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3 A GESTÃO EDUCACIONAL E ESCOLAR

4.1 OS EIXOS ESTRUTURANTES DA POLÍTICA: A POLITECNIA

O Ensino Médio Politécnico, enquanto política educacional, foi estruturado a partir dos seguintes princípios: o trabalho como princípio educativo, a relação parte- totalidade, o reconhecimento de saberes, a relação teoria e prática, a Interdisciplinaridade, avaliação emancipatória e a pesquisa. Perpassando todos estes princípios, a Proposta Pedagógica traz como novidade o conceito de Politecnia

que vai se tornar uma característica desta política. Conceito que estará presente em toda a sua discussão e implementação. Ela é considerada o conceito ou eixo inovador e estruturante do pensar e do fazer, relacionando os estudos escolares com o mundo do trabalho (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

Na ilustração a seguir destacamos a Politecnia entre os demais eixos ou princípios da política do EMP.

Figura 3 - Os Eixos Estruturantes do Ensino Médio Politécnico.

Fonte: Desenho do autor.

Considerando os princípios estabelecidos ou eixos estruturantes, o Ensino Médio Politécnico propõe novas formas de organização e seleção dos conteúdos a partir da prática social e do diálogo entre as quatro áreas do conhecimento. Defende a articulação e a integração dos diferentes atores que trabalham na escola, na perspectiva da construção do conhecimento. Possibilita uma melhor formação ética, desenvolve a autonomia e o pensamento crítico pela participação e pelo compromisso do estudante com o conhecimento que não pode mais ser concebido simplesmente como algo pronto, mas que precisa ser construído e ou resinificado através de novas e diferentes mediações estabelecidas no contexto escolar entre os atores envolvidos no processo educativo (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

Como princípio educativo do trabalho, a Politecnia está presente no currículo do novo ensino médio. Ela propõe uma nova forma de selecionar e organizar os conteúdos a partir da prática social, contemplando o diálogo entre as áreas do conhecimento e a qualidade da relação com o conhecimento pelo protagonismo do

estudante sobre a quantidade de conteúdos apropriados de forma mecânica ou tradicional.

No entendimento da SE/RS, a construção deste currículo integrado, que propõe a quebra ou a substituição de paradigma, só vai ocorrer de fato pelo trabalho coletivo entre os diferentes atores dentro da escola, nas instituições que trabalham a formação dos professores e nos órgãos de gestão.

A discussão sobre a questão da Politecnia não é nova, como escreve Silva (apud Azevedo; Reis, 2013), uma vez que ela faz parte do próprio movimento e do esforço de construção de uma identidade para o ensino médio como etapa final da educação básica no Brasil. Este debate esteve presente na formulação e instituição da LDB/96, porém, não avançou diante do cenário político que se estabeleceu naquele período. A crítica que se fazia a respeito da elitização, apontava para a necessidade de se constituir uma identidade para o ensino médio cuja referência fosse o mundo do trabalho com a Politecnia o seu conceito básico estruturante.

Nesta perspectiva, a retomada deste debate encontra sentido uma vez que a Politecnia vai se constituir como um dos eixos norteadores da política de reestruturação curricular do ensino médio no Rio Grande do Sul, face a própria necessidade de se constituir um ensino globalizado nesta etapa da educação básica, que permita estabelecer novas relações, vínculos e sintonia entre a educação e o processo produtivo moderno. Categorias estas historicamente separadas e trabalhadas de forma dissociada no currículo escolar como legado da luta de classe que permeou o processo histórico e produtivo da sociedade (SAVIANI, 2007).

Em Gramsci (1978, apud SE/RS, 2011, p.14) encontramos o que basicamente traduz o sentido e o próprio conceito de politecnia, uma vez que ela pode ser compreendida por:

[...] pensar políticas públicas voltadas para a educação escolar integrada ao trabalho, à ciência e à cultura, que desenvolva as bases científicas, técnicas e tecnológicas necessárias à produção da existência e a consciência dos direitos políticos, sociais e culturais e a capacidade de atingi-los.

Trabalhando sobre o princípio educativo do trabalho e sua relação com a educação, Saviani (2007) afirma que o homem, por não nascer pronto, precisa, pois, aprender através do trabalho e da educação a produzir, simultaneamente, a sua existência e a sua própria condição humana. A noção de Politecnia, assim

compreendida, caracteriza-se por um novo ensino médio que propicie aos jovens o domínio teórico dos fundamentos científicos das diferentes tecnologias utilizadas no meio produtivo. O que é diferente de simplesmente preparar mão de obra para o mercado. O fundamental, na visão do autor, é a formação geral como base das relações entre trabalho e educação independente da opção profissional que o jovem venha fazer. O mais importante é que ele possa compreender como se processa e se articula a construção do conhecimento com os processos científicos/tecnológicos e produtivos.

Sobre o conceito de mundo do trabalho, na perspectiva do ensino médio, Azevedo; Reis (2014) nos ajudam a entender que nele estão contemporizadas a complexidade das vivências e experiências humanas tanto materiais como simbólicas. O mundo do trabalho se diferencia, portanto, do que convencionamos chamar de mercado de trabalho; uma vez que este se resume ao mero compromisso com a produção de bens, mercadorias ou serviços no universo das atividades econômicas desenvolvidas pela sociedade na perspectiva do lucro e do consumo.

A relação entre educação e trabalho, entre conhecimento e atividade prática, para Saviani (2007), deve ser tratada de forma explícita e direta sendo que o papel da escola de nível médio é recuperar esta relação entre o conhecimento produzido ou trabalhado na escola e a dimensão do trabalho humano, prático, desenvolvido no cotidiano social. Já não basta dominar os conceitos básicos pertinentes ao processo produtivo, mas necessário se faz explicitar “como a ciência, potência espiritual, se converte em potência material no processo de produção. [...] como o saber se articula com o processo produtivo” (SAVIANI, 2007, p. 160). O horizonte, pois, que deve orientar a reestruturação do currículo no ensino médio, a grosso modo, é garantir aos estudantes o domínio sobre os fundamentos científicos das diferentes tecnologias e não o seu manuseio. Nesta perspectiva, a Politecnia:

[...] implica a progressiva generalização do ensino médio como formação necessária para todos, independentemente do tipo de ocupação que cada um venha a exercer na sociedade. Sobre a base da relação explícita entre trabalho e educação desenvolve-se, portanto, a formação geral (SAVIANI, 2007, p.161).

Numa perspectiva marxista, o autor enfatiza que ela diz respeito a compreensão da forma como o conhecimento se articula e se relaciona com o processo produtivo e suas bases científicas, estabelecendo conexão entre

conhecimento técnico-científico e conhecimento humanista. Em outras palavras, significa trabalhar o currículo escolar na perspectiva de uma aproximação entre escola e trabalho ou entre formação intelectual e trabalho produtivo (SAVIANI, 2007).

Nesta mesma direção, aprofundando o estudo e a própria dimensão da Politecnia no currículo escolar, é possível afirmar que ela nos permite:

[...] dialogar com os sujeitos, jovens (adultos) do ensino médio, na medida em que considera a multidimensionalidade da formação humana e, com isso, permite tomar como referência esses sujeitos em suas diferenças (de classe, gênero, idade, sexo, cor, etc..); possibilita, ainda, atribuir sentido aos conhecimentos que circulam na escola, seja de natureza científica, artística, ética, estética na medida em que toma a historicidade das práticas de produção da existência humana, a cultura, em suas bases material e imaterial, sobretudo em um momento em que a ciência e a tecnologia impulsionam para a fusão dos clássicos campos das ciências de referência que compõem os currículos até o presente momento (SILVA, 2011, p. 10). Em sintonia com estes autores sobre o sentido e a própria abrangência deste princípio, Azevedo; Reis (2014), destacam ainda que ela possui caráter científico- tecnológico e sócio-histórico, pois possibilita a aproximação e a integração entre as experiências do contexto vivido pelos estudantes e os conteúdos trabalhados no currículo escolar através de uma relação dialógica, uma integração difícil de ocorrer numa perspectiva positivista de currículo, afirmam os autores.

Partindo desta visão, compreendemos que a Politecnia, como princípio filosófico, cumpre função estratégica no processo de reestruturação curricular do ensino médio em curso no Rio Grande do Sul. Ela se constitui através da relação teoria e prática, no estudo sobre os princípios das diferentes tecnologias que ocorre a partir da construção de novos conhecimentos de forma interdisciplinar e pela possibilidade de uma melhor compreensão e apropriação da realidade pelos próprios estudantes na interação direta com o contexto em que vivem e trabalham. Mais do que nunca, a educação precisa dialogar com as diferentes juventudes, com diferentes realidades regionais e precisa, pois, estar articulada e vinculada ao desenvolvimento local (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

A inserção da Politecnia como eixo estruturante do Ensino Médio Politécnico e dos processos de aprendizagem e construção do conhecimento faz sentido pois, ela diz respeito e propicia a constituição de sujeitos autônomos e intelectualmente preparados, não só para ler, mas para melhor compreender a complexidade das

relações humanas que permeiam o contexto social em que vivem; que possam, acima de tudo, estar preparados para intervir e nele se inserir. Considerando os princípios estabelecidos ou eixos estruturantes, o Ensino Médio Politécnico propõe novas formas de organização e seleção dos conteúdos a partir da prática social e do diálogo entre as quatro áreas do conhecimento. Defende a articulação e a integração dos diferentes atores que trabalham na escola na perspectiva da construção do conhecimento. Possibilita uma melhor formação ética, desenvolve a autonomia e o pensamento crítico pela participação e pelo compromisso do estudante com o conhecimento que não pode mais ser concebido simplesmente como algo dado, pronto, mas que precisa ser construído e ou resinificado através de novas e diferentes mediações estabelecidas no contexto escolar entre os atores envolvidos no processo educativo.

A formação politécnica permite ao jovem, portanto, uma compreensão mais profunda da complexidade que envolve o desenvolvimento científico-tecnológico em curso no mundo do trabalho. E, não é possível ignorar que o trabalho continua sendo a centralidade da vida humana, conforme descreve Frigotto (2011) em sua fala no seminário de formação promovido pela SE/RS em novembro de dois mil e onze. Enfatiza que o sentido e as polêmicas que envolvem a Politecnia são discutidas no Brasil deste a década de 1980, um debate que precisa, segundo o autor, ser aprofundado no chão da escola:

[...] não há vida sem comida, não comida sem produção, não há produção sem trabalho. [...] para formar um homem novo, a educação não pode se restringir à formação intelectiva. É preciso que os conceitos relacionados à cultura, ao trabalho, produtivo, ao corpo estejam presentes no currículo [...] A Politecnia fornece as bases da ciência para o sujeito produzir a vida de forma não alienada, ela não é monstro, é prática (FRIGOTTO, 2011).

Considerando os princípios estabelecidos ou eixos estruturantes, o Ensino Médio Politécnico propõe novas formas de organização e seleção dos conteúdos a partir da prática social e do diálogo entre as quatro áreas do conhecimento. Defende a articulação e a integração dos diferentes atores que trabalham na escola, na perspectiva da construção do conhecimento. Possibilita uma melhor formação ética, desenvolve a autonomia e o pensamento crítico pela participação e pelo compromisso do estudante com o conhecimento que não pode mais ser concebido simplesmente como algo dado, pronto, mas que precisa ser construído e/ou

resinificado através de novas e diferentes mediações estabelecidas no contexto escolar entre os atores envolvidos no processo educativo.