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Para a realização da pesquisa é necessário usar de recursos metodológicos capazes de nos ajudar a produzir dados, ou produzir sentido a partir da interação com os sujeitos da pesquisa. Dito isso a preocupação se constitui, por um lado em acessá-los individualmente e, posteriormente, construir meios de vê-los interagindo no coletivo, daí que elegemos o questionário aberto e o grupo focal como

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Categoria aqui é compreendida como um coletivo de trabalhadores que exercem determinada profissão, estão sujeitos a legislação específica, desempenham suas funções em ambientes específicos e apresentam características em comum, tal como vinculação trabalhista a determinada instância patronal, de modo não poder ser confundida com outra categoria profissional.

dispositivos capazes de nos oferecer os melhores subsídios para responder à questão de pesquisa.

2.4.1 Primeiro dispositivo: O questionário aberto

O questionário foi elaborado como forma de ter as percepções das professoras sobre a compreensão da ludicidade e sobre os saberes docentes, tanto na vida pessoal, quanto em relação à docência. A ideia que norteou o uso do questionário foi a objetividade e a praticidade, alem de ser uma forma de conduzir a elaboração das questões para o grupo focal.

O preenchimento dos questionários foi realizado no final do ano de 2015. A partir da leitura e análise pude me aproximar da visão de cada professora acerca de como o lúdico está presente em suas profissionalidades, de forma individual.

Já tinha realizado a conversa inicial com as professoras. Imprimi uma cópia para cada uma e também enviei por e-mail, para que optassem pela forma que julgassem mais prática. Entre o envio e o retorno se passaram quase dois meses. Após os primeiros quinze dias tomei o cuidado de contatá-las, via e-mail lembrando do questionário e negociando prazo de devolução. Funcionou! Talvez com um grupo maior de informantes seja melhor combinar um horário e os sujeitos responderem e já entregarem no mesmo momento.

Tinha pensado em usar a estratégia acima mas, como o questionário é longo, preferi deixar que as professoras tivessem tempo e tranquilidade para responder, na medida da disponibilidade do seu tempo e da vontade de compartilhar suas percepções e experiências. Quis evitar que a participação na pesquisa fosse algo pesado e cansativo. Essa foi uma decisão que considero boa, por outro lado, exigiu de mim maior número de contatos e negociação individual de prazo.

A demora foi justificada, pois tanto Alice quanto Dandara, estavam em processo de qualificação docente, a primeira cursando o mestrado e a segunda o doutorado, com demandas próprias. Água do Mar com a Coordenação Geral da Creche e Rute e Pérola com atividades de ensino e outras atividades correlatas.

Ao receber os questionários respondidos me senti entusiasmada. Tal sentimento veio da constatação de que a ludicidade foi referida de forma intensa e cuidada por parte de todas as professoras, alem de demonstrarem uma preocupação com a promoção de atividades lúdicas com as crianças na creche.

Percebi também que no grupo focal precisava elaborar questões que ajudasse a compreender como a ludicidade está presente na constituição da profissionalidade no âmbito coletivo. E que ficasse claro também a ludicidade em outras dimensões da atuação docente considerando que envolve o ensino, a extensão e a pesquisa, embora seja mais referido no exercício da docência.

2.4.2 Segundo dispositivo: O grupo focal

A necessidade de realizar um trabalho de produção de dados de forma interativa e dialógica foi percebida desde a realização do questionário aberto, com as professoras. Havia nas falas individuais a emergência de uma contraposição, de uma tensão alem de uma concordância e reforço das posições de cada professora acerca dos temas surgidos que o movimento de alternância das falas dos sujeitos me daria.

Havia de minha parte, expectativas em relação a esse momento que eu desejava que fosse rico, produtivo e prazeroso. Preparar o ambiente em um espaço não neutro, acolhedor e conhecido era condição para criar essa ambiência, pretendida lúdica sem, contudo, abrir mão do rigor que uma pesquisa enseja.

Dentre os protocolos necessários à realização de um grupo focal (GATI, 2012, p. 07), observei: 1. As professoras, sujeitos da pesquisa, podiam contribuir para a resposta ao problema de estudo; 2. As participantes tinham vivência no tema que foi discutido, de tal modo que sua participação trouxe elementos ancorados em suas experiências cotidianas. 3. O grupo é “focalizado” no sentido de que envolve um tipo de atividade coletiva, conversando sobre a ludicidade na profissionalidade docente, seus desafios e possibilidades.

Gati (2012, p. 08) alerta que

Na condução do grupo focal, é importante o respeito ao princípio da não diretividade, e o [...] moderador da discussão deve cuidar para que o grupo desenvolva a comunicação sem ingerências indevidas da parte dele, como intervenções afirmativas ou negativas, emissão de opiniões particulares, conclusões ou outras formas de intervenção direta (GATI, 2012, p. 08) Esse se constituiu o maior desafio à realização do grupo focal, primeiro porque tenho grande inserção no grupo de professoras e segundo porque como optei por realizá-lo após a aplicação do questionário, algumas questões precisavam ser mais específicas a fim de que me informassem sobre a presença da ludicidade em suas profissionalidades.

Gati (2012, p. 24) alerta para o cuidado em relação ao ambiente onde se pretende realizar o grupo focal. Para a autora o local deve favorecer a interação entre os participantes, de preferência em torno de uma mesa, em cadeiras e em uma posição que favoreça as interações, alem de variadas formas de registros.

A fim de promover maior rigor na condução das atividades do grupo focal preparei o ambiente, com a presença de dois celulares smartphones, na função de gravador de som e uma câmera digital a fim de fazer registros os mais audíveis e completos possíveis.

Outra preocupação esteve presente que foi lembrar que a conversa era entre as professoras e elas não precisavam agir como se estivessem respondendo às minhas perguntas, todo o tempo. A proposta, portanto, era de promover uma troca efetiva entre os participantes, de modo que as participantes do grupo pudessem se sentir responsáveis por criar e sustentar sua própria discussão, conforme assevera Gati (2012, p. 29-30).

Tomadas as providências iniciais para a realização do grupo focal, a minha ideia era manter a possibilidade de vivência de uma experiência plena de sentidos e por que não dizer onde a ludicidade está presente. A ludicidade está presente na profissionalidade docente dos sujeitos da pesquisa, mas também na minha como pesquisadora que faz parte desse grupo e, que, no movimento de pesquisa tenta fazer o distanciamento necessário para estar fora, sendo de dentro e, estar dentro, estando fora, resguardando o rigor necessário às pesquisas qualitativas.

Uma tardinha de abril de 2016, Pérola não pode estar presente devido a uma viagem à sua terra natal, Porto Velho (Rondônia), para o aniversário de 70 anos da

mãe. Como a data já estava agendada há muito tempo decidimos por mantê-la, em função, também, da dificuldade em conseguir juntar as professoras, já que Alice estava afastada para estudos e morando em Jequié (Bahia) e Rute, se dividindo boa parte do tempo entre Salvador e Vitória da Conquista (Bahia).

O encontro para a realização do grupo focal aconteceu em casa e começou em clima de descontração típico de um grupo de professoras que se conhece há treze anos, como Alice e Rute e há vinte anos, como Água do Mar e Dandara, trabalhando junto, dividindo as dores e as delícias de serem professoras de Educação Infantil, em uma universidade.

Cinco professoras juntas conversando sobre a carreira, os sonhos, as ações concretas e a ludicidade nesse processo, acabou por criar um ambiente barulhento, com risadas, ideias expressas com veemência, cochichos paralelos, falas entrecortadas por outras falas, reforçando, contrapondo, marcadas pela emoção. Não obstante, confesso minha apreensão por debutar no uso desse dispositivo que foi o grupo focal, com o desafio de estimular a discussão, tensionar os pontos em que gostaria de ter opiniões mais contundentes e me conter para que fossem emitidas as vozes dos sujeitos e não a minha.

Na mesma perspectiva, Gati (2012, p. 40) destaca que as interações no grupo e a diversidade que emerge levam a que as pessoas argumentem, expliquem sua ideia de pensar. Nesse sentido, a atenção às troas e aos encaminhamentos, para esclarecer raciocínios e pontos de vista, dão ao pesquisador a oportunidade de não trabalhar com presunções pessoais, assumindo que já sabe o significado de cada ponto de vista.

Por fim, é importante dizer que a experiência de realizar um encontro de grupo focal foi de grande valia para a realização desta pesquisa pois possibilitou a interação entre as professoras, emergiram posições convergentes e divergentes em relação à presença da ludicidade na profissionalidade das docentes, as situações às vezes nada lúdicas que também estão presentes no cotidiano educativo e as formas encontradas pelas professoras a fim de driblar a situações que negam a ludicidade na profissionalidade dessas docentes.

2.5 Informações sociodemográficas, formação e tempo de docência das