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Historicamente a coleta de lixo domiciliar era feita por carroças. Depois passou a ser feita em caminhões com a caçamba aberta. Então o gari que coletava precisava lançar o lixo para o alto e o gari ficava dentro da caçamba precisava acomodar o lixo manualmente. O gari que ficava embaixo costumava machucar os olhos com grande freqüência e o gari que ficava na caçamba em contato direto com o lixo costumava beber e passar álcool no corpo na tentativa de eliminar o cheiro que ficava impregnado em sua pele.

Para Santos (2004), nos relatos dos garis, a substituição dos caminhões alterou o modo como realizavam o seu trabalho, eliminando de sua atividade as tarefas de “armazenar” o lixo na carroceria dos caminhões e de despejar o lixo no aterro sanitário. Ambas as operações passaram a ser realizadas pelos motoristas, que operam dispositivos mecânicos do caminhão. Assim, a mudança produzida na atividade permitiu aos garis um certo distanciamento do lixo, possibilitando-lhes realizar o trabalho sem se sujarem tanto, como acontecia, com os

caminhões antigos. Isso teve influência na sua auto-estima, na percepção de sua imagem, até então, ligada à imagem do “homem sujo”.

“(...) hoje você não tem o contato direto com o lixo, você não tem. Você pegou o saco, jogou lá dentro, o caminhão vem e tritura aquilo ali (SANTOS, 2004, p.

64).”

“A partir do momento que a “empresa” mudou os caminhões, né, trocando a frota de caminhões, então você passou a não ter mais aquele contato com o lixo e aí você já não suja tanto.(...) Aquele chorume que escorre (pela canaleta dos compactadores), naquela época não tinha jeito de escorrer, né, a gente ficava arrumando o lixo, aquilo ficava... Pro cê ter uma idéia, hoje, o gari na rua, ele pode trabalhar com a roupa dois dias, três dias dependendo, antes você tinha que trocar de roupa duas vezes por dia (SANTOS, 2004, p. 64).”

Depois a empresa investiu em um caminhão que, conforme o relato dos garis, parecia um caminhão de concreto:

“Quando trouxe o caminhão novo pra cá, chamava de Cuquinha, parecia uma betoneira. Ele era igualzinho a esses caminhões de concreto. Ele ia girando o lixo, rodando e prensando. Já era bem melhor do que a gente ficar socando o lixo. Porém, você não agüentava o barulho, fazia um barulhão danado. No final do dia você ficava com o ouvido daquele jeito, mas já tava bem melhor. Depois dessa frota, trocaram pelo PPT, né, do leme, que já melhorou bem. Aí foi melhorando... e por último chegou os Ford, que tá aí. Quando eu falo que a SLU passou a ser uma empresa, foi isso. Ela passou a te dar, te deu até mais condições de chegar na população, ter mais contato com a população. Ocê foi mais aceito, né. agora você chega perto de qualquer pessoa, parar, conversar, ela te ouvir... antes, a pessoa saia correndo doce (SANTOS, 2004, p. 64).”

fechadas, contendo dispositivos mecânicos ou hidráulicos que possibilitam a distribuição de compressão dos resíduos no interior das carrocerias.

Ambos os caminhões compactadores sofrem pequenas modificações conforme os motoristas e os garis sugerem, o que caracteriza pequenas diferenças entre um caminhão e outro do mesmo modelo (Figura 04).

O cocho do caminhão PPT possui um leme que compacta o lixo em constante movimento. O acionamento e a trava do leme dependem da operação de três botões situados dentro da cabine à esquerda do banco do motorista. O caminhão Ford é mais atual que o PPT, cujo cocho possui um compactador que, teoricamente, só é acionado com o caminhão parado, processo realizado pelos garis, após acionarem um botão que sinaliza dentro da cabine que o cocho está cheio. Desta forma, apesar de o gari realizar a compactação do lixo, é o motorista quem destrava a prensa.

Figura 04: Caminhões compactadores usados para a coleta de lixo domiciliar. O PPT à esquerda e o Ford à direita.

Para o entendimento da descrição da coleta é necessário apresentar algumas das diversas partes dos caminhões (Figura 05):

1. estribo: suporte em que os garis ficam em pé na parte traseira do caminhão. 2. beirada do cocho: parte superior ao estribo, também usada para apoiar os pés. 3. cocho: parte aberta posterior do caminhão em que o lixo é depositado.

4. corrimão: haste metálica em que os garis se seguram. Há um caminhão com dois corrimões, um mais alto e outro mais baixo, a pedido dos garis mais baixos.

5. alça lateral ou corrimão

6. lâmina da prensa (leme no PPT)

7. giroflex: pisca alerta para as coletas feitas à noite

Há variações entre caminhões do mesmo modelo, tais como:

8. suporte para tábuas (direito e esquerdo), que são usadas como ferramenta para auxiliar a coleta. Os suportes foram soldados nas laterais de alguns caminhões a pedido dos garis. Os caminhões reserva não possuem tais suportes, nem ferramentas complementares.

9. cabo de vassoura para pendurar a “catação”. Também são penduradas vassouras na parte lateral do PPT, usadas como ferramenta para auxiliar a compactação do lixo pelo leme. Os garis usam as vassouras empurrando o lixo para dentro do cocho do caminhão.

Os caminhões possuem ainda:

- baú: caçamba do caminhão, onde o lixo é armazenado.

- alavancas da prensa: alavancas laterais, externas, posicionadas na parte lateral posterior direita do caminhão. Usadas para compactar o lixo do cocho do caminhão Ford.

- escudo: parte da caçamba do caminhão que empurra o lixo para fora do baú. Também move- se para dentro do baú até o lixo preencher todo o baú do caminhão.

- a parte traseira de ambos os caminhões é levantada mecanicamente pelo motorista para que o lixo seja descarregado e o baú seja lavado.

- há caminhão com um baú de metal posicionado na dianteira da caçamba. Este baú servia para guardar luvas e capas de chuva. Mas enferrujou e atualmente guardam latas de alumínio. Este permanece trancado com cadeado.

Figura 05: Apontamento das partes do caminhão compactador.

Como a coleta de lixo domiciliar está quase toda terceirizada e a empresa passou por um processo de reestruturação, esta realiza poucos investimentos na compra de equipamentos,

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principalmente de caminhões. Desta forma, durante a coleta de dados foi observada uma grande freqüência de “quebra” dos mesmos, o que tem influenciado no tempo total de coleta diária de cada guarnição. Conforme relato dos motoristas:

“Pelo menos um caminhão da L (regional) quebra todo dia.”

Quando o caminhão quebra, os garis precisam aguardar que o motorista leve o caminhão até a oficina que fica próxima ao aterro sanitário. Para não perderem tempo, os garis realizam "redução" do lixo restante. Uma significativa dificuldade de se usar o caminhão reserva está no fato deste não ser equipado com as ferramentas usuais que os próprios garis colocam em seus caminhões.

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