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CAPÍTULO 6: A ATUAÇÃO DA POLÍCIA CIDADÃ NA “CIDADE DA QUALIDADE

7.2 Os Conselhos Comunitários de Segurança e a participação comunitária

A exacerbação da violência e o medo nas comunidades foram, sem dúvida, a grande motivação para o surgimento dos Conselhos Comunitários de Segurança. Porém, outro elemento precisa ser levando em conta no que diz respeito a um novo momento nas formas de participação: a pretensão de interferir junto ao poder público para garantir o provimento da segurança. Além disso, o policiamento de orientação comunitária supõe que a participação comunitária não se dê apenas em termos de fiscalização, mas, sobretudo, de corresponsabilidade na promoção da segurança da comunidade.

Os Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG’s)66 distinguem-se dos conselhos de segurança. Os primeiros são entidades públicas ou privadas, cuja finalidade é emprestar apoio material e de mobilização da sociedade à atuação das polícias, principalmente a militar; por isso são sempre vinculados ao policiamento comunitário. Os conselhos de segurança, por sua vez, são órgãos governamentais de caráter deliberativo, consultivo ou de assessoramento do Poder Executivo municipal ou estadual nas políticas de segurança pública e de justiça (LYRA, 2008).

Em Sergipe, o primeiro CONSEG surgiu no bairro América e teve como primeiro presidente o Frei Raimundo. Como vimos, sua forte liderança na comunidade e seus vínculos com autoridades políticas ganharam destaque em toda a cidade. Os conselheiros mais antigos entrevistados relataram que visitaram o bairro para conhecer a atuação do CONSEB

66 Em Sergipe, é mais comumente utilizada a sigla CONSEG para os Conselhos Comunitários de Segurança, inclusive pela FECONSEG-SE (Federação dos Conselhos Comunitários de Segurança de Sergipe). Porém, é possível encontrar em alguns Conselhos no estado a sigla CONSEC (Conselho de Segurança Comunitário). Aqui optou-se pela primeira forma.

(Conselho de Segurança do Bairro América) e pedir orientações ao frei sobre como implantar o Conselho em suas comunidades. Também o Frei visitou algumas dessas comunidades para ajudar aos conselheiros a motivar a participação da população:

[...] teve o primeiro PAC que foi no bairro América, então, nós procuramos fazer o mesmo modelo do bairro América juntamente com vários moradores aqui e vizinhos. Então, nós procuramos primeiro investigar, olhar como era o funcionamento, aí então nós fomos até o bairro América, certo, falamos com o Frei Raimundo na época, em 1997. Então de lá pra cá nós tamos na frente disso até hoje (Bairro Luzia, Entrevistado 1- Presidente do CONSEG; mora no bairro há 30 anos).

[...] a gente lutamos porque não tinha polícia [...] foi quando nasceu o conselho de segurança, foi lá pra o bairro América, pra os outros e a gente aqui sem nada, a gente correndo atrás. [...] eu via muita coisa melhorando nos outros bairros e aquilo que a gente vê copiado de bom a gente deve trazer pro nosso lado. O bairro América na época do padre. (Bairro Lamarão, Entrevistado 4- Mora no bairro há 35 anos; é Diretor de Comunicação do CONSEG; foi um dos fundadores do CONSEG).

O CONSEG do bairro Luzia foi o segundo a surgir no estado. Conforme seus fundadores, o estopim para a fundação do Conselho foi o estupro de uma moça que era parente de um dos moradores o qual mais adiante se tornou seu fundador. Alguns moradores uniram-se, distribuíram panfletos por todo o bairro alertando a comunidade sobre a violência e cobrando providências das autoridades, depois procuraram o Frei Raimundo para serem orientados sobre a criação do Conselho.

O CONSECOMBLA (Conselho de Segurança Comunitária do Bairro Lamarão) foi um dos primeiros Conselhos. Fundado em 30 de novembro de 1999, é o único que tem sede própria e é hoje considerado um dos CONSEG’s mais atuantes. A partir das observações participantes, verificou-se que ele é também um dos mais organizados internamente: seus membros obedecem a uma rígida escala de plantões a partir da qual se revezam no atendimento à comunidade na sua sede e suas reuniões ordinárias acontecem regularmente, sempre na primeira quinta-feira de cada mês.

Em 17 de junho de 2010, o PAC do Lamarão foi reinaugurado e o CONSECOMBLA aproveitou estrategicamente a solenidade para promover prestação de serviços públicos com parceiros oferecendo gratuitamente cortes de cabelo e consultas com médicos da Polícia Militar, orientações dadas por delegados etc. Além disso, aproveitou a ocasião para fazer a apresentação da Polícia Mirim do bairro; um recente projeto social desenvolvido em parceria

com a polícia local e o Conselho com cerca de 25 crianças. Estiveram presentes o representante do Comando Geral da PMSE, o Coordenador Estadual de Polícia Comunitária, delegados da Polícia Civil, membros do CONSECOMBLA e outros policiais militares. Essa considerável representatividade das polícias civil e militar (especialmente pela cúpula da instituição) na solenidade denota uma aproximação com os gestores da segurança pública não constatada noutros bairros analisados, com exceção do Grageru e da Zona de Expansão. A respeito da representatividade da comunidade, havia algumas lideranças locais, porém, poucos moradores.

Em 2010, existiam em Sergipe 37 Conselhos de Segurança, sendo 32 na capital Aracaju e 5 distribuídos pelo interior do estado. Desde 2006, criou-se uma Federação visando integrar esses Conselhos, a FECONSEG (Federação dos Conselhos Comunitários de Segurança de Sergipe).

Em geral, os CONSEG’s possuem 13 ou 14 membros que podem ser representantes do Estado, profissionais liberais, membros de associações civis e desportivas, lideranças religiosas, dentre outros.

Em maio de 2002, o Governo do Estado publicou um Decreto que Dispõe normas sobre a atuação da PMSE junto aos CONSEG´s (ANEXO E). O documento define a natureza jurídica dos Conselhos da seguinte forma:

Os conselhos de Segurança Comunitária, que são organizações não governamentais (ONG´s), sem fins lucrativos, e que devem ser de utilidade pública, devem promover e buscar, em parceria com os órgãos públicos, medidas e soluções para aumentar o grau de segurança das comunidades (SERGIPE, 2002).

O Decreto apresenta ainda a Polícia Militar de Sergipe como a responsável pela coordenação desses Conselhos; o que hoje é feito pela Coordenação Estadual de Polícia Comunitária.

Os CONSEG’s reúnem-se em reuniões ordinárias (geralmente uma vez por mês) e extraordinárias. Como apenas o CONSECOMBLA tem sede própria, os outros Conselhos fazem reuniões nas casas dos seus membros, em espaços cedidos pela Igreja Católica do bairro, em salões de festas de condomínios etc.

Dentre os sete bairros pesquisados, apenas cinco possuem CONSEG: América, Grageru, Lamarão, Luzia e Zona de Expansão. Destes, foram acompanhadas algumas reuniões no Grageru, Lamarão e Zona de Expansão, pois no bairro América o Conselho ainda estava em fase de reestruturação e no Luzia não estava havendo reuniões regulares na época da pesquisa de campo.

Basicamente, o funcionamento dos CONSEG’s fundamenta-se nas reuniões ordinárias com seus membros. A partir delas, eles discutem os problemas de segurança da área e elaboram estratégias de mobilização junto à polícia e à própria comunidade.

Em 13 de agosto de 2009, o CONSEG do Grageru organizou uma reunião com a polícia local e os moradores para promover palestras sobre policiamento comunitário e abrir espaço para que a comunidade expusesse suas opiniões sobre a segurança no bairro. Na ocasião, a presidente do Conselho relatou que a comunidade ainda resiste muito à aproximação com a polícia e, talvez, o maior motivo disso seja certa postura de altivez dos moradores diante dos policiais por estarem numa posição social mais elevada.

Observou-se que nessas reuniões, os representantes do policiamento comunitário são convidados, mas na maioria dos casos não comparecem.

(Os policiais) Já foram convidados e sempre que possível eles aparecem, mas talvez não apareçam tanto por conta de algumas cobranças, em relação ao Comando, algumas cobranças que temos feito pra tentar minimizar algumas coisas e não perder aquilo que a gente construiu (Bairro América, Entrevistado 1- Atual Presidente do CONSEB; mora no bairro há 47 anos).

Numa das reuniões do CONSECOMBLA, em 03 de junho de 2010, estavam 11 membros do Conselho, além de uma comerciante local que é voluntária. Ninguém da polícia local estava presente, mas, segundo o presidente do Conselho, o sargento responsável pelo posto policial justificou a ausência. O Comandante do Batalhão Comunitário da área apareceu para cumprimentar os presentes, mas foi embora afirmando ter que efetuar uma diligência.

Os CONSEG’S também organizam extraordinariamente assembleias com a comunidade e a polícia. Essas assembleias são o único lócus de interação mais amplo entre a polícia e a comunidade, onde podem fazer um balanço da segurança no bairro e elaborar estratégias direcionadas à realidade local. O problema é que as assembleias ocorrem num

intervalo de tempo muito grande entre uma e outra e a parcela de pessoas presentes é pouco significativa em relação ao total de moradores.

No Grageru, o Conselho chegou a organizar um “Encontro dos Gestores da Segurança Pública do Bairro Grageru”, em 25 de novembro de 2009, com o objetivo principal de discutir a atuação da Polícia Cidadã no bairro. Compareceram representantes da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Conselho Tutelar, da Igreja Católica do bairro e outros representantes da sociedade civil. Da comunidade, não mais que 50 pessoas estiveram presentes num bairro que possui 15.641 habitantes.

Todos os CONSEG’s sobrevivem da arrecadação financeira de doações dos sócios que conseguem captar, entretanto, mesmo os que estão instalados nos bairros de classe média e alta não têm grande arrecadação devido ao baixo interesse da população em se associar. O Luzia, por exemplo, arrecada em média R$ 500,00 por mês. Segundo os conselheiros, a arrecadação é diretamente proporcional ao grau de satisfação da comunidade com o policiamento:

[...] deixaram de fazer as doações, talvez por não acreditarem mais no trabalho [...]. Hoje o conselho tá numa fase difícil. Pegamos o Conselho zerado (Bairro América, Entrevistado 1 - Atual Presidente do CONSEB; mora no bairro há 47 anos).

O Estatuto do Conselho de Segurança do Bairro América (CONSEB) possui, inclusive, um artigo que prevê uma reserva financeira para a manutenção de viaturas e de outras necessidades da polícia local:

O CONSEB deverá manter disponível na Tesouraria numerário suficiente para atender prontamente a eventuais reparos mecânicos das viaturas e outros a critério da diretoria, destinados a segurança da comunidade, sendo que os gastos deverão ser comprovados e seu uso será restrito e exclusivo às viaturas destinadas à área de atuação do CONSEB (SERGIPE, 1997).

Como já relatado, há cerca de cinco anos as arrecadações dos Conselhos Comunitários de Segurança serviam diretamente como fonte de financiamento do policiamento nas comunidades, gerando muitos conflitos pelas relações clientelistas que delas se valiam: quem contribuía mais, cobrava mais policiamento. Houve caso até em que determinado Presidente de Conselho ficava com a chave da viatura policial porque era o CONSEG quem custeava o combustível. Houve também noutra localidade a compra de armas e coletes com dinheiro

arrecadado dos sócios do Conselho (PASSOS, 2005). No entanto, com o aumento dos investimentos do Governo Estadual nos últimos anos, exemplos como estes se tornaram cada vez mais raros.

Sobre a representatividade que os CONSEG’s expressam, o que se vê é pouca representação da diversidade da comunidade (nos bairros América, Grageru e Luzia, por exemplo, a maioria faz parte de grupos da Igreja Católica dessas localidades) e há pouca rotatividade na participação dos membros (em geral, como o interesse da comunidade em participar é baixo, forma-se apenas uma chapa comum que se candidata à eleição. Numa nova eleição, mantêm-se praticamente os mesmos membros, mas alternam-se as funções).

O desinteresse da comunidade em participar atinge também internamente o Conselho. Mesmo tendo sido eleitos, alguns membros quase não se comprometem e os demais acabam assumindo responsabilidades de forma dobrada. No dia 13 de outubro de 2009, a reunião do CONSEG do Grageru foi adiada porque a maioria dos membros não pôde comparecer.

Assim como outros programas de policiamento comunitário, a Polícia Cidadã em Sergipe tem dificuldades para motivar e manter a participação comunitária.

Se você for pra uma missa tá cheio, se a senhora for pra um bar tá cheio, mas pra uma reunião... tem a novela, muitos dizem: “Ah, será que vai terminar logo? Tem a novela” (Presidente da FECONSEG-SE).

[...] para as pessoas não é interessante tá numa reunião. É interessante tá vendo a novela da Globo, da Record. Não é interessante dia de sábado perder algumas horas, alguns minutos, pra ouvir uma palestra. Tem que ir pra um bar, tomar cerveja, ir à praia. Então, as pessoas também não se preocupam muito (Bairro América, Entrevistado 3-Mora no bairro há 37 anos; ex-Presidente do CONSEB).

Geralmente, o interesse em se envolver nas questões de segurança do bairro só surge quando as pessoas tornam-se vítimas da violência:

[...] quando a Associação de Moradores começou a construir o PAC, eu resolvi me aproximar. Na época eu não era nenhum líder comunitário, eu apenas estava preocupado com a segurança porque já tinha sofrido a violência do assalto à minha residência (Bairro Grageru, E1- Ex-Presidente do Conselho; mora no bairro há 12 anos).

Embora a baixa participação social no policiamento comunitário seja um problema que atinge todas as áreas onde está implantado na cidade, em geral, nos bairros de população

mais elitizada a participação é menor que nos bairros mais populares. Observou-se, inclusive, que, dentre os bairros analisados, os dois que não possuem CONSEG são justamente bairros de classe média e alta: Atalaia e Jardins, respectivamente.

Tanto na Associação como no Conselho tá complicado porque aqui as pessoas acham que porque nos moramos numa área rica [...] acha que tá tudo certo, tá tudo bom, quem quiser que enfrente o que quiser. (Bairro Grageru, Entrevistado 5- Presidente da Associação Comunitária do Grageru; mora no bairro há 24 anos).

A comunidade ainda não caiu em si que ela tem que participar com a gente [...].Tem gente que não sabe que aqui existe um Conselho, tem gente que não sabe o trabalho que nós temos por bairro [..]. O pessoal não se interessa mesmo, porque a pessoa pensa que nunca ele vai ser assaltada, nunca um bandido vai na casa dele [...]. Tem gente aqui que pensa que por ter uma cerca em casa ele tá seguro, por ter um sistema de alarme ele tá seguro e ele tá totalmente enganado com relação a isso (Zona de Expansão, Entrevistado 2 - Conselheiro Fiscal do CONSEG; mora no bairro há 6 anos).

Nos bairros periféricos, onde a vida social é relativamente intensa nas ruas, a segurança é mantida pelo engajamento (“olhos sobre a rua”), enquanto nos de classe média é pelo isolamento que se busca estar seguro. Por isso mesmo, nos bairros elitizados o principal tipo de habitação são os “enclaves fortificados”: espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, lazer e trabalho, cuja principal justificação é o medo da violência. Incluem-se condomínios fechados, shoppings centers, conjuntos de escritório etc. (CALDEIRA, 2000).

Um dos moradores do bairro Atalaia, residente de um condomínio fechado, relatou que sente como se estivesse vivendo numa espécie de feudo:

Eu me sinto, assim, às vezes fazendo uma análise, eu falo: ‘Poxa, eu tô morando num feudo’. Porque tem um guarda que cuida dos meus bens, tem uma cerca que tá evitando qualquer tipo de contato com o outro (Bairro Atalaia, Entrevistado 2 - Mora no bairro há 2 anos).

No fundo, o que os moradores das “comunidades cercadas” querem é manter distância da “confusa intimidade” da vida comum da cidade e para isso estão dispostos a pagar caro para terem “o direito de manter-se à distância e viver livre dos intrusos” (BAUMAN, 2003, p.52). Contudo, a preocupação de um enorme número de pessoas com a história de suas próprias vidas e com suas emoções pessoais tem se mostrado mais uma “armadilha” do que uma “libertação”, pois a vulgarização da “busca romântica” da personalidade e de

autorrealização traz à sociedade um custo muito elevado, qual seja: “a erosão da vida pública”. Uma das características da vida pública moderna é justamente o fato de que o espaço público urbano passa a destinar-se à passagem e ao movimento e não mais à permanência. Com esse destino, esse espaço fica desprovido de sentido e torna-se um “espaço público morto” (SENNETT, 1998). No bairro Jardins, por exemplo, observou-se que, seja durante o dia seja à noite ou mesmo aos fins de semana, as praças que nele existem são pouquíssimo frequentadas.

Foto 37 – Praça Zilda Arns- Jardins (Dia) Foto 38 - Praça Zilda Arns- Jardins (Noite)

Fonte: Pesquisa de Campo (2010) Fonte: Pesquisa de Campo (2010)

Em pleno século XXI, parece que nada nessa vida moderna dura muito tempo ou não dura tempo suficiente para tornar-se familiar.

Deixaram de existir os simpáticos mercadinhos de esquina; se conseguiram sobreviver à competição dos supermercados, seus donos, gerentes e rostos atrás dos balcões mudam com excessiva frequência para que qualquer um deles possa substituir a permanência que já não se encontra nas ruas. Também desapareceram o banco local e os escritórios da construtora, substituídos pelas vozes anônimas e impessoais (cada vez mais produzidas por sintetizadores eletrônicos) [...]. Também não existe mais o carteiro, que batia à porta seis dias por semana e se dirigia aos moradores pelo nome. Chegaram as lojas de departamentos e cadeias de butiques, e que, espera-se, sobrevivam às fusões ou trocas de donos, mas que trocam de pessoal a uma tal velocidade que reduz a zero a chance de se encontrar duas vezes seguidas o mesmo vendedor” (BAUMAN, 2003, p.46-47).

Diante das dificuldades de participação social, na tentativa de atrair mais pessoas para as reuniões e o engajamento, alguns Conselhos criaram informativos ou jornais que são

distribuídos na comunidade. É o caso do “Bota a boca no trombone, Zé!”, jornal mensal criado pelo CONSEC/ZE (Conselho Comunitário de Segurança da Zona de Expansão)67. O jornal traz reportagens sobre as reivindicações da comunidade com relação à segurança, as atividades da SSP, as ações do Conselho, telefones de utilidade pública (Disque Denúncia, por exemplo), dentre outros. Na semana que antecede assembleias ou encontros com a polícia é comum também a divulgação desses eventos através de panfletagem nas casas e carros de propaganda que circulam pelos bairros em horários estratégicos.

Figura 2- Jornal do CONSEC/ZE (Primeira Página)

Fonte: Pesquisa de Campo (2010)

A fim de dar visibilidade a sua atuação, todos os anos os CONSEG’s participam do desfile oficial da cidade divulgando o policiamento comunitário, no dia 7 de setembro, data em que se comemora a Independência do Brasil.

Foto 39 - Desfile dos CONSEG’s Foto 40 - Desfile dos CONSEG’s (Comissão de Frente) (Conselheiros)

Fonte: Pesquisa de Campo (2010) Fonte: Pesquisa de Campo (2010)

A mídia é outro recurso utilizado pelos CONSEG’s para expressar suas demandas e pressionar as autoridades públicas a solucionar os problemas de segurança e investir no policiamento comunitário.

[...] a imprensa é necessário quando a gente não encontra um caminho de negociação [...]. Primeiro eu vou até o Comando (da PMSE). Se lá a gente não resolve nada, então a gente vai mostrar ao povo (Presidente da FECONSEG).

7.3 A “Interação policial-cidadão” e seus desafios no policiamento comunitário

Historicamente, a relação entre polícia e sociedade foi marcada pelo isolamento entre esses atores. Agora, no modelo comunitário de policiamento, a polícia, que outrora entrava em contato com a população apenas em situações esporádicas, precisa “sair” das viaturas e “entrar” na vida da comunidade. Dessa forma, a presença da polícia na comunidade precisa ser mais próxima e duradoura.

“Interação policial-cidadão” é o slogan da Polícia Cidadã em Sergipe. Espera-se que a parceria polícia-comunidade funcione, entretanto, um dos grandes desafios é resgatar a confiança da comunidade na polícia. Por isso mesmo, o isolamento entre polícia e comunidade precisará dar lugar à perspectiva de que ambas são corresponsáveis na

preservação da ordem e promoção da segurança. Também a conduta violenta da polícia terá que ser substituída por uma postura de legalidade e de respeito aos direitos dos cidadãos.

Figura 3- Símbolo da Polícia Comunitária

Notou-se que a desconfiança em relação à polícia é ainda muito presente nas comunidades onde o policiamento comunitário está instalado.

[...] o povo tem medo de chegar no PAC e falar com o policial, mas eu acho que tudo isso já é lá de trás. É uma herança que agente tem horrível da polícia (Bairro Grageru, Entrevistado 7 - Mora no bairro há 10 anos). A comunidade que chega à gente pra poder sempre falar alguma coisa, aonde estão se sentindo ameaçadas, porque as vezes a própria pessoa tem até medo de se identificar pra própria polícia [...](Bairro Luzia, Entrevistado 1 - Presidente do CONSEG; mora no bairro há 30 anos).

Por outro lado, há relatos de quebra de preconceitos e aumento da confiança por parte da comunidade, mas notou-se que essa experiência só ocorreu com aqueles diretamente envolvidos no policiamento comunitário, isto é, com os conselheiros. De qualquer forma, tais registros tornam-se relevantes posto que eles são disseminadores da filosofia comunitária de policiamento nas suas comunidades.

Eu aprendi muito com os policiais. Hoje eu tenho um relacionamento, digamos assim, íntimo. Os policiais conversam comigo sobre seus problemas pessoais. Eu os aconselho e vice-versa. É uma relação muito boa.