a predominância do sexo feminino quando se trata de verificar os riscos ou a ocorrência de quedas na comunidade(64, 88). No caso das mulheres, as atividades diárias de limpeza da casa, a perda de massa muscular e de força são fatores que contribuem sobremaneira para o aumento no risco de ocorrência de quedas(88).

Encontrou-se apenas uma associação estatisticamente significativa (p-valor = 0,0048) entre ocorrência de queda única ou quedas recorrentes e o hábito de cochilar. Para a faixa etária de 80 anos ou mais, a proporção de escorregar/tropeçar parece ser maior entre os indivíduos que cochilam. Alguns estudiosos confirmam que idosos com idade mais avançada têm maior risco de quedas por escorregar/tropeçar(89, 90).

Pesquisa realizada entre indivíduos com mais de 65 anos revelou que idosos que cochilam mais que 30 minutos por dia ou têm uma noite de sono com menos de 6 horas, possuem 3 vezes mais chances de cair(91). Autores norte-americanos também confirmaram esses resultados por meio de pesquisa realizada com idosas. Os resultados apontaram que cochilos diurnos aumentavam as chances de cair em 1,32 vezes na população estudada(92). No presente estudo, encontrou-se que o cochilo é 9,9% mais prevalente entre os que tem 80 anos ou mais e

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6.3 Custos estimados

Muito embora o n para cálculo de custos tenha ficado pequeno para fazer qualquer tipo de inferência estatística pela valoração de procedimentos, foram encontrados alguns resultados importantes que demonstram um cenário global das consequências das quedas na população estudada.

A maioria da população de 40 anos ou mais que sofreu pelo menos uma queda relatou que não houve necessidade de assistência médica (59,99%), não houve limitação das atividades habituais (69,45%) e tampouco precisou ficar acamada (80,56%). Contudo, ao analisar os dados por faixas etárias, notou-se que a proporção indivíduos que relatou necessidade de assistência médica saltou de 33,86% entre 40 e 59 anos para 61,26% de 80 anos ou mais. A variável relativa a ficar acamado também chegou a aumentar consideravelmente entre os indivíduos da faixa etária de 40 a 59 anos (18,92%) para a faixa de 80 anos ou mais (30,40%). A literatura confirma os resultados citados acima. Em 2014, Sise e colaboradores publicaram um estudo no qual analisaram dados de lesões decorrentes de quedas entre os anos de 2002 e 2010 nos Estados Unidos e mostraram que a taxa de mortalidade por quedas aumentou em 23% entre os anos estudados, sendo que a partir dos 60 anos as taxas aumentaram rapidamente(93). Hefny e colaboradores publicaram em 2016 resultados que vão ao encontro dos obtidos no presente estudo(94).

No Brasil, Barros e colaboradores estudaram as internações no âmbito do SUS entre 2005 e 2010 e reportaram que houve aproximadamente 400.000 internações de idosos devido a episódios de quedas(80). Além disso, os autores

também puderam verificar que os idosos de 80 anos ou mais tiveram maior número de dias internados (cerca de 8 dias) do que os de 60 a 69 anos (5 dias aproximadamente). Esses resultados confirmam a tendência de aumento da gravidade das consequências das quedas com o passar da idade encontrada no presente estudo. Gelbard e colaboradores estudaram 400 idosos através de registro médico de queda e reportaram que 22,5% das quedas resultaram em traumatismo craniano e quase 50% em fraturas ósseas diversas(95). Lima e colaboradores estudaram idosos da comunidade de um município do Ceará e encontraram que as consequências mais importantes das quedas foram as fratura de membros

superiores (69%)(96).

Em 2004, Jorge e Koizumi(97) publicaram um estudo no qual expuseram resultados de uma pesquisa realizada para estimar os gastos do SUS com internações por causas externas. Os resultados revelaram que custa muito mais ao SUS internações por causas externas que por causas naturais. Além disso, os autores encontraram que, em média, um sujeito custa R$120,00 devido a internações por causas externas, com pequena diferença para o custo de quedas (R$122,55).

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7 CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo permitiram concluir que:

- dentre os participantes, 177 apresentaram pelo menos um episódio de queda, sendo que a maior parte (69,28%) relatou um episódio único e a principal causa referida para a queda foi escorregar/tropeçar (88,60%);

- a maioria dos participantes na faixa etária de 40 a 59 teve queda única (72,12%) predominantemente devido a escorregões/tropeços (85,49%) e a maioria não precisou de assistência médica (66,14%);

- entre 60 e 79 anos, a maior parte das pessoas caiu uma vez (67,41%) devido a escorregões/tropeços (94,67%) e a menor parte (43,83%) buscou assistência médica após a queda;

- na faixa etária de 80 anos ou mais observou-se que 40,18% tiveram quedas recorrentes e a maior parte das pessoas referiram cair devido a escorregões/tropeços (84,34%); a maior parte dos que caíram precisou de assistência médica (61,26%) de forma que houve maior necessidade da mesma após o episódio de queda com o avançar da idade;

- não houve associação significativa entre as causas ou consequências das quedas e o hábito de cochilar, exceto na faixa etária de 80 anos ou mais, em que a maior proporção dos que cochilavam atribuíram à queda ao fato de tropeçar/escorregar. - não houve associação significativa entre a ocorrência de cochilos e o fato de apresentar queda única ou quedas recorrentes;

- houve proporção significativamente maior de pessoas que caíram entre aquelas que relataram cochilo diurno não intencional, em relação às que cochilaram intencionalmente ou que não cochilaram;

- ao todo, seis participantes referiram ter feito algum tipo de exame e/ou consulta médica devido à queda, e outros seis relataram terem sido hospitalizados durante mais de um dia, totalizando R$447,48 de gastos estimados para o SUS;

- a queda limitou as atividades habituais para 30,55% dos participantes, sendo que 19,44% precisaram ficar acamados e 40,01% precisaram de assistência médica;

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