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Os Empreendimentos Econômicos Solidários de Uberlândia (MG)

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES, 2009), e também segundo dados da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES, 2009), encontram-se no município de Uberlândia um total de 29 Empreendimentos de Economia Solidária. Desta forma, Uberlândia destaca-se por ser o município que apresenta o maior número de EES na Mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

Através da análise do Quadro 4 observa-se que a maioria dos produtos produzidos pelos Empreendimentos Econômicos Solidários de Uberlândia corresponde a alimentos e artesanato, de acordo com dados do site “Farejador da Economia Solidária” (2009). Do total de 29 EES no município, 16 são voltados para a produção e comercialização de alimentos em geral. Outros seis empreendimentos destinam-se a produção de artesanatos, principalmente no segmento cama, mesa e banho. Os empreendimentos de socioeconomia solidária não se limitam a produção, abrangendo também a prestação de serviços. Assim, ressalta-se também a importante participação dos EES de Uberlândia ligados ao serviço de lavanderia, totalizando seis empreendimentos, conforme se observa no quadro seguinte. Existe também no município

um EES destinado a reciclagem, denominado de Cooperativa de Recicladores de Uberlândia (CORU).

Quadro 4 – Empreendimentos Econômicos Solidários de Uberlândia (MG) em 2008

EMPREENDIMENTOS PRODUTOS/SERVIÇOS

OFERECIDOS

LOCAL Acampamento Chuvas do

Amanhecer Feijão, Milho, Mel

Rural

Apiário WGL Mel Urbano

Associação Alimentar Alimentos Urbano

Associação Campo Brasil Leite, Milho, Legumes, Verduras Rural

Associação com Treinamentos Alternativos e Orientação à Saúde Cícero do Juazeiro

Legumes, Verduras, Plantas Medicinais

Urbano

Associação das Famílias

Assentadas da Fazenda Paciência - Uberlândia

Leite, Feijão, Milho Rural

Associação de Trabalhadoras do P.A. Nova Tangará - Uberlândia

Não classificado Rural

Associação dos Assentados da Fazenda Nova Palma

Leite, Mel, Queijo Rural

Associação dos Assentados da Fazenda Rio das Pedras - Uberlândia

Mel, Queijo, Rapadura Rural

Associação dos Trabalhadores Rurais Zumbi dos Palmares

Frutas, Leite, Legumes, Verduras Rural Associação Tangará do Cerrado -

Uberlândia

Feijão, Milho, Mandioca Rural

Associação Terra, Trabalho e Liberdade - Uberlândia

Feijão, Mandioca, Legumes, Verduras

Rural Associação Unidos do

Assentamento José dos Anjos

Mandioca, Queijo, Pimenta Rural

Centro de Formação de São Francisco de Assis

Artesanato Urbano

Cepros – Centro de Promoção e Educação e Assistência Social de Uberlândia

Lavar e passar roupas Urbano

Clube de Mães Santa Edwiges - Uberlândia

Artesanato Urbano

Cooperativa Agropecuária Mista do Assentamento Nova Tangará

Frango, Ovos Rural

Cooperativa de Recicladores de Uberlândia - CORU

Material Reciclado Urbano

Cooperativa dos Trabalhadores da Construção Civil de Uberlândia

Barracão, Casas, Prédio Urbano

Cooperdoces - Uberlândia Bombons Urbano

Feira de Alimentos Naturais Doces cristalizados, Frutas, Queijo

Rural Lavanderia Comunitária Centro

de Bairro Lagoinha - Uberlândia

Lavar e passar roupas Urbano

Lavanderia Comunitária do Roosevelt - Uberlândia

Lavar e passar roupas Urbano

Lavanderia Comunitária Tibery - Uberlândia

Lavar e passar roupas Urbano

Lavanderia Marta Helena - Uberlândia

Lavar e Passar roupas Urbano

Mãos Trabalhando Artesanato Urbano

Meninas que Produzem Crochê - Uberlândia

Artesanato Urbano

Não informado - Uberlândia Artesanato Urbano

Fonte: Fórum Brasileiro de Economia Solidária (2008); Farejador da Economia Solidária, FBES, 2010. Org.: SILVA, R. R, 2010.

Ainda em relação aos EES no município de Uberlândia destaca-se a Cooperativa dos Trabalhadores da Construção Civil, por ser o único empreendimento deste segmento não apenas no município como também em toda a Mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

De acordo com dados da SENAES (2009), a maioria dos Empreendimentos Econômicos Solidários existentes em Uberlândia, ou seja, 19 do total de 29 EES, surgiu no período de 2001 a 2007. Em relação à forma de organização de tais empreendimentos destaca- se que, 14 destes correspondem a grupos informais, 13 estão organizados segundos os critérios de associações e, o restante, isto é, dois EES correspondem a cooperativas.

No que concerne ao local em que os empreendimentos solidários estão inseridos ressalta-se que, 14 destes estão presentes em áreas urbanas, nove em áreas rurais e seis desenvolvem atividades tanto em áreas rurais quanto em áreas urbanas.

Ainda segundo dados da SENAES (2009), os principais objetivos que ocasionaram o surgimento ou criação de EES em Uberlândia foram à alternativa ao desemprego, seguido pelo desenvolvimento de atividades em que todos são donos, e pelo desenvolvimento comunitário de capacidades e potencialidades.

Conforme salientado anteriormente, um dos princípios básicos da economia solidária consiste no trabalho coletivo. Desta forma, também através de dados da SENAES (2009), destaca-se que o que é realizado de maneira coletiva em grande parte dos Empreendimentos Econômicos Solidários de Uberlândia refere-se à produção, seguida pelo uso de equipamentos e infra-estrutura e comercialização.

Diante dos dados fornecidos pelo Fórum Brasileiro de Economia Solidária (2009), disponíveis no site “Farejador da Economia Solidária”, e também pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), referentes aos Empreendimentos Econômicos Solidários do município de Uberlândia, deve-se questionar se tais empreendimentos podem ser realmente classificados como experiências de socioeconomia solidária, uma vez que a maioria destes não apresenta os princípios básicos norteadores desta outra economia, de acordo com o que foi observado nos trabalhos de campo realizados no decorrer da pesquisa, e até mesmo pelos dados fornecidos pela SENAES e pelo FBES.

Neste sentido, cabe ressaltar que um dos Empreendimentos Econômicos Solidários presentes no município de Uberlândia que mais apresenta de fato as características e os princípios norteadores da socioeconomia solidária, como, por exemplo, trabalho coletivo e autogestionário e geração de renda, é a Cooperativa de Recicladores de Uberlândia (CORU), que será objeto de estudo do próximo capítulo, deste trabalho

CAPÍTULO 3

A RECICLAGEM E A SOCIOECONOMIA SOLIDÁRIA: ESTUDO DE

CASO DA COOPERATIVA DE RECICLADORES DE UBERLÂNDIA

3- A RECICLAGEM E A SOCIOECONOMIA SOLIDÁRIA: ESTUDO DE

CASO DA COOPERATIVA DE RECICLADORES DE UBERLÂNDIA

(CORU)

3.1 Produção de Resíduos pela Sociedade de Consumo e o Processo de Reciclagem no Brasil

No âmbito da socioeconomia solidária são encontrados diversos tipos de Empreendimentos Econômicos Solidários, dentre os quais se destacam as experiências relacionadas à reciclagem de materiais distintos. Ressalta-se que os EES ligados a reciclagem são os que mais se aproximam do conceito do tripé da sustentabilidade (que também são considerados pela economia solidária), pois nesses empreendimentos, além da preocupação com o economicamente viável e o socialmente justo, também há a preocupação com o meio ambiente, ou seja, preocupa-se também com o ambientalmente correto.

Na tentativa de incentivar projetos em prol da reciclagem, destaca-se a geração de trabalho e de renda, que contribuem com a inclusão socioeconômica dos catadores de materiais recicláveis. Nesse sentido, o Governo Federal investiu na criação de algumas políticas públicas como, por exemplo, Decreto nº 5.940/06, a Lei nº 11.445/07 e na constituição do Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis.

O crescimento da produção industrial mundial, bem como o aumento excessivo de produtos diversos, sobretudo dos descartáveis, resulta na grande geração de resíduos, principalmente nas áreas urbanas. Os resíduos produzidos eram descartados sem qualquer preocupação em áreas afastadas das cidades, não havia, portanto, a preocupação que se tem, atualmente, com o meio ambiente e nem, tampouco, pretendia-se alcançar o conceito de desenvolvimento sustentável. Contudo, com a intensificação do processo de urbanização, ocorrido na maioria dos países, aumentou-se também a produção de resíduos, sendo que as áreas onde os mesmos eram depositados passam a ser ocupada pelas cidades.

Como uma possível tentativa de amenizar os problemas referentes a gestão de resíduos destaca-se a reciclagem, intensificada a partir da década de 1980. O processo de reciclagem consiste no retorno de determinados materiais ao ciclo de produção para a produção de novos produtos, após a utilização e o descarte, contribuindo para a preservação dos recursos naturais

e do meio ambiente. Destacam-se como principais materiais recicláveis papel, vidro, plástico e metais (como, por exemplo, o alumínio) dentre outros.

Através da reciclagem reduz-se a utilização de recursos naturais, sobretudo os não renováveis, e, também, a quantidade de resíduos depositados em aterros ou incinerados; ainda através desse processo diminuem-se possíveis agressões ao ar, a água e ao solo. Entretanto, os benefícios da reciclagem não se restringem apenas à questão ambiental, estende-se também para as questões econômica e social.

Em relação à economia ressalta-se que, por meio da reciclagem, reutiliza-se de matérias-primas necessárias para a produção de novos bens, representando ganhos financeiros. Além disso, algumas pessoas realizam a coleta e a comercialização de materiais recicláveis, o que constitui-se na geração ou mesmo na complementação de renda.

No campo social, a reciclagem se destaca por ser uma possível alternativa de geração de trabalho e, consequentemente, de renda para a parcela da população que se encontra social e economicamente excluída do modo de produção vigente. Cabe ressaltar também que a reciclagem também contribui para melhorar a qualidade de vida das pessoas, uma vez que através da mesma é possível melhorar o meio ambiente.

De acordo com a Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), no ano de 2003, os materiais mais reciclados no país foram: alumínio (87%), papel ondulado (74%), aço (42%), PET (40%), vidro e papel cartão (39%, cada), plásticos em geral (21%) e embalagens longa vida (20%). Em 2008, era de aproximadamente 91,5% do alumínio, 79,6% do papel ondulado, 49% de aço, 54,8% de PET, 47% de vidro, 43,7% de papel de escritório, 21,2% de plásticos em geral, 26,6% de embalagens longa vida; do total de todos esses materiais que circulam no mercado nacional foram reciclados, de acordo com a Figura 2. Ainda segundo a ABRE, em 2010 o Brasil destaca-se como um dos países que apresentam maiores índices de reciclagem, devido, dentre outros fatores, ao elevado número de desempregados, que necessitam de atividades geradoras de renda, à infra-estrutura já existente e necessária para o processo de reciclagem de diversos materiais.

Figura 2 – Principais Materiais Recicláveis no Brasil

Fonte: ABRE (2010). Org.: SILVA, R. R. (2010).

O potencial brasileiro para a reciclagem é bastante significativo, tanto que o país é referência para outros em relação ao reaproveitamento de matérias-primas. Neste sentido, foi proposta a criação, através da ABRE, de um programa nacional de reciclagem, o Programa Brasileiro de Reciclagem (PBR). Para garantir os benefícios advindos da reciclagem, faz-se necessária uma ação conjunta entre a sociedade, que consome e gera os resíduos; o poder público, responsável pela coleta e pela correta destinação desses resíduos; e o setor produtivo, que deve reincorporar o material reciclado no ciclo de produção de novos produtos.

Cabe ressaltar que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, o órgão responsável tanto pela coleta quanto pela disposição de resíduos é o Poder Público Municipal. Dessa forma, o incentivo à reciclagem também é responsabilidade, no Brasil, das prefeituras municipais.

Logo, observa-se que o aumento da reciclagem, a partir da década de 1980, principalmente no caso brasileiro, isso ocorreu devido, dentre outros fatores, a consciência ambiental, a falta de trabalho formal, a complementação de renda, a economia em matérias- primas. Entretanto, no presente trabalho a ênfase será dada a reciclagem como uma alternativa de geração de trabalho e renda para os socialmente excluídos, ressaltando-se, dessa maneira, os benefícios socioeconômicos obtidos a partir da reciclagem.

Para tanto, destaca-se a necessidade de investimento e incentivo na criação ou consolidação de grupos de trabalho, responsáveis pela reciclagem, baseados na socioeconomia solidária, sejam eles cooperativas, associações ou grupos informais. Assim, o processo da reciclagem e, consequentemente, os recursos obtidos nesse processo, não ficariam restritos a empresas privadas, caracterizando uma redistribuição de renda mais justa.

O Decreto nº 5.940/06, de 25 de outubro de 2006, que estabelece que os órgãos públicos federais realizem a separação dos materiais recicláveis descartados por eles e o destinem para cooperativas e associações de catadores de recicláveis. Em relação a esse decreto o Portal Coleta Seletiva Solidária (2010) destaca que:

A primeira avaliação indica a necessidade de se trabalhar junto a cerca de 600 mil servidores com o intuito de:

• sensibilizar para a mudança dos hábitos de descarte em suas atividades funcionais; • apoiar a implantação do sistema de segregação dos recicláveis em cerca de 10 mil locais diferentes espalhados pelo Brasil;

• auxiliar no processo de estruturação da logística, de armazenamento e transporte desses materiais em cada local;

• apoiar as organizações de catadores em muitos casos, inclusive reorientando o destino dos materiais, o que muitas vezes significará a mediação de conflitos de interesses.

Em relação a Lei 11.445/07, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece sobre as diretrizes nacionais para o saneamento básico, enfatiza-se o Artigo 57, no qual está prevista a participação de associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis na realização da reciclagem como alternativa de geração trabalho e renda.

O Decreto Federal de 11/09/2003 deu origem à criação do Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis, sendo formado por oito Ministérios, a saber: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério das Cidades (MCidades), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde (MS) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC); por órgãos do governo federal como, a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), a Casa Civil da Presidência da República, a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); além desses órgãos públicos, participam do comitê algumas Organizações Não Governamentais (ONGs) e também entidades do setor da reciclagem. No entanto, a coordenação do comitê é responsabilidade dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e das Cidades. Destacam-se como objetivos desse comitê colaborar para a

inserção econômica e social de catadores de recicláveis, bem como o acompanhamento, a avaliação e a fiscalização do processo de separação de resíduos recicláveis e sua correta destinação, de acordo com o estabelecido pelo Decreto 5.940/06.

Assim, para garantir as propostas do Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis, foi criada a Secretaria Executiva do Comitê Interministerial de Inclusão Social de catadores de Materiais Recicláveis, composta por servidores do MDS, do MCidades, e com o apoio da CEF, tendo como objetivo apoiar os órgãos federais e os catadores no processo de separação e coleta dos recicláveis das organizações públicas. Ainda de acordo com Portal Coleta Seletiva Solidária (2010):

O objetivo da constituição da Secretaria Executiva é agilizar as ações que efetivarão às determinações do governo federal em relação à inclusão dos catadores de materiais recicláveis, tais como:

• Encaminhar as decisões do Comitê;

• Acompanhar a implementação do Decreto nº 5.940/06, apresentando ao comitê relatórios, bem como encaminhar proposições para soluções de problemas;

• Acompanhar as ações dos programas de governo no âmbito do Comitê Interministerial.

Apesar da existência de políticas públicas, acima citadas, voltadas para a questão da reciclagem no Brasil, observa-se ainda que os empreendimentos responsáveis pela coleta e separação dos resíduos recicláveis, principalmente os EES, encontram muitas dificuldades, sendo necessário, portanto, maiores incentivos e investimentos por parte das administrações públicas, sobretudo da ação das prefeituras municipais em prol da reciclagem.