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Os Direitos Fundamentais na Constitui•‹o Federal de 1988:

Os direitos fundamentais est‹o previstos no T’tulo II, da Constitui•‹o Federal de 1988. O T’tulo II, conhecido como Òcat‡logo dos direitos fundamentaisÓ, vai do art. 5¼ atŽ o art. 17 e divide os direitos fundamentais em 5 (cinco) diferentes categorias:

a) Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5¼) b) Direitos Sociais (art. 6¼ - art. 11)

c) Direitos de Nacionalidade (art. 12 Ð art. 13) d) Direitos Pol’ticos (art. 14 Ð art. 16)

      www.estrategiaconcursos.com.br       25 de 102  e) Direitos relacionados ˆ exist•ncia, organiza•‹o e participa•‹o em partidos pol’ticos.

ƒ importante ter aten•‹o para n‹o cair em uma ÒpegadinhaÓ na hora da prova.

Os direitos individuais e coletivos, os direitos sociais, os direitos de nacionalidade, os direitos pol’ticos e os direitos relacionados ˆ exist•ncia, organiza•‹o e participa•‹o em partidos pol’ticos s‹o espŽcies do g•nero Òdireitos fundamentaisÓ.

O rol de direitos fundamentais previsto no T’tulo II n‹o Ž exaustivo. H‡

outros direitos, espalhados pelo texto constitucional, como o direito ao meio ambiente (art. 225) e o princ’pio da anterioridade tribut‡ria (art.150, III, ÒbÓ).

Nesse ponto, vale ressaltar que os direitos fundamentais relacionados no T’tulo II s‹o conhecidos pela doutrina como Òdireitos catalogadosÓ; por sua vez, os direitos fundamentais previstos na CF/88, mas fora do T’tulo II, s‹o conhecidos como Òdireitos n‹o-catalogadosÓ.

(MPU Ð 2015) Na CF, a classifica•‹o dos direitos e garantias fundamentais restringe-se a tr•s categorias: os direitos individuais e coletivos, os direitos de nacionalidade e os direitos pol’ticos.

Coment‡rios:

Pode-se falar, ainda, na exist•ncia de outros dois grupos de direitos: os direitos sociais e os direitos relacionados ˆ exist•ncia, organiza•‹o e participa•‹o em partidos pol’ticos.

Quest‹o errada.

Direitos e Deveres Individuais e Coletivos: Parte I

Iniciaremos o estudo do artigo da Constitui•‹o mais cobrado em provas de concursos: o art. 5¼. Vamos l‡?

Art. 5¼ Todos s‹o iguais perante a lei, sem distin•‹o de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pa’s a inviolabilidade do direito ˆ vida, ˆ liberdade, ˆ igualdade, ˆ seguran•a e ˆ propriedade, nos termos seguintes: (...)

O dispositivo constitucional enumera cinco direitos fundamentais Ð os direitos ˆ vida, ˆ liberdade, ˆ igualdade, ˆ seguran•a e ˆ propriedade. Desses direitos Ž que derivam todos os outros, relacionados nos diversos incisos do art. 5¼. A doutrina considera, inclusive, que os diversos incisos do art. 5¼ s‹o desdobramentos dos direitos previstos no caput desse artigo.

      www.estrategiaconcursos.com.br       26 de 102  Apesar de o art. 5¼, caput, referir-se apenas a Òbrasileiros e estrangeiros residentes no pa’sÓ, h‡ consenso na doutrina de que os direitos fundamentais abrangem qualquer pessoa que se encontre em territ—rio nacional, mesmo que seja um estrangeiro residente no exterior. Um estrangeiro que estiver passando fŽrias no Brasil ser‡, portanto, titular de direitos fundamentais.

Nesse sentido, entende o STF que o sœdito estrangeiro, mesmo aquele sem domic’lio no Brasil, tem direito a todas as prerrogativas b‡sicas que lhe assegurem a preserva•‹o do status libertatis e a observ‰ncia, pelo Poder Pœblico, da cl‡usula constitucional do due process13. Ainda sobre o tema, chamamos sua aten•‹o para decis‹o do STF segundo a qual Òo direito de propriedade Ž garantido ao estrangeiro n‹o residenteÓ.14

Cabe destacar, ainda, que os direitos fundamentais n‹o t•m como titular apenas as pessoas f’sicas; as pessoas jur’dicas e atŽ mesmo o pr—prio Estado s‹o titulares de direitos fundamentais.

No que se refere ao direito ˆ vida, a doutrina considera que Ž dever do Estado assegur‡-lo em sua dupla acep•‹o: a primeira, enquanto direito de continuar vivo; a segunda, enquanto direito de ter uma vida digna, uma vida boa.15 Seguindo essa linha, o STF j‡ decidiu que assiste aos indiv’duos o direito ˆ busca pela felicidade, como forma de realiza•‹o do princ’pio da dignidade da pessoa humana.16

O direito ˆ vida n‹o abrange apenas a vida extrauterina, mas tambŽm a vida intrauterina. Sem essa prote•‹o, estar’amos autorizando a pr‡tica do aborto, que somente Ž admitida no Brasil quando h‡ grave amea•a ˆ vida da gestante ou quando a gravidez Ž resultante de estupro.

Relacionado a esse tema, h‡ um importante julgado do STF sobre a possibilidade de interrup•‹o de gravidez de feto anencŽfalo. O feto anencŽfalo Ž aquele que tem uma m‡-forma•‹o do tubo neural (aus•ncia parcial do encŽfalo e da calota craniana). Trata-se de uma patologia letal: os fetos por ela afetados morrem, em geral, poucas horas depois de terem nascido.

A Corte garantiu o direito ˆ gestante de Òsubmeter-se a antecipa•‹o terap•utica de parto na hip—tese de gravidez de feto anencŽfalo, previamente diagnosticada por profissional habilitado, sem estar compelida a apresentar autoriza•‹o judicial ou qualquer outra forma de permiss‹o do EstadoÓ. O STF entendeu que, nesse caso, n‹o haveria colis‹o real entre direitos       

13HC 94.016, Rel. Min. Celso de Mello, j. 16-9-2008, Segunda Turma, DJE de 27-2-2009.

14 RE 33.319/DF, Rel. Min. C‰ndido Motta, DJ> 07.01.1957.

15 MORAES, Alexandre de. Constitui•‹o do Brasil Interpretada e Legisla•‹o Constitucional, 9» edi•‹o. S‹o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 106.

16 Pleno STF AgR 223. Rel. Min. Celso de Mello. Decis‹o em 14.04.2008.

      www.estrategiaconcursos.com.br       27 de 102  fundamentais, apenas conflito aparente, uma vez que o anencŽfalo, por ser invi‡vel, n‹o seria titular do direito ˆ vida. O feto anencŽfalo, mesmo que biologicamente vivo, porque feito de cŽlulas e tecidos vivos, seria juridicamente morto, de maneira que n‹o deteria prote•‹o jur’dica.17 Assim, a interrup•‹o da gravidez de feto anencŽfalo n‹o Ž tipificada como crime de aborto.

Outra controvŽrsia levada ˆ aprecia•‹o do STF envolvia a pesquisa com cŽlulas-tronco embrion‡rias. Segundo a Corte, Ž leg’tima e n‹o ofende o direito ˆ vida nem, tampouco, a dignidade da pessoa humana, a realiza•‹o de pesquisas com cŽlulas-tronco embrion‡rias, obtidas de embri›es humanos produzidos por fertiliza•‹o Òin vitroÓ e n‹o utilizados neste procedimento.18

Por fim, cabe destacar que nem mesmo o direito ˆ vida Ž absoluto. A Constitui•‹o Federal de 1988 admite a pena de morte em caso de guerra declarada.

(MPE /RS Ð 2014) Ainda que o sistema jur’dico-constitucional p‡trio consagre o direito ˆ vida como direito fundamental, ele admite excepcionalmente a pena de morte.

Coment‡rios:

Nenhum direito fundamental Ž absoluto, inclusive o direito ˆ vida. Em caso de guerra declarada, admite-se a pena de morte. Quest‹o correta.

      

17 STF, Pleno, ADPF 54/DF, Rel. Min. Marco AurŽlio, decis‹o 11 e 12.04.2012, Informativo STF no 661. 

18 ADI 3510/DF, Rel. Min. Ayres Britto, DJe: 27.05.2010

      www.estrategiaconcursos.com.br       28 de 102  Uma vez decifrado o ÒcaputÓ do artigo 5¼ da Carta Magna, passaremos ˆ an‡lise dos seus incisos:

I - homens e mulheres s‹o iguais em direitos e obriga•›es, nos termos desta Constitui•‹o;

Esse inciso traduz o princ’pio da igualdade, que determina que se d•

tratamento igual aos que est‹o em condi•›es equivalentes e desigual aos que est‹o em condi•›es diversas, dentro de suas desigualdades. Obriga tanto o legislador quanto o aplicador da lei.

O legislador fica, portanto, obrigado a obedecer ˆ Òigualdade na leiÓ, n‹o podendo criar leis que discriminem pessoas que se encontram em situa•‹o equivalente, exceto quando houver razoabilidade para tal. Os intŽrpretes e aplicadores da lei, por sua vez, ficam limitados pela Òigualdade perante a leiÓ, n‹o podendo diferenciar, quando da aplica•‹o do Direito, aqueles a quem a lei concedeu tratamento igual. Com isso, resguarda-se a igualdade na lei: de nada adiantaria ao legislador estabelecer um direito a todos se fosse permitido que os ju’zes e demais autoridades tratassem as pessoas desigualmente, reconhecendo aquele direito a alguns e negando-os a outros.

DIREITO À 

VIDA

DIREITO À BUSCA PELA FELICIDADE (UNIÕES HOMOAFETIVAS  SÃO ENTIDADES FAMILIARES)

SOBREVIVÊNCIA + EXISTÊNCIA DIGNA

ALCANÇA A VIDA INTRA E EXTRAUTERINA

É RELATIVO

É COMPATÍVEL

COM A INTERRUPÇÃO DE  GRAVIDEZ DE ANENCÉFALO

COM A PESQUISA COM  CÉLULAS‑TRONCO 

EMBRIONÁRIAS

      www.estrategiaconcursos.com.br       29 de 102  Vejamos, abaixo, interessante trecho de julgado do STF a respeito do assunto:

19

O princ’pio da isonomia, que se reveste de auto-aplicabilidade, n‹o Ž Ð enquanto postulado fundamental de nossa ordem pol’tico-jur’dica Ð suscet’vel de regulamenta•‹o ou de complementa•‹o normativa.

Esse princ’pio Ð cuja observ‰ncia vincula, incondicionalmente, todas as manifesta•›es do Poder Pœblico Ð deve ser considerado, em sua prec’pua fun•‹o de obstar discrimina•›es e de extinguir privilŽgios (RDA 55/114), sob duplo aspecto: (a) o da igualdade na lei; e (b) o da igualdade perante a lei. A igualdade na lei Ð que opera numa fase de generalidade puramente abstrata Ð constitui exig•ncia destinada ao legislador que, no processo de sua forma•‹o, nela n‹o poder‡ incluir fatores de discrimina•‹o, respons‡veis pela ruptura da ordem ison™mica. A igualdade perante a lei, contudo, pressupondo lei j‡

elaborada, traduz imposi•‹o destinada aos demais poderes estatais, que, na aplica•‹o da norma legal, n‹o poder‹o subordin‡-la a critŽrios que ensejem tratamento seletivo ou discriminat—rio.

O princ’pio da igualdade, conforme j‡ comentamos, impede que pessoas que estejam na mesma situa•‹o sejam tratadas desigualmente; em outras palavras, poder‡ haver tratamento desigual (discriminat—rio) entre pessoas que est‹o em situa•›es diferentes. Nesse sentido, as a•›es afirmativas, como a reserva de vagas em universidades pœblicas para negros e ’ndios, s‹o consideradas constitucionais pelo STF.20 Da mesma forma, Ž compat’vel com o princ’pio da igualdade programa concessivo de bolsa de estudos em universidades privadas para alunos de renda familiar de pequena monta, com quotas para negros, pardos, ind’genas e portadores de necessidades especiais. 21

Segundo o STF:

      

19MI 58, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, j.14-12-1990, DJ de 19-4-1991.

20 RE 597285/RS. Min. Ricardo Lewandowski. Decis‹o: 09.05.2012

21 STF, Pleno, ADI 3330/DF, Rel. Min. Ayres Britto, j. 03.05.2012.

IGUALDADE

IGUALDADE NA LEI DESTINA‑SE AO 

LEGISLADOR

IGUALDADE PERANTE A LEI DESTINA‑SE AOS  APLICADORES DO 

DIREITO

      www.estrategiaconcursos.com.br       30 de 102  Òo legislador constituinte n‹o se restringira apenas a proclamar solenemente a igualdade de todos diante da lei. Ele teria buscado emprestar a m‡xima concre•‹o a esse importante postulado, para assegurar a igualdade material a todos os brasileiros e estrangeiros que viveriam no pa’s, consideradas as diferen•as existentes por motivos naturais, culturais, econ™micos, sociais ou atŽ mesmo acidentais. AlŽm disso, atentaria especialmente para a desequipara•‹o entre os distintos grupos sociais. Asseverou-se que, para efetivar a igualdade material, o Estado poderia lan•ar m‹o de pol’ticas de cunho universalista Ð a abranger nœmero indeterminado de indiv’duos Ð mediante a•›es de natureza estrutural; ou de a•›es afirmativas Ð a atingir grupos sociais determinados Ð por meio da atribui•‹o de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplanta•‹o de desigualdades ocasionadas por situa•›es hist—ricas particulares.Ò22

A realiza•‹o da igualdade material n‹o pro’be que a lei crie discrimina•›es, desde que estas obede•am ao princ’pio da razoabilidade. Seria o caso, por exemplo, de um concurso para agente penitenci‡rio de pris‹o feminina restrito a mulheres. Ora, fica claro nessa situa•‹o que h‡ razoabilidade: em uma pris‹o feminina, Ž de todo desej‡vel que os agentes penitenci‡rios n‹o sejam homens.

O mesmo vale para limites de idade em concursos pœblicos. Segundo o STF, Ž leg’tima a previs‹o de limites de idade em concursos pœblicos, quando justificada pela natureza das atribui•›es do cargo a ser preenchido (Sœmula 683). Cabe enfatizar, todavia, que a restri•‹o da admiss‹o a cargos pœblicos a partir de idade somente se justifica se previsto em lei e quando situa•›es concretas exigem um limite razo‡vel, tendo em conta o grau de esfor•o a ser desenvolvido pelo ocupante do cargo. 23

A isonomia entre homens e mulheres tambŽm Ž objeto da jurisprud•ncia do STF. Segundo a Corte, n‹o afronta o princ’pio da isonomia a ado•‹o de critŽrios distintos para a promo•‹o de integrantes do corpo feminino e masculino da Aeron‡utica24. Trata-se de uma hip—tese em que a distin•‹o entre homens e mulheres visa atingir a igualdade material, sendo, portanto, razo‡vel.

Note, todavia, que, em todos os casos acima, s— a lei ou a pr—pria Constitui•‹o podem determinar discrimina•›es entre as pessoas. Os atos infralegais (como edital de concurso, por exemplo) n‹o podem determinar tais limita•›es sem que haja previs‹o legal.

      

22 RE 597285/RS. Min. Ricardo Lewandowski. Decis‹o: 09.05.2012

23 RE 523737/MT Ð Rel. Min. Ellen Gracie, DJe: 05.08.2010

24RE 498.900-AgR, Rel. Min. Carmen Lœcia, j. 23-10-2007, Primeira Turma, DJ de 7-12-2007.

      www.estrategiaconcursos.com.br       31 de 102  Do princ’pio da igualdade se originam v‡rios outros princ’pios da Constitui•‹o, como, por exemplo, a veda•‹o ao racismo (art. 5¼, XLII, CF), o princ’pio da isonomia tribut‡ria (art. 150, II, CF), dentre outros.

Finalizando o estudo desse inciso, guarde outra jurisprud•ncia cobrada em concursos. O STF entende que o princ’pio da isonomia n‹o autoriza ao Poder Judici‡rio estender a alguns grupos vantagens estabelecidas por lei a outros. Isso porque se assim fosse poss’vel, o Judici‡rio estaria ÒlegislandoÓ, n‹o Ž mesmo? O STF considera que, em tal situa•‹o, haveria ofensa ao princ’pio da separa•‹o dos Poderes.

Sobre esse tema, destacamos, inclusive, a Sœmula Vinculante n¼ 37: ÒN‹o cabe ao Poder Judici‡rio, que n‹o tem fun•‹o legislativa, aumentar vencimentos de servidores pœblicos sob fundamento de isonomia.Ó

(PGE / RS Ð 2015) Ao julgar a a•‹o direta de inconstitucionalidade em que se questionava a (in)constitucionalidade de lei determinando a fixa•‹o de cotas raciais em Universidades e ao julgar a a•‹o declarat—ria de constitucionalidade em que se questionava a (in)constitucionalidade da Lei Maria da Penha, o STF acolheu uma concep•‹o formal de igualdade, com o reconhecimento da veda•‹o a toda e qualquer forma de discrimina•‹o, salvo a hip—tese de discrimina•‹o indireta.

Coment‡rios:

Nas duas situa•›es, o STF acolheu uma concep•‹o material de igualdade. No primeiro caso (cotas raciais), considerou-se leg’timo o uso de a•›es afirmativas pelo Estado; no segundo, o STF considerou leg’timas medidas especiais para coibir a viol•ncia domŽstica contra as mulheres. Em ambos os casos, aplicou-se um tratamento desigual, mas para pessoas que est‹o em situa•›es diferentes, o que est‡ em conformidade com a ideia de igualdade material. Quest‹o errada.

(PGM Ð Niter—i Ð 2014) O direito fundamental ˆ igualdade Ž compat’vel com a exist•ncia de limite de idade para a inscri•‹o em concurso pœblico, sempre que justificado pela natureza das atribui•›es do cargo a ser preenchido.

Coment‡rios:

O STF considera leg’tima a previs‹o de limites de idade em concursos pœblicos, quando justificada pela natureza das atribui•›es do cargo a ser preenchido. Quest‹o correta.

      www.estrategiaconcursos.com.br       32 de 102  II - ninguŽm ser‡ obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa sen‹o em virtude de lei;

Esse inciso trata do princ’pio da legalidade, que se aplica de maneira diferenciada aos particulares e ao Poder Pœblico. Para os particulares, traz a garantia de que s— podem ser obrigados a agirem ou a se omitirem por lei.

Tudo Ž permitido a eles, portanto, na falta de norma legal proibitiva. J‡ para o Poder Pœblico, o princ’pio da legalidade consagra a ideia de que este s— pode fazer o que Ž permitido pela lei.

ƒ importante compreendermos a diferen•a entre o princ’pio da legalidade e o princ’pio da reserva legal.

O princ’pio da legalidade se apresenta quando a Carta Magna utiliza a palavra ÒleiÓ em um sentido mais amplo, abrangendo n‹o somente a lei em sentido estrito, mas todo e qualquer ato normativo estatal (incluindo atos infralegais) que obede•a ˆs formalidades que lhe s‹o pr—prias e contenha uma regra jur’dica. Por meio do princ’pio da legalidade, a Carta Magna determina a submiss‹o e o respeito ˆ ÒleiÓ, ou a atua•‹o dentro dos limites legais; no entanto, a refer•ncia que se faz Ž ˆ lei em sentido material.

J‡ o princ’pio da reserva legal Ž evidenciado quando a Constitui•‹o exige expressamente que determinada matŽria seja regulada por lei formal ou atos com for•a de lei (como decretos aut™nomos, por exemplo). O voc‡bulo ÒleiÓ Ž, aqui, usado em um sentido mais restrito.

JosŽ Afonso da Silva classifica a reserva legal do ponto de vista do v’nculo imposto ao legislador como absoluta ou relativa.

Na reserva legal absoluta, a norma constitucional exige, para sua integral regulamenta•‹o, a edi•‹o de lei formal, entendida como ato normativo emanado do Congresso Nacional e elaborado de acordo com o processo legislativo previsto pela Constitui•‹o.

Como exemplo de reserva legal absoluta, citamos o art. 37, inciso X, da CF/88, que disp›e que a remunera•‹o dos servidores pœblicos somente poder‡ ser fixada ou alterada por lei espec’fica. N‹o h‡, nesse caso, qualquer espa•o para regulamenta•‹o por ato infralegal; somente a lei pode determinar a disciplina jur’dica da remunera•‹o dos servidores pœblicos.

Na reserva legal relativa, por sua vez, apesar de a Constitui•‹o exigir lei formal, esta permite que a lei fixe apenas par‰metros de atua•‹o para o

—rg‹o administrativo, que poder‡ complement‡-la por ato infralegal, respeitados os limites estabelecidos pela legisla•‹o.

      www.estrategiaconcursos.com.br       33 de 102  A doutrina tambŽm afirma que a reserva legal pode ser classificada como simples ou qualificada.

A reserva legal simples Ž aquela que exige lei formal para dispor sobre determinada matŽria, mas n‹o especifica qual o conteœdo ou a finalidade do ato. Haver‡, portanto, maior liberdade para o legislador. Como exemplo, citamos o art.5¼, inciso VII, da CF/88, segundo o qual ÒŽ assegurada, nos termos da lei, a assist•ncia religiosa nas entidades civis e militares de interna•‹o coletivaÓ. Fica bem claro, ao lermos esse dispositivo, que a lei ter‡

ampla liberdade para definir como ser‡ implementada a presta•‹o de assist•ncia religiosa nas entidades de interna•‹o coletiva.

A reserva legal qualificada, por sua vez, alŽm de exigir lei formal para dispor sobre determinada matŽria, j‡ define, previamente, o conteœdo da lei e a finalidade do ato. O melhor exemplo de reserva legal qualificada, apontado pela doutrina, Ž o art. 5¼, inciso XII, da CF/88, que disp›e que ÒŽ inviol‡vel o sigilo da correspond•ncia e das comunica•›es telegr‡ficas, de dados e das comunica•›es telef™nicas, salvo, no œltimo caso, por ordem judicial, nas hip—teses e na forma que a lei estabelecer para fins de investiga•‹o criminal ou instru•‹o processual penalÓ.

Ao ler esse dispositivo, percebe-se que o legislador n‹o ter‡ grande liberdade de atua•‹o: a Constitui•‹o j‡ prev• que a intercepta•‹o telef™nica somente ser‡ poss’vel mediante ordem judicial e para a finalidade de realizar investiga•‹o criminal ou instru•‹o processual penal.

III - ninguŽm ser‡ submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

Esse inciso costuma ser cobrado em sua literalidade. Memorize-o!

IV - Ž livre a manifesta•‹o do pensamento, sendo vedado o anonimato;

Trata-se da liberdade de express‹o, que Ž verdadeiro fundamento do Estado democr‡tico de direito. Todos podem manifestar, oralmente ou por escrito, o que pensam, desde que isso n‹o seja feito anonimamente. A veda•‹o ao anonimato visa garantir a responsabiliza•‹o de quem utilizar tal liberdade para causar danos a terceiros.

Com base na veda•‹o ao anonimato, o STF veda o acolhimento a denœncias an™nimas. Entretanto, essas dela•›es an™nimas poder‹o servir de base para que o Poder Pœblico adote medidas destinadas a esclarecer, em sum‡ria e prŽvia apura•‹o, a verossimilhan•a das alega•›es que lhe foram transmitidas.25 Em caso positivo, poder‡, ent‹o, ser promovida a formal

      

25 STF, Inq 1957/ PR, Rel. Min. Carlos Velloso, Informativo STF n¼ 393.

      www.estrategiaconcursos.com.br       34 de 102  instaura•‹o da "persecutio criminis", mantendo-se completa desvincula•‹o desse procedimento estatal em rela•‹o ˆs pe•as ap—crifas.

Perceba que as denœncias an™nimas jamais poder‹o ser a causa œnica de exerc’cio de atividade punitiva pelo Estado. Em outras palavras, n‹o pode ser instaurado um procedimento formal de investiga•‹o com base, unicamente, em uma denœncia an™nima.

Segundo o STF, as autoridades pœblicas n‹o podem iniciar qualquer medida de persecu•‹o (penal ou disciplinar), apoiando-se apenas em pe•as ap—crifas ou em escritos an™nimos. As pe•as ap—crifas n‹o podem ser incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quando tais documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constitu’rem, eles pr—prios, o corpo de delito (como sucede com bilhetes de resgate no delito de extors‹o mediante sequestro, por exemplo). ƒ por isso que o escrito an™nimo n‹o autoriza, isoladamente considerado, a imediata instaura•‹o de "persecutio criminis".

TambŽm com base no direito ˆ manifesta•‹o do pensamento e no direito de reuni‹o, o STF considerou inconstitucional qualquer interpreta•‹o do C—digo Penal que possa ensejar a criminaliza•‹o da defesa da legaliza•‹o das drogas, ou de qualquer subst‰ncia entorpecente espec’fica, inclusive atravŽs de manifesta•›es e eventos pœblicos26. Esse foi um entendimento pol•mico, que descriminalizou a chamada Òmarcha da maconhaÓ.

Por analogia, Ž poss’vel entender que isso tambŽm se aplica ˆqueles que defendam publicamente a legaliza•‹o do aborto. Assim, a defesa da legaliza•‹o do aborto n‹o deve ser considerada incita•‹o ˆ pr‡tica criminosa.

Sabe-se, todavia, que nenhum direito fundamental Ž absoluto. TambŽm n‹o o Ž a liberdade de express‹o, que, segundo o STF, Òn‹o pode abrigar, em sua abrang•ncia, manifesta•›es de conteœdo imoral que implicam ilicitude penal. O preceito fundamental de liberdade de express‹o n‹o consagra o direito ˆ incita•‹o ao racismoÕ, dado que um direito individual n‹o pode constituir-se

Sabe-se, todavia, que nenhum direito fundamental Ž absoluto. TambŽm n‹o o Ž a liberdade de express‹o, que, segundo o STF, Òn‹o pode abrigar, em sua abrang•ncia, manifesta•›es de conteœdo imoral que implicam ilicitude penal. O preceito fundamental de liberdade de express‹o n‹o consagra o direito ˆ incita•‹o ao racismoÕ, dado que um direito individual n‹o pode constituir-se

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