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Os desafios das bibliotecas na sociedade da informação

2 PANORAMA CONTEMPORÂNEO DAS REDES DE COOPERAÇÃO

2.2 Os desafios das bibliotecas na sociedade da informação

Em uma sociedade caracterizada pela intensidade de informações na vida cotidiana de grande parte dos cidadãos, na maioria das organizações e locais de trabalho, ganha importância o trabalho informacional. Identificar, localizar e acessar informação é o meio de viabilizar qualquer tipo de troca comunicacional ou transação, inclusive comercial (MARCONDES; GOMES, 1997).

Contudo, Almeida adverte que:

inserir-se na sociedade da informação não quer dizer apenas ter acesso às tecnologias da informação e comunicação, mas, principalmente saber utilizar essa tecnologia para a busca e seleção de informações que permita a cada pessoa resolver os problemas do cotidiano, compreender o mundo e atuar na transformação de seu contexto. (ALMEIDA, 2008, p. 71).

Embora a tecnologia ajude a agregar valor e transformar dados em informação, ela dificilmente irá indicar a finalidade dos dados coletados (FERES, 2015, p. 220). Há uma crescente utilização da tecnologia em atividades pessoais, sociais, educacionais e comerciais, por sua capacidade de transmitir, receber e trocar rapidamente dados digitais independentemente da distância. São facilitados por recursos, práticas e métodos em construção permanente. Portanto, é importante o desenvolvimento da competência em informação.

Beluzzo e Feres (2015) compreendem competência em informação como o processo de busca de informação para a produção de conhecimento, que envolve o uso, interpretação e significados, a construção de modelos e hierarquização mentais. Por sua importância, as autoras consideram que o desenvolvimento dessa competência deve ser implementado no processo de ensino e aprendizagem por se constituir em um

[...] processo continuo de interação e internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades específicas como referenciais à compreensão da informação e de sua abrangência, em busca da fluência e das capacidades necessárias à geração de novos conhecimentos e sua aplicabilidade no cotidiano das pessoas. (BELUZZO; FERES, 2015, p. 29).

Nessa perspectiva, desenvolver a competência em informação passa a ser um desafio das bibliotecas que precisam elaborar programas de educação continuada, voltados para o aprimoramento da competência em informação dos próprios profissionais bibliotecários para, então, criar programas para seus usuários.

O uso das tecnologias da informação e da comunicação levou a uma acelerada mudança no cenário mundial, provocando profundas transformações nas bibliotecas. No passado as bibliotecas consistiam em espaços para acúmulo de documentos, dotadas de mecanismos, metodologias e tecnologias para pesquisar e recuperar a localização física dos documentos. Agora, torna-se necessária a criação e o subsídio de tecnologias virtuais que manipulem o conjunto de documentos reunidos nas bibliotecas, objetivando cruzar e identificar a informação relevante (MARCONDES; GOMES, 1997).

Com a introdução do computador e da Internet, novos formatos de texto e novas formas de gestão, organização e disseminação da informação estão surgindo. Ao mesmo tempo, há uma multiplicação de fontes, suportes e meios de acesso. Para Levacov,

[...] todas as atividades relacionadas com a manipulação, a edição, o armazenamento, a distribuição e recuperação da informação, assim como, todas as formas de trabalho que lidem diretamente com dados textuais, simbólicos, numéricos, visuais e até mesmo auditivos, precisam agora adequar-se à forma digital. (LEVACOV, 1997, [p. 13]).

Nesse sentido, considerando o novo ciclo econômico alavancado pela indústria de software e hardware, a tecnologia é empregada para identificar e localizar documentos em bases de dados ou catálogos bibliográficos, promover o acesso e a obtenção de cópia de documentos impressos.

Dessas transformações, surgem os grandes editores especializados no fornecimento de periódicos científicos eletrônicos, principalmente nos países desenvolvidos, que produzem conteúdos como: notícias, entretenimento, bases de dados de publicações científicas, entre outros (MARCONDES; GOMES, 1997).

A introdução do texto eletrônico, o qual revolucionou as estruturas do suporte material escrito, organizado a partir de sua estrutura em cadernos, folhas e páginas, promoveu uma mudança nas práticas de leitura. O material eletrônico, de fluxo sequencial e contínuo, possibilita ao leitor embaralhar, entrecruzar, reunir e bricolar outros textos. Desta forma, revoluciona também as maneiras de leitura. Pois, ler em um banco matricial de dados eletrônicos, sem saber absolutamente nada da revista onde foi publicado, nem dos artigos que o acompanham, e, ler o mesmo artigo no número da revista na qual foi veiculada originalmente, não possui o mesmo significado (CHARTIER, 1999).

Os OPAC11, catálogos on-line de acesso público, substituem os grandes catálogos de

fichas impressas. Esses sistemas de gerenciamento da informação integram os processos de aquisição, catalogação, circulação, controle de periódicos e informação gerencial. Eles também possibilitam a ligação com catálogos de outras bibliotecas e o acesso a uma coleção de recursos maior do que aquele encontrado em uma única biblioteca, por meio da Internet. A introdução das TIC nas bibliotecas proporcionou, ainda, maior uniformidade, aumento da eficiência, interligação por redes, melhores serviços e menor tempo de resposta (ROWLEY, 2002).

São desenvolvidas as bibliotecas digitais, que segundo Rowley (2002), organizam e administram informações em uma variedade de meios, como texto, imagem, som ou suas combinações, mas todos em formato digital. Para Levacov (1997, [p. 14]) os documentos destas bibliotecas estão arquivados em “uma estrutura universal de dados, podendo apontar de modo associativo para outros documentos afins, tendo em comum sua natureza digital e hipertextual, no qual os links redefinem a fronteira entre um documento e outro”.

A importância do local de armazenamento do documento, os grandes edifícios do passado, cede lugar ao acesso e à confiabilidade da informação. Ou seja, o importante conforme Levacov (1997, [p. 14]) é “saber quem a produziu, quem a identificou como valiosa, quem a selecionou para uso comum, quem a disponibiliza e quem garante sua autenticidade.”

Instaura-se um ritmo cada vez mais veloz, onde impera a instantaneidade da comunicação, alterando o conceito de tempo. Desta forma, “soluções como o Comut não mais atendem às necessidades de acesso imediato aos documentos que a informação em rede oportuniza.” (LEVACOV, 1997, [p. 15]).

Cresce a atenção a “novas formas de acesso, sem restrições a espaços geográfico e temporal, como também à experimentação de novos meios de recuperação e administração da informação.” (DRABENSTOTT; BURMAN, 1997, [p.88]). Em contrapartida, o espaço destinado ao armazenamento do material impresso fica cada vez mais reduzido, devido a fatores econômicos que incidem sobre o estoque desse material.

Dentre os impactos causados pelas TIC nas bibliotecas, Marcondes e Gomes (1997), destacam:

a) número crescente de publicações em meio eletrônico;

c) usuários com acesso direto à informação sem a intermediação das bibliotecas;

d) usuários com dificuldade de identificar informações relevantes no contexto da Internet;

e) “agentes inteligentes”12 e metabuscadores13 que automatizam muitas das tarefas de busca de informação de forma personalizada;

f) distanciamento do usuário da biblioteca, desenvolvimento do serviço de referência eletrônico e maior planejamento na arquitetura das bibliotecas virtuais;

g) diversificação das informações de interesse para a pesquisa; necessidade de novas metodologias biblioteconômicas para o tratamento destes recursos;

h) decréscimo relativo da importância de políticas de desenvolvimento de coleções e manutenção de acervo próprio, fazendo-se necessária a revisão de prioridades e a realocação de recursos.

A Internet trouxe consigo facilidades, tais como: interatividade; condição para a produção de conteúdos; acesso à informação em museus, arquivos e bibliotecas; aumento da capacidade de participação cívica do cidadão, podendo expressar opinião e fiscalizar o poder público; desenvolvimento do ensino à distância, alcançando um número maior de estudantes;

12 Agente inteligente pode ser definido como uma entidade de software que, com base nos seus próprios conhecimentos, realiza um conjunto de operações para atender as necessidades de um usuário ou outro

programa, quer por sua própria iniciativa ou porque lhe são requeridos. O agente inteligente é desenvolvido para automatizar e executar uma tarefa em uma rede, por exemplo, a Internet. A ferramenta permite a economia de tempo de monitoramento e de coleta de informações. Para tal, o usuário define os parâmetros da busca que o agente vai executar autonomamente e, posteriormente, comunicar os seus resultados. Todas as fontes de informação disponíveis em uma rede, tais como: arquivos específicos, páginas web, bases de dados, fóruns de discussão, boletins informativos etc., podem ser monitoradas por um agente inteligente. São características dos agentes inteligentes: a) autonomia: operam sem qualquer intervenção humana direta, e possuem controle sobre suas próprias ações; b) sociabilidade: comunicam-se, por meio de uma linguagem comum, com outros agentes e seres humanos; c) resposta: percebem seu ambiente e reagem para adaptar-se a ele; d) iniciativa: tomam medidas para resolver um problema (HÍPOLA; VARGAS-QUESADA, 1999).

13 Metabuscadores são softwares utilizados para se realizar uma metabusca, também conhecida como busca federada, busca distribuída, busca paralela, portal de busca, broadcast search, cross-database search. Metabusca consiste na transmissão de uma pergunta, com a sintaxe apropriada, a um grupo de bases de dados dispersas - catálogos de bibliotecas, bases de dados comerciais, mecanismos de busca web e outros metadados ou bases de dados digitais - agrupando os resultados coletados e apresentando-os em um formato sucinto e unificado, com duplicação mínima. Proporciona, ainda, que o usuário classifique o resultado agrupado, ajustando-o por meio de vários critérios (JACSO, 2004, apud FERREIRA; SOUTO, 2006).

trabalho descentralizado em casa; cultura, lazer e diversão personalizados e sob demanda. Mas, para que tudo isto se concretize de forma massiva e democrática, é preciso que todos, igualmente, tenham acesso à Internet (MARCONDES; GOMES, 1997).

Com o crescimento da oferta de ensino à distância, as bibliotecas voltam-se para disponibilizar atendimento, serviços, programas de competência em informação e acervos, por meio da Internet para atender seus estudantes distantes. O acervo precisa compreender as necessidades acadêmicas, cujo conteúdo deve ser de qualidade, abrangendo diversas áreas e linguagens e em formato digital.

As bibliotecas digitais e virtuais, bases de dados de periódicos científicos, plataformas de e-book, serviço de referência virtual e os metabuscadores são os principais recursos disponibilizados pelas bibliotecas para atender às necessidades de informação desses alunos, pois criam equidade no acesso à informação com os estudantes presenciais.

Todos esses recursos informacionais e tecnológicos requerem forte investimento por parte das bibliotecas. Cabe lembrar, que as bibliotecas não são unidades isoladas e encontram- se, portanto, inseridas em um contexto maior. Sendo assim, os investimentos em recursos informacionais seguem a lógica da instituição na qual estão inseridas.

Neste cenário, o trabalho cooperativo entre bibliotecas se intensifica, visto que nenhuma biblioteca conseguiria reunir todo o conhecimento em um só local para contemplar as necessidades de pesquisa, em função da grande produção e dos altos custos com a aquisição, armazenamento, tecnologia, organização do conhecimento e capacitação técnica. Embora as bibliotecas tenham perseguido durante séculos a utopia de reunir todo o conhecimento em um só espaço e dar acesso a ele de forma democrática, ainda que tenham enfrentado barreiras com os direitos autorais e editores; recursos financeiros, tecnológicos, pessoal especializado; tenham desenvolvido novas metodologias para organização e gestão da informação e formado redes de cooperação e de intercâmbio de informação – a despeito de tudo isto - tal sonho ainda não foi alcançado.

Talvez a biblioteca universal seja apenas um sonho como foi para Otlet e tantos outros. Ou, como um conto literário como foi para Borges, que a descreve como uma edificação gigante, contendo todos os livros possíveis, com todas as combinações imagináveis dos símbolos ortográficos, “a versão de cada livro em todas as línguas, a interpolação de cada livro em todos os livros [...]” (BORGES, 2007, p. [35]). Uma biblioteca interminável, que encerra uma imensidão de livros com a descrição de todas as possibilidades da realidade. Na imaginação de Borges, na biblioteca de Babel caberia todo o universo.