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Os elementos do núcleo central da representação social de formação continuada

5 REPRESENTANDO A FORMAÇÃO CONTINUADA: CONHECIMENTO

5.2 Os elementos do núcleo central da representação social de formação continuada

Considerando os dados obtidos a partir das técnicas e procedimentos utilizados nessa investigação, buscamos verificar a existência de uma representação social, considerando, especialmente, seu núcleo central. Essa verificação seguiu os parâmetros estabelecidos por Vergès (2001). A proposta do autor envolve uma técnica que combina a frequência das expressões com a ordem na qual estas foram evocadas.

Para a realização do primeiro critério, Vergès (2001) evidencia o caráter social das RS, considerando as expressões enunciadas pelos sujeitos. Na mesma direção, o segundo critério refere-se ao nível individual contemplando a ordem ou importância que os indivíduos atribuíram a cada palavra.

Para a construção do cálculo da ordem média de evocação, consideramos a ordem em que cada palavra evocada pelos sujeitos aparece, resultado de um processo de cognição mais elaborado em relação ao primeiro momento da TALP que se constitui apenas em externar as três palavras ou expressões que, prioritariamente, lhes vêm à mente ao ouvir o termo indutor. Posteriormente ao cálculo da ordem média, calcula-se a quantidade de vezes que cada palavra é citada. As palavras mais citadas e que aparecem nas primeiras ordens são aquelas que possivelmente constituirão o núcleo central da RS.

O primeiro passo para a realização do cálculo da frequência e ordem média foi a organização de um quadro com as evocações emitidas pelas professoras. O referido quadro obedeceu a frequência das cognições e as posições ordenadas pelos sujeitos da pesquisa, o que caracterizou a ordem média das vezes que foram pronunciadas.

Quadro 03 – Distribuição das Evocações – Frequência e Ordem Média das Palavras

Palavras Evocadas 1º Lugar 2º Lugar 3º Lugar Total

Conhecimento 7 5 6 18 Aprendizagem 5 4 1 10 Capacitação 2 2 5 9 Mudança 0 3 1 4 Estudos 1 3 0 4 Educação 3 0 1 4 Compromisso 2 0 1 3 Interação 0 1 2 3 Dedicação 0 2 1 3 Trabalho 0 0 2 2 Reflexão 0 0 1 1

Preparação 0 0 1 1 Cooperação 0 1 0 1 Experiência 0 1 0 1 Prática 1 0 0 1 Amor 1 0 0 1 Valores 0 0 1 1 Oportunidade 0 0 1 1 Interesse 1 0 0 1

Partindo desse princípio e obedecendo aos critérios de Vergès (2001), passaremos a apresentar a estrutura organizacional das informações que foram distribuídas para compor os elementos da RS sobre a formação continuada. Os referidos elementos seguem contemplando todas as evocações emitidas pelas colaboradoras, sendo essas distribuídas de acordo com a frequência e a ordem média.

Figura 05 – Distribuição geral dos elementos da RS sobre a formação docente

Para uma melhor apreensão dos elementos que compõem a estrutura acima, detalharemos os critérios de organização dos grupos. Como já foi mencionado anteriormente, consideramos para encontrar o núcleo central da representação social da formação continuada,

Frequência >_ 9 CONHECIMENTO (18) APRENDIZAGEM (10) CAPACITAÇÃO (9) Frequência <_ 4 EDUCAÇÃO (4) COMPROMISSO (3) ESTUDOS (4) MUDANÇA (4) Frequência >_ 3 INTERAÇÃO ( 3) PRÁTICA (1) AMOR (1) INTERESSE (1) DEDICAÇÃO (3) TRABALHO (2) Frequência = 1 REFLEXÃO (1) PREPARAÇÃO (1) COOPERAÇÃO (1) EXPERIENCIA (1) VALORES (1) OPORTUNIDADE (1)

os critérios expostos por Vergès (2001). Entretanto, observou-se que algumas palavras foram emitidas pelas professoras mais de uma vez, porém, não aparecem em uma posição de destaque. No quadrante superior esquerdo, com frequência maior ou igual a nove, encontram- se os elementos que compõem o núcleo central da RS.

Para as professoras, inicialmente, a formação continuada está ligada a qualificação, uma vez que, qualificar-se para elas significa aperfeiçoar seus conhecimentos, seguir em busca de novos saberes, e para isso faz-se necessário entender-se como um aprendiz, um ser em formação.

Nessa direção, para Charlot (2000), um ser inacabado, que deve se confrontar sempre com a necessidade de aprender. A aprendizagem deve ser compreendida como uma ação construtiva das situações concretas da formação permanente do professor, que suscita no educador o desejo de se capacitar, de pensar a sua prática a partir da realidade.

Logo, reafirmamos que para constituição desse núcleo central foi necessário o auxílio da técnica proposta por Vergès (2001), no entanto, queremos aqui destacar que para considerar essas cognições como elementos principais da RS da formação continuada, é necessário apreciar os postulados de Moscovici (2012), o qual evidencia que a representação é social, não porque os sujeitos são sociais, mas porque essas desempenham a função de organizadoras das condutas existentes na comunicação social.

Do lado superior direito, encontramos o quadrante com frequência menor, igual a quatro. A esse grupo podemos denominar de intermediário um, pois os elementos que aparecem nesse grupo representam que a formação continuada exige do professor uma nova visão de educação, portanto, a concebem de acordo com a visão de Freire (2005) como prática de liberdade, como um ato problematizador, que desafia o educador/educando a superar as dicotomias da teoria/prática, elegendo para sua práxis dois grandes aspectos fundamentais da formação, compromisso e estudo.

O compromisso e o estudo fazem parte das características instituídas à formação profissional docente. São, entre outros aspectos, parte da identidade docente do ser professor no século XXI.

As palavras encontradas no grupo intermediário dois, com frequência maior, igual a três reforçam os elementos do núcleo central da RS da formação continuada, uma vez que valoriza a formação permanente do profissional docente, revelando que as professoras percebem seu trabalho como uma profissão. Para Abric (1994), ambos os grupos intermediários exercem papel fundamental na consolidação dos elementos do sistema central,

pois ―desempenham um papel importante na concretização da significação da representação, [e] quanto mais distantes, eles ilustram, explicitam ou justificam essa significação‖ (ABRIC, 1994, p 25).

Por fim, no quadrante inferior direito temos o último grupo, os elementos do núcleo periférico, com frequência igual a um. Esse sistema também é importante para a RS porque, de acordo com Campos (2003), o mesmo oportuniza a leitura da realidade dos sujeitos, permitindo-nos identificar justificativas concomitantes aos elementos do sistema central da formação continuada.

De modo geral, podemos apreender do esquema apresentado que as professoras significam a formação continuada como vetor de aquisição de conhecimento, aprendizagem e capacitação. Paralelo a isso, é desencadeado entre as mesmas um nível de reflexão acerca da sua prática, pois sua preparação, de acordo com Perrenoud (2001), não se faz por meio apenas da aquisição e domínio de conteúdo, mas, sobretudo nas apropriações de competências e habilidades necessárias ao ato de ensinar que se constroem mediante a experiência, no cotidiano da sala de aula, com as oportunidades que são conferidas as docentes, para que as mesmas cultivem na sociedade, respeito, reconhecimento e valorização acerca da profissão que exercem.

Apesar de termos apresentado os elementos da RS fundamentado em critérios quantitativos, faz-se necessária também a constatação qualitativa dessas percepções, a partir das justificativas emitidas pelos próprios sujeitos, uma vez que essas descrições revelam de forma mais objetiva a real representação do objeto em estudo.

A seguir, apresentamos o núcleo central da representação social das professoras em um formato que julgamos mais inteligível, no qual o núcleo central está geograficamente localizado no centro da figura.

Figura 06 – Núcleo Central, Intermediário e Periférico da RS sobre Formação Continuada

O esboço de tal organização vislumbra que a representação social sobre a formação continuada, nessa conjuntura em que pesquisamos, está apresentada a partir de quatro círculos, o de cor azul representa o núcleo central, enquanto os demais indicam sistemas intermediários e periféricos. REFLEXÃO PREPARAÇÃO COOPERAÇÃO EXPERIÊNCIA VALORES OPORTUNIDADE INTERAÇÃO PRÁTICA AMOR INTERESSE DEDICAÇÃO TRABALHO EDUCAÇÃO MUDANÇA COMPROMISSO ESTUDOS CONHECIMENTO APRENDIZAGEM CAPACITAÇÃO

Os elementos centrais nos permitem entender que esse objeto imageante, a formação continuada, é partilhada pelas professoras de EI com a mesma representação: uma proposta formativa diversificada que contempla conhecimento e aprendizagem, permitindo-lhes capacitar-se, construir e reconstruir um processo autônomo de intervenções e mudanças proporcionais ao cenário educativo do século XXI. Ao descrever essa representação social, tomamos por base reflexiva a definição de Moscovici (1969):

Sistema de valores, de noção e de práticas tendo uma dupla tendência: antes de tudo, instaurar uma ordem que permite aos indivíduos a possibilidade de se orientar no meio ambiente social, material e de o dominar. Em seguida de assegurar a comunicação entre os membros de uma comunidade propondo- lhes um código para as suas trocas e um código para nomear e classificar de maneira unívoca as partes do seu mundo, de sua história individual ou coletiva (MOSCOVICI, 1969, p. 11).

A citação acima nos propõe caracterizar a RS como uma forma de conhecimento que se estrutura a partir das relações com os processos simbólicos e ideológicos presentes no meio social. As informações centrais e periféricas na figura supra, demarcam que o objeto de estudo em tela, a formação continuada, evoca uma imagem de profissionais preocupados com sua profissão. Ou seja, a representação social de formação continuada para as professoras da Educação Infantil de Angicos está calcada, construída em elementos da profissionalização docente, em um profissional que deve buscar conhecimento e novas aprendizagens. Em seguida, explicitamos as motivações para buscar esses conhecimentos.