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Os desafios da gestão do desporto para um gestor

II. Revisão da literatura

2. Importância dos gestores do desporto

2.4. Os desafios da gestão do desporto para um gestor

De acordo com Chelladurai (1994), Parkhouse (1996) e Slack (1998), a crise do desporto moderno, mais precisamente no “desporto profissional” e no “desporto educação”, leva a uma necessidade de reequacionar os modelos tradicionais de organização desportiva. Esta crise resulta, não só mas também, do afastamento do modelo corporativo do desporto tradicional, que já não tem capacidade para dar resposta às necessidades da sociedade da nova economia, no que diz respeito à indústria do entretenimento associada às novas tecnologias de informação, à comunicação e ao desporto. No desporto, o “fazer” foi sempre mais valorizado do que o “saber fazer” ou até mesmo o “porque é que se faz de determinada forma”. Esta crise do “desporto profissional” e do “desporto educação” leva à necessidade de se apostar na

gestão do desporto enquanto instrumento capaz tentar resolver os problemas do desporto moderno, não esquecendo os mecanismos utilizados habitualmente. Da mesma forma, é necessário ter consciência de que não são as pessoas que estão há anos e anos à frente da gestão das organizações desportivas que vão mudar seja o que for, por muito que estas identifiquem a necessidade de mudar mentalidades. Assim, a gestão de recursos humanos constitui-se como um instrumento estratégico de organização do futuro, tornando-se necessária uma formação inicial em gestão do desporto, visto que a tradicional já não responde às necessidades sociais. (Pires & Lopes, 2001). De acordo com os mesmos autores, cada vez mais, nos dias de hoje, é necessário um tempo de reflexão para o desporto e para uma sociedade que deixou de ter tempo para refletir sobre o sentido dos seus próprios valores. E quando as sociedades e as instituições, através das pessoas, consideram que não precisam de nenhuns princípios nem valores, visto que tudo o que supostamente tem importância se resume ao dinheiro, ao poder, ao sexo e ao desporto torna-se, de facto, necessária uma enorme mudança que alerte a consciência das pessoas relativamente à necessidade de organização de um futuro que não se vire contra elas mesmas. Desta forma, os responsáveis políticos da sociedade, terão que decidir se desejam um desporto que cultive a educação, o lazer, a cultura e a saúde e, consequentemente, promotor de economia e de desenvolvimento humano, ou se, pelo contrário, preferem um desporto desprovido de ética, socialmente injusto, alimentado pelo ódio e ignorância, aproveitando-se do dinheiro público, em que a única finalidade é a de saciar interesses pessoais.

Para Anchieta (2008), constitui-se de extrema importância para os gestores do desporto manter claro o aspeto humanístico do desporto. A formação dos profissionais do desporto deve ser responsável por manter bem definidos os aspetos morais e educacionais que envolvem esta área. De acordo com o mesmo autor, se atualmente o desporto é visto como um meio de educação, desenvolvimento e inclusão social, isso deve-se, sobretudo, à sociologia do desporto, que se preocupa em explicar a influência do desporto no indivíduo, na família, no trabalho, na política, no sistema educacional e na ordem social

em geral. Desta forma, é da responsabilidade do gestor do desporto, onde quer que esteja, ser sempre consciente dos princípios do desporto e obedecer sempre aos seus limites éticos. Para Pitts e Stotlar (2002), é um enorme desafio manter esta conduta num momento em que a espetacularização do desporto é uma tendência cada vez mais crescente e, uma vez que a indústria do desporto se aproveita do mesmo para satisfazer os seus próprios interesses e para obter lucro a qualquer custo. Isto torna-se ainda mais difícil num momento em que o desporto passou a ter uma elevada importância na economia global devido aos progressos tecnológicos que abriram mais espaço para os tempos livres e, consequentemente, para as práticas desportivas de lazer, bem como para o desenvolvimento de novas tecnologias que auxiliam a prática desportiva, originando com isso o estabelecimento de relações com grandes empresas comerciais.

É da responsabilidade do gestor do desporto entender o grande fenómeno que é o desporto, trabalhando-o e levando para dentro do mesmo, componentes fundamentais para o seu desenvolvimento, como o marketing, a gestão de recursos humanos, o planeamento estratégico, a gestão de projetos, a gestão financeira, associando-os sempre ao objetivo principal do desporto: satisfazer a pessoa humana. Neste sentido, o gestor do desporto deve ser consciente de que, dentro do desporto, nem tudo é válido e talvez seja essa uma das coisas que façam com que o desporto desperte tanto interesse no mundo inteiro. É da responsabilidade do gestor mostrar à indústria em geral que, aquele que parece ser o melhor caminho do ponto de vista industrial não é o melhor caminho no que diz respeito à lógica desportiva e é precisamente esse, um dos fatores que diferencia o desporto de tudo o resto. Para o presidente de um clube, por exemplo, é crucial ser capaz de compreender que o principal objetivo é a conquista de vitórias desportivas e não apenas de vitórias financeiras (Pitts & Stotlar 2002).

Desta forma, considera-se como o maior desafio para os gestores do desporto da atualidade conseguirem manter-se de forma íntegra no mundo desportivo de hoje, numa indústria que movimenta bilhões de euros anuais, sem esquecer os aspetos éticos do desporto. Ao confrontar-se com situações em que os

interesses comerciais possam querer sobrepor-se aos princípios básicos do desporto, o gestor do desporto deve ser capaz de se posicionar de forma ética, profissional e racional, de acordo com os princípios da gestão, tendo sempre em consideração as particularidades do desporto, a paixão que o move e o verdadeiro objetivo da instituição que gere dentro do meio desportivo (Anchieta, 2008).

No que respeita à gestão, estes desafios requerem organização e desenvolvimento do desporto, novas atitudes e diferentes soluções, de forma a possibilitarem a criação de novas oportunidades para as futuras gerações de praticantes, técnicos, dirigentes e espetadores. Caso contrário, é praticamente certo de que as atuais gerações de dirigentes serão responsabilizadas por não terem sido capazes de promover um modelo sustentado de desenvolvimento do desporto que não comprometesse as práticas desportivas das gerações futuras (Pires & Lopes, 2001).

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