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6. ANÁLISE DOS DADOS: DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO

6.1. Frequência global

6.1.5. Os efeitos e a durabilidade do tratamento instrucional na redução das estratégias de

Nesta seção, descreveremos e analisaremos os dados referentes à (não) retomada de sintagmas complemento, a partir de três categorias: i) estratégias de (não) retomada das formas simples; ii) estratégias de (não) retomada das formas complexas e iii) caso específico de retomada das formas simples.

Nossa hipótese de que haveria mais evidências de transferências linguística do PB para o Espanhol, no processo de aprendizagem das formas simples e complexas, na fase pré- tratamento instrucional, em comparação às fases I e II pós-intervenção pedagógica, foi confirmada parcialmente.

A fim de ilustrarmos a comparação de frequência entre as estratégias de (não) retomada das formas simples, a seguir, apresentamos o Gráfico 6:

Gráfico 6: A aplicação das estratégias de (não) retomada das formas simples

Fonte: Elaborado pelo autor.

No Gráfico 6, podemos observar que a forma nula, como em

comió allí mismo (Lo comió allí mismo), em período anterior à intervenção pedagógica, alcançou o maior índice de aplicação em comparação às etapas I e II pós-tratamento instrucional. De modo similar à forma nula, o pronome tônico, como em No compró ella (No la compró) e o sintagma

nominal, no caso de Vio el pez sobre la mesa (Lo vio sobre la mesa), foram mais recorrentes no pré-teste do que nos pós-testes, com maior aplicação desse último fator, na fase pré- instrucional, em contraste aos outros dois fatores.

Com base no Gráfico 6, também podemos perceber que, no PI, ocorreu a redução de frequência das formas alternantes dos clíticos acusativos de terceiras pessoas. Contudo, a redução de aplicação da forma nula e do pronome tônico, em curto prazo, foi menor do que no sintagma nominal. Por sua vez, no PP, em médio prazo, o sintagma nominal seguiu apresentando queda de aplicação, enquanto que a forma nula e o pronome tônico, respectivamente, diminuíram e aumentaram, de maneira sutil, sua frequência.

Esses resultados estatísticos, de uma parte, sugerem que o conhecimento linguístico pré-existente dos alunos participantes a respeito da regra de retomada dos sintagmas complemento do PB parece influenciar o processo de aprendizagem das formas clíticas em função acusativa do Espanhol. Nessa LE, a forma nula, no lugar das formas simples, está relacionada a contextos linguísticos limitados, enquanto que, no PB, a não realização fonética dos clíticos acusativos é recorrente na modalidade espontânea de língua falada (DUARTE, 1989; HORA; BALTOR, 2007).

De modo similar à forma nula, no PB, os estudos sociolinguísticos têm indicado que o pronome tônico e o sintagma nominal são formas alternativas de retomada do sintagma complemento em função acusativa. Por sua vez, no Espanhol, o clítico dativo de terceiras pessoas é acompanhado de pronome tônico ou sintagma nominal em caso de duplicação, como em (16) e (17), em que há preenchimento do sintagma complemento, mas não a sua retomada propriamente dita.

De outra parte, os dados indicaram oscilação do comportamento das estratégias de (não) retomada das formas simples nas etapas de coleta de dados. Se partirmos do pressuposto de que a aplicação das estratégias de (não) retomada do sintagma complemento é inversamente proporcional à frequência das formas-alvo e vice-versa, o aumento de aplicação dessas formas linguísticas sugere a redução da frequência de suas formas alternativas. Nesse sentido, a diminuição de aplicação da forma nula e do sintagma nominal, nas fases I e II pós- tratamento instrucional, acompanhada da diminuição de frequência, em curto prazo, do pronome tônico e de sua estabilidade, em médio prazo, explica o aumento da produtividade das formas simples nas fases pós-intervenção pedagógica, segundo pudemos observar nos resultados da seção 6.1.1, os quais estão pautados em testes estatísticos.

Na sequência, com o objetivo de estabelecermos uma comparação entre os índices de frequência das estratégias de (não) retomada dos sintagmas complementos no lugar das formas complexas, ao longo das etapas de coleta dos dados, indicamos o Gráfico797:

Gráfico 7: Comparação da aplicação das estratégias de (não) retomada das formas complexas nas etapas de coleta

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir do Gráfico 7, é possível constatar que a não realização fonética dos clíticos acusativo e dativo, como em No

podía comprar (No se la podía comprar) e os sintagmas nominais, no caso de Había donado el muñeco para una crianza (Se lo había donado), foram os fatores mais frequentes na fase pré-instrucional. Já no que concerne à forma única acompanhada de sintagma nominal, como em María decidió mostrarla a sus amigas (María

se la decidió mostrar), e à forma nula seguida do sintagma nominal, no caso de Ya ∅ tenía

dado a una crianza (Ya se lo tenía dado),foram as estratégias de retomada das formas complexas que obtiveram os menores percentuais de aplicação no pré-teste.

Contudo, em curto prazo, na fase I pós-intervenção instrucional, os índices de aplicação das estratégias de (não) retomada em função acusativa e dativa apresentaram tendência praticamente inversa se comparada ao pré-teste. A exceção do fator forma nula e forma única, que se manteve praticamente estável da etapa pré-tratamento instrucional em

79 No Gráfico 7, FNs=formas nulas, SNs=sintagmas nominais, FN=forma nula, FU=forma única,

comparação à fase I pós-intervenção pedagógica, os fatores formas nulas e sintagmas nominais, com os maiores índices de frequência no pré-teste, foram os que mais reduziram sua aplicação no pós-teste imediato.

Por sua vez, os fatores forma nula acompanhada de sintagma nominal e forma única seguida de sintagma nominal, com menor aplicação, na fase pré-intervenção instrucional, foram as estratégias de retomada mais recorrentes em curto prazo, com margem de vantagem favorável ao último fator. Em contraste, em médio prazo, houve redução de aplicação das estratégias de (não) retomada das formas complexas. Entretanto, é válido destacarmos que foram os fatores forma nula acompanhada da forma única e o fator os sintagmas nominais os que reduziram mais sua frequência na fase II pós-instrucional.

De um lado, os dados revelaram o uso de formas nulas ou sintagmas nominais ou a combinação dessas estratégias de (não) retomada dos sintagmas complementos; por outro lado, indicaram construções que incluíram o uso de formas únicas acompanhadas de outras formas linguísticas.

O Espanhol, por exemplo, à exceção da variedade dialetal do espanhol uruguaio, em que o clítico acusativo pode não ser realizado foneticamente em situação de coocorrência dos objetos direto e indireto, requer a retomada de sintagmas complementos por clíticos acusativos e dativos. De igual maneira que as estratégias de (não) retomada das formas simples, os dados também indicaram evidências de influência do PB na aprendizagem das formas complexas do Espanhol. Os participantes parecem recorrer às regras da modalidade linguística espontânea de sua LM, na qual, por exemplo, é possível a não realização fonética do sintagma complemento, o uso de sintagmas nominais e/ou de pronomes tônicos ou a combinação de ambos os elementos em situação de coocorrência de objeto direto e indireto.

A proximidade interlinguística influencia fortemente a transferência interlinguística (CRUZ, 2001). A título de exemplo, falantes do PB no processo de aprendizagem de italiano como L2 recorreram ao seu conhecimento linguístico prévio, a fim de suprir lacunas gramaticais relacionadas à aquisição da L2 (SCHROEDER,2004). No caso do brasileiro aprendiz de Espanhol, é necessário que haja cautela no que tange à afirmação de que a semelhança interlinguística é um fator facilitador de acesso e aquisição de língua estrangeira, uma vez que a dificuldade no processo aquisicional pode estar relacionada à falsa semelhança entre a L1 e a L2 (VILLALBA, 2002).

Os alunos participantes deste estudo, entre outros fatores condicionadores, podem ter sido motivados pela proximidade tipológica entre a LM e a L2/LE, durante a retomada dos sintagmas complementos, em suas produções orais, que apontaram construções que fogem às

regras do Espanhol. Apesar da proximidade entre essa língua e o PB, em função de pertencerem à família de línguas neolatinas, a partir do estudo de González (1994), observamos que existem assimetrias no que se refere à retomada dos sintagmas complementos em ambas as línguas.

O tratamento instrucional administrado aos aprendizes, mais especificamente o fornecimento de informações contrastivas a respeito das regras dos clíticos acusativos e dativos entre o PB e o Espanhol, atreladas a uma série de outras estratégias pedagógicas, parecem ter contribuído para que os alunos participantes percebessem a assimetria existente entre essas línguas a respeito das regras em exame, a ponto de reduzirem a aplicação de estratégias de (não) retomada das formas simples e complexas ao longo das etapas pós- intervenção instrucional a favor das formas-alvo.

Quanto à última categoria, correspondente a casos específicos de estratégias de retomada das formas simples, para fins de análise, indicamos a aplicação do fator que a constitui, a seguir, no Gráfico 8:

Gráfico 8: Aplicação do caso específico de estratégias de retomada de sintagma complemento nas etapas de coleta de dados

Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme observamos no Gráfico 8, o caso específico de retomada das formas simples, no caso de Se lavi (La vi), obteve aumento de frequência nos pós-testes em comparação ao pré-teste. Esse resultado, diferentemente do comportamento da maior parte das estratégias de (não) retomada das formas-alvo, mencionadas anteriormente, que indicou

redução e/ou estabilidade de sua frequência, ao longo das etapas pós-instrucionais, sugere aumento de frequência do caso específico referente à estratégia de retomada das formas simples nas fases pós-intervenção pedagógica.

Na literatura de ASL (GONZÁLEZ, 1994) é apontado o emprego de clítico sem a presença de sintagma complemento, em contexto antecedente, que venha a justificar tal uso, como em Se les pareció falta de educación. Esse caso específico de uso desnecessário dos clíticos, denominado distorção da regra80, presente na língua dos alunos participantes deste estudo, corrobora o resultado do estudo de González (1994). Parece que esse fenômeno não está relacionado apenas ao uso indevido da regra do clítico do Espanhol, mas também a problemas de identificação quanto à transitividade das formas verbais em Espanhol e à função

anafórica das formas clíticas como recurso linguístico de retomada do sintagma complemento. A partir do Gráfico 8, podemos perceber que, nas fases I e II posteriores a intervenção

pedagógica, houve o aumento de aplicação do fator referente ao caso específico de estratégias de retomada de sintagma complemento. Esse comportamento parece estar atrelado ao fenômeno de generalização de regras, chamada de supergeneralização, a partir do qual o aprendiz aplica, em vários contextos, e de maneira diferente da norma linguística da língua- alvo, uma regra já aprendida dessa língua de modo indevido (SELINKER, 1972).

Com o intuito de sumarizarmos as análises (de 6.1.1. a 6.1.5) realizadas até o momento, tecemos as considerações a seguir. As formas simples, de modo geral, avançaram, enquanto que as formas complexas obtiveram aumento de produtividade, em curto prazo, e se mantiveram praticamente estáveis em médio prazo. Os efeitos instrucionais sobre a aplicação e/ou identificação das formas-alvo foram duráveis (formas simples em testes de produção oral) e, além disso, houve avanço (formas simples em testes de identificação e de produção escrita; formas complexas em testes de identificação e de aplicação) em seu processo de aquisição. No que se refere à produtividade das formas clíticas como conhecimento linguístico, os dados sugeriram que o tratamento instrucional produziu efeitos benéficos, e, em alguns casos, avanço no que tange à produtividade das formas-alvo, a depender do tipo de grau de complexidade e da modalidade de conhecimento linguístico.

No que tange à frequência das formas simples e complexas entre os aprendizes com maior ou menor nível de estudo, a partir de uma análise, por separado, é possível afirmarmos que as formas simples e complexas aumentaram seus índices de frequência, ao longo das etapas de coleta de dados, no grupo dos aprendizes com menor nível de estudo. Por sua vez,

no grupo com mais tempo de estudo, houve aumento de produtividade das formas simples, em curto prazo, seguido de uma sutil queda de frequência em médio prazo. Cabe destacarmos que, nesse grupo de aprendizes, as formas complexas aumentaram, na fase I pós-tratamento instrucional, sua produtividade que se manteve, em médio prazo, em progresso.

Por último, no que concerne à frequência das estratégias de (não) retomada das formas simples e complexas, observamos que, salvo os fatores forma única acompanhada de sintagma nominal, forma nula seguida de sintagma nominal em curto prazo, caso específico da estratégia de retomada do sintagma complemento nas etapas I e II pós-tratamento instrucional e pronome tônico, as demais estratégias de (não) retomada das formas clíticas de terceiras pessoas reduziram sua aplicação nas fases I e II pós-instrucionais.

6.1.6. Os efeitos e a durabilidade da intervenção pedagógica na produtividade das