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8. OS RUMOS DA AGENDA GAÚCHA DE DESENVOLVIMENTO – ANOS 90 E

8.1 Os Conselhos Regionais de Desenvolvimento – COREDES – Uma estratégia

No início da década de 90, com o acréscimo das propostas elaboradas pela Constituição Federal de 1988 e da Constituição Estadual de 1989, abriu-se novamente um espaço para a construção de canais de diálogo com as comunidades regionais.

A proposta de criação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDEs) situa-se dentro deste espaço, como um processo de reformulação das estratégias e métodos de construção do planejamento estratégico estadual,

principalmente no que diz respeito a participação e a formulação de propostas orçamentárias que contemplem as diferentes regiões do Estado, inserindo-as no processo de construção e dando legitimidade maior à ação protagonizada pelo mesmo. A sua construção, objeto de inúmeras outras tentativas até chegar ao formato final, remonta ao início da década de 90, após um período de maturação tanto por parte dos órgãos encarregados do planejamento regional e da articulação com as regiões no Estado, como pelos agentes regionais e entidades civis que participaram desta primeira etapa. Sua criação objetivava cumprir com a finalidade de suprir a falta de instâncias de articulação regional, constituindo-se paralelamente em instrumento de mobilização da sociedade e fórum de discussão e decisão a respeito de políticas e ações que visassem o desenvolvimento regional4.

Os Conselhos Regionais de Desenvolvimento - COREDEs, foram criados oficialmente pela Lei 10.283 de 17 de outubro de 1994 e se constituem em um fórum de discussão e decisão a respeito de políticas e ações que visam o desenvolvimento regional.

Seus principais objetivos são a promoção do desenvolvimento regional harmônico e sustentável; a integração dos recursos e das ações do governo na região; a melhoria da qualidade de vida da população; a distribuição eqüitativa da riqueza produzida; o estímulo a permanência do homem na sua região; e a preservação e a recuperação do meio ambiente.

A divisão regional, inicialmente composta por 21 regiões, foi alterada em 1998 com a criação do 22° COREDE – Metropolitano Delta do Jacuí, em 2003 com a criação dos COREDEs Alto da Serra do Botucaraí e Jacuí Centro. Em 2006 foram criados as regiões Campos de Cima da Serra e Rio da Várzea. Em 10 de janeiro de 2008, através do Decreto 45.436, são criadas as regiões do Vale do Jaguari e Celeiro e o Estado passa a contar com 28 Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Figura 1).

4 Cabe lembrar, neste ponto, de esforços concentrados pelos governos estaduais recentes – Rigotto 2003 a 2006 e Yeda 2007 a 2010 – as iniciativas respectivamente, Rumos 2015 e Agenda 2020.

Figura 1 – Distribuição territorial dos Coredes no RS Fonte: FEE, 2008

A intenção de tornar a decisão pública com relação a estratégias de desenvolvimento regional tem se realizado aquém do projetado e esperado. As dificuldades são de várias ordens, a iniciar pelas controvérsias ligadas ao primeiro desenho, com 21 regiões. A história revela uma série de descontentamentos entre lideranças políticas e de setores sociais influentes, que passaram a perceber o que consideraram distorções da divisão proposta, pois a mesma não levava em conta a inclusão dessas lideranças em sua condição figuras de proa em cada um dos territórios. A consequência quase natural foi a de uma sucessiva redivisão e reagrupamento de áreas, segundo critérios políticos. A princípio, a funcionalidade das divisões constava como argumento preferencial, mesmo que as evidências não confirmassem essa tendência em boa parte das áreas reformuladas em seus limites.

Tal perspectiva colidia com o critério técnico inicial e, com o passar do tempo os rearranjos foram desenhando o mapa das influências políticas no estado. Nesse sentido, durante as décadas de noventa e dois mil sinalizaram para o empobrecimento do sentido original dos Coredes, à medida que passaram a tornar-se quatornar-se apêndices dos governos estaduais, destacando-tornar-se sua instrumentalização para agentes políticos regionais e suas carreiras.

Os Coredes têm raramente servido ao debate regional nos termos de sua lógica de construção: o de instância intermediária entre os atores políticos e da sociedade civil de cada região fazerem prosperar o diálogo sobre escolhas relevantes com relação a pautas de desenvolvimento. Cabe registrar que existem diferenças importantes entre os atuais 28 Coredes no que se refere à qualidade do debate, seu sentido de organizador de agendas regionais e o nível de participação da sociedade mais ampla.

O movimento político do cenário estadual iniciado ainda nos anos oitenta e concretizado no desenho dos Coredes como agenda do governo Collares, tinha como objetivo exatamente reorganizar o diálogo entre instâncias político-administrativas – estado e municípios - a partir de uma possível aglutinação de idéias e recursos de vários tipos no plano regional.

Tal intenção tem se revelado empobrecida em sua prática, pois além dos problemas centrais referentes à articulação política no interior dos partidos e das coalizões em sua versão pragmática – eleitoral – esses agentes passaram a encontrar em vários Coredes um novo instrumento de referência – os COMUDES – Conselhos Municipais de Desenvolvimento, férteis para funcionar como uma base estratégica de organização das suas carreiras. Os Comudes fazem retroceder boa parte da energia e vitalidade de alguns Coredes, na medida em que as demandas municipais se revelam mais concretas e factíveis, por dependerem menos de articulação para além do município. Estudos recentes sobre articulação de políticas descentralizadas cujo desenho orienta para serem implementadas regionalmente revelaram por parte de atores políticos, pelo menos: uma escassa compreensão do significado de processos cooperativos de gestão regional e, declararam-se muito arraigados aos interesses de seus municípios, ou seja, não se compreendem como

fazendo parte de uma região. Um sentimento de regionalidade apenas aflora com relação a aspectos simbólicos mais remotos de sua identidade étnica comum ou de um espaço geográfico com traços muito definidos.

Por outro lado, a FAMURS – Federação das associações de municípios do RS – tem ampliado sua influência sobre os municípios do estado, incluindo o esforço de capacitar agentes públicos. No entanto, a Federação, até pela sua origem, o município, tem trabalhado uma agenda de fôlego em várias áreas da administração pública e do direito público, mas com um direcionamento tácito para seus filiados – os entes federativos encarnados na administração da municipalidade.

Quanto à UVERGS, União dos Vereadores do Rio Grande do Sul, que teve sua fundação na cidade de Pelotas, em 23 de maio de 1975 , é uma instituição sem fins lucrativos, que congrega todas as Câmaras Municipais, assim como os mais de 4.500 Vereadores do Estado do RS, e tem por objetivo precipuamente a integração e o aprimoramento das atividades peculiares dos integrantes do poder Legislativo Municipal.

Para exercer a representação da UVERGS, foram criadas e instaladas através da Resolução 03/2002, as “Comissões Técnicas Assessoras” e suas respectivas subcomissões, que têm por objetivo elaborar propostas e estudos sobre temas específicos perante os organismos de Governo, poderes constituídos e quaisquer outras entidades de classe não governamentais, com deliberação da Classe Legislativa Municipal.

Por outro lado, a CNM – Confederação Nacional dos Municípios, de acordo com o seu sítio eletrônico, é uma entidade municipalista com 30 anos de existência, constituída a partir dos anseios dos dirigentes das federações, associações estaduais e microrregionais de municípios que se ressentiam de uma entidade representativa que, principalmente em nível nacional, defendesse os interesses institucionais do ente municipal e propugnasse pelo seu fortalecimento. Trabalha na soma de esforços em prol de um municipalismo forte, tendo como apoio às entidades estaduais e microrregionais de municípios que, com a representação de todos os Estados da federação, no seu conjunto formam a CNM. A condição de

abrangência em todo o território nacional lhe dá legitimidade para falar em nome dos 5.563 municípios brasileiros, dos quais 83% têm uma população não superior a 30 mil habitantes e possuem os mais diversos tipos de carência que precisam ser minimizadas.

Nesse sentido, a busca de arregimentação de forças institucionais com vistas à modernização da administração pública para mobilizar novos instrumentos de arrecadação e gestão pública, objetivando a formação de uma plataforma regional organizada e politicamente forte tem sido frustrada em grande parte das iniciativas.

No anseio de criar novos espaços para o processo de reformulação e discussão de políticas, a Figura 1 mostra a distribuição dos COREDES no estado do Rio Grande do Sul: